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domingo, 30 de novembro de 2014

Tricolores ... Eu vi os dois jogos!

Tricolores ... Eu vi os dois jogos!

Já estava escrito há vinte mil anos atrás que em certo domingo de 1976 o campeonato seria decidido nos pênaltis num jogo de torcidas. Sim senhor. Torcidas ganham os jogos por mais que os técnicos se empenhem nas táticas. Na véspera do domingo, fizeram-se sabatinas técnicas em meio a uma cidade ocupada pela torcida Corinthiana que chegava aos borbotões. Eles vieram de avião, navio, automóvel, táxi, bicicleta, a pé, e até uma senhora gorda e patusca com bobs nos cabelos e uma bolsa de feira nos braços perguntou a um célebre colunista, evidentemente tricolor, de forma afirmativa: - Tem jogo hoje? Sim, porque a cidade está listrada de preto e branco e deviam proibir carroças na cidade. Foi então que reparei que eles também chegavam em carroças. Passaram a noite tremulando bandeiras, invadindo o Leme, Copacabana, Ipanema e Leblon. Agitadas sob fortes ventanias as bandeiras corinthianas festejavam uma vitória anunciada há tantos milhares de anos e agora pré-anunciavam o Carnaval.

No domingo fomos para os pênaltis, e depois de um suado 1 a 1 perdemos nos pênaltis da torcida Corinthiana e seus gritos dentados e gritados aos borbotões. Sim, meus amigos, nesse dia perdemos o campeonato para uma torcida fanática, desvairada, invasora, fazendo-nos sentir estrangeiros em nossa própria casa. Qualquer turista mais atento anotaria em seu caderninho: Rio, cidade ocupada. Eles estão por toda a parte para ganharem no grito. A indignação e o temor da população tricolor tinha fundamento e não era apenas coisa de idiotas da objetividade: O tricolor era o único time carioca na final do campeonato. Ali do lado do colunista, Francisco Horta que sabia tudo, prometeu o tricampeonato à muda e lacrimejante nação tricolor. Técnico não ganha jogo só de penalidades. Isso é coisa de torcida bem organizada. Nossa torcida nesse dia, perdeu o campeonato.

Trinta e oito anos foram acrescidos àqueles 20.000 - em que ocorreram grandes alterações políticas e ambientais - e neste domingo invadido pela torcida corinthiana a cidade foi novamente sacudida por bandeiras alvinegras que assolaram e tentaram amedrontar o imaginário tricolor. Francisco Horta já não dirigia o time das Laranjeiras, nem o palácio tinha o mesmo governador. A jovem senhora gorda e patusca falecera naquele domingo de 1976, ao final do jogo depois do segundo pênalti perdido pela torcida do fluminense. A torcida do Corinthians não falhara nenhum. Alguns familiares tentaram alegar que ela fora torturada pelo DOPS, visando uma indenização milionária quando a esquerda tomasse o poder, mas ninguém acreditava nisso e ela desistiu.

Curioso e temente da história fui falar com o técnico da Fiel e perguntei-lhe: - E aí, Mano Menem – Eu até pensei que ele fosse argentino - Preparado para o confronto? Ele me respondeu: - Estamos bem treinados, o time está motivado, temos esta enorme torcida no Maracanã que é um estádio neutro, e com um pouco de sorte sairemos daqui com a vitória.
Todo o técnico tem que ter algo de profeta para ser um bom técnico. Tem que ser visionário, tirar os imponderáveis da cama, acordá-los e pô-los a trabalhar em seu favor, porque a ociosidade não ensina coisa nenhuma. Só o trabalho ensina. Numa cidade cheia de manos, invadida por manos, como poderia prever que o Timão perderia por cinco a dois? Cada brasileiro é um técnico, e todo o mano é fanático por futebol. Como adivinhar que durante o tempo regulamentar o Corinthians perderia justamente um pênalti que o levaria, com mais e apenas um só gol, ao empate?

Sim, meninos, eu vi... Hoje eu vi que não é só a torcida que ganha jogos, nem técnicos, nem presidentes de clubes. É o empenho de jogadores e a determinação moral de um ou dois destes modernos e heróicos gladiadores das novas arenas onde as torcidas estão à distância de um braço curto de torcedor como se estivéssemos na Suíça, Paris ou Londres. O gladiador heróico tem um nome: Fred. Todos sabem onde Fred sempre está: Na área. Passem-lhe as bolas direitinhas, redondas, que ele as empurra para o gol, mesmo e até com a cara arrastada pela grama, já imobilizada, com o ultimo estertor do vento da determinação sobre seus cabelos.

Desta vez Fred não precisou chegar a tanto e já em casa me chega a notícia que Pelé está bem,  curando-se de uma infecção urinária, que kaká vai jogar nos EUA. O Vasco da Gama o Vice-Clube do Rio de Janeiro que já não é o Estado da Guanabara foi  o vice na Segundona e volta para a primeira divisão carioca – quem diria – e o que parece inacreditável, pasmem, o Botafogo foi rebaixado e irá ocupar o lugar do Vasco. 

Não sou avesso a mudanças, mas temos que ter muito cuidado com mudanças. Técnicos podem tirar-se, remover-se a qualquer tempo. Presidentes não. Agora se vê tudo em 360 graus e as televisões pesam muito menos e se levam até na mão. Ao chegar a casa, junto ao portão, havia quatro militantes fazendo pedidos de doações para implantar o regime comunista no Brasil. Eu ia mandá-los trabalhar porque emprego não falta, como diz o IBGE, mas reconsiderei. O IBGE não diz, mas a cidade está cheia de ladrões. Meu querido amigo Nelson Rodrigues que de vez em quando passava lá pela antiga rua do Costa onde meu pai tinha uma alfaiataria morreu na cama e eu pretendo viver mais uns dias.  Se fosse vivo, morreria no dia em que abrirem o baú da Caixa Econômica Federal e já não iria às Laranjeiras. 

® Rui Rodrigues.







sábado, 29 de novembro de 2014

Coisas do mês de Novembro 2014 no facebook

Coisas do mês de Novembro 2014 no facebook

Culinária da Corrupção - Só para "os chefes" 
- Prato do dia - "Réus de Molho de Lula e de Anta"...



