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quinta-feira, 10 de abril de 2014

O dia em que o Brasil quase invade as ilhas portuguesas dos Açores.

O dia em que o Brasil quase invade as ilhas portuguesas dos Açores.

Não se sabe o que teria acontecido se durante a segunda grande guerra mundial o plano americano para ocupação das ilhas estratégicas dos Açores tivesse ido adiante num dos cenários prováveis: Invasão americana, inglesa ou brasileira. Anthony Éden, Churchill e Delano Roosevelt finalmente se puseram de acordo com Salazar que cedeu as ilhas, mas a lentidão estratégica de Salazar em dar resposta ao pedido de utilização, quase põe a perder a neutralidade portuguesa na guerra.   




1.      As ilhas


São nove ilhas vulcânicas que constituem o Arquipélago que se situa em pleno Oceano Atlântico entre a América do Norte e a Europa, relativamente perto da Islândia. Ali, pelos bancos da Terra Nova, pesca-se bacalhau. Mais precisamente localizam-se num raio de aproximadamente 500 milhas a cerca de um terço da distância entre Lisboa e Nova Iorque.

As primeiras informações de conhecimento das ilhas remontam aos reinados de D. Diniz (1279-1325) e de seu filho D. Afonso IV (1325-1357). Há relatos que com o desenvolvimento das navegações portuguesas já se pescava por lá e pela Terra Nova, em 1427, quando se crê que começou a colonização pela coroa portuguesa. Estrategicamente, as ilhas passariam a ser úteis para reabastecimento de embarcações quer para o fim da pesca, quer para as que demandavam a América do Norte nos séculos seguintes. Nos últimos dois séculos, com o desenvolvimento da aviação comercial e de guerra as ilhas passaram a ter uma importância ainda maior para reabastecimento de combustível das aeronaves.

Parece haver indícios, não considerados como provas, da passagem de fenícios, venezianos e de outros povos pelas ilhas, e no terreno da ficção, há quem acredite que a famosa civilização da Atlântida ali surgiu e ali mesmo submergiu numa das muitas erupções vulcânicas. Por isso o Oceano Atlântico tem esse nome, originado do nome dos habitantes de Atlântida: Os Atlantes.

2.      Ventos liberais sopram nas ilhas dos Açores.

A humanidade tem adoração por leis. Todos nós temos. O problema é que mesmo com toda a sua beleza que nos dá a sensação de vivermos comandados por gente justa, elas se sujeitam a interpretações das mais diversas e discordantes. Temos exemplos por toda a parte, e mesmo quando uma cambada de pessoas se juntam para fraudar as verbas públicas, um tribunal composto por representantes dos réus que pertenciam ao governo decide afirmar e fundamentar o julgamento negando que tenham constituído uma quadrilha. 

Talvez herança “interpretativa”, porque em 1822 um príncipe português, D. Pedro I, filho de D. João VI, que comandava o reino com a capital transferida para o Rio de Janeiro, declara a independência do Brasil, tendo sido vetado nas cortes de Lisboa, e pela constituição brasileira de 1822, de poder vir a ser rei de Portugal. Por isso mesmo, quando em 1826 o trono de Portugal ficou vago, por morte de D. João VI, as Cortes elegeram o irmão de D. Pedro, o príncipe Miguel como o novo rei de Portugal. Mas D. Pedro já tinha sido nomeado pela regente Infanta Isabel, como sucessor de D. João VI. Volta então ao Brasil, altera a constituição de 1822 que ele mesmo havia aprovado, e parte para Portugal para assumir o governo como D. Pedro IV de Portugal. Entre 1826 e 1828, D. Miguel volta-se contra D. Pedro, o seu próprio irmão, e inicia duas revoluções contra ele: A Vilafrancada e a Abrilada. D. Miguel tinha o apoio da igreja Católica que esperava dele um regime absolutista. Tendo sido eleito rei pelas cortes em detrimento de D. Pedro, dissolve as cortes, a câmara e anula a constituição portuguesa. Foi reconhecido apenas pelos EUA e pelo Vaticano. O resto do mundo queria D. Pedro I do Brasil, assim como todos os adeptos do liberalismo.


Do Brasil, D. Pedro I, imperador, abdica do trono em favor de seu filho D. Pedro II, e parte para as ilhas dos Açores, em 1831, que ocupa de imediato e onde junta um exército para invadir Portugal. Dirige-se com seu exército à cidade do Porto onde é cercado pelas forças de D. Miguel. Ajudado pela marinha britânica, rompe o cerco, dirige-se ao Algarve no sul de Portugal e daí marcha sobre Lisboa que toma de assalto. D. Miguel I levanta então o cerco no Porto e começa uma guerra que estaria destinada a ser longa. Para resolver a situação forma-se em Londres a “Quádrupla Aliança”. A Inglaterra ficou do lado de D. Pedro I do Brasil, (IV de Portugal)  e a Espanha do lado de D. Miguel I. Esta invade Portugal com um exército de 15.000 homens e é derrotada na batalha de Asseiceira.

