Pensando na vida que proíbem
Estava aqui a pensar na vida
de quando tinha automóvel (sempre tive automóveis, muitas vezes o carro do
ano), e de como tenho que ter cuidado com o acelerador (sempre bem calibrado)
para não apanhar multas. Fazem os carros para andarem a 300 km /hora e multam a
partir dos 120 (só nas estradas). Se não se pode andar a mais de 120 km /hora,
que façam os carros com motores mais baratos para essa velocidade. Ou seja,
pagamos motores caros para transitar como se tivéssemos motores baratos. Como o
planeta precisa economizar, podem começar por aí. (mas acho que não são os
governos que mandam. Deve ser alguém que precisa de dinheiro das multas). Meu
filho, saindo de casa de bicicleta, chegava duas horas mais cedo no escritório
do que eu. Trabalhamos juntos. Ele ia de bicicleta e eu de carro. Hoje vamos a
pé, porque atropelam muitos ciclistas. Nossa educação viária não é nada
evoluída.
E pensei nos cigarrinhos que
eu fumava. Proibiram e me envergonharam de tal modo que passei a fumar em casa,
escondido, como se fosse um drogado em último estado de “delirium tremens”.
Está certo que faz mal à saúde tanto quanto o ar poluído por veículos (aqueles
que andam a maior parte do tempo a 40 km /hora que nem o trânsito engarrafado permite
ir a mais, e se formos, multam...) E ainda subiram o preço dos cigarros,
acabaram com a economia de Cuba que vendia charutos de luxo, acabaram com as
famosas tabacarias. Alguém deve ter partido para o tráfico de drogas quer como
fornecedor, quer como distribuidor, quer como consumidor. Pensei em fumar um
baseado, desisti. Ser preso, amassado numa cela com os piores criminosos por
causa de um baseado inocente é dose. Ainda podiam me deflorar por trás. E acho
que o governo não manda tanto quanto desejamos, porque alguém manda mais.
Alguém que está precisando de dinheiro e aumenta o imposto sobre o tabaco e
permite a venda de drogas sem pagar imposto.
Solteirão, ou arranjo logo
uma namorada ou terei que apelar para uma sex-shop, porque proíbem a
prostituição. Quando não proíbem, vêm com tão maus olhos que fico envergonhado
e não gosto de passar envergonhado na rua. (quem sabe até comprar uma
bonequinha self-service daquelas japonesas que não falam mas fazem tudo e têm
tudo perfeito. Como custam o preço de um automóvel, talvez seja melhor alugar
mensalmente, mas parece que bonecas japonesas não se prostituem: cada dono tem
a sua, não empresta, não aluga, dá tiro se alguém a leva emprestada por um dia...).Nem
pensei em ser homossexual, porque apanham tanto que desisti. (não gosto de
apanhar). Acho que o governo manda pouco e os fabricantes de bonequinhas e
outros apetrechos se aproveitam de sua inocência (do governo, claro).
Pensei em tomar umas
cervejas, mas estava na Inglaterra e só depois das 7 da tarde, e antes das 6 da
manhã. Se fosse nos EUA poderia desde que a garrafa estivesse dentro de um saco
de papel, mas sou ecológico e não é justo derrubar árvores para encobrir
garrafas. A lei seca nos EUA acabou Agora existe a lei úmida de papelão).
Pensei em reclamar uma
porção de coisas do governo, mas eles (os do governo, claro) escutam, anotam,
recebem reclamações mas não atendem nada. (Fingem que não escutam, que perderam
as anotações que nem as receberam).Proíbem-me de ser ouvido.
Tive que entrar para a igreja
aqui do bairro, mas vou pouco lá (não posso dar cinqüenta paus toda a vez que
vou ao templo. Entrei por pressão da sociedade. Se não entro, o bairro todo me
olha sutilmente diferente. Senti-me proibido de não aderir). Devia haver uma
lei para reduzir o dízimo para digamos... O víntimo! Assim sobrava mais uma
graninha pro arroz e pro feijão, e pro leite das crianças. Proíbem-me de
assistir gratuitamente às prédicas do templo e para ir para o céu tenho que
pagar.
Antigamente havia urinóis
espalhados pela cidade, mas acabaram com eles. Então passei a usar as casas
comerciais na hora do aperto. Com a clientela do mijo, que entra nos bares, não
consome nada, gasta água da descarga, agora começaram a dizer que o banheiro
está entupido, que acabaram de passar água sanitária, que está em obras. Com a
bexiga apertada, já fiz duas vezes nas calças e duas na mochila. Ônibus
municipais não têm banheiro mesmo quando a viagem dura mais de uma hora. Desconfio
que querem me proibir de mijar. Isto não sei a quem interessa nem para que
serve, mas proíbem talvez por sadismo. Não arrecadam nada com o sadismo, mas
têm o prazer de proibir. Deve haver uma indústria do proibir. E em todos eles
lá está: Proibido jogar papel no vaso. Porque não usam torneirinha?
Na NET, nem pensar em copiar
imagens, baixar filmes, músicas, sem pagar – e não é barato. Proíbem tudo na
NET e o sinal da Vivo, da oi, da Tim, da Claro não é sinal, é bip de Sputnik.
Pagamos uma grana alta e dão-nos bips. Proíbem assim o acesso à Internet porque
depois de dois minutos esperando para mandar o e-mail, a maioria levanta da
cadeira e larga o computador falando sozinho. O acesso á Internet é livre, mas
vai usar para ver se pode!...
Antigamente jogava-se em
cassinos. Eram mais honestos e podíamos jogar. Proibiram os cassinos mas não o
jogo (eles , os do governo, claro, dizem que proibiram o jogo, mas é mentira...
existe uma catrefada deles com chances de um para muitos milhões, que são
aprovados. Parece existir um novo conceito para o que é jogo honesto, que
desconheço). Como não tenho alternativa, sou obrigado a jogar nas
“raspadinhas”, nas senas mini ou mega, nos jogos de futebol em que árbitros
trocam o nome da mãe. Havia um jogo de rua que era muito divertido por ter uma
porção de bichos. Publicavam o resultado no poste. Acabaram com esse jogo e o
transformaram em contravenção. Proíbem-me de jogar exatamente os melhores jogos
de sorte e me obrigam a jogar nos jogos de azar. Alguém por aí, que desconheço
(só pode ser o governo), seleciona quem lhe paga e quem não paga muito (por que
todos pagamos alguma coisa para o governo), e em função disso, lavra a lei.
Outro dia fui ao Banco e
esqueci a senha. Veio uma moça muito simpática para me ajudar no caixa
eletrônico. Um sujeito que estava por perto ouviu a minha conversa com a moça,
usou o celular e na saída me assaltaram. Não havia nenhum guarda de Banco do
lado de fora para me defender. Só do lado de dentro para defender o Banco.
Sinto-me proibido de acreditar em alguém e muito menos no Banco. Foi no Itaú!
Deve haver uma multinacional
que vende proibições, porque é sempre o mesmo em toda a parte para onde vou. Não permitir é o mesmo que proIbir. Não disponibilizar, é o mesmo que proibir.
Rui Rodrigues
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