Prepare-se para ver um mundo que nunca imaginou.
Vivemos num mundo em três
dimensões – o espaço - com uma outra, o tempo, incorporada às três primeiras de
forma inseparável. Perceber tudo o que se passa á nossa volta é tarefa
impossível por que nossa visão e nossos sentidos ainda não o permitem, mas
podemos melhorar nossa percepção. Por exemplo, imaginando um mundo em camadas
de tempo-espaço [1],
de tal forma que possamos perceber que outros eventos estão acontecendo em
“camadas” de tempo acima, abaixo, em todas as direções em relação à camada que
vemos ao alcance de nossos deficientes olhos. Para se entender melhor: Na nossa
camada de tempo para aquele exato instante, estamos felizes, num estádio de
futebol assistindo a um grande jogo com nossa família, mulher e dois filhos.
Numa camada de tempo-espaço defasada de poucos minutos, antes do inicio do
jogo, o técnico olhou atravessado para um dos jogadores. Esta camada não temos
como vê-la porque já passou no tempo e
estava em um espaço em que nós não estávamos. O reflexo daquele olhar do
técnico sobre o jogador é que ele agora não produz, está abatido. Nosso time
perderá quando esperávamos que ganhasse. E na mesma camada de tempo, também sem
termos conhecimento porque não estamos no mesmo espaço (visual), a mãe do chefe
de família que assistia ao jogo de futebol está sendo levada para o hospital
porque passou mal num shopping onde fazia compras. Num espaço ainda mais
distante, mas no mesmo tempo, um líder mundial pode iniciar uma guerra limitada
a um determinado espaço da sua fronteira.
Vivemos num mundo
incontrolável que se move de forma para nós totalmente aleatória e que apenas
acompanhamos no alcance de nossa visão ou por notícias instantâneas que
recebemos de outras “camadas” de espaço ou tempo. Tentamos nos adaptar ao que
chamamos de “circunstâncias”, ou seja, e isto é muito importante, às mudanças
que cada camada de espaço-tempo ou tempo-espaço provoca nas camadas que lhe
seguem. Tudo parece aleatório, mas interligado a cada segundo ou fração, de
forma a dar continuidade a uma “evolução” do espaço-tempo e de tudo que ele
contém. Absolutamente tudo, de forma instantânea, como se a falta de um átomo
num determinado lugar e tempo, fosse imediatamente compensada numa outra camada
de espaço no mesmo tempo repondo-a. Parece complicado? Talvez não... Existe uma
forma simplificada de entendimento segundo a qual temos a percepção do todo
sem, contudo, entendermos nada dos detalhes. Alguém já disse que uma borboleta
batendo as asas em Madrid pode provocar alterações em N, York. Foi dito ao
abrigo da Teoria do Caos. Agora parece mais “fácil” entendermos que a falta de
um átomo perto do planeta Terra, pode provocar o aparecimento de outro perto da
estrela Alfa de Centauro, só para dar um exemplo. [2]
Quando jogamos nessas
loterias de números, o que esperamos que aconteça é que acertemos numa série
quase interminável de coincidências altamente improváveis, que vão desde a
honestidade no sistema de escrutínio dos números, até a guarda do equipamento
de escrutínio, o nivelamento do solo na hora do sorteio, a temperatura ambiente
que age sobre o coeficiente de dilatação das “bolas” que contêm os números,
etc. São fatos que acontecem em seqüência em camadas de tempo-espaço e que têm
uma resultante final: uma série de números sorteados. Se pudéssemos estar
simultaneamente em todas as camadas de tempo-espaço que diretamente
influenciaram o resultado, acertaríamos em cheio todos eles. Não temos
tecnologia para isso. Apenas intuição e um pouco de matemática no capítulo
“Cálculo das Probabilidades”, uma parte importante da matemática usada em
Física Quântica. Vivemos num mundo quântico sob o aspecto físico-matemático, e
num mundo de camadas sucessivas, em todas as direções, de espaço-tempo sem nada
de quântico, a não ser no nível de partículas. Nossa existência de adaptações
ao meio que nos cerca não tem nada de quântica. É real e raras suposições podem
ser calculadas por probabilidades matemáticas.
Sim... E daí, supondo que
tudo neste texto esteja correto? O que esta linha de pensamento nos oferece ou
muda em nossas vidas?
Provavelmente nada mudará. Não consigo imaginar alguém que consiga reunir especialistas munidos de ótimos computadores para fazerem um histórico de todas as ocorrências de combinações de números já escrutinados num tipo de loteria, acompanhar o equipamento, medir todos os operadores que têm contato com ele, calcular a variação térmica do ambiente em que ele se envolveu, e no dia do escrutínio calcular todas as variáveis e acertar os números todos. Até poderia, digamos, mas as apostas já se teriam encerrado pelo menos meio dia antes. Haveria variáveis sem cálculo, determinantes para o resultado. A incerteza persistiria. Por isso não jogo e conheço a matemática das probabilidades, um pouco de física quântica, tenho computador... Mas falta todo o restante e os controladores das loterias encerram as apostas antes que eu possa fazer todos os cálculos com todas as variáveis. E eu sou um só. Sócios provavelmente se constituiriam em outros tipos de variáveis...
