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terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Corruptos e analfabetos políticos

Shakespeare, célebre conhecedor da natureza humana, faz com que Ângelo, em Medida por medida, pronuncie as seguintes palavras:
“Uma coisa é ser tentado e outra coisa é cair na tentação. Não posso negar que não se encontre num júri, examinando a vida de um prisioneiro, um ou dois ladrões, entre os jurados, mais culpados do que o próprio homem que estão julgando. A Justiça só se apodera daquilo que descobre. Que importa às leis que ladrões condenem ladrões?” (SHAKESPEARE, 1994:129)
O espetáculo da corrupção enoja e torna a própria atividade política ainda mais desacreditada. Os que detestam a política – como diria Brecht, os analfabetos políticos – regozijam-se. Os podres poderes fortalecem os argumentos pela indiferença e o não envolvimento na política. É o moralismo abstrato e ingênuo que oculta a ignorância e dissimula a leviandade egoísta dos que não conseguem pensar para além do próprio bolso.
O analfabeto político não sabe que sua indiferença contribui para a manutenção e reprodução desta corja de ladrões que, desde sempre, espreitam os cofres públicos, prontos para dar o golpe à primeira oportunidade que surja. Os analfabetos políticos não vêem que lavar as mãos alimenta a corrupção.
Quem cultiva a indiferença, o egoísmo ético do interesse particularista, é conivente com o assalto ou é seu beneficiário. O que caracteriza a república é o trato da coisa pública, responsabilidade de todos nós. Como escreveu Rousseau (1978: 107): “Quando alguém disser dos negócios do Estado: Que me importa? – pode-se estar certo de que o Estado está perdido”.
Eis o duplo equívoco do analfabeto político: nivelar todos os políticos e debitar a podridão apenas a estes. Os políticos, pela própria atividade que desempenham, estão mais expostos. No entanto, não há corrupção, sem corruptores e corrompidos. Pois, se a ocasião faz o ladrão, a necessidade também o faz.
Não sejamos hipócritas. Exigimos ética dos políticos como se esta fosse uma espécie de panacéia restrita ao mundo – ou submundo – da política. Mas, e a sociedade? Se o ladrão rouba um objeto e encontra quem o compre, este é tão culpado quanto aquele.
Ah! Não fazemos isto! E os pequenos atos inseridos na cultura do jeitinho brasileiro não são formas não assumidas de corrupção? Quem de nós ainda não subornou o policial rodoviário? Ou não vivemos numa sociedade onde honestidade é sinônimo de burrice, de ser trouxa, etc.? E como correr o risco de ser bobo quando a sociedade competitiva premia os mais espertos, os mais egoístas, os mais ambiciosos?
A bem da verdade, o ladrão aproveita a ocasião. Quem de nós nunca foi tentado? Quem de nós não cometeu algum deslize quando se apresentou a ocasião? Quem foi tentado e não caiu em tentação? Quem conseguiu manter a coerência entre pensamento e ação, discurso e prática? Os homens são julgados por suas obras e apenas através delas é que podemos comprovar a sua capacidade de resistir à tentação. Afinal, como afirma Shakespeare (1994: 201), através de Isabel, sua personagem: "A lei não alcança os pensamentos e as intenções são meros pensamentos". 
O analfabeto político demoniza a tentação da política. Seu prêmio é a ignorância. E, muitas vezes, enojados e cansados diante do espetáculo propiciado pelos governos que se sucedem, somos tentados a imitá-lo e sucumbir à rotina do cotidiano que consome nossos corpos e pensamentos e nos oferece a substância anestésica capaz de dar a ilusão da felicidade.
Bem que tentamos ficar na superfície das aparências e nos contentarmos em, como os demais animais, simplesmente consumir e reproduzir. Mas só as bestas de todo tipo não refletem sobre a sua situação no mundo. Por mais alienado que seja, o ser humano tem condições de pensar criticamente, de compreender e de projetar seu próprio futuro. Esta pequena diferença em relação aos demais animais é que o torna o único animal capaz de produzir cultura e de fazer sua própria historia.
Não basta apenas criticar os que caem em tentação, é mister superar o comodismo do analfabetismo político. Pedagogicamente, educamos pelo exemplo. Não podemos exigir ética na política ou formar uma geração cidadã, consciente dos seus direitos e deveres e capaz de assumir a defesa da justiça social, se nossos exemplos afirmam o oposto. Afinal, mesmo os ladrões têm a sua ética. O personagem shakespeareano tem razão...

Acredite nos que buscam a verdade... Duvide dos que encontraram! (A.Gide)

A NOBRE FAMÍLIA LEÃO E AS HIENAS (resposta à Fábula da Galinha Vermelha)

Tenho recebido e-mails mil com uma certa Fábula da Galinha Vermelha, enviada - que coincidência! - Brasil e da Venezuela. Reconta a velha história da galinha que se empenhou em fazer pães, ninguém quis ajudar, mas com os pães prontos todo mundo quis comer. Só que nesta versão um agente do governo obriga a galinha a dividir os pães com quem nunca fez nada - e a mensagem é óbvia, né?

A mensagem ainda diz que essa fábula foi popularizada pelo brilhante... Ronald Reagan (!), que teria aumentado a arrecadação reduzindo a carga tributária, e conclui amaldiçoando os seguintes  "animais que não gostam de trabalhar": Sem-Terra, Sem-Teto, Quilombola, Com Bolsa-Escola e Sem Escola, Puxa-sacos, Cotistas, Com indenização de Perseguido Político, Sem Vergonha... [sic]

Sem discordar de que a carga tributária brasileira seja mal distribuída, o fato é que (metáforas grosseiras à parte) eu nunca conheci nenhuma galinha rica. E aí comecei a pensar numa fábula que explicasse melhor a realidade que eu conheço da minha experiência. Acho que talvez pudesse ser A verdadeira história da nobre Família Leão e das hienas ("verdadeira" em contraste com a versão manipulada da Disney, claro). Poderia ser assim:

A NOBRE FAMÍLIA LEÃO E AS HIENAS

O leão até que comia bem com as suas caçadas, mas achava que era pouco em relação ao cansaço que lhe dava. Um dia, enquanto palitava dos dentes a carne de uma gazela com um osso de coelho, lhe veio a idéia: "O que falta é or-ga-ni-za-ção! Precisamos fundar uma Sociedade."

Foi até o outro lado da floresta, onde as hienas viviam em comunidade, e falou que estava na hora de vencer os antigos preconceitos de classe, de fazer um pacto social em benefício de todos. Pra mostrar sua sinceridade distribuiu para elas as sobras da sua última caçada - e propôs que da próxima vez as hienas, que eram muitas, fizessem o trabalho bruto da caçada enquanto ele traçava as estratégias e supervisionava a execução.

A caçada foi um sucesso! O leão ficou contentíssimo, chamou toda a sua família pra comer, e jogou alguns ossos e carcaças para as hienas. Estas ficaram espantadas, mas o leão explicou que, caso se dedicassem fielmente à sua Sociedade, logo haveria de sobra para todos.

