Maya e o elefantinho.
Tenho duas
netinhas. Uma eu vejo sempre que podemos e é real. A outra é igualzinha a ela,
mas faz parte de minha saudade, de minhas lembranças. De vez em quando
vivemos histórias fantásticas juntos.
Como esta,
por exemplo...
1. Maya e um elefante numa ilha
Numa viagem
a uma ilha do Caribe, perto de Puerto Bolívar, no norte da Colômbia, o navio em
que viajava partiu de repente e ela ficou sozinha na ilha porque se tinha
afastado seguindo um pequeno elefante que se banhava nas águas do mar. Ele era
muito engraçado, parecia uma criança que pela primeira vez tinha visto o mar.
Sua mãe e a avó, ambas a bordo estavam desesperadas, mas o capitão do navio não
voltou atrás para apanhá-la alegando que não tinha ordens para voltar atrás,
nem combustível. Se o fizesse não chegaria ao porto mais próximo no trajeto
previsto que era em Curaçao. A única coisa que ela tinha era um pacote de
biscoitos e uma garrafa de água em sua mochila, umas conchas que apanhara para
mostrar ao avô, um estojo de pintura e cinco reais que a mãe lhe dera e que era
para gastar se precisasse de alguma coisa. Quando Maya se deu conta que o navio
zarpara, vendo-o passar ao longe, logo pensou que estava sozinha e que tinha de
sobreviver até o navio voltar. Podia ser que desse a volta, e ali ficou
esperando. O elefantinho fez-lhe companhia todo esse tempo, cheirando a bolsa
por causa dos biscoitos. Não havia mais ninguém na ilha. Estavam sós. Ao longe
o navio que era tão grande, agora não passava de um pequeno ponto longe, muito
longe na linha do horizonte. Em seguida desapareceu e veio a noite.
Quando
amanheceu, o pequeno elefante começou a empurrar Maya para o mar. Maya não
queria ir. Depois de várias tentativas, Maya acedeu. O elefante entrou na água
e Maya montou nele. Maya sabia nadar, e o elefantinho também. Pensou que o
elefantinho só queria se divertir, mas quando se deu conta, já estavam a uns
cinqüenta metros da praia. Maya não entrou em pânico. Nada disso. Cada situação
era uma situação. Ainda tentou dar umas palmadinhas numa das orelhas do
elefante para que ele virasse no sentido da praia, mas parecia que Trombeta não a escutava.
Ela falhou-lhe na orelha:
-Volta
elefantinho senão a gente vai se afogar! Volta elefantinho...
Mas ele não
a entendia. Pelo contrário. Borrifava-lhe água com a tromba e lá foram oceano
adentro. A partir daí ela começou a chamá-lo de “Trombeta ”.
Há varias
espécies de baleias, mas aquelas redondinhas, brilhantes e lisas, malhadas de
preto e branco, matam para comer. As grandes só comem pequenos peixes
distraídos, e um tipo de camarão muito pequeno, vermelho chamado de krill. Ela
apareceu de repente bem em frente a eles, e abriu a bocarra enorme cheia de
dentes para comer a tromba de Trombeta , mas ele deu um grito que parecia uma
trombeta e pareceu ter assustado a baleia, mas para surpresa dos dois, ela
pareceu sorrir e começou a assobiar imitando a trombeteada do Trombeta . Fizeram amizade os três. Maya porque tinha
dois bons companheiros.Trombeta porque
Krill lhe trazia peixes para comer e saciar a sede (peixes chupados têm água e
não é salgada) e Krill porque se encantava com as trombeteadas de Trombeta e de vez em quando ainda lhes dava um
empurrão. Parecia que iam de lancha e Maya tinha que se agarrar às orelhas de Trombeta
para não cair. Mas nada de enxergar
terra. Nadavam sem saber para onde iam, e já se haviam passado dois dias. Os
biscoitos de Maya tinham acabado.
