Arquivo do blog

quinta-feira, 2 de março de 2017

O pio da coruja. Paga-se por suicídio programado.


Resultado de imagem para coruja na cerca

O Sol se escondeu tão bem, que quem nascesse de noite não teria a mínima noção de sua existência. Só então a coruja alçou um voo tão silencioso que parecia o próprio sol esgueirando-se entre silenciosas nuvens que se arrastavam quase negras, na negritude do rastro do Sol. Parecia que em sua retirada queimava tudo por onde passava, sem chamas, sem luz. Ficavam tons de cinza escuro, como se fossem cinzas de tempos de minutos queimados por gerações fazendo netos do ano, filhos das horas. A humanidade se conhece há gerações e gerações de minutos. O Sol parece imenso gerador de minutos silenciosos gerados em fornalha ardente. Que Deus nos poderia salvar de tão gigantescos órgãos espaciais, artefatos inimaginavelmente gigantescos, que eles mesmos haviam criado? Que exemplo se poderia extrair de uma coruja viva, ainda menor que qualquer um de nós, ou de micróbio ou vírus noturno que nos ataque e nos destrua a vida, coisas tão frágeis, mesquinhas e insignificantes que são os micróbios e os vírus? O que pensarão os ratos que fogem das corujas, e os vírus dos quais fugimos? Devem os ratos perseguidos julgar-se as vítimas, e os vírus heróis pelas vitórias alcançadas... Nós, os mortais, seremos talvez os únicos a achar-se heróis quando lutamos com nós mesmos e vencemos, e perseguidos e vítimas quando perdemos de outros nós mesmos. Porém, perder para vírus não nos impinge o sentimento de "perdedores". Somos uma espécie muito dissimulada, mas inteligência e esperteza são duas coisas muito diferentes que podem igualmente dissimular. Sol e Águia, Lua e Coruja, Isis e Hórus, Homem e Mulher, "funcionam" melhor juntos que separados, são mais eficientes. Produzem mercados, riquezas, que acabam por ser distribuídas. A terra onde nasci, já teve muita gente. Hoje reduz-se a 241 pessoas, quase todas idosas, o povo vem imigrando porque não se criam empregos para todos. Era uma freguesia, agora juntou-se a outra, Louredo, do outro lado de lá do rio, para economizar na administração. Muda o mundo, seria época de famílias unidas, nações unidas para sobreviver, mas tudo aparenta que não. A sensação é de suicídio. A sensação é que qualquer dia, para economizar despesas, o "Estado" pague uma boa vida sem preocupações com direito a férias no exterior, mas em compensação o indivíduo tem que se suicidar em dois ou três anos para não gerar despesas a médio e longo prazos, com aposentadoria, hospitais, médicos e remédios. Corujas piam muito raramente, em geral quando sofrem... Esta que vejo não sofre mas pia. Ela sabe que os rios estão cada vez mais poluídos enquanto humanos se divertem, que o Sol queima mais, que nas guerras de hoje não se fazem prisioneiros, que quem deveria cuidar se absenta alguns em absintos líquidos, pastosos e em comprimidos, as amizades são vocais ou documentadas sem assinatura reconhecida, que o que se vê não é, e o que não se vê ainda é pior, como se a segunda guerra mundial tivesse agora pipocado pelo mundo afora como catapora, incluindo holocaustos de princípios, de costumes, de instituições, mas ninguém, ou quase, escuta a coruja piar. São muitas as distrações deste mundo. O que pode querer um velho aos setenta e poucos anos, ainda querer ter mais dinheiro do que o que conseguiu até então? Provavelmente poder viver sem que o obriguem a se suicidar prematuramente. Mas desses já há bastantes. Estamos voltando aos tempos bíblicos, aos tempos da barbárie, onde quando muito existia um Código de Hamurábi com meia dúzia de incipientes leis, passar a língua numa colher em  brasa, como prova para ver se o acusado falou a verdade sobre sua inocência. Mas sem novos profetas, que já ninguém acredita, sem novos deuses, ainda sem novas naves que nos permitam descobrir novos continentes fora deste planeta e gritar "América, América, América...". Desta vez estamos em oceanos sem saída. Escutar o piar da coruja exige uma firme posição de conduta moral e ética, sem desculpas de qualquer natureza, os conceitos aplicados independentemente de qualquer influência que os alterem em função de sujeitos ou outros predicados. Siga os ratos, as corujas, as águias, o Sol e a Lua, procure Isis e Hórus e como não vai encontrar estes, tente encontrar outros anteriores a eles ou mais modernos que, embora também não os encontre, vale a fé em acreditar em algo, como um amuleto, ou que seu espirito, que sempre volta para se aperfeiçoar, irá voltar um dia como presidente de uma república, ou sumo sacerdote de alguma religião, algum Einstein. Ou numa simples coruja que pia. Nunca tivemos boas linhas de trens, mas apesar disso, podiam ver-se corujas em cima de linhas de cercas. A maioria ficava quieta, imperturbável. Eram as donas da cerca, da estrada, voavam e ainda voam à noite sem faróis, sem motores barulhentos, perde-se a esperança de algum dia virmos a ter a sabedoria da locomoção das corujas. Desviaram-nos a atenção dos caminhos de Ícaro. Quantos anos pediria de vida e o que pediria, em troca de se suicidar bem antes do tempo? O "Estado" laico de direito, agradece. Pergunte aos que governam, se faz muito frio e neva nos céus onde vivem, e de quanto precisam mais de nosso sangue, suor e lagrimas, para viverem, se distraírem e divertirem... Perguntem ao clero também...
Não se preocupem comigo... Posso voar muito bem no escuro.

Rui Rodrigues

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Grato por seus comentários.