Temos que
reconhecer que as religiões têm tornado este mundo mais social em nosso meio
humano no que pesem as guerras que esporadicamente provocaram. Sem elas a moral
e a ética não seriam tão apuradas, as leis seriam as dos mais fortes - tal como
de certo modo ainda são – porém muito mais violentas se é que existiriam leis.
Todas elas são conformativas. Os fiéis sentem-se na obrigação de serem “bons” e
se não amam o próximo, pelo menos o respeitam mais do que sem as leis de cada
religião. Muitas delas “oferecem” uma outra vida após a morte. Não deixa de ser
reconfortante. Tem funcionado. Porém o aparente laicismo das republicas tem-se
defrontado recentemente com movimentos que apareceram do “nada” invocando Maomé
e querendo impor uma moral rígida, usando métodos que parecem surgidos do
inferno, envergonhando o profeta: Invadem e destroem cidades, matam inocentes de
quaisquer idades incluindo crianças, queimando-os em gaiolas, degolando-os.
A maioria
dos seguidores é composta de jovens de um mundo superpovoado que buscam alguma
“coisa”. O quê? Certamente que uns buscam o poder, outros uma nova moral,
outros aventura, mas num regime dominado por homens onde a mulher não tem a
mínima voz ativa. São como qualquer ser humano homem que não se quer impor
limites, ou como qualquer mulher para quem a liberdade não tem importância
desde que vivam alimentadas e protegidas por homens. È a volta dos antigos
califados, dos haréns. Mas o Universo em que vivemos tem limites e não são para
desprezar porque fazem parte das leis que nenhuma religião escreveu. As
verdadeiras leis nasceram com o despertar do Universo. Vejamos, porém, que
existe a possibilidade de nada disto ter a mínima importância. Nenhuma
importância mesmo, e esta veracidade não depende de se acreditar ou não. É
aquela verdade imutável que tanto se busca, a que não depende de
“interpretações”, embora difícil de entender porque exige um pouco mais do que
sentar em bancos de universidades.
A ciência
no fundo sempre buscou encontrar Deus. Saber como Ele fez o Universo, mas nos
defrontou com um enorme problema: Como o Universo existe há uma eternidade para
trás no tempo, para que seria necessário um Deus que tivesse feito um universo
que já existia antes dele surgir? E para que necessitaria surgir se tudo já
estava feito e nem nos aparece todos os dias para dizer: Eu existo! Esta
questão do tempo é muito importante para se poder entender o que pode ser Deus,
o que somos, a existência de “outra vida” para lá desta. Mas quer Deus exista
ou não, temos ainda outros problemas. Se não conseguirmos mandar um casal
fértil ou de outro modo fecundar óvulos femininos com espermatozóides em outro
planeta fora do sistema solar, estamos arriscados a perecer como espécie porque
o nosso Sol se transformará numa gigante vermelha que impossibilitará qualquer
tipo de vida. Mas, mesmo que isso não acontecesse, nossa Galáxia se fundirá com
a de Andrômeda com grandes possibilidades de extinção. E mesmo que isso não viesse
a acontecer, nosso planeta pode aniquilar, como já aniquilou por várias vezes,
98% das espécies, e sempre há os meteoros. Algum deles pode provocar o mesmo
resultado tal como aconteceu com os dinossauros. Em suma, se algum evento
destes acontecer – ou quando acontecer – não haverá memória neste planeta. Não
haverá memória! Nada, nem ninguém se lembrará sequer que um dia existimos, a
não ser uma eventual espécie que tentasse evoluir neste espaço de tempo que
ainda falta para o Sol se transformar numa gigante vermelha, fizesse escavações
e contasse nossa história tal como os arqueólogos e historiadores tentam
recontar a nossa própria. Essa espécie nos substituiria, mas teria todos os
demais problemas até que ficassem também sem memória viva.
Em suma,
surgimos a partir de um momento da história do Universo, este nosso, que por
sua vez surgiu em um momento da história de um grande universo muito maior que
tem uma história infinita no tempo, aparentemente sem um criador. E o futuro? O
meu? O seu? O da humanidade? O do Universo? Imaginemos uma linha infinita quer
para a direita quer para a esquerda. Marquemos um ponto A no surgimento deste Universo,
e longe, muito longe, o surgimento deste sistema solar habitável na Terra.
Marquemos um ponto B no surgimento da espécie humana, e logo adiante, em C, a
data de seu nascimento e em D a de sua morte. Marque em D o fim da humanidade.
Que importância pode ter para você ou para a humanidade toda a sua história?
Bom... Se pensarmos que existe um paraíso e sem questionarmos quais os
conceitos que presidem a escolha para sermos “escolhidos”, aceitando até que
todos o sejamos, que dizer quando este nosso Universo se transformar num lugar
tão gélido que nada possa nele existir embora ele, o universo, continue
existindo? Sim, porque nosso universo começou com bilhões e bilhões de graus e
hoje a temperatura média é de meros 2,4 graus aproximadamente sempre
diminuindo. O céu, o paraíso, não ficariam neste universo inerte, parado,
gélido, inóspito... Onde ficaria, para que pudéssemos, lá, ter nossa memória?
A memória
funciona através de circuitos de informação que podem ou não ser elétricos.
Seja como for, e em qualquer hipótese, precisam de energia, mas não há energia
num universo inerte, parado, gélido, inóspito. Estamos numa armadilha. Então
tudo estará perdido? Não... Tudo, o que quer que “tudo” possa significar, pode
continuar tal como está que não mudará nada. As religiões continuarão a
amenizar a vida difícil, que o é para todos, neste planeta. Sem elas, não
importa que Deus adorem, ou mesmo nenhum, provavelmente já nos teríamos
canibalizado sem remorsos talvez na disputa de uma bandeira, de um símbolo, de
um pedaço de carne de qualquer animal comestível, e o segredo de nossa
longevidade reside no fato de sermos sociais. Quanto mais sociais mais durável
será a humanidade. Precisamos de todos sem exceção porque cada um tem sua
função nesta vida, da limpeza ao apoio, da religiosidade e da falta dela para
que alguém pelo menos se questione sobre o “tudo”, e da ciência sem a qual nem
poderíamos ler estas linhas tortas.
Mas se
repararmos bem, para cada um de nós e para o próprio universo haver ou não um
começo, uma eternidade é como se nossa existência ficasse reduzida de infinito
a zero, porque a memória se acaba por falta de energia, quer seja de nós
mesmos, do sistema solar, do planeta ou do universo. Este não acabará, mas será
gélido, inerte, inóspito sem a mínima energia.
Não dizem
que o espírito ou a alma é uma espécie de energia? Aproveite esta vida. É única
coisa que temos certa porque nos parece muito real. Mas há quem diga que não.
® Rui
Rodrigues
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