Tricolores ... Eu vi os dois jogos!
Já estava escrito há vinte mil anos atrás que em certo
domingo de 1976 o campeonato seria decidido nos pênaltis num jogo de torcidas.
Sim senhor. Torcidas ganham os jogos por mais que os técnicos se empenhem nas
táticas. Na véspera do domingo, fizeram-se sabatinas técnicas em meio a uma
cidade ocupada pela torcida Corinthiana que chegava aos borbotões. Eles vieram
de avião, navio, automóvel, táxi, bicicleta, a pé, e até uma senhora gorda e
patusca com bobs nos cabelos e uma bolsa de feira nos braços perguntou a um célebre colunista, evidentemente tricolor, de forma afirmativa: - Tem jogo
hoje? Sim, porque a cidade está listrada de preto e branco e deviam proibir
carroças na cidade. Foi então que reparei que eles também chegavam em carroças.
Passaram a noite tremulando bandeiras, invadindo o Leme, Copacabana, Ipanema e
Leblon. Agitadas sob fortes ventanias as bandeiras corinthianas festejavam uma
vitória anunciada há tantos milhares de anos e agora pré-anunciavam o Carnaval.
No domingo fomos para os pênaltis, e depois de um suado 1 a
1 perdemos nos pênaltis da torcida Corinthiana e seus gritos dentados e
gritados aos borbotões. Sim, meus amigos, nesse dia perdemos o campeonato para
uma torcida fanática, desvairada, invasora, fazendo-nos sentir estrangeiros em
nossa própria casa. Qualquer turista mais atento anotaria em seu caderninho:
Rio, cidade ocupada. Eles estão por toda a parte para ganharem no grito. A
indignação e o temor da população tricolor tinha fundamento e não era apenas
coisa de idiotas da objetividade: O tricolor era o único time carioca na final
do campeonato. Ali do lado do colunista, Francisco Horta que sabia tudo,
prometeu o tricampeonato à muda e lacrimejante nação tricolor. Técnico não
ganha jogo só de penalidades. Isso é coisa de torcida bem organizada. Nossa
torcida nesse dia, perdeu o campeonato.
Trinta e oito anos foram acrescidos àqueles 20.000 - em que
ocorreram grandes alterações políticas e ambientais - e neste domingo invadido
pela torcida corinthiana a cidade foi novamente sacudida por bandeiras
alvinegras que assolaram e tentaram amedrontar o imaginário tricolor. Francisco
Horta já não dirigia o time das Laranjeiras, nem o palácio tinha o mesmo
governador. A jovem senhora gorda e patusca falecera naquele domingo de 1976, ao
final do jogo depois do segundo pênalti perdido pela torcida do fluminense. A
torcida do Corinthians não falhara nenhum. Alguns familiares tentaram alegar
que ela fora torturada pelo DOPS, visando uma indenização milionária quando a
esquerda tomasse o poder, mas ninguém acreditava nisso e ela desistiu.
Curioso e temente da história fui falar com o técnico da
Fiel e perguntei-lhe: - E aí, Mano Menem – Eu até pensei que ele fosse
argentino - Preparado para o confronto? Ele me respondeu: - Estamos bem
treinados, o time está motivado, temos esta enorme torcida no Maracanã que é um
estádio neutro, e com um pouco de sorte sairemos daqui com a vitória.
Todo o técnico tem que ter algo de profeta para ser um bom
técnico. Tem que ser visionário, tirar os imponderáveis da cama, acordá-los e
pô-los a trabalhar em seu favor, porque a ociosidade não ensina coisa nenhuma.
Só o trabalho ensina. Numa cidade cheia de manos, invadida por manos, como
poderia prever que o Timão perderia por cinco a dois? Cada brasileiro é um
técnico, e todo o mano é fanático por futebol. Como adivinhar que durante o
tempo regulamentar o Corinthians perderia justamente um pênalti que o levaria,
com mais e apenas um só gol, ao empate?
Sim, meninos, eu vi... Hoje eu vi que não é só a torcida que
ganha jogos, nem técnicos, nem presidentes de clubes. É o empenho de jogadores
e a determinação moral de um ou dois destes modernos e heróicos gladiadores das
novas arenas onde as torcidas estão à distância de um braço curto de torcedor
como se estivéssemos na Suíça, Paris ou Londres. O gladiador heróico tem um
nome: Fred. Todos sabem onde Fred sempre está: Na área. Passem-lhe as bolas
direitinhas, redondas, que ele as empurra para o gol, mesmo e até com a cara
arrastada pela grama, já imobilizada, com o ultimo estertor do vento da
determinação sobre seus cabelos.
Desta vez Fred não precisou chegar a tanto e já em casa me chega
a notícia que Pelé está bem, curando-se
de uma infecção urinária, que kaká vai jogar nos EUA. O Vasco da Gama o
Vice-Clube do Rio de Janeiro que já não é o Estado da Guanabara foi o vice na
Segundona e volta para a primeira divisão carioca – quem diria – e o que parece inacreditável, pasmem, o Botafogo foi rebaixado e irá ocupar o lugar do Vasco.
Não sou avesso a mudanças, mas temos que ter muito cuidado com mudanças. Técnicos podem tirar-se, remover-se a qualquer tempo. Presidentes não. Agora se vê tudo em 360 graus e as televisões pesam muito menos e se levam até na mão. Ao chegar a casa, junto ao portão, havia quatro militantes fazendo pedidos de doações para implantar o regime comunista no Brasil. Eu ia mandá-los trabalhar porque emprego não falta, como diz o IBGE, mas reconsiderei. O IBGE não diz, mas a cidade está cheia de ladrões. Meu querido amigo Nelson Rodrigues que de vez em quando passava lá pela antiga rua do Costa onde meu pai tinha uma alfaiataria morreu na cama e eu pretendo viver mais uns dias. Se fosse vivo, morreria no dia em que abrirem o baú da Caixa Econômica Federal e já não iria às Laranjeiras.
Não sou avesso a mudanças, mas temos que ter muito cuidado com mudanças. Técnicos podem tirar-se, remover-se a qualquer tempo. Presidentes não. Agora se vê tudo em 360 graus e as televisões pesam muito menos e se levam até na mão. Ao chegar a casa, junto ao portão, havia quatro militantes fazendo pedidos de doações para implantar o regime comunista no Brasil. Eu ia mandá-los trabalhar porque emprego não falta, como diz o IBGE, mas reconsiderei. O IBGE não diz, mas a cidade está cheia de ladrões. Meu querido amigo Nelson Rodrigues que de vez em quando passava lá pela antiga rua do Costa onde meu pai tinha uma alfaiataria morreu na cama e eu pretendo viver mais uns dias. Se fosse vivo, morreria no dia em que abrirem o baú da Caixa Econômica Federal e já não iria às Laranjeiras.
® Rui Rodrigues.