Não deixa de ser interessante como o mundo da época já apoiava abertamente o liberalismo, e como D. Pedro tinha perfeita noção de liberdade, não só por sua declaração de independência do Brasil, como também por sua luta contra o absolutismo. Digno de D. Afonso Henriques ao declarar a liberdade do condado Portucalense para o tornar o primeiro reino livre em meio ao feudalismo europeu, também sem o apoio da Igreja Católica. A Igreja católica sempre foi uma pedra no sapato para os liberalismos até o advento dos tempos modernos quando deixou de apitar na política internacional. Hoje só manda no Vaticano e nem tanto por sinal.  

3.      A importância estratégica das ilhas na primeira guerra mundial.


Aviões já eram usados na primeira guerra mundial (1914-1918), mas era inimaginável ainda que bombardeiros ou caças bombardeiros pudessem atravessar o Atlântico desde os EUA passando pelos Açores para se reabastecerem e atacar alvos na Europa. A importância estratégica das ilhas se limitava a deter os ataques de submarinos alemães, para abastecimento de suprimentos de navios aliados e reparos navais, o que já era de grande ajuda para as forças aliadas. Segundo acordo com os EUA, em 1917, as ilhas foram fortificadas com peças de artilharia americana, o porto melhorado. As ilhas foram bombardeadas pelos alemães por diversas vezes e a marinha portuguesa travou combates [4] com submarinos alemães.

A importância estratégica das ilhas já tinha sido tema de interesse alemão em 1897-1898 [5]durante as manobras de inverno, com a intenção de possibilitar ataques aos EUA e abastecimento e reparo de belonaves. Durante a primeira grande guerra mundial, o Almirante alemão Von Holtzendorff incluiu em seu programa de desenvolvimento da Marinha Alemã, a instalação de bases nos Açores ou alternativamente em Dakar ou Cabo verde para esse fim. 



4.      O dia em que o Brasil quase invade os Açores – 1939-1945 [6]


Após a invasão da França, Hitler concentrou tropas alemãs na fronteira com a Espanha, não para invadi-la, mas para garantir o suprimento de Tungstênio [7]que lhe chegava em muito maior parte de Portugal do que da Espanha. Temia-se que, se Portugal não permitisse o comércio do Tungstênio, Hitler invadisse a península Ibérica. O embaixador alemão (barão Von Hoyningen-Huene) e o inglês (Ronald Campbell) faziam de tudo para levar Portugal para o lado nazista. A situação econômica portuguesa estava em estado de calamidade. As potências aliadas não tinham como prometer a Salazar a defesa do território continental e muito menos as dos territórios ultramarinos. Hitler já tinha ajudado Francisco Franco da Espanha na revolução que o levou ao poder. Foi em terras de Espanha que a “Luftwafe” testou seus modelos de aviões de caça e de bombardeio [8]. Por isso havia um temor adicional aliado e português de que a Espanha cedesse a Hitler, se aliasse a ele, e invadisse Portugal.

Salazar tinha, portanto, que satisfazer os dois lados em guerra como quem caminha sobre o fio de uma enorme e pesada espada. Não podia conceder muito para que não se “engajasse” na guerra, nem pouco que provocasse ira dos beligerantes. Lisboa transformou-se no maior centro de espionagem da Europa logo a seguir a Viena.
Embora os EUA somente entrassem na guerra em 08 de dezembro de 1941, desde o inicio do ano que Roosevelt e Churchill tratavam de uma efetiva entrada dos EUA na guerra no cenário europeu. Um dos assuntos tratados entre as duas potências, estava a cessão das ilhas dos Açores, por Portugal, à Inglaterra e aos EUA como base para manutenção de aviões, abastecimento, base naval, a exemplo do que acontecera durante a primeira guerra mundial. A diferença era que em 1914-1918 Portugal estava na guerra do lado aliado e agora era um país neutro, tão neutro quanto a Suíça, a Espanha, a Turquia e a Irlanda, todos negociando com os aliados e com as potências do Eixo.Salazar via com consideração a cessão á Inglaterra, mas quanto aos americanos somente se subordinados aos ingleses, o que poderia explicar aos alemães a cessão por força de uma aliança de 1373– a mais antiga do mundo e que ainda hoje está em vigor – entre Portugal e a Inglaterra, sem que isso representasse uma “efetiva” tomada de lado por parte de Portugal.


Churchill conhecia perfeitamente as forças políticas portuguesas envolvidas na manutenção da neutralidade portuguesa e o perfil político de Salazar que acumulava ministérios em seu processo ditatorial. Dentre outros ele era, além de presidente ditador, o Ministro da Guerra, das Finanças e das Relações Exteriores. Roosevelt era bem definido e prático. Enquanto Churchill sabia que Salazar concordaria com muito mais do que lhe pediu, precisando apenas de tempo, Roosevelt queria o acesso ás ilhas como parte do programa de liberação da Europa. Por Roosevelt as ilhas seriam disponibilizadas nem que fosse através de uma invasão. Instou Churchill. Churchill disse-lhe que esperasse mais um pouco, até porque somente invadiria as ilhas se Hitler tentasse apoderar-se delas primeiro. Conseguiria a cessão apenas por negociações políticas entre amigos. 