E mais: pra garantir o sucesso da sociedade, comunicou que, em toda a floresta, seria perseguido quem insistisse em caçar para si mesmo: todos deveriam caçar para a Sociedade - pois o caminho do Progresso era esse.

Como ninguém discute com família de leão, ficou assim. E qual era a situação alguns anos depois?

As hieninhas jovens estavam cansadas de ver papai e mamãe chegarem em casa arrebentados, e com uma porçãozinha de caça que não dava para todos. As mais boazinhas pensavam: "eu vou crescer e vou mostrar pro meu pai que eu sou capaz de trabalhar muito melhor, vou conquistar uma posição melhor na Sociedade e trazer bastante comida para casa."

Mas outras reparavam que tinha uma multidão de hieninhas à espera de vaga na Sociedade, especialmente depois que fizeram uma "reengenharia" para melhorar a eficiência do sistema. Essas começaram a desconfiar que nunca nenhuma hiena iria se dar bem na Sociedade. Ou quando muito uma em cem. E como tinham amor pelos irmãos e irmãs, não queriam ser o 1 que se dá bem às custas de 99.

Começaram a se recusar a ir para a escola onde lhes apregoavam o dia inteiro a importância da Sociedade e do Progresso sem nunca explicarem o porquê de nada. Papai e mamãe não podiam faltar no trabalho, nem tinham tempo e forças pra tentar fazer alguma coisa, então as hieninhas vagavam em bando pela floresta, umas comendo o que encontrassem, outras mendigando, outras atacando qualquer um que passasse descuidado.

Mas... e quanto à família do leão?

Bem, papai leão trabalha mesmo feito um louco na administração da Sociedade. Ele diz que faz isso pra que os filhos não precisem passar pelo que ele passou.

Mamãe leoa se divide entre jantares beneficentes e tardes na Daslu, onde comprou uma coleção de bolsas de couro ma-ra-vi-lho-sas, de tudo que é animal - inclusive de hiena e de leão, vejam só a ousadia! Ah, as manhãs ela passa na terapia da moda - antes foi psicanálise, agora é meditação. Pra ver se dá um jeito numa angústia besta, que ataca sem nenhuma explicação.

A leozinha mais velha foi estudar artes em Nova York. Voltou e fez uma exposição que ninguém achou graça mas foi um baita sucesso de crítica. Afinal, todos donos de jornais são amicíssimos do leão.

Tem uma que estuda administração e pretende substituir o papai no comando. Sua intenção é começar dando fim numa série de concessões inaceitáveis que o velho acabou fazendo às hienas ao longo dos anos.

Um outro se formou em direito mas não sabe bem o que quer fazer. Atualmente passa os dias enviando pela internet a Fábula da Galinha Vermelha. Fora isso, nunca trabalhou, mas assim mesmo ganhou enormes elogios do papai: "É isso mesmo, meu filho! Quem sai aos seus não degenera!"

Ah, já ia esquecendo, tem um outro, só que ninguém fala dele. Quando criança ele começou a fazer amizade com as hieninhas na rua. Como a segurança do prédio não deixava as hieninhas entrarem pra brincar, começou a ir brincar na casa das hieninhas na favela. Incrível, nunca deixaram de dividir com ele a pouca comida que a mamãe e o papai traziam de noite! Começou a achar que a história estava mal contada e foi estudar sociologia.

Ficou louco, coitado. Foi morar na favela e vive num aperto de dar dó. Mas se recusa totalmente a voltar a viver entre os leões. Disse que no último jantar de família teve uma crise de vômito incontrolável. A conversa na mesa versava sobre os absurdos que o governo anda fazendo com suas ações paternalistas pra agradar as hienas, quando é evidente que essa gente vive assim por opção, pois não querem pagar o custo de trabalhar.

E é claro que mamãe leoa que passa as tardes na Daslu, filhinha que faz arte em Nova York, filhinha que estuda na faculdade mais cara e o filhinho que passa os dias na internet postando a Fábula da Galinha Vermelha... só puderam concordar com entusiasmo!

Y... colorín colorado, este cuento se ha terminado.
Floresta-São-Paulo, agosto de 2009
Zé Ralf do C-do-Mundo 
 

sábado, 7 de janeiro de 2012

Ensaio sobre este admirável mundo novo do sexo quase livre



Ensaio sobre este admirável mundo novo do sexo quase livre

Quem pensa que o mundo está mudando, não leu nada do que autores do passado escreveram, ou leram e não deram a mínima importância ao que liam, porque o fizeram sob a ótica da religião ou da política, e assim justificaram os meios do que liam sem sequer desejar entender: a essência da humanidade.

Por isso, quando Abraão – o pai bíblico - disse ao rei filisteu Abimeleque que Sara, sua esposa, era sua irmã, este a tomou embora ela já tivesse 90 anos. Também, vendo as coisas sob ângulo livre, Jacó se oferece para trabalhar durante sete anos para pagar por Raquel. Como ele é enganado e acaba fazendo sexo com a irmã dela, Léia, ele tem que trabalhar durante outros sete anos para pagar por ambas. Podemos até imaginar um Jacó extremamente motivado para ser enganado e ficar com as duas... Quem pode garantir que não foi isso o que aconteceu realmente?

Podemos ler muito na Bíblia sobre sexo, traição, libidinagem, sodomia, tudo legalizado sob as bênçãos de Deus, se praticadas do “lado certo”. A humanidade não mudou nada sob este aspecto. O que parece ter mudado, foram as leis, mas estas não mudam a essência humana, porque apenas a põem á prova circunstancial e temporária: a moral muda com os tempos e volta sobre si mesma, reavivando o passado, tornando-se moda para depois cair na reprovação popular, em ciclos de maior ou menor duração. È fashion!

Os seres humanos já transitaram livremente completamente nus, compartilhando os mesmos problemas que hoje existem quanto às saias curtas, aos perfumes “atrativos” impregnados de almíscar, ou de roupas que sexualmente atraem. As próprias roupas femininas, de cor rosa, vermelha ou lilás, reproduzem as cores das genitálias femininas, um convite á prospecção masculina. As mulheres deixam os homens loucos com suas cores rosa, cor de seus sexos, mas negam a aproximação para aqueles que não desejam, porque, contrariamente aos homens, podem controlar seus desejos sexuais de forma muito mais fria e eficiente do que eles. O homem dá logo. A mulher controla e dá para quem quer.  

Do pouco que conheço de antropologia, e face á ascensão da mulher aos postos chave dos governos e á “igualdade” dos sexos perante a lei, os novos tempos são promissores para ambos os sexos, no que pese a velha guarda que dirá que tudo está mudando para a dissolução da família, dos costumes, do “status quo”. Ora, o status quo já vem mudando há séculos, renovando, alterando, mas voltando sobre si mesmo, aos velhos costumes que sempre existiram no “modus operandi” da convivência humana: o ser humano gosta de sexo, pelo prazer indescritível que nos dá, dádiva divina, que se não fosse para ser usada, nasceríamos assexuados, todos nós, homens e mulheres.