Ingredientes: 50% de indignação popular ; Duas divisões de Agentes federais, meia dúzia de bons juízes federais; duas pitadas de delação premiada, vigilância telefônica tanto quanto baste; meia dúzia de bancos para que os réus se sentem e falem.As duas pitadas de delação premiada devem ser: Uma para delatar gentinha sem importância, como políticos corruptos e donos de empresas contribuintes com propina e a outra para delatar gentalha corrupta que governa as ações e a nação...A Lula e a Anta que dão o molho e se jogam por cima do prato, são colhidos no Planalto e são a base essencial deste famoso prato...Nota: Este prato é também chamado de "prato da liberdade da ordem e do progresso. Come-se com paciência e muita euforia nacional, quente se está com pressa, ou frio se sentir necessidade de vingança

O doleiro, o motorista estafeta e a filiação 


Um doleiro entrega envelopes para o motorista e diz-lhe.. Entrega em mãos a fulano, sicrano e beltrano...O que haveria nesses envelopes ?
- Sorvetes gelados ou assados?
- Bosta de cavalo para análise de condutividade terrnica?
- Alfaces tântricas colhidas no Nepal?
- Bolas de basquete miniaturizadas para os jogos de 2016?
- Fogo com labaredas azuis em pó?
E como disse que não sabia, o irmão do ministro das cidades foi solto pelo juiz, Não deixa de ser curioso que é isso mesmo que Lula e Dilma sempre dizem - Não sei!.. Não sabia... Não saberei !
O que faz um ministro das cidades? Envelopa?
Lex sed lex... Tontos somos nozes....

Morreu o primeiro soldado -BRASILEIRO - na pacificação de favelas...


Favelas são aglomerados de gente trabalhadora, invadidos por bandidos. Favelas não precisam ser pacificadas. Bandidos é que precisam ser eliminados. ISSO É UMA GUERRA...Vamos assumir que é uma guerra e que alguém tem que chegar junto dos bandidos e gritar-lhes : PERDEU...PERDEU....PERDEU....
E se é uma guerra, é uma guerra. Alterem-se os métodos, sejamos mais inteligentes. A cada dia têm mais armas e mais eficiência. Que Estado somos nós? Onde fica nosso orgulho de sermos brasileiros?
Bandido tem que ser tratado como terrorista... Vivemos num absurdo...Uma frouxidão governamental como se fossemos montes de merda à beira da estrada... Os governos não cuidam da gente...Estão muito preocupados com a industria da corrupção...
(Não foi o soldado da foto que faleceu)

COMO CHEGAR A CUBA ATRAVÉS DA ECONOMIA....


Oh Beleza, oh .. Santa Felicidade.... Eu sou tão otário que nem percebi e assim vivia feliz...
Caiu o emprego, a industria vai mal, devemos trilhões interna e externamente, nossos níveis de ensino estão lá no pé, temos os piores índices de tudo, quase campeões na corrupção, e os índices do comércio caindo... E de repente temos 0,1% de "crescimento" no PIB. Como se não soubéssemos que acochambram todos os índices incluindo o da inflação que é muito maior do que dizem, quase o dobro a cada mês.
E assim de 0,1 em 0,1 mesmo com novo ministro, os demais países seguem em frente e nós logo teremos chegado a CUBA... Com possibilidades de confisco de poupança, de parte de depósitos, como se estivéssemos numa economia de guerra e não de corrupção.

® Rui Rodrigues 

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

O jogo de ser Humano.

O Jogo de ser Humano




Crianças de dezenas de milhares de anos atrás nas pradarias do Norte da América e Europa não assistiam a jogos de futebol em enormes estádios iluminados. Divertiam-se vendo de longe a luta de bisões, de ursos, os animais da pradaria, pela posse de suas fêmeas. Lutas mortais. Também eles brigavam entre si, normalmente por defeitos expostos de moralidade. Cada tribo tinha um conselho de anciãos para julgar os casos e não raro os culpados eram punidos com a morte. Em tempos de paz faziam jogos para se divertirem e a cada jogo deveria haver um vencedor. Não era diferente de seus congêneres do sul do Continente americano e nem sabiam da existência deles. Também não sabiam da existência de um mar imenso que suas pirogas feitas de varas de madeira, cobertas com peles de animais, jamais poderiam atravessar, e muito menos sabiam que havia outras terras, para lá do primeiro mar, onde pessoas e crianças tinham exatamente estes mesmos hábitos, de observar os animais, caçá-los, jogar buscando a vitória, punir os culpados por atos ilícitos segundo sua moralidade. E muito menos sabiam que passado o primeiro mar, e o outro continente, havia mais um mar que, atravessado, os levaria de volta a casa, às suas pradarias. Um longo e extenso caminho por mar e terra, onde encontrariam gentes semelhantes, vestidos de formas diferentes, usando utensílios semelhantes, hábitos parecidos, mas onde todos jogavam, com maior ou menor seriedade, e aplicavam o jogo da morte como punição aos apanhados em erros inadmissíveis.



Perceberiam que a vida é um jogo? Não se pode afirmar. Os homens das naus e caravelas que um dia chegaram lá aos milhares, não tinham feito o jogo da vida para atravessar esses mares? Certamente que sim. Sabiam dos perigos de atravessar os mares sem fim, onde havia monstros terríveis, ventos impiedosos, tempestades mortais, mas se conseguissem sobreviver poderiam viver o resto de suas vidas sem trabalhar, vivendo dos rendimentos auferidos, proporcionais aos riscos enfrentados. A vida tinha um valor que se estendia da riqueza à morte em todos os seus melhores e piores tons. A vida um jogo e um prêmio: Riqueza para os vencedores, a morte para os perdedores. Não poderia ser diferente?



