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terça-feira, 18 de novembro de 2014

O avô setentão e o neto quinzóide.

O avô setentão e o neto quinzóide. 
(para ler, tirem as crianças da NET)



Estavam vendo uma novela, avô e neto, uma que passa na Globo depois do Jornal: Império! O avô passava dos setenta. O neto recém tinha completado os 15 anos mas de vez em quando ainda se divertiam jogando bola ou arremessando uma bola de basquete para uma cesta pendurada na parede da área. Conversavam normalmente sobre a vida, essa coisa interessante, nada desvendada ainda, no que tange ao “motor” que a move e o que se pode fazer com ele, para onde se pode ir... Para qualquer lugar!  Disse o avô quando acabou o capítulo.
- A vida nos permite fazer tudo o que queremos. Queres matar? Mata!... O problema são as conseqüências externas e as morais. Deus não aparece para reclamar as suas leis, os homens fizeram as suas. De uma forma masculinizante,  é certo, mas foi o melhor que se fez até hoje. Foram até onde puderam ir. Agora as mulheres têm também uma palavra a dizer e temos que ouvi-las. Sem elas não somos nada. Nem existiríamos. Então...Nada mais justo que ouvir e seguir o que têm a dizer. A humanidade será mais justa certamente.
- Mas vô... E a viadagem? Também quer falar pelo que parece...
-Tu és viado, guri? Pode dizer...Tem problema não...
-Não vô, não sou viado nem gay. Foi opção minha. Alguns anos atrás, eu devia ter uns oito a nove anos, um guri lá do meu colégio me falou sobre isso. Disse-me o que era ser gay e viado. Gay é um viado rico, sem afetações. O viado é pobre, cheio de trejeitos afeminados. Os gays nem parecem ser gays, mas todos gostam de tomar no cu. Aí me imaginei enfiando algo no meu rabo. Podem adorar fazer isso por amor ou prazer, ou seja o que raios for, mas imaginar alguém em cima de mim, enfiando-me uma rola pelo traseiro e gozando dentro me dá um nojo desgraçado. Vontade de encher de porrada quem tentar. Cheguei a pensar em enfiar um pepino no rabo para ver se gostava.
-E?... Perguntou o avô...
- Ta dodjo sô? Pô vô... Nem pensar!... Ia perder um pepino da salada!




E os dois riram às gargalhadas...

-É, meu neto quinzóide... Sabes que te chamo de quinzóide porque tens quinze anos e de tão agitado pareces um espermatozóide... hahahahaha.... Sexo é como droga. Experimentou, gostou. Nunca mais se deixa de fazer sexo. O problema que separa ou une os gêneros é a “primeira vez”. Há muitos fatores que influenciam. Por vezes é a dificuldade em lidar com o sexo oposto; outras é a necessidade de um “protetor” ou protetora; outras vezes é a necessidade de se sentir seguro; outras ainda é o moral que anda baixo por qualquer motivo e uma vez penetrado, pensa que o mundo acabou para as mulheres, que todo mundo vai saber e o ato se repete até se habituar. Raras vezes a aproximação para o mesmo sexo se dá porque se “nasceu diferente”, no “corpo errado”. Mas uma coisa parece certa: Uma vez, desde a primeira, optou, se fixou! Não há saída ou cura, seja homem ou mulher. O mundo de cada um se constrói em torno de suas sensibilidades, seu nível de conhecimento, ou até seguindo moda por adesão. Nosso “ego” não está completamente desvendado. Vamos afirmando coisas que não conhecemos em sua totalidade. Há peixes machos que se transformam em fêmeas quando a sua população diminuiu por causa do meio ambiente que voltou a ser propício para a vida e é  necessário voltar a procriar... Vês como é a natureza?  Vamos abrir uma garrafa de vinho?

- Pô vô ! Beber consigo? Com o senhor? Não vai contar para meus pais?
- Claro que vou contar!... Melhor aprender a beber comigo do que aprender aí pelas ruas, bebendo sem controle, sem saber os efeitos do vinho, do álcool. Vamos lá.  

O avô se dirigiu á garrafeira. Tirou uma garrafa. Apanhou pão e um naco de queijo. Depois, assim de repente, se ajoelhou no chão e escondendo o rosto entre suas mãos, começou a murmurar. Dizia:



- Senhor... Eu te agradeço esse vinho, esse pão, esse queijo... Sei que existes, mas não sei como és. Ninguém sabe, nem Moisés. És muito mais poderoso do que imaginaram. Podes não estar em nenhum lugar visível, em todo o Universo e fora dele, que não sabemos ao certo, mas eu sei que estás em mim, estás em qualquer um. Somos todos parte de Deus que existindo fisicamente ou não, existe de fato. Não o construímos, porque não se constrói o que construiu o mundo em que vivemos. Agradeço-te a vida que me tens dado. Foi a coisa mais maravilhosa que se possa imaginar, apesar de todas as desgraças que parecem ser sem importância face ao bem maior do viver, de ver tudo o que as tuas leis construíram. Tu não construíste nada. Só disseste a tuas leis: Construam! E elas construíram um mundo perfeito que teimamos em modificar para que se pareça e se adapte a nós. Em vão... Como construir um mundo à nossa imagem, ou de qualquer ditador, se as tuas leis se impõem?

Quando o avô levantou do chão seus mais que setenta anos, estava com os olhos brilhantes e úmidos, alegre... A garrafa de vinho na mão, o prato com pão e queijo e uma faca, na outra. Sentaram-se á mesa e continuaram a conversar enquanto se deliciavam com a comida. Conversaram muito... Uma das coisas de que se lembram os dois, da conversa, foi uma assertiva do netinho quinzóide:

- Escuta vô!... Eu já vi alguns filmes de sacanagem... Quando as mulheres soltam o rabo, todas elas fazem cara de pavor, de não gostarem... Não acredito que gostem mesmo.... O que o vô acha?



- Acho que são filmes de sacanagem. As mulheres são pagas para isso. Na vida familiar uma esposa pode até soltar o rabo, mas será por amor. Uma vez ouvi um decorador de apartamentos dizer que gostava porque sentia uma “cosquinha” ali para os lados da próstata quando o possuíam. Era casado e tinha filhos. Muitas vezes nos habituamos a gostar de algo, associando-o a uma situação. Freud entendia muito disso, dos sentimentos e dos falsos sentimentos e até mesmo dos “sentimentos” de grupos, como se o grupo fosse apenas um indivíduo com sentimentos de uma liderança por vezes até invisível, uma entidade única, unida, assim como os peixes de que te falei. Há muito a descobrir ainda sobre os indivíduos, seu comportamento e algo ainda maior a que chamamos de humanidade.
- Acho – finalizou o avô, que não estamos ainda nem na metade, mas há gente que pensa que já sabe tudo. Parece que estamos num país único, chamado papagailândia!

® Rui Rodrigues






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