Lembro-me perfeitamente que lá em casa
havia muito pouco mais que nada. Morávamos num quarto alugado. Ninguém tinha
curso superior. Nem médio. Sabiam todos ler e escrever. A jornada de trabalho
era sem horário desde que não fosse menor que 10 horas. Disseram-me quase todos
os dias que se eu não estudasse e/ou não trabalhasse bastante feito um
condenado, não seria ninguém na vida. Avisaram-me que quem me sustentava em
garoto e desde neném, um dia morreriam e eu teria que viver sozinho. Cheguei a
ter medo de vir a ser grande, tal a tarefa que me esperava. Quando entrei no
primário numa escola pública (levava uma marmita de casa) escutei o mesmo da
professora durante quatro anos, e quando saí, escutei o mesmo do mundo que me
cercava. TEM QUE HAVER COERÊNCIA ENTRE O ENSINO EM CASA e NA ESCOLA, e ao
olharmos para fora não podemos ver nada diferente do que nos ensinaram, para
que não haja descrédito. Uma ou outra discrepância é normal. Quando a
esmagadora maioria é uma anormalidade "normal", então ou a escola ou
a casa estava errada.
Parece que esse "negócio" de
transformar o indivíduo pela educação e formar uma sociedade igualitária, não
funciona como comprovadamente não funcionou onde se tentou. Além da
responsabilidade do individuo em se adaptar ao meio, há a responsabilidade da
educação nos lares, nas escolas e o maior ou menor grau de coerência entre o
meio e o que foi ensinado. Se houver trabalho com salários justos e impostos
decentes, o Estado não é necessário para sustentar a vida do indivíduo. Ele
mesmo se sustenta e paga suas contas.
Mas há sempre quem não aprenda ou queira
coisa diferente.
® Rui Rodrigues
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