Ploft! Foi
o que os três escutaram e pararam de nadar, justamente quando Maya mais estava
gostando. Ela estava segura entre o Trombeta, seu amigo elefante, e Krill, sua
amiga orça, que nadavam lado a lado, Maya no meio dos dois. Olharam para trás e
havia um pára-quedas no mar. Parecia vivo, até que levantando uma ponta do
pára-quedas emergiu a cabeça de um garoto de seus oito anos que os olhou
primeiro assustado, depois admirado, arregalando os olhos. Krill voltou-se e
começou a nadar em volta do garoto, mas Maya e Trombeta gritaram bem alto e
Krill entendeu que não era para fazer mal ao garoto. Então a baleia orca se
aproximou bem devagar dele e carinhosamente o empurrou até bem perto, ao
alcance da mão. Ele se soltou do pára-quedas, enrolou-o e disse:
- Chamo-me
Beto... O avião em que viajava caiu lá atrás e eu e o piloto saltamos de
pára-quedas. Não sei onde ele foi parar, porque depois que saltamos não o vi
mais. E que coisa é essa de você estar com uma orca e um elefante no meio do
mar? Nunca vi disso!
Maya então
explicou toda a história desde a ilha em que fora deixada pelo navio fujão até
seu encontro com Krill, a orca assassina. Ficaram amigos e agora já eram
quatro. No dia seguinte, Beto desenrolou o tecido do pára-quedas e se cobriram
para se protegerem dos raios de sol. Maya e Beto ficavam sempre em cima do
Trombeta que agora era um excelente comedor de peixe. Conversavam muito. Beto
contava sua preocupação com o piloto e com seus pais que não sabiam onde ele
estava. Era exatamente o que Maya pensava também. Imaginava sua família
procurando por ela. Se vissem um avião, teriam que fazer sinais. Krill, a orca
assassina não parava de trazer peixes para o grupo. Quem comia mais era o
elefante que estava sempre alegre. Para dormirem, faziam turnos. Enquanto Beto
dormisse, Maya não dormia, e assim fazia Beto. Beto dividiu com os amigos o lanche que trazia na mochila junto ao peito. Havia só dois pacotes de biscoitos doces e duas embalagens de leite de chocolate.
Já se
haviam passados seis dias e continuavam todos no mar. Beto e Maya estavam
admirados como o elefantinho Trombeta não se cansava. Ele era forte, mas depois
que repararam que ele não nadava. Ele boiava e o que os fazia afastar-se da
costa, mar adentro, alto mar, eram as correntes, que são grandes quantidades de
água que se movem porque têm temperatura mais fria e vêm dos pólos onde o clima
é muito frio, gelado. Há uma que se chama corrente do Golfo e de tanto se
afastar do pólo, virou corrente quente. Aqueceu-se. Estavam exatamente viajando
nessa corrente. Krill a orca estava caçando peixes para trazer para o grupo, o
elefantinho sempre rindo estava boiando com Beto e Maya no dorso, quando de
repente surge um submarino estranho, todo de vidro e aço.
Apareceram
dois homens e duas mulheres vestidos de preto com roupas de mergulhador. Tinham
uma caveira branca desenhada no peito, e não se viam os rostos. Só uma parte.
Maya e Beto se olharam e se agarraram um
ao outro. Maya perguntou-lhes: - Quem são vocês?
Beto mesmo
respondeu: - Acho que são piratas. E falando mais alto, perguntou: Vocês são
piratas?
Uma das
mulheres disse: - Vocês são Beto e Maya, não são?
- Somos!
Disseram as crianças. – Como sabem o nosso nome?
- Porque
temos radio e televisão aqui dentro do submarino. Estão todos procurando por
vocês... Subam a bordo!
- E o
Trombeta e a Krill? Perguntaram juntos.
- Temos
lugar para eles, disse um dos homens. E fez um gesto. Logo em seguida um
guindaste desceu um cabo com um gancho enorme. Dele saiam umas cordas com umas
esteiras de pano forte presas. Enquanto as crianças subiam a bordo já Trombeta
e a orca eram içados. Krill foi para um tanque lá dentro fazer companhia a duas
tartarugas e um peixe elétrico. Trombeta foi para um cercado junto com dois
esquilos, uma águia e três coelhos.