Mas então, alguns moralistas resolveram “legislar” sobre o sexo, segundo o seu enfoque: proibiram uma porção de coisas, que a humanidade continua desfrutando em surdina, na calada da noite, eternamente, desde os primeiros tempos de que temos conhecimento através da escrita. Tudo na base da resistência surda, como acontece com o contrabando: é proibido, mas existe há milênios e nunca se acabou com ele.

Quem não sabe ler e assume ares e linguagem pseudo-erudita de doutor "honoris causa" não é apenas analfabeto: É tendencioso, xiita, tapado, inocente, ignorante, convencido, presunçoso, limitado, imbecil, e de muitos outros atributos etecétricos, porque não vê o que é realmente verdadeiro e está na frente de nossos olhos de forma escancarada, renitente, não corrompível ao longo dos séculos: homem e mulher quando querem dar, não tem quem segure. Quem não acredita nisto, casa. Quem acredita, fica solteiro, gozando das delícias da liberdade. Essa coisa de que “tu és só minha, e eu sou só teu”, só funciona na perspectiva de crenças como em papai Noel, em duendes, em ressurreições, em fantasmas, em representatividade de senadores, deputados e vereadores, ou de governadores e presidentes.

Quem achar que estou errado, que me atire uma pedreira, uma chuvarada de granizo, ou raios que me partam. Perdoarei a todos porque não sabem o que fazem e principalmente o que lêem...

₢ Rui Rodrigues

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Carla, minha amiga!

Carla, minha amiga,

Imagino um mundo com muito mais espiritualidade que religião,
Com muito mais paz que disputas inúteis, irracionais, absurdas até,
Em que imbecis, travestidos de líderes religiosos,
Tentam provar para outrem que seu deus é melhor, senão único.
Penso, minha cara, nesse mundo de paz e vida e espírito.
Penso num mundo em que ninguém poderá ser perseguido ou morto,
Por idiotices, feito a cor da pele, o nome de seu deus, o lugar que mora,
Como gosta de fazer sexo, ou se come carne numa determinada sexta feira do ano.
Ah, minha cara, penso num mundo em que o homem seria realmente racional,
E, sendo racional, veria sim um Deus, pode ser na face de um Cristo louro europeu,
Negro africano, índio americano, amarelo asiático, ou moreno palestino.
Talvez, minha cara, esse Deus se mostre pra gente todos os dias na luz do dia,
Na lua da noite, no vento que carrega sementes,
Talvez, no sorriso de uma criança, no andar de uma idosa,
Penso num mundo utópico, onde as janelas ficariam abertas,
Onde o prato de pão não precisasse ser repartido pois, nesse mundo utópico,
Todos, minha cara, todos mesmo,teriam o mesmo direito!

Um imenso abraço, Paulo César Pacheco, 30/12/2011.

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Inversão de valores, ou simplesmente mudança comportamental influenciada?

Que a globalização deu ao mundo uma outra orientação, é indubitável. Mas nem todas as transformações aplacadas foram salutares, ao menos sob minha ponderação.

A propensão da globalização corrobora terminantemente originando atos comuns particularmente entre os mais jovens, e as vezes nos nem tão jovens assim, mas, moderninhos. Estes últimos num ato penoso, não alcançam a autenticidade, mesmo após afadigar-se por descobrir, ir na onda como dizem os genuínos moderninhos.
Dimanando desta variação de atitude, não autêntica, por vezes os colocam numa conjuntura maljeitosa.

Este não é o caso, pois a personagem que virá a seguir é uma autêntica jovem, e não se colocou em nenhuma situação embaraçosa, eu a tomarei como um simples exemplo para justificar talvez o título da postagem. 

Pois bem, hoje recebi um conselho de uma jovem, destas jovens antenadas que participam dos fóruns na internet postando, comentando e dominando os mais diversos assuntos.

Comentando a mesma postagem de minha autoria pela segunda vez, essa jovem me fez um alerta para a desnecessidade do meu agradecimento a cada comentário feito. Transcrevo aqui na íntegra o comentário feito por ela:

“Dagmar, me desculpe o conselho, mas você não devia agradecer ninguém por comentar. A gente comentou porque se interessou pelo tema, é a lógica do Portal... Abs”.

E, antes que eu respondesse o comentário da jovem, uma outra participante deste mesmo fórum, com um diferencial por tratar-se de uma jovem senhora, escreveu como resposta ao comentário daquela o seguinte:

“.....eu acho que o Dagmar está certo. É questão de delicadeza com quem comenta no post que a gente coloca …. È tão bom ver comentários nos posts que se coloca, como acho que a pessoa que faz o comentário também gosta de se ver reconhecida....É o que penso.”.

Depois de ler os dois comentários, primeiro o da jovem e na sequencia o da jovem senhora, e responder a ambas (agradecendo ainda que desnecessariamente) comecei a refletir: Estaria eu ali presenciando que tipo de desencontro? Para logo na sequencia me vir na memória alguns fatos corriqueiros do nosso dia a dia.

Como se tornou comum vizinhos coabitarem o mesmo condomínio por décadas, e inexplicavelmente não conseguirem nutrir uma simples amizade, ou, ao menos terem a gentileza de desejar um simples bom dia mutuamente.

Gestos simples como segurar a porta do elevador são evitados, muitas das vezes fingi-se não ver o outro para não correr o “risco” de dividir aquele espaço confinado com um “estranho”, no caso o “estranho” pode ser um vizinho de longa data, mas sabe-se lá, melhor evitar, vai que falta energia elétrica e você ficará obrigado a ficar ali enclausurado com um “estranho”. Nunca se sabe, na dúvida é bom evitar, como diziam os não jovens é melhor prevenir.

Fiz uma experiencia, sem embasamento cientifico, (pois não teria capacidade para isso) por pura curiosidade.

Acordei com o propósito de cumprimentar “quase” todos aqueles que estivesse ao alcance dos meus olhos, primeiro para praticar o hábito da boa educação, e depois para analisar a reação dos que eu me dirigia.

Logo cedo no caminho até a padaria, passei por uma senhora, esta foi a minha primeira “vítima”, ao cumprimentá-la com um cuidadoso bom dia, digo cuidadoso pois, do jeito que as coisas estão ultimamente, não se sabe qual seria a reação, mas, não para minha surpresa, mas satisfação recebi um largo sorriso amarelo e, com uma voz baixa e gentil a retribuição de um bom dia, seguido de um: Como você está? Foi impossível ignorá-la mantendo o rítimo dos passos, acabei acompanhando-a até à padaria.

