(O
Google diz que “Mórbido,
Nojento mas é
elucidativo” se escreve assim em latim: “Morbidus, foeda est, sed
non docet”. Vou pensar se acredito ou não)
e consultar minha amiga Manuela que é
italiana e mora em Milão).
Um
cais é sempre um lugar
de chegadas e de partidas. Gera saudades. Ou de pessoas, ou de
lugares, ou de diversão
com pessoas em certos lugares. Um cais é
sempre um lugar de comércio.
J.N.
sentou-se à beira de
um cais para sentir o calor do sol. Era um dia nublado e mergulhou em
suas próprias
lembranças enquanto a
água do mar marulhava
cadenciada e suave. As ondas do mar lembram sempre o útero
materno quando mergulhados em líquido
amniótico passeávamos
com nossas mães pelas
ruas da cidade a cada passo que ela dava.Perguntou-se porque lhe
acontecia essa nostalgia de pensar sobre o passado… Era raro, mas
acontecia. Então, como
sempre, perguntou-se o que desejava naquele momento. Talvez uma
transa, mas com quem? Transar não
é uma coisa que se
tenha no armário ou na
geladeira à disposição
pra quando se queira. Transa é
mais pro lado da agricultura: Tem que plantar a vontade numa mulher,
agradar-lhe, e depois transar sempre que ela tiver vontade. Se ela
não estiver com
vontade… Bem aí…
Há quem use música
em plantação
para as plantinhas crescerem, mas mulheres preferem palavrinhas
gostosas sussurradas nos ouvidos e muitos elogios. Mas se assim mesmo
não funcionar, a
vontade de transar não
lhes aparecer, não se
desespere. Se sair por aí
atrás de outras
mulheres, vai perder o mesmo tempo ou mais, e se arrisca a perder
aquela outra que já
estava treinada em você.
E regra muito importante: Se você for marido e quer manter sua
mulher, seja banana. Elas adoram marido banana, mas se for amante,
seja machão. Elas
adoram amantes machões.
O
tempo não deveria
parar. A vida tinha que continuar sempre. Ficar ali parado no cais,
pensando no passado era uma perda lamentável
de tempo. Aliás,
aquilo nem era um cais de embarque de passageiros. Era um canal
aberto para o mar, natural, que servia para barcos pesqueiros. Um dia
chegou a ser boulevard para mulheres da vida.
Levantou-se
do banco de madeira e orientou seus passos para a saída
daquela zona. Quando um dia passara por ali, havia muito tempo atrás,
e perguntara onde encontrar lugares “sociais” para conhecer
pessoas, indicaram-lhe clubes, cinemas, teatros, praças… Porém,
para seu neto, agora há
poucos dias, tinham informado lugares de funk, de balada… Muita
coisa tinha mudado na cidade. Não
apenas naquela cidade. O mundo era outro, e como sabia muito bem, um
mundo como o nosso não
se pode parar. Nunca se pôde
parar, desviar para outros rumos… A mocidade é
que o empurra. Não
enquanto ainda é
mocidade, mas quando amadurece e sente que chegou sua vez de mudar o
mundo. Então alguns
percebem que remaram para o lado errado, outros que estão
no lado certo, muitos nem percebem que existe lado para escolher, e
outros nem sabem onde estão.
De certa forma, e em sua maioria, felizes. Basta perguntar, que quase
ninguém diz ser
infeliz. Mas se mentem ou não,
apenas eles podem dizer, e mesmo assim se perguntados de forma
confidencial e segura…
Quando
J.N. “aterrizou” de seus devaneios, tinha atravessado, absolutamente sem se dar conta umas três
ruas e uma avenida. Nem se lembrava de as ter cruzado. Poderia até
ter morrido e estar vivendo agora uma nova vida, quem sabe, num
universo paralelo. Mas não.
Isso não poderia ser.
Continuava vendo as mesmas pessoas, e quem morria mesmo, de forma
irreversível, não
se via mais. Segundo o Lavoisier, quem morre se transforma em
extrato, subtrato, e geralmente fede muito. Se queimado até
os ossos, sobram cinzas. Um desperdicio de carne que poderia
alimentar peixes, leões
e outros carnívoros em
extinção.
Imagine-se
num testamento: “… E que meus restos mortais depois de lavados e
sem qualquer perfume, sejam jogados às
feras na reserva de N`Gorongoro, sem tempero... Isso sim, seria a
maior demonstração
de desprendimento material, porque se a matéria
realmente não importa,
o que vale mesmo é a
alma, o espírito, e
então… Podia até
fazer-se ração
para peixes, com rótulo
indicativo de calorias, causa mortis, nome do “fornecedor”, do
empacotador, distribuidor, etc, e que tipo de dieta usava em vida:
Mediterrânica, vegana,
carnívora, onívora,
insetívora – agora
muito em moda- vegetariana…. Os peixes prefeririam certamente os
frequentadores de restaurantes japoneses.
Carpe
Diem, aproveitem enquanto o bicho tá
de pé, Enquanto a
moqueca tá quente, a
panela precisa de tampa pra conter o vapor do vulcão,
e não fale mal do
alemão, o tal de
Alzheimer… Quanto mais se treme numa hora dessas melhor… A vida é
cheia de boas surpresas e nada é
ruim de todo, porque para alguma coisa serve. Tente descobrir quando
precisar transformar algo ruim em algo melhor.
®
Rui Rodrigues
Rui
Rodrigues “é eu”,
formado pela UFF, mas isso não
importa porque me aposentei, e escrevo desvinculado do que aprendi por
não se aplicar a
literatura.