- Ah ... Bom... Bom Menestrel. Isso explica o desejo do sabonete, e a paternidade, mas elas ficam sujas de propósito para provocar repulsa mesmo, e afastar os indesejados. Principalmente os velhinhos da Corte e as beatas de sacristia ainda jovens e fogosas, que têm os lábios da vagina assanhados, batendo um contra o outro, rezando para conhecer um bom chaveiro discreto e fiel que em troca de uma ou duas penetrações as deixem livres dessas geringonças torturantes. Escute, meu bom menestrel... Só tenho estas conversas com vossa mercê, por atrair com vossos cantares as mais belas mulheres do reino a meu castelo. Caso contrário já estaríeis cantando pra Belzebu no inferno, e sem cabeça, vagando entre labaredas... Mas dizei-me que estou muito curioso, quem seria o arrombador de cintos de castidade do meu Reino...
- Com o maior prazer vos contarei, mas não estaria Vossa Alteza se esquecendo de alvíssaras, ou estará ???
- Não...Não..Contai-me tudo, não me escondeis nada.
- Então, Alteza... Eu soube pelo abade do Condado vizinho ao vosso, o de Traquitanas, para quem escrevo "cantares de amigo" em festas que ocultamente leva em sua casa em outro condado daqui distante onde o conhecem como nobre e valente cavaleiro das damas desamparadas. Como confessor, as damas o informaram de chaveiros que fazem sempre duas cópias a mais de cada cinto de castidade, e que guardam para o caso de o dono do cinto e da mulher perderem a sua, e para venderem uma cópia para as donzelas e mulheres que estejam dispostas a comprar uma.
- Então meu reino está podre... Moralmente podre... Poucas devem ser as virgens e as prendadas e do lar.
- Alteza... Perdão, majestade, mas ouso dizer que vosso, nosso reino, é de bastardos e alegres bastardinhos e bastardinhas, mas feliz, porque as mulheres vivem felizes e o que os olhos cegos não enxergam, os corações não sentem.
- E como eu, Rei, não sei de nada que se passa no Reino ???
- Perdão majestade, seja benevolente com este vosso pobre servo menestrel, que faz cantares de tantos andares neste mundo, mas Reis nunca sabem de nada, nunca se lembram de nada. Se soubessem não seriam reis.
- Que provas posso ter do que acabais de me contar, menestrel ???
- E que alvíssaras me daríeis, alteza???
- Dou-te um dote anual de boas verbas públicas, tilintantes e sonantes, a título cultural, nada de chaparia, mas puro vil metal, uma casa com tudo montado a teu prazer, e até 3 virgens que escolhas de meu reino para te servir.
- É pouco... Tereis, majestade, que deixar isso por escrito com uma condição especial que não serei preso nem sentenciado a qualquer pena nos próximos cinquenta anos.
- Feito! Tendes a minha palavra por escrito em papiro sem rasuras nem interrupções pra não dizerem que foi copicola, a nova mania do reino.
- Então dizei-me logo, apressuradamente e sem rodeios, de forma cristalina e clara quem se atreve a rasgar as leis deste meu Reino.
- Pergunte a vossos pares do Reino, majestade, que sentam em vossa mesa quadrada, depois de terem tomado uns bons litros de vinho carrascão batizado com aguardente de grainha de uva trincadeira, onde satisfazem seus desejos, se no Reino os prostíbulos são proibidos e cada penetração pode significar a morte pela sífilis ou outra doença qualquer que tal como lepra faz a linguiça sexual pendurucalha apodrecer e as vaginas se desfazerem em pus.
- Poupe-me dessas imagens arrepiantes, meu caro menestrel e dizei-me a quem devo perguntar se vós não sabeis da história amém.
-Meu bom e inocente rei... Conheceis o vosso torneiro mecânico, a quem lhe falta um dedo ???
- Sim.. O que tem ele ???
- Ele diz que não sabe mas leva uma comissão em todas os cintos de castidade, todos os sabonetes, e tem uma rede que faz parte de seus "inimigos" só pra despistar. Foi ensinado e formado na escola de um cão sarnento famoso no reino há décadas decadentes. Até diplomas de engenharia de mecanismos de fechaduras ele arranja.
- E quem são os comparsas dele ???
- Estão todos espalhados por aí. O vosso primeiro ministro, todos eles ganham com a indústria dos cintos de castidade, acessórios, propaganda... Mas sempre tem gente inocente que conta tudo aos abades, como as ratas de sacristia que não largam a batina dos padres mais moçoilos. Alguns cantam salmos de louvor.
-Sim..Sim... Já percebi...Mas quem é o cabeça ???
- Marechalla, a Rainha sabe...
- Aqui entre nós majestade... Com a vossa idade... Essas mãozinhas irrequietas de fada, esse andar empertigado... E muito ausente... Só pensa em reunião com seus ministros, maletas, baús, e não percebe o que se passa em casa... A rainha sabe...
- Não... Não... Não...
- Ah sim.. sim... sim...
- Eu não vos assinei o acordo..
- E eu ainda não vos disse quem é o arrombador dos cintos de castidade...
- No próximo capítulo...
- Então no próximo capítulo...
- Dê-me uma pista pelo menos...
- Tem bigode!
(Fecha o pano do teatro, as atrizes de corpo quase nu usam grampos de cabelo para abrir seus cintos de castidade e desde padeiros a noivos casamenteiros, amantes corriqueiros, almocreves de almotolias sedas e couros de todas as partes do reino, iam um a um satisfazendo as belas donzelas que pariam em pé como era costume. O rei tinha direito sempre a ser o primeiro em seu reino na primeira noite de núpcias mas não reconhecia a paternidade.
O sexo sempre moveu o mundo. Não a religião nem a moral dos costumes e muito menos as leis.
Rui Rodrigues