Sempre mantendo o propósito da minha pouco comum caminhada matinal até a padaria. Passei a dividir minha atenção entre a senhora, e os cumprimentos aos transeuntes. Consegui com isso despertar sua admiração, num dos seus comentários elogiou minha atitude, dizendo ser raro ver pessoas comportando-se assim ultimamente, fato que era comum até alguns anos atrás (mau educadamente eu não revelei para ela que tudo aquilo tinha um propósito).

Observei as mais variadas reações. Houve aqueles que respondiam prontamente e sorrindo, alguns respondiam assustados, outros respondiam com as palavras entre os dentes, muito possivelmente pensando “quem será esse cara? Ele deve ter me confundido com alguém!”. Houve casos de algumas crianças que caminhando para o colégio acompanhados por suas mães, e ao verem suas mães respondendo ao meu cumprimento não conseguiam segurar o riso, outras ficavam sérias e seguiam seus trajetos, mesmo sem dizer nada continuavam voltadas para trás me fitando-me, sabe-se lá o que passava naquelas cabecinhas.
Os cumprimentos da moça da padaria foi normal, aliás existem também este tipo de cumprimento, aquele obrigatório com o único objetivo de agradar o freguês, este é norma da casa.

Mais tarde, após ler o jornal e dar uma olhadela nas publicações e comentários feitos durante a madrugada nos grupos Documento Ditadura e no Consciência Política Razão Social no facebook, (mais tarde voltarei a olhar os demais grupos e os blog que administro e alguns que sigo) voltei à minha “pesquisa”. Á esta altura já eram outros os transeuntes, agora muitos jovens e alguns adultos.

Agora sim pude presenciar a reação dos autênticos jovens influenciados pela “modernidade” da globalização.

Mas mesmo entre estes não existe unanimidade, pois foram variadas as reações, do tipo: E aí “véi” beleza?, Bom dia como vai o senhor?, Olha o comédia rsrsrsr, e por aí vai.
Mas, um detalhe em especial me chamou a atenção, os jovens tendem a serem menos receptivos, chegando algumas vezes a partir para o deboche, e infelizmente até para a ofensa verbal, quando estão em grupo, ou duplas. Quando sós, tendem a ser educados, mostrando que determinado comportamento não é natural, mas provocado pelas circunstancias. Neste caso a preocupação deles está em, o que o meu amigo pensará caso eu seja educado? Certamente não se encaixará no perfil desta nova geração, onde ser educado pode ser confundido homofóbicamente.
Dag Vulpi

A fome no mundo e os terrenos baldios



Nas fronteiras das cidades o que mais se vê são terrenos baldios, a maior parte deles comprados na esperança de que o crescimento das cidades se desenvolva naquela direção. Ficam ali parados, inertes, esperando valorização por anos. São vendidos quando os donos precisam de dinheiro. Boa parte deles é de terras férteis, de antigas fazendas e granjas que proliferavam às margens da cidade, terras de cultura.  Loteados, a maior parte deles é de 360 m2. Nas cercanias, vive gente de baixos ou nenhuns recursos que precisam comprar alimentos para comer. Porque não se usam essas propriedades como horta urbana enquanto esperam para serem vendidas?

Não se usam por um conceito ainda não explorado, em sua essência, do que é a propriedade e o seu uso. É conceito legal de que o proprietário, enquanto o for, determina o seu uso como bem inviolável. Muitos desses terrenos, herdados, têm ficado no esquecimento do uso potencial por séculos. Alguns proprietários mandam limpar o terreno do mato que cresce, outros nem isso fazem. Uma lei, que se conhece como “uso capião”, determina que se reverta a propriedade aqueles que a usam por pelo menos cinco anos, dado o desinteresse do dono em reclamá-la perante a lei.  

Mas onde cresce o mato, podem crescer tomates, cebolas, pepinos, abacaxis, batatas, milho, mandioca, salsa, alfaces, feijão, abóboras, melões... Esses terrenos podem ser utilizados por aqueles que estejam dispostos a uma produção agrícola de subsistência sem que os donos do terreno percam a sua posse.

Basta apenas uma lei, adulta e inteligente, que permita o uso destes terrenos, de forma temporária, por quem necessite plantar para comer, longe de arrendamentos ou comodatos. Agricultura não deteriora o solo para uso em construção civil. Terrenos maiores do que 360 m2 podem ser “loteados” provisoriamente por diversas famílias das cercanias, interessadas em plantar, sem que os donos legais percam o direito de propriedade. Podem vendê-la a qualquer instante sem que seja “depreciada” pelo uso provisório.

O uso racional e social da terra não atenta contra a irracionalidade do capitalismo da propriedade.

Rui Rodrigues

sábado, 10 de dezembro de 2011

Temos que salvar tudo





Quando ainda garoto, ouvi uma história que se gravou em minha memória. Não lembro se a ouvi de meu tio – que me contava algumas histórias de vez em quando – ou se foi pelo rádio, num programa de Maria Patacho, em que as histórias eram contadas pelos próprios personagens e com sonoplastia. Este era um grande programa para crianças. Foi tão bom ser criança que ainda continuo sendo um pouco dessa coisa que não se deve desperdiçar, e que deve ser salva, também, pela humanidade. Uma das histórias que me contou meu tio, ou ouvi, falava de um pai que, tendo sido mordido por um cachorro raivoso, pediu á filha ou ao filho, que o amarrasse bem a uma pilastra para que não atentasse contra a vida de seus filhos se por acaso ficasse doente de raiva. Essa história me marcou: alguém se precavia de sua própria violência para salvar alguma coisa. 

Infelizmente chegamos num dos primeiros grandes sintomas de que algo não corre bem no nosso planeta, limitado em tamanho. A Holanda conquistou terras ao mar e tornou-se maior. Não podemos fazer o mesmo com o nosso planeta. Por mais que possamos usar criteriosamente a superfície terrestre, um dia chegaremos infalivelmente ao limite de não caber mais nenhum ser vivo adicional, sob pena de colapso total, extinção. Sabemos também que não é necessário atingir tal limite para que a humanidade se destrua a si mesma. Antes mesmo de atingidos os limites, o stress será tal que as tensões levarão a guerras de aniquilação. Tais guerras serão de preservação de raças, de nações, mas não me admiraria se em vez de guerras raciais viessem a serem guerras de aglomerados financeiros. O capital invadiu as defesas dos conceitos de família e de Estado, e sem bandeira, moral ou religião, tomam conta do mundo.