A ultima data quer para americanos quer para os ingleses seria por setembro de 1943. O Brasil entrara na guerra em agosto de 1942. Salazar fechou primeiro a negociação com os ingleses em agosto de 1943. Este acordo somente foi fechado por ter sido levado ao conhecimento de Salazar que os aliados pretendiam invadir as ilhas com forças brasileiras, inglesas ou americanas. De nada lhe adiantaria pedir  ao Brasil que intercedese junto aos demais aliados para evitar a invasão.  

O Brasil reclamava, com toda a justiça emocional, que o tungstênio vendido aos alemães matava brasileiros no front de batalha na Itália. Em novembro de 1943, Salazar ainda dirigia as negociações com os EUA como dependente da Inglaterra, e que só foi concretizada em 1944.
[
É sempre confortável saber que a cobra ainda fuma em defesa da liberdade, da democracia em qualquer lugar do mundo... 

® Rui Rodrigues









[1] Referência ao Mensalão – processo aparentemente encerrado em 2014, em que o STF – Supremo Tribunal Federal - com ministros nomeados pelo PT diminuem as penas dos réus já julgados e presos, retirando do processo a condenação por formação de quadrilha. Para pesquisar, basta digitar “processo do mensalão” e se divertir com a “interpretação” do que é ou não é uma quadrilha, e o envolvimento político dos juízes, do partido no governo e dos réus... 
[2] D. Pedro IV na verdade sempre governou em nome de sua irmã D. Maria da Glória, prima da Rainha Vitória de Inglaterra.
[3] A Espanha não aprendera desde a derrota em Aljubarrota, nem com a derrota de Napoleão séculos depois, nem com as guerras peninsulares, que invadir Portugal não é para qualquer um. Portugal e Espanha ganham mais como povos irmãos e amigos.    

[4] Foi afundado o caça-minas  "NRP  Augusto Castilho", comandado pelo 1º Tenente José Botelho de Carvalho Araújo quando comboiava o navio de passageiros “San Miguel” por um submarino alemão, o U-139 comandado pelo comandante Lothar Von Arnauld de La Priére.
[6] Em “Lisboa - 1939-1945- Guerra nas sombras” de Neill Lochery, Editora Rocco.
[7] Extraído do mineral Wolfrâmio “A forma elementar não combinada é usada sobretudo em aplicações eletrônicas. As muitas ligas de tungstênio têm numerosas aplicações, destacando-se os filamentos de lâmpadas incandescentes, tubos de raios X, (como filamento e como alvo), e superligas A dureza (7,5) e elevada densidade (19 250/m3) do tungstênio tornam-no útil em aplicações militares como projéteis penetrantes”  em http://pt.wikipedia.org/wiki/Tungst%C3%AAnio
[8] O quadro “Guernica” de Picasso retrata o bombardeio da cidade de mesmo nome durante a revolução franquista.
[9] No inicio de setembro de 1943 os EUA tinham já uma força de 10.000 homens quase pronta para a invasão.
[10] Após torpedeamento de navios brasileiros por submarinos alemães que vinham ocorrendo desde fevereiro do mesmo ano. Por essa época, os EUA já tinham desenvolvido bases militares por todo o território brasileiro incluindo uma em Fernando de Noronha que só foi desativada em 1960. http://pt.wikipedia.org/wiki/Brasil_na_Segunda_Guerra_Mundial
[11] Ver em http://pt.wikipedia.org/wiki/Portugal_na_Segunda_Guerra_Mundial  e no livro de Neill Lochery já citado “Lisboa – 1939-1945- Guerra nas sombras”- editora Rocco.
[12] Salazar chegou a ponto de exigir que as forças aliadas americanas e inglesas lotadas nos Açores portassem no ombro duas insígnias: Uma grande britânica em cima e uma menor americana por baixo. Salazar acabara por começar a negociar as bases com os americanos ao conceder autorização para pouso de aviões da Pan Am nos Açores que faziam a ponte EUA-Inglaterra.

terça-feira, 8 de abril de 2014

Portugueses – 1139-2014

Portugueses – 1139-2014


Não existem povos tão diferentes que não possam ser reconhecidos como naturalmente iguais sob qualquer ponto de vista. É a educação e a cultura que nos torna diferentes, além evidentemente de aspectos físicos relacionados com adaptação natural ao meio em que os nossos ancestrais viveram há milhões de anos. A miscigenação, também natural e irreversível, se encarregará de, nos próximos milhões de anos tornar a espécie humana com características únicas e de certa forma idênticas. Não haverá negros nem brancos, nem amarelos nem acobreados, mas simplesmente uma espécie Humana. Mas cuidado: dentro de cada um de nós, humanos, há sempre um lado “bom” e um lado “ruim”. Influências religiosas, de filosofias de governo e de educação e influências particulares podem fazer sobressair mais um dos lados de forma definitiva ou por períodos. O povo russo não deixou de ter as suas características depois da revolução de 1917, nem os portugueses depois da revolução dos cravos. O povo cubano continua sendo o mesmo depois da revolução de 1959, e está pronto para ser mais livre logo que o regime dos Castros termine.