Sem querer, Maya escutou um dos homens dizer para o outro: - E então? Entregamos os garotos ou pedimos resgate?
1. O submarino voa.
Já no
beliche lá no fundo do submarino, Maya contou para Beto o que tinha ouvido. –
São bandidos! São bandidos! Disse Beto.
Maya
contestou: Não!... Não... São piratas. Eu sei que até já tive um aniversário de
piratas e eles costumam fazer visitas á praia de meu avô. Alguns são legais.
Outros não. Um dia deixaram um balão daqueles que flutuam preso num barbante a
uma pedra. O balão era uma cara. Isso foi de noite. Quando escavamos debaixo da
pedrinha que segurava o balão, eu meu avô e meu tio Beto - meu tio também se chama Beto - os piratas tinham
deixado lá uma caixa de bombons pra mim.
- E então
que fazemos? Perguntou Beto.
- Nada...
Vamos esperar para ver o que fazem. Se houver algum celular por aqui ou
computador, nós nos comunicamos com minha mãe, e eles vêm nos procurar. Vão
trazer aviões, submarinos e barcos de guerra.
Já era o
sétimo dia que Maya estava longe da família. Mas não chorou! Sabia que tudo
daria certo. Era apenas uma questão de tempo. Almoçaram na mesa do comandante e
dos ajudantes dele. Gostaram muito da sobremesa: Bolo com cobertura de doce de
algas com framboesas e chantili. Na mesa não eram muitos. Uns sete ou oito.
Depois de almoçarem foram levados para a frente do submarino, debaixo de uma
cúpula de vidro e viram o fundo do mar cheio de corais, peixes, tartarugas.
Depois foram visitar seus amigos, o Trombeta, o elefantinho, e Krill a orca que
de assassina não tinha nada. Ambos falaram com eles em sua língua –
trombeteadas e silvos, e pareciam muito felizes e bem alimentados. Finalmente,
pelo entardecer, o submarino foi à superfície, emergiu. Tinham ficado imersos
aquele tempo todo e não tinham sentido nada. Logo que o submarino emergiu
mandaram que se sentassem numas cadeiras, lado a lado. Então uma cúpula baixou,
uma haste de metal subiu, ouviram o som de um motor e logo estavam voando.
Havia um helicóptero disfarçado no próprio submarino que podia soltar-se e
voar. Além deles estava um piloto e um co-piloto ambos vestidos de preto com a
caveira branca no peito.
2. De volta à ilha
Em menos de
uma hora já estavam na ilha. Desembarcaram do helicóptero. O piloto disse para
Maya:
- Você não
lembra de mim, mas eu lembro de você! De vez em quando você vai lá na praia do
Peró, não vai? Maya assentiu com a cabeça. O pirata continuou:
- Você é
uma menina muito legal. Eu gosto de você. Por isso já avisamos a família que
vocês estão aqui. O elefantinho e a orca vão chegar em umas duas horas, antes
que alguém volte à ilha para buscar vocês, talvez ainda hoje à noite ou amanhã
de manhã. Adeus!
E partiram
deixando dois sacos na praia.
Logo em
seguida, Beto e Maya abriram os sacos. Num havia uma barraca branca. No outro,
tinha tudo: Biscoitos, salgadinhos, água, sucos e leite de chocolate. Até papel
higiênico, escovas de dente, pasta de dentes, e uma lanterna.
Beto e Maya
viram chegar à noite o elefantinho, Trombeta e a orca krill. Chegaram também as
tartarugas, os esquilos e os coelhos. À luz de uma fogueira, ficaram
conversando até quase de manhã. Quando o barco de resgate chegou com as
famílias, estavam dormindo. Junto à água, Krill dava silvos e Trombeta
trombeteava. As tartarugas estavam pondo ovos numa cova na areia. Todos estavam
muito felizes.
Depois
dessa aventura, voltaram à ilha muitas vezes para ver seus amiguinhos, mas Maya
agora tinha uma amiguinha muito particular em casa: Uma gatinha! Parece que se chama Canjika... Nome muito lindo!
® Rui
Rodrigues.
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