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quinta-feira, 9 de junho de 2016

Diário de um viajante que gosta muito de viajar.





Não se pode exigir que nos entendam mesmo esgotados todos os nossos recursos nesse sentido. Há gente que se recusa a entender. Não quer, não pode, acha que perde algo se quiser entender. No entanto, parece fácil entender-se que nem todo viajante gosta de viajar, e que existem muitos modos de fazê-lo. Viajei de todos os modos nesta vida, exceto em submarinos, trem e avião supersônicos. Não escrevi diário porque não interessaria a ninguém. Esses tais “ninguém” que se poderiam interessar, passariam a ser “alguém” e meu diário perderia o interesse. Quanto mais raro mais interessante, mais caro. O importante é sempre interessar a “ninguém” (os mais difíceis de agradar). Outro detalhe do “viajar” é o aspecto de ser alguém, publicar livro, despertar o interesse do mundo, tal como se gostaria de um dia podermos mostrar a nossos pais. Dizer-lhes: - Olhem! Sou alguém na vida, e antes não era ninguém...Mas que estupidez… Como somos tão lineares e simplistas. Por exemplo, foquemos nossa atenção em William Shakespeare. Apesar de haver gravuras com o rosto dele, as imagens não são suficientes para “definir” completamente o ser humano “William Shakespeare” que escreveu todas aquelas obras maravilhosas que nos legou. Poderiam nos apresentar milhões de pessoas daquela época, ressuscitadas, parecidas com Shakespeare, e somente por acaso se acertaria no verdadeiro, porque não temos todos os elementos necessários para identificar. Mas… Não temos amostras de gente ressuscitada da época de William Shakespeare. Então como identifcar o homem? Impossivel… O que admiramos é uma “imagem”, uma idealização, do que deve ter sido William Shakespeare e cada um que pensar nele o verá de forma diferente dos demais. Agora imaginem alguém se interessar em saber quem fomos, se apenas têm uma fotografia que descobriram no Google do século XXXIX ... Jamais saberiam quem fomos realmente. Permitam-me tentar explicar...

Vamos dizer que quiséssemos mandar uma mensagem, através de um carteiro, para William Shakespeare, dizendo-lhe:

- Admiro muito você…

Evidentemente descreveríamos William Shakespeare segundo o que sabemos dele, tal como o imaginamos. Como nosso conhecimento sobre ele não é completo, total, o carteiro jamais o encontraria mesmo sabendo que ele morou em Stratford-Upon-Avon. O carteiro encontraria alguém muito parecido, talvez, mas se diria: - Não … Este não é o que me descreveram para que o procurasse.
E passaria batido…

Somos pequenas estrelas que brilham num universo muito limitado pelo alcance de nosso brilho. As primeiras pessoas para quem brilhamos, e talvez quase as únicas, são nossos pais e alguns familiares. Depois brilhamos para as pessoas de quem gostamos. Com muita sorte e esforço, poderemos brilhar para outros como o William Shakespeare, mas por pouco tempo, entre os que nos conhecem. Depois o brilho da imagem do ser total vai se esvaindo em raios cada vez mais fracos com o passar do tempo. Nossa imagem, a de cada um de nós, e nossas lembranças raramente passam de uma ou duas gerações, e mesmo assim, bem distorcidas. Bem… Ficam os livros, como o do Einstein… Mas quem foi o verdadeiro Einstein, se nem bem o conheciam os que conviviam com ele? Admiram-se as obras e não os indivíduos que, ao fim de décadas, milênios, nada mais são do que um nome associado a datas e feitos que podem ter sido notáveis ou deploráveis. Uma forma de viajar no tempo, para o passado, é consultar os livros de história juntamente com os de geologia e paleontologia. Uma forma de viajar para o futuro, é mantermo-nos vivos tanto tempo quanto nos seja possível. Viajamos a uma velocidade de cerca de 24 horas por dia em direção a um futuro desconhecido, mas muitas vezes previsível. Amanhã, por exemplo, você tem consulta médica. Conhece a cara do médico(a), sabe como irá chegar lá (carro, táxi, ônibus, etc.) e poucos “imprevisíveis” poderiam acontecer. Pode até fazer um filme prévio dessa viagem ao médico. Seria como viajar ao futuro, a menos de imprevistos.



Viajar para qualquer lugar você pode, a qualquer momento. Basta ter dinheiro e saúde, e não almejar sair de nosso planeta. Um dia poderá fazer passeios a Marte, Europa, Lua… E, se um dia foi o primeiro a chegar a Marte, jamais poderá escrever: “...Terra maravilhosa que em se plantando tudo dá...”, porque o planeta Marte ainda terá que ser preparado para se poder plantar. Muita gente morrerá nesse esforço, porque a vida neste universo não nos oferece almoços grátis.



O que se deve fazer - quando se quer ter um nome a zelar – para viajar para o futuro, depende do que queremos ter nesse futuro, mas com a certeza de ser efêmero. Viver é mais ou menos como caminhar numa estrada que nós mesmos vamos pavimentando, direcionando, construindo. Alguns têm tempo para construir jardins e lagos nas margens, parar de vez em quando, descansar, viajar pelo mundo. Cuidado, porém, porque se quiser muito viajar a Marte, agora, vai se frustrar, ficar doente. Há coisas que não vamos conseguir nunca e se viajar ao Brasil do passado através dos livros de história, assim pelos anos de 2002-2016, verá uma estrelinha e um número 13 amarelos numa bandeira em fundo vermelho, um par de dentes que parecem de coelho, e uma mão com nove dedos, símbolos da mais negra da história da nação brasileira, mas ninguém se lembrará dos nomes dos proprietários desses símbolos… Eles queriam brilhar e ficar ricos e famosos, deter recordes de “mais tempo” no governo, como nunca dantes na história deste país e construir uma nação de faz de conta, tal como idealizada nas trevas do conhecimento…

® Rui Rodrigues

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