O Sputnik
(Minha primeira experiência
freudiana sobre comportamento de massas)
Dia 04 de Outubro de 1957,
uma sexta-feira.
Eu estudava no Liceu Gil
Vicente em Lisboa, e num dos intervalos veio a notícia: a URSS havia lançado um
satélite que seria visível nos céus pelo brilho da incidência dos raios solares
sobre ele. Viajava a uma velocidade espantosa, dando 15 voltas por dia ao redor
deste já insignificante planeta. Não me lembro em absoluto de nada do que foi
ensinado no Liceu naquele dia. Não se falava em outra coisa. Queria ir para a
rua para ver o Sputnik. Eu tinha 12 anos e cursava o segundo ano dos Liceus. Já
sabia alguma coisa de física, mas era ainda muito pouco. De qualquer modo era
um grande feito da humanidade.
O
Sputnik 1 (em russo “Спутник-1” ou Satélite 1) era uma esfera de alumínio de
58,5 cm de comprimento e peso de 83,6 kg, na qual estavam acopladas quatro
antenas e dois transmissores de rádio. Projetado pelo gênio astronáutico
soviético Sergei Pavlovich Koroliov (1907-1966)- pelo menos os URSSianos diziam
que sim - o satélite artificial foi lançado na ponta de um foguete R-7 do
cosmódromo de Baikonur, no Cazaquistão, às 22h28, hora de Moscou.
Olhei
para o céu na saída do colégio e não vi nada. Olhei em todas as direções. Meus
companheiros também não viram nada. Descartamos assim qualquer deficiência de
visão. Não poderíamos ter ficado todos cegos ao mesmo tempo assim tão de
repente. Pessoas pelas quais passávamos falavam sobre o Sputnik. Comunistas e
socialistas falavam mais alto. Os pró-ditadura de Salazar encolhiam os ombros e
os democratas capitalistas diziam que não era nada demais. Eu sabia que era
algo demais sim.
Em
03 de novembro de 1957, num domingo, a URS soltou outro satélite, desta vez com
uma cadela chamada Laika, mas cinco horas depois do lançamento os técnicos
pararam de receber os sinais vitais da pobre cadela. Morreu congelada e seu
cadáver foi incinerado na reentrada da atmosfera cinco meses mais tarde. Um
grande tributo de um pequeno animal empurrado á força para dentro da cápsula
espacial, morto por erro técnico da equipe de controle de qualidade dos
apressados técnicos URSSsianos, coisa que se repetiria anos mais tarde, por
diversas vezes e com seres humanos nas investidas espaciais dos técnicos
americanos, também por pressa e por erros técnicos da equipe de controle de
qualidade da NASA. Os nasianos também erram, mas os americanos – dizem eles –
jamais. E para pedir desculpas não usam o “apologize” mas o simples “I’m sorry”
que já não tem o mínimo significado.
Na
segunda feira, com a Laika já morta, saímos do Liceu e olhamos o céu. Nada!.
Não víamos nada. Tinha que ser ao amanhecer, e não sabíamos disso, mas
resolvemos fazer nosso teste, lembrando do “milagre” de Fátima.
Paramos
na confluência da Rua das Colônias com a Avenida Almirante Reis, onde sempre
passava muita gente a pé e fizemos um circulo apontando com os dedos para o
céu. Murmurávamos interjeições de admiração e dizíamos: É o Sputnik... É o
Sputnik!...
(quem
quiser ouvir o “bip” do Sputnik, ouça em http://idgnow.uol.com.br/estaticas/mp3s/sputnik.mp3)
E
sem qualquer admiração ou surpresa, constatamos que muitos dos transeuntes,
bastantes por sinal, paravam para olhar e concordavam que viam o satélite.
Chegavam a dizer que o viam um pouco mais para a esquerda, ou para a direita,
ou acima ou abaixo do lugar para onde apontávamos. Devia ter sido assim em
Fátima: Para não se passarem por ignorantes, concordaram que viram o que a
natureza não permite, e neste planeta nada é permitido que não seja natural ou
feito pela humanidade, ou pela vida que a povoa. É uma Lei de Deus que não pode
ser contrariada nem por Ele mesmo, porque não se arrepende das Leis que fez.
A
corrida espacial começara.
O
lançamento de um satélite artificial era muito mais do que alguma coisa
técnica, coisa de cientistas. Na verdade era um projeto que começara ainda
durante a segunda guerra mundial quando cientistas foram salvos do nazismo por
russos, americanos e ingleses. Eram em sua maioria alemães e judeus alemães.
Von Braun, por exemplo, foi salvo por americanos e comandaria mais tarde o
programa espacial americano. Einstein era judeu e tinha desenvolvido as teorias
da Relatividade geral e restrita, tão simples que pode ser traduzida numa
fórmula: E=Mc2, origem do desenvolvimento das bombas atômicas, contra sua
vontade.
Mas,
muito mais do que isso eram os horizontes da humanidade que se abriam.
Havia
esperanças de partir logo para a conquista do espaço e ter a oportunidade de
largar este conturbado planeta, assim como famílias inteiras de perseguidos
religiosos haviam demandado a América do Norte e o Nordeste do Brasil em busca
de paz e tranqüilidade para viverem, mas os senhores do mundo – insistem, teimam
que vivemos numa democracia – gastam o dinheiro público de forma independente e
unilateral e muitos ainda o roubam.
Quanto
á Laika, seu olhar potencialmente humano não deixa dúvidas: Sabia que estava
numa grande encrenca... Nós também estamos com esses governos que não aplicam
os dinheiros públicos como devem.
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