Esses mares já foram atravessados. As naus e caravelas modo geral chegaram sempre a bom porto, os monstros foram vencidos, as tempestades aplacadas, os ventos dominados. O jogo não. Por aquelas épocas, desde dezenas de milhares de anos atrás, passando pelas centenas de anos em que naus e caravelas atravessaram os oceanos de água ou caravanas atravessaram os de areia, até nossos dias recentes de um par de dezenas de anos, as nações da terra não eram tão densamente povoadas. Os aspectos morais do comportamento humano eram resolvidos por conselhos de anciãos e havia pequenos exércitos de homens armados para garantir a ordem, mas recentemente algo mudou o equilíbrio no jogo da vida: As nações da Terra tornaram-se super povoadas, bisões e ursos e animais das pradarias quase foram extintos, e em seu lugar surgiram enormes plantações de alimentos para sustentar tão tremendas quantidades de roedores humanos. Chegamos a um ponto de necessitarmos abrir mão de nossas noções de nojo e passarmos a roer insetos devidamente apresentados com arte em tragáveis pratos decorados. Esse senso humano de jogar buscando recompensa que tanto pode ser premiada com a riqueza ou alimentos, ou castigada com a morte, perdura sempre. Esse jogo sempre será jogado, ainda que seja decorado e apresentado com roupas interessantes e adequadas, sorrisos, arautos, shows de artistas ou armas que se inventaram para mais facilmente se garantir a vitória nesse jogo da vida. Desenvolveram a ciência para poderem descobrir novas armas mais eficientes e potentes, e para curar de doenças as populações necessárias para usarem essas armas. O jogo da vida foi-se tornando cada vez mais letal, porém mais saudável aos corpos ansiosos por jogar esse jogo. Crianças que hoje não têm a oportunidade de ver bisões e ursos, ou leões e hienas disputarem seus jogos pela vida, aprendem a jogar em competições infantis esportivas ou em simples jogos de cabra-cega, relativamente fáceis, até os mais complicados de futebol, artes marciais viagens espaciais, jogos de guerra. A diversão do dia a dia é fingir que não se tratam de jogos de vida, e apregoar a paz, a bondade, o seguimento de leis morais ou religiosas. Os fiéis às leis e á religião têm suas compensações morais, dormem relativamente tranqüilos, muitas vezes com fome, com falta de instrução, de serviços públicos, mas sem riquezas mensuráveis. Os que fazem as leis e as fazem cumprir, dormem relativamente tranqüilos porque estão, também relativamente, protegidos pelas leis e pelos exércitos com as armas inventadas sob a égide do jogo da vida. Comunidades unidas são mais fortes. O que as une? Traços fisiológicos, aspectos legais e religiosos, o medo de jogar o jogo da vida, a vontade de vencê-lo, uma pintura multicolorida de outros fatores, mas sempre o jogo da vida. O maior problema que parece quebrar este sistema até agora relativamente controlável foi o crescimento populacional.



As planícies foram invadidas, as florestas derrubadas, os mares enredados por redes mortais, extraiu-se da natureza o que se podia até se sentir que essa natureza estava mais que morrendo, desaparecendo. Nenhum sistema político – o que é evidente porque se trata de um jogo – conseguiu deter as tendências do crescimento populacional e a ocupação de terras vitais, delimitar o uso das redes de pesca.  A cadeia alimentar do planeta transformou-se numa prisão alimentar em cadeias, cada uma com seus predadores. O controle das massas humanas tornou-se assim mais difícil, grupos isolados desafiam as ordens e a Ordem. O jogo exige que se atribuam culpas entre grupos, e para se encontrar culpados, basta descobrir um motivo que pareça justo, mesmo sendo apenas parte do jogo da vida. Se não existe lei para defini-lo, inventa-se uma, dez, cem, alteram-se constituições, compram-se senadores, empresas, porque há dinheiro. Quando o dinheiro é um bem considerado abominável, compram-se os indivíduos com qualquer outro bem do jogo da vida: Cargos, benefícios, cupons, liberdades, serviços, um pouco de açúcar, sal e farinha, um ponto de táxi, liberdade para fabricar fritar e vender seus pastéis no meio da rua pagando imposto ao estado que se diz dono dos pastéis.



O limite do jogo da vida é alcançado quando o indivíduo serve o estado de forma quase que em dedicação integral e com ele divide de forma subalterna e desproporcional a sua própria existência, quando se anula como individualidade. Humanos podem subsistir sem o Estado e sem a religião, mas não podem ser tão numerosos que não se conheçam uns aos outros pelo nome. Em quantidades maiores do que cerca de 100 indivíduos, o estado se faz necessário porque não haveria forças que os segurassem em suas revoltas constantes. O jogo da vida é duro, e das riquezas à morte vai um século ou um segundo na vida de cada um.



Quem manda em instituições, sejam elas religiosas, governamentais, sob qualquer tipo de filosofia moral ou política, está e sempre esteve bem, ao lado das maiores e melhores riquezas disponíveis desde o tempo dos faraós, de Salomão, Nero, e Ciro. Artistas e cientistas sempre tiveram suas regalias desde que agradassem, mas foram sempre os donos de exércitos que ganharam, por tempo mais curto ou extenso, o jogo da vida. Esses donos de exércitos são os governos da Terra, os que movem os peões no tabuleiro do jogo. Uns são reis, outros rainhas, outros fortes e lineares torres, alguns são bispos, e outros se movem como cavalos. A maioria é constituída de peões que têm seus movimentos completamente lentos e limitados a um passo de cada vez, jogando sempre á frente em proteção das peças superiores.  Quem inventou o jogo de xadrez, um dos pequenos, inocentes e divertidos jogos da vida, não gostava de reis porque os fez se moverem a um passo de cada vez como os peões. Deveria gostar muito de rainhas, tal como deveria ser nas cortes reais, reais, onde elas se moviam de forma independente, para qualquer lugar do palácio desde que fosse em linha reta, e é impressionante neste jogo que bispos não se possam esconder nas torres, reis não possam montar cavalos, peões não possam voltar para trás, mas se transformar em rainhas, jamais em reis. O jogo não permite dois reis, e cada rei tem que ter direito a uma outra rainha caso fique viúvo.