Os portugueses somos um desses muitos grupos. Apesar de uma história de falsas “glórias” – porque as glórias acarretaram muito sofrimento popular – somos um povo com uma idiossincrasia “particular”: Pelos sofrimentos acumulados do passado e do presente recente, sabemos dar valor aos necessitados que lutam por uma vida melhor, não a ponto de sermos os pais de sua salvação, mas de os ajudar a saírem do “buraco” da necessidade. Vi isso entre meus patrícios aqui mesmo no Brasil e em Angola. Sou testemunha ainda viva e a literatura brasileira está repleta de personagens que refletem esse lado da idiossincrasia portuguesa. Alguns conhecidos meus, donos de bares, deixavam cuidadosamente comida impecável embrulhada em sacos plásticos devidamente fechados em latões de lixo para que os mendigos da praça da Candelária os recolhessem e matassem sua fome. Comiam comidas que muito janota pagava fortunas para comer, incluindo filé mignon que não podia ser deixado para o dia seguinte, batatas fritas de meia hora atrás, ainda crocantes. Não raro se associavam a brasileiros ou angolanos, ou a gentes de outras nacionalidades para constituir sociedades que ainda por aí estão no comércio nacional e internacional.



Governos de Portugal quase sempre foram ricos. Salazar durante a segunda guerra mundial acumulou toneladas de ouro da balança comercial positiva por causa do tungstênio vendido aos alemães e de produtos vendidos aos aliados, além do aluguel da base dos Açores, mas gastou uma ínfima parte em obras públicas. Nesse período fomos um país cheio de dinheiro que não era posto em circulação [1] obrigando portugueses a emigrar, coisa que sempre se fez. Governos ricos, povos pobres obrigados a emigrar. Governos portugueses nunca se incomodaram em promover empregos fixando seu povo dentro das fronteiras de forma sustentável. É-lhes mais fácil gerir os depósitos de emigrantes sem que estes emigrantes, e exatamente por isso, usem serviços públicos. Cada depósito de emigrante é “lucro líquido”, capital disponível a custo zero [2]. Não existe melhor negócio em todo o planeta.



Não foi à toa que, como parte da sua idiossincrasia, portugueses se rebelaram contra o feudalismo medieval dos suseranos de “Portus Cale” [3], e declararam independência, enfrentando a ferrenha e tenaz vontade papal. O primeiro rei de Portugal foi excomungado pelo Papa. A história portuguesa está marcada por revoluções. Uma delas partiu do Brasil quando se discutia o liberalismo no Império português. Um Imperador brasileiro se tornou Rei de Portugal, e um rei português transferiu a capital da nação para o Rio de Janeiro que relutou abandonar. Quem conhece o Brasil o ama e não o abandona jamais. Portugueses sempre souberam apreciar a beleza e a inteligência de chineses, negros, brancos, índios, e se miscigenam sem arrependimentos ou “problemas morais”. Portugueses buscam a felicidade, e felicidade particular não existe. Para ser plena, tem que ser compartida com quem entende dessas coisas e as aprecia. Como um bom vinho!

A desastrosa política portuguesa das ultimas décadas obrigando a nação a pedidos de ajuda do Banco Europeu e do FMI levou os portugueses a emigrar em massa para todas as nações do mundo. É mais um processo de espalhamento de genes na construção de uma espécie humana com menos diferenças na cor da pele, na idiossincrasia, na educação. Daqueles broncos que chegavam para gerirem bares e casas de comércio nos séculos anteriores, poucos chegarão agora. Tentarão novos tipos de negócios. A facilidade da língua os trás para o Brasil preferencialmente, mas não é apenas a língua porque a maioria fala inglês e espanhol ou francês.  É, sobretudo, a idiossincrasia brasileira, o amor que se espalha nos ares, uma identificação do que se quer ter em Portugal e que sempre existiu no Brasil mesmo antes da chegada dos portugueses em caravelas pelos idos de 1.500. O povo é cheiroso, alegre, divertido, prático, direto, acolhedor.



Quem pode dizer que não ama o Brasil? Que eu saiba, a primeira e ultima que detestou o Brasil foi a esposa de um rei que o amava e que foi deportada para o continente quando o Brasil ainda era uma colônia. Esqueci o nome dessa senhora que não teve o prazer de me conhecer e que eu tive o prazer de esquecer. Quanto a meu povo, triste sina de sempre ter que emigrar porque seus governantes assim o desejam por lhes ser mais fácil governar: mais dinheiro disponível para uso comum ou restrito, sem os encargos de beneficiar quem os deposita.



