Um
cavalo simpático,
tranquilo, quarto de milha ou manga larga, que não
conheço muito de
cavalos, embora tenha andado muito pelas bandas do Rio Grande do Sul
e de Minas Gerais, Terras de Maragatos e Farroupilhas, de
confidentes e de outras correrias históricas,
cada uns a seu tempo, que a cavalo dado não
se olha o dente, e nunca encilhei nenhum, nem mesmo as mulas que em
dia de visita familiar subiam a serra do Marão
– no Norte de Portugal-desde Fornelos até
Paradela, terra de minha avó
paterna Pinto Nogueira onde tinha casa abastada. Com 4 anos de idade
jamais me permitiriam encilhar mulas. Mas foi com mulas subindo a
Serra que tive meus primeiros contatos com equinos. O que mais me
impressionou foi aquele tipo de olhar “meio perdido” que parece
estar olhando para todos os lados e para nenhum em particular, que me
chamou mais a atenção,
principalmente quando escorregavam em pedras soltas na apertadíssima
e íngreme trilha, a
paisagem já pequena,
lá em baixo, as casas
de Fornelos como se fossem de presépio.
Àquela altitude,
Fornelos não tinha
som. Era como uma paisagem de televisão
com o som desligado. Mas nem televisão
ainda existia no mundo por aquele ano de 1949, para que se veja o
quanto evoluimos desde então.
E é aqui que me voltei
a lembrar do pobre Cadillac que passou a noite em sua nobre funcão
de cortador de grama em frente à
minha janela. Sua dona sempre quis ter um cavalo. Ganhou o Cadillac,
com pedigree, com menos de um ano de vida. Poderia ter sido um
corredor, ter procriado, mas não… Cadillac foi encarregado de
comer toda a grama de um terreno de oito mil metros quadrados como
parte de sua dieta completada com ração.
Nunca transou na vida, nunca puxou carroça
e de frutas apenas come cascas. Atualmente tem como que uma verruga
no abdómen esperando a
chegada de um veterinário.
Tanto quanto sei, Cadillac deve ter uns nove anos de vida.
Progredimos muito. Já
temos televisão, mas
os cavalos já não
transam livremente. Precisam de permissão
particular de seus cuidadores, zeladores… Cadillac, através
de seus olhos castanhos enormes, transparentes e lúcidos
desabafou:
-
Cara… (Disse-me com certa tristeza no olhar, uma lágrima
escorregando-lhe pelo canto do olho onde já
se formava um rio)- Cara… Se me dessem banho e me escovassem,
trocaria um ano de lavagem por uma boa trepada… Deve ser muito bom…
Também gostaria de
poder correr, mas não
tenho espaço nem
companheiros para desafiar na corrida. Me solta, vai….
Mas
ele, meu amigo Cadillac, nem imagina o mundo que existe lá
fora, para lá dos
muros da propriedade. E indeciso entre fazer-lhe a vontade e deixá-lo
preservado de um mundo ainda pior, vou conversando com ele, apenas
através dos olhares,
cada um se vendo nos olhos do outro. Progredimos muito. Nós, humanos, aprendemos a
falar para os cavalos, damos-lhes nomes, mas não
queremos saber o que pensam, e por isso, o eventual “chip” de
tradução
que poderia ser implantado permitindo troca de informações, talvez venha a ser uma das últimas
coisas a serem feitas por esta civilização
fantástica que ainda não aprendeu o que é mais importante.
Quem
disse “Meu reino por um cavalo” foi um rei, perdeu a batalha e já
morreu. A importância
dos cavalos mudou muito, talvez tanto quanto a dos reis. O cadáver
do rei foi encontrado quando se fizeram escavações
perto de uma estação
de Metrô em
Londres. Como tal rei era um déspota,
a oposição se
movimentou para exigir a aprovação
da Magna Carta Inglesa, vigente até
hoje… Qualquer semelhança
com regimes sul-americanos déspotas
também, por compra da
moral e da ética de
deputados, senadores, juízes
e vereadores, é valida
na história de nosso
Brasil…
Pátria
Educadora não passou de
uma patranha para eternizar um regime, um partido, uma idéia
de jericos para estabelecer "referenciais" de acordo com essas jericagens desgastadas da história. O muro era em Berlim e caiu faz muitos anos!
®
Rui Rodrigues
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