Neste jogo da vida tudo é ilusão e poucas as realidades. As ilusões não se vêem... Ficam escondidas, prontas para se tornarem realidades, e num só bote, nos darem o xeque-mate. Se você tem alguma filosofia política, comece a vê-la de forma mais real: Ela se contrapõe a outras filosofias não por que sejam melhores ou piores, que certamente serão, mas porque se trata de opções no jogo da vida onde você será sempre, provavelmente, peão. Você protege os campeões ou os pretendentes a campeões. Uns chamam até de posição aos campeões e de oposição aos pretendentes a campeões. Bateis-lhes palmas, incentivais o jogo. Alguns chamam a este jogo o jogo do poder, mas não é. É o jogo da vida e nós, peões, estamos perdendo-o. Mas lembre-se, a título de consolo e esperança: O jogo termina sempre com a queda do Rei mesmo que a Rainha ainda exista. No jogo de xadrez, claro, porque no jogo da vida, não há fim, nem vencedor perene nem perdedor que não possa vir a vencer. É tudo uma questão de jogo de sorte que pode ser de azar. Ganham-se riquezas ou perde-se a vida. Muitos doam sangue e órgãos do corpo, além de pagarem impostos, doar dízimos, pagarem multas, trabalharem mais de oito horas por dia para sobreviver, fazem doações de caridade, trabalham sem receber em instituições de caridade, dão aulas em escolas por salário irrisório e insuficiente, movidos pela vontade de ajudar o próximo. Somos uma humanidade demasiado boa, mas nos exigem cada vez mais. Nós mesmos, ou a natureza nos encarregaremos de pôr fim a sistemas, a governos, à natureza, mas, sempre, sem deixarmos de jogar o jogo da vida. Rindo ou chorando, acariciando ou rejeitando, ainda que imbuídos dos melhores ou piores sentimentos, tudo faz parte do jogo.

O mundo é naturalmente irrequieto, cada peão servindo as castas superiores (ainda que temporariamente) que se escondem em pompa na retaguarda, fortalecidas por torres, bispos, cavalos. São os reis e rainhas, ela podendo até ter ascendido de peão vencedor, mas rei, com linhagem sem duvidar, só o Rei. Quando perde, tomba. Pelo menos era assim no jogo de xadrez. Pode ser que no futuro tenhamos reis rainhas e rainhas reis, sem mudarmos absolutamente nada. Nada mesmo. E até as cores do jogo de xadrez, preta e branca, não seria necessário serem tão discriminatórias. Bastaria que fossem numeradas de 1 a 16 de um jogador, e de 17 a 32 do outro. Seriam diferenciadas apenas pelos números.



Surreal é vermos um mundo momentaneamente real com fundamentos em irrealidades, sabendo que existem realidades que não vemos nem sentimos, e, mesmo assim, acharmos que tudo é absolutamente real como se fosse eterno. Pior ainda, se acharmos que existe algum laivo de imutabilidade, a qualquer momento, em qualquer coisa deste universo, que não se altere a cada micro fração de segundo. Só não se nota quando estamos juntos, pessoas paisagens e coisas, em modo continuado ao longo de um período de tempo. A cada período se notam diferenças. Basta olhar sem temor, em tom de desafio ao jogo da vida e manter o rei em pé.

® Rui Rodrigues.




terça-feira, 25 de novembro de 2014

Discurso de natal para Maya.

Discurso de natal para Maya.



A família estava reunida. Uma discreta árvore de natal tradicional, apenas por tradição, assistia piscando sobre um móvel afastado da mesa central. O velho avô de 70 anos estava atrasado. Nestes dias festivos os transportes ficam desnorteados nas estradas com as vias tão congestionadas que nem Vick Vaporub é capaz de desentupir. A netinha brincava na sala entre olhares para a mesa verificando se os doces ainda estavam lá, e pela mesma razão a base do móvel onde jaziam caixas surpreendentes embrulhadas em papeis mágicos, amarradas por laços coloridos, prestes a se libertarem. Natal é uma data mágica, onde pessoas comemoram qualquer coisa irreal, cheia de coisas reais para dividirem: Comidas, presentes, lembranças, o convívio. Sobretudo lembranças e convívio. As comidas e os presentes são totalmente desnecessários.

Para a netinha de cinco anos, quando o avô chegou foi o sinal de que mais uma festa de natal iria começar. Lembrou-se de duas, as últimas. Das três primeiras só de uma foto – onde andaria a foto? [1] - ela ainda num carrinho de bebê, olhando encantada para um papai Noel mecânico, maior que ela, de corda, gordo, que cantava à porta de um mercado no Leblon. Lá o apartamento era menor. Preferia agora a casa que lhe parecia enorme. Pena que não estivesse sempre assim, cheia, com doces, gente e presentes. Ou não? Estava em dúvida. Também gostava de ter seus momentos livres de “muita gente”. O convívio ficava muito mais gostoso quando era de vez em quando. Tinha aquele sentimento de “é hoje que vou voltar a ver o vovô”, por exemplo. Se o vovô convivesse diariamente com ela, quem sabe, seria mais um “cara chato” a atazanar-lhe a vida com aquelas frases que ela já conhecia: Assim não pode... Não vai para aí... Cuidado... Vem cá, Maya... Vai fazer os trabalhos da escola...Tira essa roupa que está toda suja... Onde foi que arranjaste mais essa nódoa negra nas pernas? Para Maya aquela noite de natal jamais deveria terminar e ela estava bem preparada: Não tinha nem um pingo de sono. Mas tão certo como dois e dois serem quatro - já sabia contar - alguém teria a triste idéia de a mandar para a cama antes do tempo. Tentaria comer a maior quantidade de doces que pudesse até chegar essa triste hora.

Eram uma família unida e interessante. Os avós estavam separados, mas era como se sempre estivessem juntos. Não discutiam, davam-se bem, cooperavam entre si. Ambos amavam a netinha, ela, Maya. A mãe era uma bela amorosa, a avó também, mas era aliada da mãe na hora de lhe cobrarem dela certas coisas que Maya até achava demais. Soube um dia que a mãe disse para os avós com a mesma idade que ela agora tinha: - Vou arrumar minhas malas e vou deixar vocês.... Como pais vocês dois são muito chatos... Os avós tiveram um trabalhão para convencê-la que era preciso comprar passagens, que as lojas já estavam fechadas, que era preciso tirar uma certidão para ela poder viajar sozinha, avisar se a bisavó, a Susana, podia ir apanhá-la no aeroporto de Porto Alegre.. E... E... E tantos “e” que a mãe desistiu sob promessa de que não seria mais tratada de forma tão “chata”. O tio de Maya fazia comidas super gostosas, principalmente sushi que ela gostava tanto.  Já tinha sido ator de cinema. Era viajante... Andara pela Europa um tempão, cozinhando, conhecendo o mundo. Só o conheceu numas férias dele. Depois voltou e agora estava ali, um bom companheiro. Tiozão. Ainda bem que ele não tinha filho, porque assim lhe dava toda a atenção a ela. E havia os amigos e amigas da família que visitavam aquela casa.  O bom era que todos sem exceção, não ficavam conversando sozinhos sem lhe dar atenção. Todos a incluíam nas conversas, e a faziam sentir-se uma “deles”, completamente integrada sem qualquer tipo de rejeição. Ela se sentia muito bem. Chegara a hora de ver os presentes. A sala se encheu de alegria. De qual presente ela gostaria mais? De todos. Todos os presentes teriam seu dia de uso.

