Arquivo do blog

quarta-feira, 8 de junho de 2016

Mórbidos Nojentus, mas Elucidatis.


(O Google diz que “Mórbido, Nojento mas é elucidativo” se escreve assim em latim: “Morbidus, foeda est, sed non docet”. Vou pensar se acredito ou não) e consultar minha amiga Manuela que é italiana e mora em Milão).



Um cais é sempre um lugar de chegadas e de partidas. Gera saudades. Ou de pessoas, ou de lugares, ou de diversão com pessoas em certos lugares. Um cais é sempre um lugar de comércio.

J.N. sentou-se à beira de um cais para sentir o calor do sol. Era um dia nublado e mergulhou em suas próprias lembranças enquanto a água do mar marulhava cadenciada e suave. As ondas do mar lembram sempre o útero materno quando mergulhados em líquido amniótico passeávamos com nossas mães pelas ruas da cidade a cada passo que ela dava.Perguntou-se porque lhe acontecia essa nostalgia de pensar sobre o passado… Era raro, mas acontecia. Então, como sempre, perguntou-se o que desejava naquele momento. Talvez uma transa, mas com quem? Transar não é uma coisa que se tenha no armário ou na geladeira à disposição pra quando se queira. Transa é mais pro lado da agricultura: Tem que plantar a vontade numa mulher, agradar-lhe, e depois transar sempre que ela tiver vontade. Se ela não estiver com vontade… Bem aí… Há quem use música em plantação para as plantinhas crescerem, mas mulheres preferem palavrinhas gostosas sussurradas nos ouvidos e muitos elogios. Mas se assim mesmo não funcionar, a vontade de transar não lhes aparecer, não se desespere. Se sair por aí atrás de outras mulheres, vai perder o mesmo tempo ou mais, e se arrisca a perder aquela outra que já estava treinada em você. E regra muito importante: Se você for marido e quer manter sua mulher, seja banana. Elas adoram marido banana, mas se for amante, seja machão. Elas adoram amantes machões.

O tempo não deveria parar. A vida tinha que continuar sempre. Ficar ali parado no cais, pensando no passado era uma perda lamentável de tempo. Aliás, aquilo nem era um cais de embarque de passageiros. Era um canal aberto para o mar, natural, que servia para barcos pesqueiros. Um dia chegou a ser boulevard para mulheres da vida.

Levantou-se do banco de madeira e orientou seus passos para a saída daquela zona. Quando um dia passara por ali, havia muito tempo atrás, e perguntara onde encontrar lugares “sociais” para conhecer pessoas, indicaram-lhe clubes, cinemas, teatros, praças… Porém, para seu neto, agora há poucos dias, tinham informado lugares de funk, de balada… Muita coisa tinha mudado na cidade. Não apenas naquela cidade. O mundo era outro, e como sabia muito bem, um mundo como o nosso não se pode parar. Nunca se pôde parar, desviar para outros rumos… A mocidade é que o empurra. Não enquanto ainda é mocidade, mas quando amadurece e sente que chegou sua vez de mudar o mundo. Então alguns percebem que remaram para o lado errado, outros que estão no lado certo, muitos nem percebem que existe lado para escolher, e outros nem sabem onde estão. De certa forma, e em sua maioria, felizes. Basta perguntar, que quase ninguém diz ser infeliz. Mas se mentem ou não, apenas eles podem dizer, e mesmo assim se perguntados de forma confidencial e segura…

Quando J.N. “aterrizou” de seus devaneios, tinha atravessado, absolutamente sem se dar conta umas três ruas e uma avenida. Nem se lembrava de as ter cruzado. Poderia até ter morrido e estar vivendo agora uma nova vida, quem sabe, num universo paralelo. Mas não. Isso não poderia ser. Continuava vendo as mesmas pessoas, e quem morria mesmo, de forma irreversível, não se via mais. Segundo o Lavoisier, quem morre se transforma em extrato, subtrato, e geralmente fede muito. Se queimado até os ossos, sobram cinzas. Um desperdicio de carne que poderia alimentar peixes, leões e outros carnívoros em extinção.
Imagine-se num testamento: “… E que meus restos mortais depois de lavados e sem qualquer perfume, sejam jogados às feras na reserva de N`Gorongoro, sem tempero... Isso sim, seria a maior demonstração de desprendimento material, porque se a matéria realmente não importa, o que vale mesmo é a alma, o espírito, e então… Podia até fazer-se ração para peixes, com rótulo indicativo de calorias, causa mortis, nome do “fornecedor”, do empacotador, distribuidor, etc, e que tipo de dieta usava em vida: Mediterrânica, vegana, carnívora, onívora, insetívora – agora muito em moda- vegetariana…. Os peixes prefeririam certamente os frequentadores de restaurantes japoneses.



Carpe Diem, aproveitem enquanto o bicho tá de pé, Enquanto a moqueca tá quente, a panela precisa de tampa pra conter o vapor do vulcão, e não fale mal do alemão, o tal de Alzheimer… Quanto mais se treme numa hora dessas melhor… A vida é cheia de boas surpresas e nada é ruim de todo, porque para alguma coisa serve. Tente descobrir quando precisar transformar algo ruim em algo melhor.

® Rui Rodrigues


Rui Rodrigues “é eu”, formado pela UFF, mas isso não importa porque me aposentei, e escrevo desvinculado do que aprendi por não se aplicar a literatura.   

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Grato por seus comentários.