Nesta primeira fase de degradação da humanidade, assistimos à extinção de espécies, não por efeitos naturais de clima, de vulcões criando invernos nucleares, meteoros ou cometas colidindo com a Terra, ou vírus destruindo a vida que conhecemos. A extinção das espécies se processa de forma acelerada pela invasão de terras virgens, santuários de vida selvagem, porque a humanidade não tem freio para a sua ambição. Infelizmente, ambição por dinheiro, por terras, pela riqueza que essas terras podem proporcionar, ou no caso de baleias, que continuam sendo mortas de forma premeditada, pelos lucros que a sua carne dá aos assassinos e aos receptadores dessas carnes que devoram por puro prazer inconseqüente. Matam-se gorilas porque alguns idiotas que acumulam este título com o de “reis” da ignorância teimam em crer que as mãos desses gorilas produzem uma potência sexual acima da média. Da mesma forma, outros idiotas acreditam que chifre de rinoceronte produz uma potência sexual que perderam ao longo dos anos, sem perceberem que a falta não é de potência sexual, mas de interesse pelo sexo. Outros idiotas ainda caçam javalis, elefantes, qualquer tipo de caça, porque preferem não proteger suas propriedades e investir em outras coisas, como por exemplo, em armas de caça ou em falsa fé por crença ignorante. Todos estes acham que a verdade, o governo a religião ou o planeta lhes pertencem exclusivamente, porque têm dinheiro para comprar alguma coisa e pouca inteligência para poder julgar do que é ou não justo.

Salvemos os botos, as tartarugas, os pandas, os cachorros e gatos vadios, as florestas, as fontes de água potável; salvemos as terras dos agrotóxicos, o ar da poluição dos aviões, das fumaças de fábricas, os solos da contaminação de materiais radioativos, de milhões de toneladas de merdas cagadas todos os dias pela humanidade; salvemos as plataformas marinhas da poluição dos poços de petróleo, dos esgotos que deságuam nos oceanos; salvemos as crianças que morrem nos hospitais, ou a caminho, porque não há recursos para salvá-las; salvemos as crianças porque não têm o que comer; salvemos as crianças porque não têm acesso á educação; salvemos os adolescentes porque não têm acesso ao trabalho justamente remunerado; salvemos as famílias porque sem educação básica, gastam onde os anúncios lhes dizem para gastar e não onde e como deveriam; salvemos a educação, a saúde, o saneamento básico, porque causam mortes disfarçadas de destino.

Mas salvemos tudo isto de quem? De quê?

O que molesta a nossa inteligência, e nos reduz a cacos de pedras, é que devemos salvar tudo isto de nós mesmos. Devemos salvar a humanidade empedernida de falsos conceitos, desviada por propagandas tendenciosas, de deficientes programas de governos, dos verdadeiros objetivos: Viver bem e feliz, de forma sustentável.

Mas se a própria humanidade não toma consciência de seus objetivos, então a natureza se encarregará de repor a ordem no mundo que desarrumamos e degradamos.

Rui Rodrigues 

terça-feira, 6 de dezembro de 2011




O enigma dos sete ministros
(baseado no célebre conto de Alu Baba e os 38 ladrões)

Era uma vez um Grande Reino que abrangia desde as selvas de muitos acres, passando pelas areias dos lençóis de água cercados de areias, por savanas cerradas, por planícies, montanhas e vales às pampas. Era um grande Reino, onde tudo era alegria. Antigamente era governado por um Califa- Alilula Bar Ba Abudo com seus ministros, mas nos últimos tempos, foi governado por uma amiga do Califa impossibilitado que ele ficou de governar por causa de uma rouquidão crônica. Esse Califa era muito honesto, tanto que quando lhe vieram contar que seu filho e uns amigos de adolescência se aproveitavam de descuidos nos cofres públicos – que assaltavam – foi logo dizendo que não segurava a barra de ninguém, numa clara demonstração de que não importam os laços familiares quando alguém urina fora do penico. Com a rouquidão, sua melhor amiga assumiu o poder por recomendação do próprio Califa –agora ex-califa- ao povo que o adorava. A missão dela seria seguir em frente, e se algo desse errado, ele seria re-eleito. Mas o governo do Califa tinha sido tão bom, que o povo, por pura fé, e sabendo que sua amiga estava no governo, a apoiaria incondicionalmente. Por isso, tudo o que acontecesse de errado no Reino seria atribuído à conjuntura internacional, a crises, aos inimigos políticos. Os fundamentos que regiam o Reino seriam preservados. Todos a temiam e era mesmo de Têmer, porque ela governava na base do Pêtêléco.

Mas Califas honestos, não obriga a que o bando também seja.

Eram então 38 os ministros do Reino. Sátrapas mais precisamente, porque tinham autonomia para muitas coisas, como se governassem reinos solidários. Para se ter uma idéia, esses ministros tinham à sua disposição um orçamento de cerca de 600 bilhões de Corruptelas (Corruptela é a moeda nacional do reino). Como o faturamento anual do Reino é de cerca de três trilhões, esses ministros tinham muito poder, porque lidavam com cerca de vinte por cento de todas as corruptelas disponíveis. Em seis meses de reinado, a amiga do Califa, deu sete Pêtêlécos. Sete ministros foram pro brejo por denúncias de apropriação e distribuição a rodo de bens públicos, mais precisamente, de corruptelas, a moeda forte do país. Havia indícios, mas ninguém reparava nos indícios. Um deles era a arrecadação de impostos, cada vez mais a cada trimestre, batendo records, mas os serviços públicos – a cargo dos ministérios – ficam cada vez mais deficientes. Para onde ia o dinheiro?  Ninguém se perguntava, ninguém sabia. Aceitavam o fato como chuva que cai no meio de um pic-nic, à providência, não divina, mas das “coisas”, da “conjuntura”, do “momento”, da “oposição”, jamais à generosidade ministerial em relação às verbas públicas. Mas nem havia oposição no governo nem nos ministérios, porque todos andavam á volta do mesmo: a distribuição das verbas públicas.

Nenhum jornal do Reino publicou algo em que se perguntasse se haveria um “chefe” por detrás dos ministros, como no velho conto do Ali Baba Preta e os 38 ladrões. É como se os ministros não fossem organizados e roubassem por conta própria. Era inadmissível para o povo crente e leigo, que houvesse alguém por detrás de tudo isso, arquitetando, fazendo estratégias... Já o povo mais laico e ileigo achava que tudo isso era uma grande armação para se apoderarem dos tesouros nacionais. Um roubava aqui, outro ali, todos aprovavam as contas de todos e quando uns saíssem do poder, e outros entrassem, todas as contas seriam também aprovadas. Também nenhum órgão da mídia média ou da mídia baixa, ou da mídia alta se preocupou com o fato dos órgãos Públicos nunca descobrirem nada: Quem descobria tudo eram jornalistas que nem fizeram curso para detetives, nem cursos de polícia, nem cursos de advocacia, nem eram juízes estaduais ou federais... Estranho, mesmo, era que os ministros fossem tão imbecis de se deixarem apanhar com a mão dentro do pote de açúcar – como criancinhas – ou melhor, dentro do pote do tesouro onde se guardavam as Corruptelas – a moeda nacional do Reino.  

O povo chorava as suas corruptelas perdidas, porque cada ministro que saía não ia preso, não pagava indenizações, não devolvia as corruptelas, supervalorizadas, Sempre que era necessário dar um jeitinho – uma das famas do Reino – emitiam e aprovavam uma Medida Provisória e numa noite de votações, lá se ia esfarrapando a constituição...

