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quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

Maya e o elefantinho.

Maya e o elefantinho.

Tenho duas netinhas. Uma eu vejo sempre que podemos e é real. A outra é igualzinha a ela, mas faz parte de minha saudade, de minhas lembranças. De vez em quando vivemos histórias fantásticas juntos.

Como esta, por exemplo...

1.    Maya e um elefante numa ilha 



Numa viagem a uma ilha do Caribe, perto de Puerto Bolívar, no norte da Colômbia, o navio em que viajava partiu de repente e ela ficou sozinha na ilha porque se tinha afastado seguindo um pequeno elefante que se banhava nas águas do mar. Ele era muito engraçado, parecia uma criança que pela primeira vez tinha visto o mar. Sua mãe e a avó, ambas a bordo estavam desesperadas, mas o capitão do navio não voltou atrás para apanhá-la alegando que não tinha ordens para voltar atrás, nem combustível. Se o fizesse não chegaria ao porto mais próximo no trajeto previsto que era em Curaçao. A única coisa que ela tinha era um pacote de biscoitos e uma garrafa de água em sua mochila, umas conchas que apanhara para mostrar ao avô, um estojo de pintura e cinco reais que a mãe lhe dera e que era para gastar se precisasse de alguma coisa. Quando Maya se deu conta que o navio zarpara, vendo-o passar ao longe, logo pensou que estava sozinha e que tinha de sobreviver até o navio voltar. Podia ser que desse a volta, e ali ficou esperando. O elefantinho fez-lhe companhia todo esse tempo, cheirando a bolsa por causa dos biscoitos. Não havia mais ninguém na ilha. Estavam sós. Ao longe o navio que era tão grande, agora não passava de um pequeno ponto longe, muito longe na linha do horizonte. Em seguida desapareceu e veio a noite.



Quando amanheceu, o pequeno elefante começou a empurrar Maya para o mar. Maya não queria ir. Depois de várias tentativas, Maya acedeu. O elefante entrou na água e Maya montou nele. Maya sabia nadar, e o elefantinho também. Pensou que o elefantinho só queria se divertir, mas quando se deu conta, já estavam a uns cinqüenta metros da praia. Maya não entrou em pânico. Nada disso. Cada situação era uma situação. Ainda tentou dar umas palmadinhas numa das orelhas do elefante para que ele virasse no sentido da praia, mas parecia que Trombeta não a escutava. Ela falhou-lhe na orelha:
-Volta elefantinho senão a gente vai se afogar! Volta elefantinho...
Mas ele não a entendia. Pelo contrário. Borrifava-lhe água com a tromba e lá foram oceano adentro. A partir daí ela começou a chamá-lo de “Trombeta ”.

2.    Krill, a baleia assassina, se junta a Trombeta e Maya.


Há varias espécies de baleias, mas aquelas redondinhas, brilhantes e lisas, malhadas de preto e branco, matam para comer. As grandes só comem pequenos peixes distraídos, e um tipo de camarão muito pequeno, vermelho chamado de krill. Ela apareceu de repente bem em frente a eles, e abriu a bocarra enorme cheia de dentes para comer a tromba de Trombeta , mas ele deu um grito que parecia uma trombeta e pareceu ter assustado a baleia, mas para surpresa dos dois, ela pareceu sorrir e começou a assobiar imitando a trombeteada do Trombeta .  Fizeram amizade os três. Maya porque tinha dois bons companheiros.Trombeta  porque Krill lhe trazia peixes para comer e saciar a sede (peixes chupados têm água e não é salgada) e Krill porque se encantava com as trombeteadas de Trombeta  e de vez em quando ainda lhes dava um empurrão. Parecia que iam de lancha e Maya tinha que se agarrar às orelhas de Trombeta  para não cair. Mas nada de enxergar terra. Nadavam sem saber para onde iam, e já se haviam passado dois dias. Os biscoitos de Maya tinham acabado.