Mas até e principalmente por problemas de educação e cultura, o povo português é reconhecido internacionalmente por sua fidelidade ás leis dos países que os acolhem e à sua capacidade e dedicação ao trabalho, aliado a um senso de responsabilidade incomum. Para a maioria dos países do mundo, portugueses não precisam de vistos especiais. É pegar no passaporte e embarcar!


® Rui Rodrigues





[1] “Lisboa – 1939-1945- guerra nas sombras” de Neill Lochery, Editora Rocco
[2] Verifique-se qual o custo em serviços públicos em média para cada português, em porcentagem de cada Euro ganho ou depositado sob todas as formas de investimento de poupança no país. Para cada Euro depositado, emigrantes não gastam um centavo em serviços públicos porque simplesmente não residem em Portugal. É lucro líquido disponível em  Portugal para empréstimos bancários com custo de capital também zero.
[3] Nome do feudo galego que deu origem a Portugal. 

FUTURO POLÍTICO NO BRASIL nos próximos dez anos.


FUTURO POLÍTICO NO BRASIL nos próximos dez anos.

Com a diminuição da influência da filosofia comunista em todas as nações do planeta [1] a sua mais forte e única filosofa de oposição, o capitalismo, se impôs no mundo de Oriente a Ocidente. O capital é hoje o “bem” mais procurado em todo o mundo, por todos os seus habitantes. Na verdade sempre foi, e, como todo o tipo de mercado, quanto maior a procura maior o seu valor intrínseco. Isto explica os altos juros, a existência do FMI, a corrupção. As formas de governo conhecidas, mesmo as ditaduras e a Democracia Representativa são muito fracas para enfrentar a força do capital e da influência das empresas que o detêm. Isto explica também e em parte o sucesso da Alemanha mesmo depois da crise política de 2008.

O capital é uma “arma” poderosa, muito mais do que o petróleo já o foi no mundo e ainda é. A falta de capital mata pessoas, indústrias, instituições, arrasa a moral e a ética na luta pelas necessidades vitais. O Brasil não é uma nação diferente das outras, e o que distingue nações não é a inteligência de seu povo, ou o conhecimento em si, embora sejam de extrema importância. O que os distingue é a cobrança que as populações fazem em torno da forma como se aplicam as verbas coletadas dos impostos. Povos permissivos, conformados, demasiadamente “educados”, submissos, entregam-se ao “bel prazer” dos que elegem e que decidem como aplicar as verbas. Política, hoje, é uma luta partidária por verbas e poder, não por filosofias políticas. Povo que exige tem mais e melhores centros de educação disponíveis, melhores serviços públicos, e isso não depende da forma de governo nem da filosofia política. É o povo que diz o quer, o que aceita, e é o povo que se revolta. O ponto de “ebulição” para uma revolta depende da paciência de cada povo.

Neste contexto, e sem terem desenvolvido indústrias com tecnologia própria, alguns países do cone sul da América do Sul [2]deixaram de ser competitivos nos ramos da indústria que mais lucro dão. Exportam petróleo, minérios, produtos hortifrutigranjeiros e grãos. Sem dinheiro, sem uma balança comercial que gere divisas, o socialismo “comunitário” torna-se uma dor de cabeça, inviável. Sem dinheiro, sem capital, o governo não pode “dar” ou distribuir pela população. A disponibilidade de bens diminui, surge a inflação mesmo quando o mundo inteiro é recessivo, as promessas de governo tornam-se impraticáveis e atingem cada vez menos beneficiados, surge a “política de favores”, o governo torna-se ditatorial para poder subsistir, os impostos aumentam. O capital estrangeiro perde os incentivos e saem pelas fronteiras e o capital “nacional” torna-se estrangeiro num piscar de olhos.  
O que se tem hoje no Brasil é um arremedo de democracia – onde a Constituição tem sido sistematicamente alterada por “interpretações” e Atos Inconstitucionais sob a forma “eufemista” de Medidas provisórias [3]com o apoio de um Senado comprometido com a manutenção de postos e de poder, em lutas por verbas públicas [4]. Para convencer o povo, prometem o que não podem garantir, vestem capas de um “socialismo” rebuscado nos velhos anseios da humanidade: Liberdade, Igualdade, fraternidade [5].  

A conclusão óbvia é que nas eleições de 2014 não importa qual o partido político que obterá a maioria dos votos: São todos de “esquerda capitalista-socialista-comunista” na propaganda, mas na realidade, capitalistas confusos e ignorantes que confundem capital pessoal com filosofia política.