Era um grande mistério, o caso dos sete ministros, todos eles com culpa no cartório, saindo muito mal na fotografia. Um deles disse que só saía a tiro, e desprezando o fato da Califa ser já avó, passada da fase de deslumbramentos amorosos, pediu perdão declarando-lhe amor! – Disse que a amava... Mas o que o povo mais se perguntava era sobre a epidemia... Seriam apenas sete dos 38? Ou seriam mais, ou todos?

Houve até quem fosse apanhada recebendo dinheiro á sucapa, sem declarar seu recebimento e foi absolvida por aqueles outros que na mesma função dela a isentaram... Grupo? Quadrilha? Bando? ... Mas quem será o chefe?

Nos velhos tempos do Reino, quando Bancos passavam mal de finanças, deixava-se o banco – ou os bancos – falir, para que aprendessem. Um dos 38, que tomava conta da economia, resolveu doar as Corruptelas aos Bancos para ajudá-los a evitar uma crise... Mas não evitou, e os Bancos estão cada vez mais ricos... Todo dia diz que a crise que grassa e assola Outros Reinos do planeta, será suave, mas o crescimento da economia neste ano, beira o zero... Mente muito esse ministro. Esse não deve ser o chefe do Bando, mas certamente deve ser o “caixa”...

O povo espera o desfecho final, porque vai cair mais um: Ali Pi Menta e Tal. Com oito ministros de 38, em seis meses, nos três anos que restam á Califa, não sobrará nenhum, e como não devolvem nem uma corruptelazinha sequer, os cofres ficarão vazios. Quando ouro Califa for eleito, aprovará assim mesmo as contas do Califado anterior e dirá que a culpa foi da Califa que acabou de sair e dos outros anteriores.

Há algo de podre no Califado das Corruptelas. Esperamos que a mídia resolva o mistério, porque nenhum ministério sabe o que está acontecendo...

Kadu Kastranjo

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Brincando com Deus ?





A noção da existência de uma entidade superior a qualquer coisa que se possa imaginar, poderosa, inigualável, responsável por tudo o que existe, está na origem das religiões. Muito mais do que isso, está no “íntimo” de todos nós, ou em sua maioria. Crer na existência de um Deus, não é uma invenção da humanidade. É um conceito intrínseco, baseado numa premissa muito simples: Se algo, como o Universo, existe, é porque algo ou alguém o fez, e não por acaso, porque é muita a perfeição, e as probabilidades de algo tão perfeito são mínimas, muito mais que nulas, abraçando  o impossível.

Por ignorarmos toda a potencialidade de Deus, imaginamo-lo de acordo com os conhecimentos que temos no momento. Na melhor das intenções, já “imaginamos” Deus como estátuas de granito ou mármore, aos quais demos nomes pomposos como Hermes, Afrodite, Zeus, Marte, Osíris, Horus, animais, entre eles o boi Apis. O Sol, estrela que nos ilumina, já foi considerado como um deus, quando ainda não se sabia que era uma estrela, nem que estrelas, planetas, galáxias, buracos negros existiame faziam parte de um Universo matemático, físico, químico, regido por leis que podem ser decifradas. Com o desenvolvimento da ciência, a noção de Deus foi ficando cada vez mais clara, mais definida. Deus é muito mais poderoso do que se imaginava. Mas a maioria de nós ainda não pode entender a sua genialidade, a sua grandeza, o seu poder. A nossa maioria é ignorante, nunca freqüentou uma universidade, e em toda a diversidade das universidades, a maioria não cursou as matérias com as quais Deus construiu os seus Universos, os universos do seu Reino. Deus não tem reinos. Tem apenas um Reino, constituído de um numero infinito de universos, porque tudo fez, e só a Ele pertence.

Não se pode crer numa fé em alguma coisa, inclusivamente em Deus, sem conhecimento. Fé por fé, podemos acreditar em qualquer coisa porque somos ignorantes. Temos que admitir nossa ignorância. Quando nos incentivam a ter fé em algum Deus ou profeta, precisamos ter a humildade de admitir que somos ignorantes em maior ou menor grau, e isso fica muito claro quando começamos a questionarmo-nos sobre o que é mais provável que “deus “ possa ser, desejar, querer. Deus não pode ficar eternamente desejando, nem por um milésimo de ínfimo segundo: Deus faz!


Por exemplo, podemos perguntar-nos porque razão não fala Deus conosco e precisa de intermediários, os sacerdotes, para que nos digam o que “deus” quer, deseja, exige. Como Deus, poderia facilmente portar um enorme megafone e dizer-nos, geração por geração, para que todos ouvíssemos o que quer, deseja, exige. Mas não o fez e não o faz, certamente jamais o fará. Alegam os sacerdotes que é necessário ter “inspiração divina” para ouvi-lo ou entende-lo, mas essa inspiração é duvidosa, porque esses mesmos sacerdotes levantaram nações inteiras em guerras religiosas, perseguiram, mataram, chamando de infiéis àqueles que tivessem outra religião diferente ou que mesmo não tivessem alguma religião. Sabemos que Deus não pode desejar uma coisa dessas. Seria o mesmo que admitir a existência de vários deuses, cada um para uma nação, cada um para uma religião, e que tais deuses estivessem brigando por poder entre si, usando como instrumentos a fraca e débil humanidade que Ele mesmo criara, tal como pai devasso promovendo a briga entre irmãos. Esses deuses não podem ser “Deus”, porque são confusos, pecam pela falta de atributos morais que permitam a definição de “deus”. São vingativos, belicosos, tomariam partido, seriam segregacionistas. Deus não pode ser uma coisa dessas!

Porque Deus não aparece então, para dizer o que quer, deseja ou exige?

Porque simplesmente não tem necessidade disso, e fez um Reino que se rege a si mesmo. O que Deus fez, não foi o homem, e muito menos de barro, nem a mulher a partir de uma costela do primeiro homem. O que Deus fez foi o tudo, que inclui o que conhecemos até agora, e o que ainda desconhecemos porque nossa ignorância ainda não foi consumida pela luz do conhecimento. Podemos chamar esse “tudo” de natureza, de Universos, de mundo. A natureza dos universos, e deste, e muito em particular, a natureza que existe neste planeta a que chamamos erroneamente de Terra. Deveria ser chamada de Água, Nitrogênio, ou de Carbono. O que Deus criou foi o tudo, a natureza, fruto das leis de formação de universos que imprimiu ao iniciar, num infinito tempo passado, a existência. As leis de Deus regem tudo. Não as leis impressas nos livros e que lemos nos templos, mas essas mesmas leis de formação dos universos, a Sua Obra. Tudo nos universos se rege por Suas Leis, independentemente de sermos nós, seres humanos, a espécie predominante neste planeta. Os dinossauros já predominaram no passado. Em outros planetas, outras espécies  regem, neste instante, o futuro da sua vida e do meio que as cercam. O crescimento populacional com o dom da inteligência, obriga à colonização de outros planetas, para povoar o universo, ou ao controle da natalidade para que a espécie não pereça no pó da história, porque o espaço dos planetas é limitado.