Ao final da refeição, ergueram-se brindes á vida. Maya ergueu seu copinho de leite de chocolate, e logo em seguida viu o avô tirar umas folhas do bolso e dizer: Vou fazer um brinde. Trouxe o discurso pronto. Maya disse rindo: Vovô... Vai só dizer o brinde ou vai ler uma historinha pra mim? Tem muitas folhas escritas...O avô sorriu e disse, lendo a primeira folha:

- Faço um brinde como um desejo quase cumprido. Vou ler o meu discurso de trás para frente. Começarei pela ultima página que corresponde ao presente. As outras são do passado...
Somos uma família unida que por circunstâncias vive separada, mas sempre unida construindo uma vida juntos, garantindo-nos uns aos outros, e mesmo que apenas em apoio moral, já é muito mais que suficiente e aquece a alma todos os dias mesmo quando não é dia de natal. Pois então, que assim continue sendo... Sabemos que amores não morrem, apenas se transformam numa série interminável de outros onde todos estão sempre presentes. Que continuemos nos amando como sempre nos amamos.
Dito isto, guardou todas as folhas no bolso.

- E as outras folhas, avô... Não vai ler? Disse Maya desapontada.

- As outras folhas, netinha, são do passado e estão em branco porque cada um de nós tem suas lembranças. É um passado para ser reescrito com os olhos do presente. O que foi bom continuará bom e viverá sempre em nossas lembranças. O que não foi tão bom está em branco... Um dia você terá seus dias de consultar as suas páginas em branco da vida, páginas que você mesma escreverá a cada dia em conjunto com todas as pessoas que com você conviverem.

A família continuou conversando. Maya gostou muito das histórias que contaram, como aquela da avó Suzana –sua bisavó – no dia em que ela desembarcou no aeroporto do Galeão, vinda do Sul, carregando um saco de presentes e vestida de papai Noel. Tivera o maior trabalho em se vestir no lavabo do avião antes da aeromoça avisar para apertarem os cintos. Foi a primeira vez que Betinho, seu tio, também com a idade dela, mais ou menos com cinco anos viu pela primeira vez um papai Noel de verdade.... Papai Noel não... Só depois de abrir o berreiro é que viu que era Vovó Noel...

Será que Maya entenderia o que o avô lhe disse? Claro que entendia. A lembrança de Suzana fazia parte das lembranças das páginas em branco do livro da vida. O Avô já fora criança, lembra-se ainda de coisas que aconteceram quando ele tinha dois anos e meio, com testemunhas que já faleceram, e não menospreza a inteligência de ninguém, muito menos de uma criança, sempre curiosa, com todos os neurônios, irrequietos, entrando  a todo vapor nos seis anos...


® Rui Rodrigues – Papai Noel delegado.





[1] A foto está na casa do vovô. 

domingo, 23 de novembro de 2014

Prepare-se para ver um mundo que nunca imaginou.

Prepare-se para ver um mundo que nunca imaginou.



Vivemos num mundo em três dimensões – o espaço - com uma outra, o tempo, incorporada às três primeiras de forma inseparável. Perceber tudo o que se passa á nossa volta é tarefa impossível por que nossa visão e nossos sentidos ainda não o permitem, mas podemos melhorar nossa percepção. Por exemplo, imaginando um mundo em camadas de tempo-espaço [1], de tal forma que possamos perceber que outros eventos estão acontecendo em “camadas” de tempo acima, abaixo, em todas as direções em relação à camada que vemos ao alcance de nossos deficientes olhos. Para se entender melhor: Na nossa camada de tempo para aquele exato instante, estamos felizes, num estádio de futebol assistindo a um grande jogo com nossa família, mulher e dois filhos. Numa camada de tempo-espaço defasada de poucos minutos, antes do inicio do jogo, o técnico olhou atravessado para um dos jogadores. Esta camada não temos como vê-la porque  já passou no tempo e estava em um espaço em que nós não estávamos. O reflexo daquele olhar do técnico sobre o jogador é que ele agora não produz, está abatido. Nosso time perderá quando esperávamos que ganhasse. E na mesma camada de tempo, também sem termos conhecimento porque não estamos no mesmo espaço (visual), a mãe do chefe de família que assistia ao jogo de futebol está sendo levada para o hospital porque passou mal num shopping onde fazia compras. Num espaço ainda mais distante, mas no mesmo tempo, um líder mundial pode iniciar uma guerra limitada a um determinado espaço da sua fronteira.



Vivemos num mundo incontrolável que se move de forma para nós totalmente aleatória e que apenas acompanhamos no alcance de nossa visão ou por notícias instantâneas que recebemos de outras “camadas” de espaço ou tempo. Tentamos nos adaptar ao que chamamos de “circunstâncias”, ou seja, e isto é muito importante, às mudanças que cada camada de espaço-tempo ou tempo-espaço provoca nas camadas que lhe seguem. Tudo parece aleatório, mas interligado a cada segundo ou fração, de forma a dar continuidade a uma “evolução” do espaço-tempo e de tudo que ele contém. Absolutamente tudo, de forma instantânea, como se a falta de um átomo num determinado lugar e tempo, fosse imediatamente compensada numa outra camada de espaço no mesmo tempo repondo-a. Parece complicado? Talvez não... Existe uma forma simplificada de entendimento segundo a qual temos a percepção do todo sem, contudo, entendermos nada dos detalhes. Alguém já disse que uma borboleta batendo as asas em Madrid pode provocar alterações em N, York. Foi dito ao abrigo da Teoria do Caos. Agora parece mais “fácil” entendermos que a falta de um átomo perto do planeta Terra, pode provocar o aparecimento de outro perto da estrela Alfa de Centauro, só para dar um exemplo. [2]