Mais uns anos de desastres econômicos esperam o nosso Brasil até todos aprendermos que o socialismo só é possível se houver bens de capital que gerem mais capital para serem distribuídos, e         que o “socialismo de fachada” é um engodo para eleger oportunistas, cobras criadas. Mas isso é capitalismo, e quer comunistas quer socialistas não sabem lidar muito bem com o capitalismo: Faltam-lhes conhecimentos de matemática financeira e uma vontade nata de amor pelo capital [6]. Só a democracia Participativa nos dias atuais poderá mudar esta tendência de os eleitos se representarem a si mesmos suportados por forças de polícia e forças armadas e por um Senado consertado com os interesses em comum que não são os da população. O Supremo Tribunal Federal aprova tudo o que o partido no governo determinar e dá a legalidade idem, idem, por serem seus juízes nomeados pelos próprios interessados.

Nenhum político nos dias atuais representa realmente a população, comunidade, setor ou parte dela e não há esperanças de melhoras da doente democracia representativa.

® Rui Rodrigues




[1] Após a Revolução Proletária de 1917 na Rússia czarista, a filosofia comunista se espalhou pelo mundo chegando a ser implantada parcial ou completamente em mais de 100 Países. Hoje restam apenas dois onde existem ditaduras cujos governos buscam desesperadamente capital disponível gratuito para investimentos em setores produtivos que foram simplesmente destruídos no processo de comunização.
[2] Cuba (da América Central), Brasil, Venezuela, Argentina, Bolívia, principalmente.
[3] Nenhuma Medida provisória deixou de ser provisória: Todas continuam definitivas até que mude o partido no governo: O PT...
[4] Este fato torna todos os Partidos políticos filosoficamente iguais. Não há “oposição”, porque para governar se fazem necessários os “acordos” entre partidos. Ações de corrupção são denunciadas por iniciativa de partidos políticos menos beneficiados ou preteridos por quem tem mais força, geralmente o Partido do Presidente.  
[5] O mundo vem lutando por isto desde a Revolução Francesa. Sob este aspecto, o comunismo prometia a mesma coisa.
[6] Eleger pessoas sem cursos, apenas porque têm perfil político “adequado”, seja lá o que quer que adequado possa significar,  não resolve os problemas de nenhuma nação: falta-lhes conhecimento e apenas a “vontade” não tem o poder da mágica de tirar capital de pedra para distribuir segundo as “vontades”. 

segunda-feira, 7 de abril de 2014

Ressuscitando o Fogu.

Ressuscitando o Fogu.




Não é nada fácil lidar com a morte.  Muitos de nós nos recusamos a admitir, vendo um corpo morto, que aquilo que ali está nada mais é do que um saco de batatas ou de terra. Algo que era e já deixou de ser. Agora é matéria inanimada já em decomposição.

Foi assim que encontrei o “Fogu”. Mas seco sem ter sido cremado e muito menos defumado.

Estava lá sobre um montículo de areia, mais para o lado das dunas, onde uma onda de maré o havia depositado languidamente após breves momentos em que, por força de falta de oxigênio, morreu sufocado. É esta natureza que nos é difícil entender. Como pode ser que um ser vivo que respira ar, de onde extrai o oxigênio, se veja impedido de aspirar o oxigênio livre de um ar puro de beira de praia  e fique ali pela praia saltando desesperado, abrindo e fechando a boca, tentando aspirar um ar que não lhe “entra”... Que esta foi a sorte da natureza, uma natureza que não joga dados, na qual só sobrevive quem se adapta ao seu humor que muda lenta mas inexoravelmente a cada segundo, por anos, séculos, milênios, milhões de anos, e Fogu é o nome japonês de um peixe cheio de espinhos, de olhos grandes, diminutas barbatanas, o peito branco,  espinhos emergindo de placas ósseas unidas pela pele azulada com arabescos em azul de tom mais suave e branco.

Temos tentado ressuscitar os mortos, mas em vão, ao longo dos milênios de nossa existência. A natureza tem suas leis, e o que morreu morto está. Não há como iludir esta lei tão natural, que a existir D’Us, este jamais contraria tal lei, porque é perfeito, e sendo perfeito não se irrita com sua própria obra, não se arrepende, deixa que a Natureza se encarregue de suas leis impressas desde a formação deste universo.

Teimoso que sou, mas fraco perante D’Us como qualquer dos mortais deste planeta, quis reviver o simpático Fogu, seu poderosíssimo veneno já tão seco como o seu couro, mas a meu modo...

Dei-lhe um banho de cola de madeira. Depois, pintei-o com minhas cores, como gostaria de vê-lo sem se sentir preso num aquário, finalmente, nas órbitas esburacadas onde outrora havia lindos e cândidos olhos brilhando com o olhar típico calmo e despreocupado de peixe, coloquei duas bolas de papel higiênico amassado com água e cola, que depois pintei, e, reparando nas órbitas das barbatanas que o sol as tinha secado tanto que nem havia vestígios, improvisarei umas novas, segundo o que me lembro de seus irmãos nadando livres na natureza aquática de praias, pedras e corais marinhos, de quando também eu me aventurava debaixo d’água. Meu querido amigo Fogu está ainda em processo de “ressuscitamento”.