Deus fez universos que se regem a si mesmos, segundo as suas leis. Fez a vida que se adapta ao meio e evolui. Deus não tem nação preferida, espécie preferida, galáxia preferida, universo preferido. Tudo é Obra Sua. Muito menos tem religião preferida, Todas das antigas religiões já desapareceram, e as que existem ou evoluem ou se extinguem também. O que os Universos têm de sobra, é tempo, que a nós, seres humanos, nos falta em abundância. E não é infundadamente que tudo o que é vivo morre: sem a morte, todos os planetas habitáveis já estariam super povoados. Teriam a sua habitabilidade nos limites da aniquilação total.

Em termos de espécie, não podemos pensar em nós mesmos. Temos que pensar definitivamente em termos de humanidade, assegurando o futuro de filhos, netos, bisnetos, ou simplesmente assegurar, garantir que a espécie humana não se extinga por ação de algum louco ou por falta de objetivos ou ações em garantir que não pereçamos por algum meteoro que venha na direção de nosso querido planeta, ou de catástrofe natural por que não cuidamos do ambiente em que vivemos. Um ambiente limitado ao volume de nosso planta, incluindo a atmosfera, a estratosfera, o sistema solar e a própria galáxia.

Desde que nos transmitiram a noção de Deus, que alguns de nós brincam com seu nome, com as suas características e todos esses, sem exceção, usufruem de dádivas, óbolos, esmolas, doações, contribuições, benefícios e favores que lhes são oferecidos em nome de Deus. Seja deus o que quer que entendam como deus, mas certamente não Deus tal como realmente è, porque somos ainda ignorantes da totalidade de Deus.

O que importa para a humanidade é a convivência entre todos os seres, de modo a que todos os recursos sejam preservados e usados para o seu benefício. Guerras, corrupção, antagonismos, apenas contribuem para o fim da humanidade ou para as desgraças que já conhecemos muito bem. Não podemos continuar a pensar que o que se passa fora do nosso “habitat” ou do nosso meio de influências, não nos diz respeito, porque não nos afeta o viver. Tudo é uma questão de tempo para nós ou para a nossa sociedade particular.


Rui Rodrigues

O Bule Voador de Bertrand Russell.

O Bule de Chá de Russell, eventualmente chamado de Bule Celestial, é uma analogia criada pelo filósofo Bertrand Russell (1872–1970) que tem por finalidade mostrar que a dificuldade de desmentir uma hipótese não torna esta verdadeira, e que não compete a quem duvida desmenti-la, mas quem acredita nela é que deve provar sua veracidade. Num artigo chamado "Existe um Deus?", Russell escreveu:
“Muitos indivíduos ortodoxos dão a entender que é papel dos céticos refutar os dogmas apresentados – em vez dos dogmáticos terem de prová-los. Essa ideia, obviamente, é um erro. De minha parte, poderia sugerir que entre a Terra e Marte há um pote de chá de porcelana girando em torno do Sol em uma órbita elíptica, e ninguém seria capaz de refutar minha asserção, tendo em vista que teria o cuidado de acrescentar que o pote de chá é pequeno demais para ser observado mesmo pelos nossos telescópios mais poderosos. Mas se afirmasse que, devido à minha asserção não poder ser refutada, seria uma presunção intolerável da razão humana duvidar dela, com razão pensariam que estou falando uma tolice. Entretanto, se a existência de tal pote de chá fosse afirmada em livros antigos, ensinada como a verdade sagrada todo domingo e instilada nas mentes das crianças na escola, a hesitação de crer em sua existência seria sinal de excentricidade e levaria o cético às atenções de um psiquiatra, numa época esclarecida, ou às atenções de um inquisidor, numa época passada”.

Via DAG VULPI
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Bule_de_ch%C3%A1_de_Russell

sábado, 3 de dezembro de 2011

Um homem na Vitrine



O ano tinha sido bom para Amália. Trabalhara todos os dias sem uma falta sequer, nem mesmo por TPM. Não tirara férias, pouco saíra para se divertir, absorta pelo trabalho. Quase todos os dias passava por uma casa que vendia artigos sexuais, porque ficava em seu caminho de ida e volta para o trabalho. Preferia andar a pé para movimentar os músculos, beneficiar a sua saúde corporal. Mas naquele dia algo lhe chamou a atenção: Havia um homem na vitrine. Ou era um homem perfeito, real, ou então a mais magnífica das imitações que já havia visto. Não se detivera a olhar da primeira vez, mas a partir desse dia, sempre perdia alguns segundos para admirar a obra. Num mundo educado, com instrução obrigatória e paga pelo Estado, não havia cidadão ignorante. Isso permitira que o nu pudesse ser exposto em praças públicas, em vitrines. O Homem estava completamente nu, sem qualquer pêlo pelo corpo, a não ser o dos cabelos. Tinha uma aparência de quarenta e cinco anos, um metro e setenta e cinco de altura. Um pênis de 18 cm.

Aos quarenta e sete anos ainda não tivera filhos, mas não tinha pressa. Mulheres podiam procriar até os sessenta anos, num mundo em que a expectativa de vida rondava em média os cento e dez anos. Sexo? Para isso, Amália tinha os mais modernos recursos da tecnologia moderna: prepúcios pequenos e grossos, pequenos e finos, grossos e grandes, grandes e finos, que podia introduzir em qualquer lugar obtendo o prazer de que necessitava. Nos finais de semana, usava os serviços sexuais do Alfredo. Alfredo é um sexineco, ou seja, como o próprio nome diz, um boneco usado exclusivamente para sexo. Não apenas para sexo, mas também para desfilar pelas ruas, mostrando a todas as outras mulheres como seu boneco sexual era avantajado, bonito, feliz. A indústria e a tecnologia haviam proporcionado ao reino feminino réplicas quase perfeitas de homens, com uma vantagem: Não reclamavam, não discutiam. Apenas serviam.

Lá atrás, séculos já passados, as mulheres em todo o mundo se haviam deparado com um grande problema: haviam ascendido ao poder, obtido a igualdade perante os homens, eram independentes. O que fazer com os homens, se toda a tecnologia sexual estava ao seu dispor? A própria pílula, que engordava, causava varizes e dependência diária, havia sido abolida. As mulheres já não precisavam dela. Nem da pílula do dia seguinte. Nem de pomadas e géis para impedir a fecundação ou preservar contra doenças. Noventa e cinco por cento do mundo feminino usava instrumentos sexuais para o prazer, sexinecos. Homens faziam o mesmo. Eram raros os contatos sexuais entre homem e mulher, reservados para procriação. Na fila dos Centros de Procriação Assistida, havia homens que pretendiam ter filhos de mulheres estranhas e interessantes, mas que pretendiam ficar com eles após o nascimento. Mulheres faziam o mesmo, mas a diferença na população era de cerca de 80% de mulheres para apenas 20% de homens. Isso em muito contribuía para o controle de natalidade. A população mundial continuava em regressão. O objetivo era baixar dos atuais 25 bilhões de seres humanos para cerca de cinco bilhões nos próximos duzentos anos.

