Na maior
parte das vezes em que somos levados a raciocinar sobre o mundo que nos rodeia,
há sempre algum “dispositivo” que antecipadamente nos remete para um dos dois
caminhos possíveis: Acreditar ou não no que “vamos pensar” ou no que vemos. Um
dos motivos desta forma de avaliação se remete à necessidade de diminuir nossas
preocupações, que já são muitas, do dia a dia. O pessoal da psicologia talvez
descubra este dispositivo onde ele provavelmente deveria estar: No ADN e no complexo
reptiliano, numa atuação similar à da produção de adrenalina.
Há uma seleção de
“preocupações” que devem estar presentes em nosso consciente de forma latente e
outras que podem ser esquecidas por não serem “tão” importantes. No que se
refere a crianças, as mães são as que têm esta percepção mais sensível. Sua
linha de pensamento racional segue os “instintos” dessa característica inserta
em seu complexo reptiliano, embora haja pais que têm esse instinto tão
desenvolvido quanto elas, as mães.
Em termos de herança genética de “padrão
comum” a toda a humanidade e de certa forma a todos os mamíferos, pais se
dedicaram por milhões de anos a tarefas de interesse comum á família ou ás
tribos ou nações, que os afastaram dos filhos. Como cobra comendo o próprio
rabo, a necessidade alimentava o instinto que se reforçava no complexo
reptiliano, este alimentava a consciência que agora podemos chamar de
“maternal”, a que cuida das crianças. Assim têm nascido e se educado os filhos,
e ao percebermos isto, podemos explicar muitas coisas: Os filhos são das
tribos, das cidades, das nações, e seu fascínio pelas tribos, cidades e nações
é maior, sempre que pelos pais. Por isso não se consegue – nunca - a perfeição
de “filho ideal” sob pena de forçá-los à infelicidade. Quanto mais os tentamos
“educar” com particularidades, mais eles se aproximam das generalidades das
massas humanas que os cercam. Há quem diga que os filhos não nos pertencem, que
pertencem ao mundo, que logo que criam asas voam. E o amor? Na ausência o amor
se transforma em saudade sem nunca deixar de ser amor.
Crianças
devem ser preparadas para o mundo e não para nós. Aquilo a que se chamava –
talvez ainda se chame – “investir” nos filhos, para que um dia nos “ajudem”, ou
à família, é daquelas percepções com as quais nos iludimos. Conscientemente
esse pensamento nos pode confortar para que não nos possamos sentir infelizes,
mas no fundo, vindo lá do complexo reptiliano, sabemos que não é assim. Filhos
são criados para enfrentarem o mundo e sobreviverem, e o que lhes podemos
ensinar é o que sabemos, quer por parte de pai, quer por parte de mãe. Se num
casal com filhos um dos cônjuges nega ou denigre o outro, a criança crescerá –
até entender a realidade – com o conceito distorcido e equivocado do outro.
Faltar-lhe-á uma parte do conhecimento de que precisa para alçar as asas e voar
pelo mundo. Sempre soubemos disto. No entanto há por vezes certas confusões em
que misturamos umas coisas com outras, e a raiva, o asco, sobre o outro cônjuge
nos leva a dar mais importância á destruição da sua imagem do que à “educação”
das crianças. Para estas, nestes casos, o pai é sempre o errado, ou a mãe é
sempre a errada.
Já sabemos
quais são as conseqüências quando as figura do pai ou da mãe –ou ambas - são destruídas ou simplesmente “arranhadas”:
Crianças ficam com a mente confusa, porque também sentem a “falta” de um deles
ou de ambos, na construção de suas personalidades, e na sua presença. Toda a
criança precisa “ter” um pai e uma mãe, e não é porque os outros têm e ela não,
como efeito do comportamento generalizado do meio que a cerca. Essa necessidade
vem do interior da herança genética da espécie, desenvolvida há milhões de
anos, como base necessária para a procriação e a manutenção da espécie. É
preciso haver “papai” e “mamãe”. Nos dias atuais passamos por um momento
especial da espécie humana que cada vez nos coloca mais longe dos demais
mamíferos. Podemos procriar sem papai nem mamãe, numa simples “proveta”, em
barrigas de aluguel, com genes até de gente que nunca se conhecerá. Teremos
então uma nova humanidade em luta contra os instintos que lhe chegam do
complexo reptiliano, e a consciência da adaptação ao mundo cada vez mais
diferente que a cerca ao nascer. Se desejarem chamar a isto de “paradoxo X”, podem chamar, mas o resultado será uma distância cada vez maior entre a
essência latente mamífera e a vivência real humana tão grande entre essas duas
forças tão fortes, que o elo se pode romper. E não podemos acreditar que
possamos mudar o futuro para o qual caminhamos. O futuro não se escolhe, nem
que seja imposto pela força. O futuro é ditado por dois fatores: O tempo que
pertence ao espaço, e a humanidade como um todo. Nosso problema é que não
sabemos para onde a humanidade resolve ir a cada instante e não podemos assim
impedi-la.
Uma criança
bem educada, o que quer que isso possa significar, terá grandes chances de não
se perder na vida e ser feliz enquanto viver sem correr grande risco até suas
asas crescerem e poder voar. Os fortes ventos da humanidade a levarão para
muito longe ou a manterão bem perto.
Cuidem
muito bem das crianças. Elas são adoráveis mesmo quando crescem. Afinal, já fomos uma delas.
® Rui
Rodrigues
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