3.    O pára-quedista


Ploft! Foi o que os três escutaram e pararam de nadar, justamente quando Maya mais estava gostando. Ela estava segura entre o Trombeta, seu amigo elefante, e Krill, sua amiga orça, que nadavam lado a lado, Maya no meio dos dois. Olharam para trás e havia um pára-quedas no mar. Parecia vivo, até que levantando uma ponta do pára-quedas emergiu a cabeça de um garoto de seus oito anos que os olhou primeiro assustado, depois admirado, arregalando os olhos. Krill voltou-se e começou a nadar em volta do garoto, mas Maya e Trombeta gritaram bem alto e Krill entendeu que não era para fazer mal ao garoto. Então a baleia orca se aproximou bem devagar dele e carinhosamente o empurrou até bem perto, ao alcance da mão. Ele se soltou do pára-quedas, enrolou-o e disse:
- Chamo-me Beto... O avião em que viajava caiu lá atrás e eu e o piloto saltamos de pára-quedas. Não sei onde ele foi parar, porque depois que saltamos não o vi mais. E que coisa é essa de você estar com uma orca e um elefante no meio do mar? Nunca vi disso!



Maya então explicou toda a história desde a ilha em que fora deixada pelo navio fujão até seu encontro com Krill, a orca assassina. Ficaram amigos e agora já eram quatro. No dia seguinte, Beto desenrolou o tecido do pára-quedas e se cobriram para se protegerem dos raios de sol. Maya e Beto ficavam sempre em cima do Trombeta que agora era um excelente comedor de peixe. Conversavam muito. Beto contava sua preocupação com o piloto e com seus pais que não sabiam onde ele estava. Era exatamente o que Maya pensava também. Imaginava sua família procurando por ela. Se vissem um avião, teriam que fazer sinais. Krill, a orca assassina não parava de trazer peixes para o grupo. Quem comia mais era o elefante que estava sempre alegre. Para dormirem, faziam turnos. Enquanto Beto dormisse, Maya não dormia, e assim fazia Beto. Beto dividiu com os amigos o lanche que trazia na mochila junto ao peito. Havia só dois pacotes de biscoitos doces e duas embalagens de leite de chocolate. 

4.    O submarino



   
Já se haviam passados seis dias e continuavam todos no mar. Beto e Maya estavam admirados como o elefantinho Trombeta não se cansava. Ele era forte, mas depois que repararam que ele não nadava. Ele boiava e o que os fazia afastar-se da costa, mar adentro, alto mar, eram as correntes, que são grandes quantidades de água que se movem porque têm temperatura mais fria e vêm dos pólos onde o clima é muito frio, gelado. Há uma que se chama corrente do Golfo e de tanto se afastar do pólo, virou corrente quente. Aqueceu-se. Estavam exatamente viajando nessa corrente. Krill a orca estava caçando peixes para trazer para o grupo, o elefantinho sempre rindo estava boiando com Beto e Maya no dorso, quando de repente surge um submarino estranho, todo de vidro e aço.
 Apareceram dois homens e duas mulheres vestidos de preto com roupas de mergulhador. Tinham uma caveira branca desenhada no peito, e não se viam os rostos. Só uma parte. Maya e  Beto se olharam e se agarraram um ao outro. Maya perguntou-lhes: - Quem são vocês?
Beto mesmo respondeu: - Acho que são piratas. E falando mais alto, perguntou: Vocês são piratas?


Uma das mulheres disse: - Vocês são Beto e Maya, não são?
- Somos! Disseram as crianças. – Como sabem o nosso nome?
- Porque temos radio e televisão aqui dentro do submarino. Estão todos procurando por vocês... Subam a bordo!
- E o Trombeta e a Krill? Perguntaram juntos.
- Temos lugar para eles, disse um dos homens. E fez um gesto. Logo em seguida um guindaste desceu um cabo com um gancho enorme. Dele saiam umas cordas com umas esteiras de pano forte presas. Enquanto as crianças subiam a bordo já Trombeta e a orca eram içados. Krill foi para um tanque lá dentro fazer companhia a duas tartarugas e um peixe elétrico. Trombeta foi para um cercado junto com dois esquilos, uma águia e três coelhos.