Todas as vezes que passava pela vitrine, Amália olhava e olhava com toda a atenção para o homem da vitrine. Já lera muita literatura sobre o comportamento humano, e em particular sobre o relacionamento entre homens e mulheres. Tirando o sexo, conversas interessantes e passeios, o relacionamento com os homens era muito problemático. Sabia disso. Não estava disposta a dividir os seus momentos de lazer com um homem que a irritasse, que não fizesse o que ela desejava. Nesses momentos de conflito, homem era um completo estorvo para ela. E se ainda dependesse financeiramente dela, isso era o fim. Não queria passar por isso. Lembrava-se de algo que havia lido, sobre o calor humano e o calor do corpo humano. Calor humano ela tinha de suas companheiras de trabalho, de suas amigas, e até de alguns amigos gays, mas o calor físico, esse os sexinecos também tinham. Seus corpos eram preenchidos por canais cheios de água, aquecidos através de uma tomada elétrica. Os sexinecos tinham um capacitor interno, e um termostato. A temperatura do corpo dos sexinecos era sempre de 37 graus.
Relutava em entrar na loja para saber do preço e das condições do homem da vitrine. Outros tipos de mulher tinham os seus homens, mas as relações não duravam muito. A maior parte deles eram apenas doadores de esperma – obrigados pelo Estado, para manter níveis populacionais ou de relações entre quantidades de homens e mulheres- os outros, raros, cada um tinha a sua dona. Não queria arrepender-se um dia de tomar uma decisão tão importante como aquela. Sabia que havia um contrato para adquirir um homem. Normalmente ele deveria obedecer em tudo ao que ela determinasse, mas também tinha a sua liberdade de dizer o que desejasse. Jamais de fazer o que desejasse, mas podia reclamar á vontade desde que não ferisse qualquer susceptibilidade feminina. Aliás, a manutenção de níveis baixos de homens na população tinha apenas uma função única: impedir que os homens se revoltassem contra as mulheres. Em pequeno e ínfimo número, jamais poderiam justapor suas forças ás da imensa maioria feminina, cujos postos de comando das forças armadas eram pertença sua, cargos esses dados sempre pelo senado, onde noventa e cinco por cento dos membros eram mulheres.

Amália sentia-se segura, porque todo o sistema apoiava as mulheres, mas havia um código de ética e Amália não pretendia ser uma fora da lei por levar para casa um homem só para ter o prazer de ter um homem verdadeiro em casa, se um dia resolvesse ferir o contrato. Enchendo-se de coragem, um dia não resistiu. Entrou na loja e obteve informações. O homem tinha sua própria fonte de renda. Era carente: dependia da atenção feminina. Era alérgico aos produtos usados na confecção das sexinecas. Não se continha no prazer e quando aquela onda de prazer mal se desenhava ainda, ejaculava de repente, sem avisar. Havia tratamento para ejaculação precoce, mas ele não podia tratar-se, porque até o ser precoce fazia parte de seu prazer particular. Em compensação, podia dar prazer a noite inteira para qualquer mulher que lhe despertasse o prazer, com todos os seus membros, incluindo a língua - que prazeirosamente considerava como membro sexual alternativo. 


Passaram-se ainda muitos dias até que Amália resolvesse voltar à loja para assinar o contrato de relacionamento com o homem da vitrine. Encheu-se de coragem e caminhou a pé até a loja. Resolveu dar uma última olhada no homem. Quando chegou, viu consternada que o objeto de seu desejo já não estava lá. Entrou apressada, angustiada na loja e dirigiu-se á vendedora: 


- Havia um homem na vitrine! – balbuciou – Assinaram o contrato dele?

Com um olhar totalmente alheado, a vendedora disse em voz ausente de qualquer inflexão:


- Passou por aqui, ontem, uma senhora com os seus oitenta anos de idade. Leu o contrato e viu que o homem era encanador, carpinteiro, soldador, bom cozinheiro, e que fizera curso de relações humanas. Decidiu levá-lo porque mora numa casa muito grande que necessita de muita manutenção. Foi amor á primeira vista!

Rui Rodrigues

domingo, 27 de novembro de 2011

Os loucos

Os loucos!!


Só os loucos notam as flores,
Os normais não têm tempo.
Só os loucos vêem o por-do-sol,
Só os loucos se apaixonam pela lua, 
Só os loucos não se preocupam em enriquecer.
Os normais não tem amigos, e sim parceiros,
Os normais não têm prazer, têm disputa,
Os normais não buscam chegar junto,
Buscam vencer sempre.
Os normais não dividem,
Fazem caridade.
Os normais morrem ricos de dinheiro,
Mas pobres de perfumes do verde,
Cheios de pessoas à sua volta,
Mas com lágrimas inúteis, falsas.
Os loucos levam consigo, as cores, as flores,
As imagens, os sons, os perfumes.
Os normais vivem hoje, ganhando para amanhã.
Os loucos sabem que amanhã as flores serão outras, 
Que o pôr-do-sol será diferente, 
Os loucos sabem que cada minuto pode ser eterno,
E isso lhes basta.
Acho que sou louco!

domingo, 20 de novembro de 2011

Noite!!

Noite!
A noite é quente, nenhum ruído.
As músicas são antigas, das que gosto.
Dá saudade, dá vontade de viver de novo.
Dá vontade de dançar coladinho com ela
Dá vontade de beber um whisky com gelo,
Quatro pedras, num copo raso e largo,
De fundo grosso, pesado.
Dá vontade de andar sem rumo na noite,
Dá vontade de ter alguém agora.
Dá vontade de estar longe, num quarto enfeitado,
Num quarto de motel, banheira, som
As mesmas músicas, o mesmo whisky
O dançar colado, de olhos fechados,
A música que mata com suavidade,
Dá vontade de tirar a roupa dela, beijá-la.
Molhar-lhe os cabelos, na água quente da banheira.
Mais um whisky, mais gelo, mais músicas,
Outra vez promessas, outra vez crer,
Ouvir, crer, prometer, beijar, dançar, amar.
Pena ser impossível voltar, dizer de novo.
Traria de volta os bons momentos, os risos.
Traria de volta as promessas, os sentimentos,
Os perfumes, as músicas, os bailes, as noites de cheiros,
De abraços, de beijos, de orgasmos.
Traria de volta mentiras, das quais me livrei.
Das quais a vida me tirou, me salvou.
A solidão de uma noite me torna confuso,
Muito confuso, com a música a me confundir mais,
Sem o whisky pra me fazer dormir.
Confuso, muito confuso!!

Um imenso abraço, Paulo César Pacheco, 12/12/09!