Quando jogamos nessas loterias de números, o que esperamos que aconteça é que acertemos numa série quase interminável de coincidências altamente improváveis, que vão desde a honestidade no sistema de escrutínio dos números, até a guarda do equipamento de escrutínio, o nivelamento do solo na hora do sorteio, a temperatura ambiente que age sobre o coeficiente de dilatação das “bolas” que contêm os números, etc. São fatos que acontecem em seqüência em camadas de tempo-espaço e que têm uma resultante final: uma série de números sorteados. Se pudéssemos estar simultaneamente em todas as camadas de tempo-espaço que diretamente influenciaram o resultado, acertaríamos em cheio todos eles. Não temos tecnologia para isso. Apenas intuição e um pouco de matemática no capítulo “Cálculo das Probabilidades”, uma parte importante da matemática usada em Física Quântica. Vivemos num mundo quântico sob o aspecto físico-matemático, e num mundo de camadas sucessivas, em todas as direções, de espaço-tempo sem nada de quântico, a não ser no nível de partículas. Nossa existência de adaptações ao meio que nos cerca não tem nada de quântica. É real e raras suposições podem ser calculadas por probabilidades matemáticas.

Sim... E daí, supondo que tudo neste texto esteja correto? O que esta linha de pensamento nos oferece ou muda em nossas vidas?


Provavelmente nada mudará. Não consigo imaginar alguém que consiga reunir especialistas munidos de ótimos computadores para fazerem um histórico de todas as ocorrências de combinações de números já escrutinados num tipo de loteria, acompanhar o equipamento, medir todos os operadores que têm contato com ele, calcular a variação térmica do ambiente em que ele se envolveu, e no dia do escrutínio calcular todas as variáveis e acertar os números todos. Até poderia, digamos, mas as apostas já se teriam encerrado pelo menos meio dia antes. Haveria variáveis sem cálculo, determinantes para o resultado. A incerteza persistiria. Por isso não jogo e conheço a matemática das probabilidades, um pouco de física quântica, tenho computador... Mas falta todo o restante e os controladores das loterias encerram as apostas antes que eu possa fazer todos os cálculos com todas as variáveis. E eu sou um só. Sócios provavelmente se constituiriam em outros tipos de variáveis...



Se atentarmos para o exposto poderemos definir a irreversibilidade técnica da morte [3].  Morte é morte. Podemos num instante não poder garantir se um de nós está ou não realmente morto, mas passados dias o corpo começa a entrar em decomposição. Se tivermos feito anotações e anotado o instante em que seus sinais vitais se anularam, poderemos dizer mais ou menos exatamente, no nível de minutos, a que horas faleceu. Nesse exato instante, a camada de espaço-tempo em que se encontrava o corpo, e que estava em movimento, continuou em seu movimento. Todas as outras camadas seqüentes incluem um corpo morto em grau progressivo de decomposição. Estas camadas de espaço tempo não retornam. Evoluem, como que são “consumidas”, desaparecem de fato, como se fossem umas ondas de “n” funções, “z” variáveis. Há uma teoria – a Teoria dos Universos paralelos – segundo a qual existimos em diversos universos. Se num morremos, em outro continuaremos doentes ou machucados, e, em outros, nem ficamos doentes nem machucados, continuando vivos e saudáveis. Não há nada que comprove esta teoria, linda, interessante e confortável para nossos espíritos que vivem de esperanças á base de endorfinas [4].
A não ser apenas na Física Quântica aplicada a partículas segundo a qual seria possível a existência de “anéis de tempo”, em que os fatos se repetem sucessivamente em todas as camadas de tempo anteriores e posteriores, nada mais é possível movimentar-se para “trás”, para frente ou para qualquer lado em relação ao vetor tempo do espaço. Não há como “evitar” uma batida de automóvel depois que ela aconteceu. Nunca haverá. O tempo é algo irreversível, movimentando-se em camadas em todas as direções, como se fosse um vetor irradiante.



Inconformados ou não com as leis da natureza deste mundo cognitivo em que vivemos, passamos vidas inteiras cercados de perguntas, a maioria sem respostas. Ainda. Estamos fazendo enormes progressos a uma velocidade exponencial fruto da cadeia do conhecimento: A cada nova descoberta novas portas do conhecimento se abrem como se vê em ramos de árvores. Não temos nenhuma certeza de um dia virmos a descobrir o que se passa em outras camadas de espaço-tempo à nossa volta num determinado “tempo” em nossas vidas, e adivinhar o resultado de loterias depende de tantos fatores que lidar com “sorte” – que não existe, mas com a qual lidamos cheios de “esperança” – só é benéfico pelas endorfinas que nos faz jogar em nosso cérebro sonhando com a fortuna que iremos ganhar. A fé é, portanto, apenas um mecanismo que serve para nos fazer produzir endorfinas e dar prazer, ainda que esse prazer possa desviar a nossa atenção das realidades que nos cercam. Podemos morrer num determinado instante, abarrotados das ultimas endorfinas que nos possam fazer sonhar com um céu ao alcance em alguns segundos mais, onde haverá leite e mel, sombra, lagos, férias perenes ao final de uma vida conturbada em luta para sobreviver e se reproduzir.

Para quem não está habituado ou não sabe como viver em auto-suficiência poderá parecer difícil. Para quem tem “os pés no chão” e analisa a maior quantidade de fatores que podem influir em suas vidas e toma as providências que pode, sempre singrará a vida com maior facilidade por ter mais hipóteses de lidar mais adequadamente com o imponderável. Este imponderável é uma resultante do que acontece simultaneamente em outros espaços deste universo. Pessoas “bem sucedidas” geralmente aparentam uma predisposição para a introspecção com boa dose de humor... A introspecção para meditar sobre as probabilidades de comportamento do espaço-tempo com tudo o que ele contém no seu entorno (dela, pessoa) e humor para rir nas desgraças e arranjar forças para continuar com sua introspecção.



Ame, divirta-se bastante e tenha fé... O amor, a diversão e a fé são os maiores agentes de produção de endorfinas! E, se reparar, as endorfinas não se preocupam com o “que”: Que tipo de fé, de amor ou diversão.
Se tiver a curiosidade de se perguntar: E depois da morte? Então, retorne ao inicio deste texto e volte a ler, agora mais devagar.