Sem querer, Maya escutou um dos homens dizer para o outro: - E então? Entregamos os garotos ou pedimos resgate?


1.    O submarino voa.


Já no beliche lá no fundo do submarino, Maya contou para Beto o que tinha ouvido. – São bandidos! São bandidos! Disse Beto.
Maya contestou: Não!... Não... São piratas. Eu sei que até já tive um aniversário de piratas e eles costumam fazer visitas á praia de meu avô. Alguns são legais. Outros não. Um dia deixaram um balão daqueles que flutuam preso num barbante a uma pedra. O balão era uma cara. Isso foi de noite. Quando escavamos debaixo da pedrinha que segurava o balão, eu meu avô e meu tio Beto - meu tio também se chama Beto -  os piratas tinham deixado lá uma caixa de bombons pra mim.
- E então que fazemos? Perguntou Beto.
- Nada... Vamos esperar para ver o que fazem. Se houver algum celular por aqui ou computador, nós nos comunicamos com minha mãe, e eles vêm nos procurar. Vão trazer aviões, submarinos e barcos de guerra.


Já era o sétimo dia que Maya estava longe da família. Mas não chorou! Sabia que tudo daria certo. Era apenas uma questão de tempo. Almoçaram na mesa do comandante e dos ajudantes dele. Gostaram muito da sobremesa: Bolo com cobertura de doce de algas com framboesas e chantili. Na mesa não eram muitos. Uns sete ou oito. Depois de almoçarem foram levados para a frente do submarino, debaixo de uma cúpula de vidro e viram o fundo do mar cheio de corais, peixes, tartarugas. Depois foram visitar seus amigos, o Trombeta, o elefantinho, e Krill a orca que de assassina não tinha nada. Ambos falaram com eles em sua língua – trombeteadas e silvos, e pareciam muito felizes e bem alimentados. Finalmente, pelo entardecer, o submarino foi à superfície, emergiu. Tinham ficado imersos aquele tempo todo e não tinham sentido nada. Logo que o submarino emergiu mandaram que se sentassem numas cadeiras, lado a lado. Então uma cúpula baixou, uma haste de metal subiu, ouviram o som de um motor e logo estavam voando. Havia um helicóptero disfarçado no próprio submarino que podia soltar-se e voar. Além deles estava um piloto e um co-piloto ambos vestidos de preto com a caveira branca no peito.    

2.    De volta à ilha

Em menos de uma hora já estavam na ilha. Desembarcaram do helicóptero. O piloto disse para Maya:
- Você não lembra de mim, mas eu lembro de você! De vez em quando você vai lá na praia do Peró, não vai? Maya assentiu com a cabeça. O pirata continuou:
- Você é uma menina muito legal. Eu gosto de você. Por isso já avisamos a família que vocês estão aqui. O elefantinho e a orca vão chegar em umas duas horas, antes que alguém volte à ilha para buscar vocês, talvez ainda hoje à noite ou amanhã de manhã. Adeus!
E partiram deixando dois sacos na praia.
Logo em seguida, Beto e Maya abriram os sacos. Num havia uma barraca branca. No outro, tinha tudo: Biscoitos, salgadinhos, água, sucos e leite de chocolate. Até papel higiênico, escovas de dente, pasta de dentes, e uma lanterna.



Beto e Maya viram chegar à noite o elefantinho, Trombeta e a orca krill. Chegaram também as tartarugas, os esquilos e os coelhos. À luz de uma fogueira, ficaram conversando até quase de manhã. Quando o barco de resgate chegou com as famílias, estavam dormindo. Junto à água, Krill dava silvos e Trombeta trombeteava. As tartarugas estavam pondo ovos numa cova na areia. Todos estavam muito felizes.

Depois dessa aventura, voltaram à ilha muitas vezes para ver seus amiguinhos, mas Maya agora tinha uma amiguinha muito particular em casa: Uma gatinha! Parece que se chama Canjika... Nome muito lindo!

® Rui Rodrigues.






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