E meu querido Fogu, agora tem outra espécie de vida. Vive para quem o olhar, com sua impecável dentadura, sem uma única cárie.  Para nós, mortais imbecis que ainda pescamos de arrastão nas praias matando vida que sequer comemos, que diferença existe entre um Fogu morto que não pensa, e um Fogu [1] vivo em seu meio que nem sabemos se pensa, como pensa, o que pensa?

Somos muito ignorantes de tudo. Precisamos canalizar nossa inteligência para aspectos importantes de nosso planeta, mas para isso é necessário abrir mão do infeliz pensamento de que fomos feitos à imagem de Deus...

Deus, D’Us, não é tão estúpido como somos... Nem de longe!

Rui Rodrigues

O Fogu depois de pronto






[1]  Mais conhecido no Brasil como Baiacu.  Este que encontrei na praia do Peró, mais seco que um bacalhau,  era jovem e não tinha mais que dez centímetros. 

terça-feira, 25 de março de 2014

IMAGINEI DILMA FALANDO


DILMA FALANDO SOBRE O SUMIÇO DO AVIÃO:


Fico pensando, pela "performance" usual, como seria a nossa governanta maior, falando à nação sobre o misterioso sumiço do avião da Malasyan Air Lines... Seria uma barbaridade do "tipo" assim:




"Meus amigos, o avião, que foi uma máquina descoberta pelo brasileiro Santos Dumont quando comprou seu primeiro aeroporto, é uma máquina mais pesada que o ar, porque... o ar é leve, tanto assim que flutua. No nosso governo nós conseguimos aumentar a leveza do ar porque não fizemos nada de peso, porque quem faz coisas de peso é a Argentina, que não tem a moeda Real como nós temos. O Real, aliás, fez aniversário este ano e como foi um programa criado pelo Presidente Lula junto com a roda, o fogo, o mapeamento do genoma humano e a cura do câncer, eu realmente gosto muito do Real, sem trocadilhos para que o pessoal do Porta dos Fundos e do facebook não façam piada! Quer dizer, então, que nós confiamos que infelizmente o avião caiu, ou pousou, ou pode até ter sido abduzido, por que estive em Varginha e sei que isso é bem provável porque o ministro Mantega me disse hoje que provavelmente o avião não tinha combustível para ficar voando 7 dias, então acreditamos que o avião tenha caído em algum lugar que ninguém viu, porque senão já tinham ligado e dito que o pessoal do partido tinha roubado os destroços, coisa impossível pois queremos inteiro para depois fazermos o destroço, videm a Petrobras, que produz petróleo, quer dizer, ela em si não, o pré sal possui, e nós temos experiência e know rául para extrair e destroçar a empresa como nosso governo faz bem feito. Ou então caiu no mar porque no mar o celular não pega. Ou se pega poderia ser da Tim, a Vivi será que pega? Preciso consultar o presidente Lula que viajou mais do que eu, e depois do fogo em Portugal fiquei meio aérea, mas não vem ao caso... Mas vejam bem o que eu estou dizendo: o mar certamente foi um oceano, de água salgada, provavelmente o Pacífico, o Atlântico ou o Índico, também podendo ter caído no Ártico pois há tanto mar nesse mundo e meu governo não sabe e nem viu. Quer dizer, se caiu no oceano é porque não caiu na terra e nós temos um programa de inclusão social que fixa o homem na terra. A sete palmos de profundidade que é para ele ficar bem fixado. As ONGS ajudam nessa fixação, do que mesmo? Ahhh, estava me referindo ao mar que pode ser incluído em meu governo, o próximo, por que as pesquisas apontam para esse fim, que não é o fim do país, mas de mais empresas que se beneficiam como as do Eike. Então, meus amigos, eu quero dizer e digo sempre de improviso que já liberamos os recursos necessários para encontrar todos aqueles que infelizmente tenham morrido nesse acidente, para trazê-los de volta sãos e salvos para seus entes queridos como fizemos em outras tragédias, como em Petrópolis, e não medimos esforços para ajudar Cuba com seu aeroporto para caso o avião queira lá pousar. Eu tenho convicção, enfim, que se esse avião não caiu na terra nem no mar, nem também decolou nem pousou, é porque não tem avião, ou foi invenção dessa mídia que quer me atrapalhar ou certamente porque o PMDB pediu o avião de presente junto com mais Uns 7 ministérios Mas eu só dei mais 6 porque no nosso governo quem manda sou eu e espero os cumpanheros fazerem um pouco mais de hora na prisão, que aliás eu mandei equipar melhor, pois preso em nosso governo tem que ser muito bem tratado e é e não adianta falar que é de caso pensado para nos acolher no futuro, pois o futuro pertence ao partido e a deus, meu padrinho. Obrigada"
POR MARLENE CAMINHOTO

domingo, 23 de março de 2014

A realidade não nos assusta.

A realidade não nos assusta.