® Rui Rodrigues






[1] Basta nos preocuparmos preferencialmente com o tempo e depois com o espaço, em vez do contrário.Em "que" estou e não "onde" estou. 
[2] Para entendermos melhor precisaríamos saber o que é “entrelaçamento quântico”.
[3] Até para Jesus Cristo. A prova é que já não está entre nós. O milagre de ter aparecido a apóstolas, é questionável, como tem sido ao longo dos séculos: Eram amigos, tinham interesses em comum, o tema era atraente e convidava para o milagre. Não há notícias de que Jesus ressuscitado, mas nu, tenha passado em casa ou num armazém para apanhar ou comprar uma túnica.  Maria Madalena o teria visto completamente nu, o que não deveria ser novidade para ela. Os textos – incluindo os apócrifos - indicam que havia grande probabilidade de serem casados. E não se sabe “quando” exatamente Jesus morreu, nem se foi “enterrado” vivo, dado como morto, até para despistar as autoridades, vindo a falecer depois. 
[4] Endorfinas, compostos químicos produzidos em nosso cérebro e que nos dão a sensação de prazer. São produzidos através de “estimulações”. A esperança é uma delas, assim como a fé, a segurança. Tudo que nos parece “bom” solta a produção de endorfinas. Quanto maior a estimulação, maior a produção delas.  

terça-feira, 18 de novembro de 2014

O avô setentão e o neto quinzóide.

O avô setentão e o neto quinzóide. 
(para ler, tirem as crianças da NET)



Estavam vendo uma novela, avô e neto, uma que passa na Globo depois do Jornal: Império! O avô passava dos setenta. O neto recém tinha completado os 15 anos mas de vez em quando ainda se divertiam jogando bola ou arremessando uma bola de basquete para uma cesta pendurada na parede da área. Conversavam normalmente sobre a vida, essa coisa interessante, nada desvendada ainda, no que tange ao “motor” que a move e o que se pode fazer com ele, para onde se pode ir... Para qualquer lugar!  Disse o avô quando acabou o capítulo.
- A vida nos permite fazer tudo o que queremos. Queres matar? Mata!... O problema são as conseqüências externas e as morais. Deus não aparece para reclamar as suas leis, os homens fizeram as suas. De uma forma masculinizante,  é certo, mas foi o melhor que se fez até hoje. Foram até onde puderam ir. Agora as mulheres têm também uma palavra a dizer e temos que ouvi-las. Sem elas não somos nada. Nem existiríamos. Então...Nada mais justo que ouvir e seguir o que têm a dizer. A humanidade será mais justa certamente.
- Mas vô... E a viadagem? Também quer falar pelo que parece...
-Tu és viado, guri? Pode dizer...Tem problema não...
-Não vô, não sou viado nem gay. Foi opção minha. Alguns anos atrás, eu devia ter uns oito a nove anos, um guri lá do meu colégio me falou sobre isso. Disse-me o que era ser gay e viado. Gay é um viado rico, sem afetações. O viado é pobre, cheio de trejeitos afeminados. Os gays nem parecem ser gays, mas todos gostam de tomar no cu. Aí me imaginei enfiando algo no meu rabo. Podem adorar fazer isso por amor ou prazer, ou seja o que raios for, mas imaginar alguém em cima de mim, enfiando-me uma rola pelo traseiro e gozando dentro me dá um nojo desgraçado. Vontade de encher de porrada quem tentar. Cheguei a pensar em enfiar um pepino no rabo para ver se gostava.
-E?... Perguntou o avô...
- Ta dodjo sô? Pô vô... Nem pensar!... Ia perder um pepino da salada!




E os dois riram às gargalhadas...

-É, meu neto quinzóide... Sabes que te chamo de quinzóide porque tens quinze anos e de tão agitado pareces um espermatozóide... hahahahaha.... Sexo é como droga. Experimentou, gostou. Nunca mais se deixa de fazer sexo. O problema que separa ou une os gêneros é a “primeira vez”. Há muitos fatores que influenciam. Por vezes é a dificuldade em lidar com o sexo oposto; outras é a necessidade de um “protetor” ou protetora; outras vezes é a necessidade de se sentir seguro; outras ainda é o moral que anda baixo por qualquer motivo e uma vez penetrado, pensa que o mundo acabou para as mulheres, que todo mundo vai saber e o ato se repete até se habituar. Raras vezes a aproximação para o mesmo sexo se dá porque se “nasceu diferente”, no “corpo errado”. Mas uma coisa parece certa: Uma vez, desde a primeira, optou, se fixou! Não há saída ou cura, seja homem ou mulher. O mundo de cada um se constrói em torno de suas sensibilidades, seu nível de conhecimento, ou até seguindo moda por adesão. Nosso “ego” não está completamente desvendado. Vamos afirmando coisas que não conhecemos em sua totalidade. Há peixes machos que se transformam em fêmeas quando a sua população diminuiu por causa do meio ambiente que voltou a ser propício para a vida e é  necessário voltar a procriar... Vês como é a natureza?  Vamos abrir uma garrafa de vinho?

- Pô vô ! Beber consigo? Com o senhor? Não vai contar para meus pais?
- Claro que vou contar!... Melhor aprender a beber comigo do que aprender aí pelas ruas, bebendo sem controle, sem saber os efeitos do vinho, do álcool. Vamos lá.  

O avô se dirigiu á garrafeira. Tirou uma garrafa. Apanhou pão e um naco de queijo. Depois, assim de repente, se ajoelhou no chão e escondendo o rosto entre suas mãos, começou a murmurar. Dizia:



- Senhor... Eu te agradeço esse vinho, esse pão, esse queijo... Sei que existes, mas não sei como és. Ninguém sabe, nem Moisés. És muito mais poderoso do que imaginaram. Podes não estar em nenhum lugar visível, em todo o Universo e fora dele, que não sabemos ao certo, mas eu sei que estás em mim, estás em qualquer um. Somos todos parte de Deus que existindo fisicamente ou não, existe de fato. Não o construímos, porque não se constrói o que construiu o mundo em que vivemos. Agradeço-te a vida que me tens dado. Foi a coisa mais maravilhosa que se possa imaginar, apesar de todas as desgraças que parecem ser sem importância face ao bem maior do viver, de ver tudo o que as tuas leis construíram. Tu não construíste nada. Só disseste a tuas leis: Construam! E elas construíram um mundo perfeito que teimamos em modificar para que se pareça e se adapte a nós. Em vão... Como construir um mundo à nossa imagem, ou de qualquer ditador, se as tuas leis se impõem?

