A síndrome de
Estocolmo no reino das galinhas
Estudo os
estudos de Freud desde quando tinha meus 18 anos. Não tenho diploma, mas acho –
apenas acho – que entendo alguma coisa de psicologia. Tenho até uma gata de
quatro patas com a qual me dou muito bem. Ela é sensacional. Fica do meu lado,
acompanha-me para onde vou e temos um sistema perfeito de comunicação. Quando
ela quer sair de casa para fazer suas necessidades, por exemplo, fica parada,
sentada, em frente à porta da área da churrasqueira ou da rua, esperando
pacientemente que eu a atenda. Mia de certa forma para que eu entenda “melhor”.
É o tipo de gata que me olha nos olhos, que quando fico cozinhando se assenta
perto de mim sem pedir nada (e nunca lhe dou nada quando cozinho, porque só lhe
dou ração para que seja sempre saudável e não estrague os dentes). Devemos ter,
pelo menos, uns cem sinais de comunicação. Quando a chamo costuma obedecer, e
se assobio, vem logo. Se a mando entrar em casa, ela vai, e se lhe digo:
Sarkye. Fica quieta! Fica aí... Ela senta e não sai do lugar por alguns
instantes até que eu volte. Aprendeu isso pelo hábito sem qualquer tipo de
violência ou agrado de ração extra. Se não for apenas amizade, deve ser amor mútuo.
Tenho um galinheiro com três galinhas e agora apenas um galo. O Chico foi para a panela de uns amigos por engano. Era manso e o mais gordo. Ficou o Zé que é mais violento (ataca-me e a qualquer um que invada o galinheiro) é magro e parece ser descendente de galo de briga, talvez um guerrilheiro das velhas lutas por puro direito impensado de cobrir todas as galinhas até torrar a próstata. No entanto, cuida do galinheiro a seu modo alienado, sem saber com quem está lidando. É a ignorância animal. Mas não são apenas os animais que parecem alienados. A síndrome de Estocolmo [1] surge entre humanos quando prisioneiros altamente estressados e desanimados, sem solução de continuidade, aderem a seus algozes ficando dependentes deles, e com eles chegam a cooperar. Porém, este tipo de atitude aparentemente, pelos menos, não acontece apenas entre seres humanos. Vejamos se tenho razão.
Há uns
cinco ou seis dias atrás, ouvi pela madrugada um piar doloroso de uma galinha
no galinheiro. Pensando que fosse um gambá, que costuma chupar o sangue de
galinhas até ficar completamente embriagado, corri para ver. Encontrei um
circulo de galináceos. Duas galinhas e um galo è volta de uma galinha mais
fraca. Estavam parados, olharam para mim, a galinha cercada ficou ali no mesmo
lugar. Nos dias seguintes a cena se repetiu, mas ontem resolvi não fazer
barulho. Abri minha porta devagar, fui pé ante pé até o galinheiro e vi que uma
galinha estava bicando a mesma que tinha sido constantemente cercada. Dei um
grito e todas olharam para mim. O galo veio na minha direção, pronto para me
dar umas esporadas. Minha cerca de arame não lhe permite essas leviandades, e
quando entro no galinheiro para colher ovos, levo sempre um puçá balançando na
minha frente. Hoje ele me deu uma esporada. Fez-me um corte na perna. O que
vale é que meu sangue seca logo. Passei um anti-séptico desses de spray e estou
bem. Mas tive que tirar a galinha do galinheiro. Notei que lhe faltavam penas
nas costas. Peguei o puçá. Quando entrei as outras galinhas e o galo fugiram
para o fundo do galinheiro (que tem mais ou menos 3 metros de largura por 9 de
comprimento. Peguei a galinha com o puçá e me preparei para sair. Não se pode
dar as costas para galo brigão. Quando estava chegando à porta do galinheiro,
ele me atacou pelas costas e me rasgou a perna com o esporão.
Então, depois de lhe passar anti-séptico, soltei a galinha que tinha as costas feridas, escalavradas, o sangue escorrendo. (Esta da foto não é a minha galinha, que tem exatamente nas costas os ferimentos a que me refiro). Os demais membros da tribo de galináceos estavam lhe sugando o sangue com bicadas. Não sabia que galináceos podem ser vampiros mesmo com farta ração de milho e de restos de comida. Pois bem. A galinha ferida ficou rondando a porta do galinheiro querendo voltar para o seu grupo, com o qual se identifica. Agora mesmo está dormindo junto à malha que a separa do galinheiro. Do outro lado, bem encostados à mesma grade, estão seus amigos que lhe chupavam o sangue e a matariam. O galo sempre disfarçara que acoitava a chupação de sangue.
É assim
mesmo que os galináceos agem em seu meio, é assim mesmo que nós humanos agimos
em nosso meio. O pessoal que vota no PT é prova viva do que afirmo. Estamos
todos vivenciando uma crise de Estocolmo em pleno inicio de verão brasileiro. O
símbolo do PT deveria ser um galo de briga. Estrelas são símbolos para vôos
mais altaneiros e nobres e não merecem ser bandeira de partidos vampiros.
© Rui
Rodrigues
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