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quarta-feira, 20 de maio de 2015

Cuidem bem das crianças




Na maior parte das vezes em que somos levados a raciocinar sobre o mundo que nos rodeia, há sempre algum “dispositivo” que antecipadamente nos remete para um dos dois caminhos possíveis: Acreditar ou não no que “vamos pensar” ou no que vemos. Um dos motivos desta forma de avaliação se remete à necessidade de diminuir nossas preocupações, que já são muitas, do dia a dia. O pessoal da psicologia talvez descubra este dispositivo onde ele provavelmente deveria estar: No ADN e no complexo reptiliano, numa atuação similar à da produção de adrenalina. 


Há uma seleção de “preocupações” que devem estar presentes em nosso consciente de forma latente e outras que podem ser esquecidas por não serem “tão” importantes. No que se refere a crianças, as mães são as que têm esta percepção mais sensível. Sua linha de pensamento racional segue os “instintos” dessa característica inserta em seu complexo reptiliano, embora haja pais que têm esse instinto tão desenvolvido quanto elas, as mães. 



Em termos de herança genética de “padrão comum” a toda a humanidade e de certa forma a todos os mamíferos, pais se dedicaram por milhões de anos a tarefas de interesse comum á família ou ás tribos ou nações, que os afastaram dos filhos. Como cobra comendo o próprio rabo, a necessidade alimentava o instinto que se reforçava no complexo reptiliano, este alimentava a consciência que agora podemos chamar de “maternal”, a que cuida das crianças. Assim têm nascido e se educado os filhos, e ao percebermos isto, podemos explicar muitas coisas: Os filhos são das tribos, das cidades, das nações, e seu fascínio pelas tribos, cidades e nações é maior, sempre que pelos pais. Por isso não se consegue – nunca - a perfeição de “filho ideal” sob pena de forçá-los à infelicidade. Quanto mais os tentamos “educar” com particularidades, mais eles se aproximam das generalidades das massas humanas que os cercam. Há quem diga que os filhos não nos pertencem, que pertencem ao mundo, que logo que criam asas voam. E o amor? Na ausência o amor se transforma em saudade sem nunca deixar de ser amor.



Crianças devem ser preparadas para o mundo e não para nós. Aquilo a que se chamava – talvez ainda se chame – “investir” nos filhos, para que um dia nos “ajudem”, ou à família, é daquelas percepções com as quais nos iludimos. Conscientemente esse pensamento nos pode confortar para que não nos possamos sentir infelizes, mas no fundo, vindo lá do complexo reptiliano, sabemos que não é assim. Filhos são criados para enfrentarem o mundo e sobreviverem, e o que lhes podemos ensinar é o que sabemos, quer por parte de pai, quer por parte de mãe. Se num casal com filhos um dos cônjuges nega ou denigre o outro, a criança crescerá – até entender a realidade – com o conceito distorcido e equivocado do outro. Faltar-lhe-á uma parte do conhecimento de que precisa para alçar as asas e voar pelo mundo. Sempre soubemos disto. No entanto há por vezes certas confusões em que misturamos umas coisas com outras, e a raiva, o asco, sobre o outro cônjuge nos leva a dar mais importância á destruição da sua imagem do que à “educação” das crianças. Para estas, nestes casos, o pai é sempre o errado, ou a mãe é sempre a errada.


Já sabemos quais são as conseqüências quando as figura do pai ou da mãe –ou ambas -  são destruídas ou simplesmente “arranhadas”: Crianças ficam com a mente confusa, porque também sentem a “falta” de um deles ou de ambos, na construção de suas personalidades, e na sua presença. Toda a criança precisa “ter” um pai e uma mãe, e não é porque os outros têm e ela não, como efeito do comportamento generalizado do meio que a cerca. Essa necessidade vem do interior da herança genética da espécie, desenvolvida há milhões de anos, como base necessária para a procriação e a manutenção da espécie. É preciso haver “papai” e “mamãe”. Nos dias atuais passamos por um momento especial da espécie humana que cada vez nos coloca mais longe dos demais mamíferos. Podemos procriar sem papai nem mamãe, numa simples “proveta”, em barrigas de aluguel, com genes até de gente que nunca se conhecerá. Teremos então uma nova humanidade em luta contra os instintos que lhe chegam do complexo reptiliano, e a consciência da adaptação ao mundo cada vez mais diferente que a cerca ao nascer. Se desejarem chamar a isto de “paradoxo X”, podem chamar, mas o resultado será uma distância cada vez maior entre a essência latente mamífera e a vivência real humana tão grande entre essas duas forças tão fortes, que o elo se pode romper. E não podemos acreditar que possamos mudar o futuro para o qual caminhamos. O futuro não se escolhe, nem que seja imposto pela força. O futuro é ditado por dois fatores: O tempo que pertence ao espaço, e a humanidade como um todo. Nosso problema é que não sabemos para onde a humanidade resolve ir a cada instante e não podemos assim impedi-la.
Uma criança bem educada, o que quer que isso possa significar, terá grandes chances de não se perder na vida e ser feliz enquanto viver sem correr grande risco até suas asas crescerem e poder voar. Os fortes ventos da humanidade a levarão para muito longe ou a manterão bem perto.

Cuidem muito bem das crianças. Elas são adoráveis mesmo quando crescem. Afinal, já fomos uma delas.


® Rui Rodrigues  

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