Se atentarmos para o exposto
poderemos definir a irreversibilidade técnica da morte [3]. Morte é morte. Podemos num instante não poder
garantir se um de nós está ou não realmente morto, mas passados dias o corpo
começa a entrar em decomposição. Se tivermos feito anotações e anotado o
instante em que seus sinais vitais se anularam, poderemos dizer mais ou menos
exatamente, no nível de minutos, a que horas faleceu. Nesse exato instante, a
camada de espaço-tempo em que se encontrava o corpo, e que estava em movimento,
continuou em seu movimento. Todas as outras camadas seqüentes incluem um corpo
morto em grau progressivo de decomposição. Estas camadas de espaço tempo não
retornam. Evoluem, como que são “consumidas”, desaparecem de fato, como se fossem
umas ondas de “n” funções, “z” variáveis. Há uma teoria – a Teoria dos
Universos paralelos – segundo a qual existimos em diversos universos. Se num
morremos, em outro continuaremos doentes ou machucados, e, em outros, nem
ficamos doentes nem machucados, continuando vivos e saudáveis. Não há nada que
comprove esta teoria, linda, interessante e confortável para nossos espíritos
que vivem de esperanças á base de endorfinas [4].
A não ser apenas na Física
Quântica aplicada a partículas segundo a qual seria possível a existência de
“anéis de tempo”, em que os fatos se repetem sucessivamente em todas as camadas
de tempo anteriores e posteriores, nada mais é possível movimentar-se para
“trás”, para frente ou para qualquer lado em relação ao vetor tempo do espaço. Não
há como “evitar” uma batida de automóvel depois que ela aconteceu. Nunca
haverá. O tempo é algo irreversível, movimentando-se em camadas em todas as
direções, como se fosse um vetor irradiante.
Inconformados ou não com as
leis da natureza deste mundo cognitivo em que vivemos, passamos vidas inteiras
cercados de perguntas, a maioria sem respostas. Ainda. Estamos fazendo enormes
progressos a uma velocidade exponencial fruto da cadeia do conhecimento: A cada
nova descoberta novas portas do conhecimento se abrem como se vê em ramos de
árvores. Não temos nenhuma certeza de um dia virmos a descobrir o que se passa
em outras camadas de espaço-tempo à nossa volta num determinado “tempo” em
nossas vidas, e adivinhar o resultado de loterias depende de tantos fatores que
lidar com “sorte” – que não existe, mas com a qual lidamos cheios de
“esperança” – só é benéfico pelas endorfinas que nos faz jogar em nosso cérebro
sonhando com a fortuna que iremos ganhar. A fé é, portanto, apenas um mecanismo
que serve para nos fazer produzir endorfinas e dar prazer, ainda que esse
prazer possa desviar a nossa atenção das realidades que nos cercam. Podemos
morrer num determinado instante, abarrotados das ultimas endorfinas que nos
possam fazer sonhar com um céu ao alcance em alguns segundos mais, onde haverá
leite e mel, sombra, lagos, férias perenes ao final de uma vida conturbada em
luta para sobreviver e se reproduzir.
Para quem não está habituado
ou não sabe como viver em auto-suficiência poderá parecer difícil. Para quem
tem “os pés no chão” e analisa a maior quantidade de fatores que podem influir
em suas vidas e toma as providências que pode, sempre singrará a vida com maior
facilidade por ter mais hipóteses de lidar mais adequadamente com o
imponderável. Este imponderável é uma resultante do que acontece
simultaneamente em outros espaços deste universo. Pessoas “bem sucedidas”
geralmente aparentam uma predisposição para a introspecção com boa dose de
humor... A introspecção para meditar sobre as probabilidades de comportamento
do espaço-tempo com tudo o que ele contém no seu entorno (dela, pessoa) e humor
para rir nas desgraças e arranjar forças para continuar com sua introspecção.
Ame, divirta-se bastante e
tenha fé... O amor, a diversão e a fé são os maiores agentes de produção de endorfinas!
E, se reparar, as endorfinas não se preocupam com o “que”: Que tipo de fé, de
amor ou diversão.
Se tiver a curiosidade de se
perguntar: E depois da morte? Então, retorne ao inicio deste texto e volte a
ler, agora mais devagar.
® Rui Rodrigues
[1] Basta nos preocuparmos
preferencialmente com o tempo e depois com o espaço, em vez do contrário.Em "que" estou e não "onde" estou.
[2] Para entendermos melhor
precisaríamos saber o que é “entrelaçamento quântico”.
[3] Até para Jesus Cristo. A
prova é que já não está entre nós. O milagre de ter aparecido a apóstolas, é
questionável, como tem sido ao longo dos séculos: Eram amigos, tinham
interesses em comum, o tema era atraente e convidava para o milagre. Não há
notícias de que Jesus ressuscitado, mas nu, tenha passado em casa ou num
armazém para apanhar ou comprar uma túnica.
Maria Madalena o teria visto completamente nu, o que não deveria ser
novidade para ela. Os textos – incluindo os apócrifos - indicam que havia
grande probabilidade de serem casados. E não se sabe “quando” exatamente Jesus morreu,
nem se foi “enterrado” vivo, dado como morto, até para despistar as
autoridades, vindo a falecer depois.
[4] Endorfinas, compostos
químicos produzidos em nosso cérebro e que nos dão a sensação de prazer. São
produzidos através de “estimulações”. A esperança é uma delas, assim como a fé,
a segurança. Tudo que nos parece “bom” solta a produção de endorfinas. Quanto
maior a estimulação, maior a produção delas.
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