Quando o avô levantou do chão seus mais que setenta anos, estava com os olhos brilhantes e úmidos, alegre... A garrafa de vinho na mão, o prato com pão e queijo e uma faca, na outra. Sentaram-se á mesa e continuaram a conversar enquanto se deliciavam com a comida. Conversaram muito... Uma das coisas de que se lembram os dois, da conversa, foi uma assertiva do netinho quinzóide:

- Escuta vô!... Eu já vi alguns filmes de sacanagem... Quando as mulheres soltam o rabo, todas elas fazem cara de pavor, de não gostarem... Não acredito que gostem mesmo.... O que o vô acha?



- Acho que são filmes de sacanagem. As mulheres são pagas para isso. Na vida familiar uma esposa pode até soltar o rabo, mas será por amor. Uma vez ouvi um decorador de apartamentos dizer que gostava porque sentia uma “cosquinha” ali para os lados da próstata quando o possuíam. Era casado e tinha filhos. Muitas vezes nos habituamos a gostar de algo, associando-o a uma situação. Freud entendia muito disso, dos sentimentos e dos falsos sentimentos e até mesmo dos “sentimentos” de grupos, como se o grupo fosse apenas um indivíduo com sentimentos de uma liderança por vezes até invisível, uma entidade única, unida, assim como os peixes de que te falei. Há muito a descobrir ainda sobre os indivíduos, seu comportamento e algo ainda maior a que chamamos de humanidade.
- Acho – finalizou o avô, que não estamos ainda nem na metade, mas há gente que pensa que já sabe tudo. Parece que estamos num país único, chamado papagailândia!

® Rui Rodrigues






segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Experiências - Coisas da corrupção.

Experiências - Coisas da corrupção.


  1. Pela década de 80 peguei o avião de Barranquilla para Houston com minha esposa e meus dois filhos e estávamos certos que, ao chegarmos a Las Vegas, teríamos reservas no Circus-Circus, um cassino onde havia jogos para pais e filhos se divertirem. Quando chegamos lá, não havia nem reservas nem apartamentos vagos. Então me dirigi ao balcão e mostrei uma nota de vinte dólares – apenas 20 dólares – e consegui uma suíte excelente!... Em compensação, quando fui multado na rodovia numero 1 que liga São Francisco a Los Angeles, nem me atrevi a mostrar qualquer nota para o guarda. Com a lei não se brinca em países capitalistas e democráticos, ainda que sejam representados por republicanos.


  1. Em Angola, na década de 90, ao me encaminhar para o aeroporto de Luanda, ao final de minha primeira visita, o diretor financeiro, Dr Rui Lopes, me avisou: Aqui é costume levar um pacote de cigarros, pousá-lo no balcão de atendimento da verificação de passaportes, e esquecê-lo lá... Dizem que evita constrangimentos... Evidentemente que segui o que entendi como “advise” e deixei meu pacote de cigarros no balcão... Depois me arrependi!... Droga!... Se soubesse disso, tinha enfiado um pacote de diamantes na maleta. Nem me revistaram.... E eu sabia que Angola, apoiada por Cuba, era um país comunista! Os tanques e a artilharia cubanos que saíram do porto de Luanda rumo a Cuba, saíram como novos... Quem não gosta de diamantes?Montamos três enormes torres de iluminação por lá. Pedi para revisarem o projeto: As bases das pilastras deveriam ter quatro parafusos e não três, para combater os esforços de impactos de veículos e o vento. 


  1. No projeto El – Cerrejón, na Colômbia, vieram os advogados da companhia e fizeram uma enorme reunião com o staff da empresa. Eles disseram: Estamos recebendo muitas reclamações exageradas, baseadas em que a lei colombiana protegerá as solicitações das empresas nacionais. Por isso, é conveniente que detectem as possíveis reclamações, se reúnam com os solicitantes para revisão dos contratos e dialoguem para obter a reclamação mais justa possível. Caso isso não seja possível, irá para a corte. Algumas sub-contratadas entenderam e reconsideraram o volume “reclamado”. A mim me mandaram uma caixa de uísque escocês do melhor. Impossibilitado de receber por “conflito de interesses”, avisei o staff dos diversos setores do projeto. Decidiu-se que eu deveria aceitar e dividir o uísque entre todos. Tomamos um porre! A empresa que doou o uisque não recebera nenhum favor nosso. Era uma cortesia, e como cada um tem seu preço, o valor era irrelevante para comprar alguém. 



  1. São casos “suaves” de corrupção nos quais estive diretamente envolvido, mas há-os mais graves, sem que tenha tirado proveito. Já pedi demissões de empregos por causa disso. Sempre me garanti como engenheiro ou administrador, ou gerente, ou diretor. Se encontrarem alguém perfeito me mostrem que lhes mostrarei um impostor. Perguntar-me-ão porque conto isto e lhes direi o que segue:



  1. O ser humano é corrupto, em menor ou maior grau, porque se crê impune. Não houvesse a possibilidade de impunidade, e todos seríamos absolutamente honestos por medo das conseqüências. Os jornais estão cheios de notícias de corrupção pelo mundo e principalmente pelo Brasil. A única diferença entre o resto do mundo e o Brasil, é a porcentagem sobre o valor a ser corrompido, e a porcentagem de pessoas que praticam a corrupção em relação ao total da população [1].



  1. Agora imaginemos uma realidade que temos em frente a nossos olhos no Brasil: Uma presidente e seus partidos aliados, nomeiam ministros, presidentes de estatais, compram o senado com o mensalão que lhes permite obter a maioria nas “mudanças” à constituição, impondo sigilo inclusive sobre verbas gastas, e tem no Supremo uma equipe toda nomeada por ela... São capazes de exaurir as riquezas de uma Petrobrás, de uma Caixa econômica Federal, de um BNDES, de qualquer instituição. E ficam sem moral para denunciar os outros, desde o balconista de hotel, ao guardinha, aos empreiteiros, ao ladrão de rua que assalta pessoas e bancos: Soltam todos se forem presos!

  1. Senhoras e senhores este é o Brasil que temos! O Brasil que nos impuseram, e não acredito nas urnas...


® Rui Rodrigues





[1] Aos puristas da língua : Deu “eco” na escrita mas era imprescindível.