Um dia destes minha netinha de quatro anos pediu à mãe que passasse filmes de terror. Minha filha comentou comigo talvez, pensei eu, esperando que eu fizesse algum comentário. Disse-lhe que isso era muito bom, porque mostrava da parte de Maya, a minha netinha, que estava preparada para o “terror”, e nada amedronta mais do que o terror de histórias, revistas e filmes, quando estamos seguros em nosso meio. Pedir para ver filmes de terror é um modo de fortalecer o ego, pondo-se à prova do que mais nos mete medo: O terror! Associei este pedido a uma gravação que minha filha fez dela quando há apenas alguns meses minha neta tinha deixado de engatinhar. Deveria ter um ano e poucos meses. Caminhando da sala para o quarto da mãe bateu com a cabeça na porta, de forma tão forte, que caiu. Em vez de chorar, riu a bandeiras despregadas. Está gravado em filme. Tenho uma neta valente querendo preparar-se para o futuro. Será uma mulher valente. Aliás, na família todos somos.




Nós, em nosso mundo, todos somos valentes em princípio. Não fosse assim e não haveria exércitos. Não fosse assim e haveria mais desertores do que soldados convocados, mas sempre uns de nós somos mais valentes do que outros, e dentre estes, há sempre os valentes “cegos” que lutam por qualquer motivo e os valentes que sabem por que lutam. E não podemos esquecer os que lutam enganados: Pensam que lutam por uma causa comum que lhes convém, e na verdade lutam por algo muito diferente. Há ainda quem não se assuste com absolutamente nada, embora não chegue a ser valente, mas tenha um leve temor pelo desconhecido, embora enfrente os fatos, assim como há os destemidos que não importa qual seja o resultado, enfrentam os problemas de peito mais ou menos aberto, desde desprevenidos por completo, até os de peito aberto e escancarado. Sempre uma mistura do “eu” próprio do indivíduo, da tradição familiar, do meio em que se envolve. São as três forças da vida que definem a vida de cada um de nós.




Sendo isto uma verdade, é a velhice que mais nos torna conscientes do terror, do medo, porém possuidores de “armas” experientes que nos mostram o caminho para vencer toda essa problemática da realidade em que se vive desde que viemos a este mundo, um mundo curioso onde o que mais existem são os perigos. E mais curioso ainda como podemos conviver com eles e enfrentar o mais difícil de todos: A passagem escura que nos leva para outro mundo qualquer, desconhecido. É bem verdade que quando viemos também nos surpreendemos com este. Não nos lembramos, por que seria doloroso e nossa natureza nos proíbe o acesso às lembranças da mais tenra infância. O máximo até onde podemos ir para trás no tempo não passa geralmente dos dois anos de idade e daí até a velhice vai um longo caminho de sobressaltos, e estaremos tão mais felizes quanto mais perigos tivermos enfrentado e vencido.



Talvez por isso minha netinha querida tenha pedido à mãe para ver “filmes de terror”. Será o inconsciente coletivo da humanidade trazido à tona pelo comentário de alguém a quem ela escutou falar sobre o assunto, pode ser o seu próprio consciente querendo preparar-se rapidamente para o futuro. A juventude tem pressa e talvez, apenas talvez, lá no fundo, no mais profundo de seu inconsciente, saiba que fomos nós os responsáveis pela construção deste mundo altamente competitivo, e que, em assim sendo, não podem contar muito conosco, e embora não sejamos uma causa perdida, não parecemos ser bons conselheiros.



Deixemos que a juventude fale e aja. Ela sabe o que quer ainda que nos pareça um absurdo. Sem medo da realidade, que como sabemos, não nos assusta.


® Rui Rodrigues

sexta-feira, 21 de março de 2014

Sonho da ultima noite de Verão

Sonho da ultima noite de Verão



Olhei a humanidade e a vi desde o alto. Pastores sem cajados tocavam seus rebanhos de humanos, segundo sua vontade. Todos os pastores eram lobos e não pastoreavam. Uns se vestiam de sacerdotes e construíam estábulos onde os humanos iam consolar suas esperanças, chorar suas dores, pagar seus dízimos. Outros se vestiam de doutores e cobradores de impostos e os arrecadavam e suas casas eram ricas. Outros eram donos dos exércitos e mandavam em todos usando de palavras, porretes ou armas letais. Todos mandavam nos rebanhos e os tocavam pelas ruas das cidades, pelas pradarias, pelas matas. Só não lhes cobravam ainda o ar que respiravam, mas havia nações de pastores, profetas, doutores e mandantes que pagavam cotas pela poluição que provocavam. Um dia o ar faltaria a todos. Até aos mandantes. Então elevei o meu olhar ao Pai, peguei um avião e parti para Jerusalém.




Percorri toda a “Via Crucis”, caminhei pela cidade e vi a fé grupal, aquela em que alguns do rebanho fazem tudo o que se lhes sugere para mostrar que a religião lhes faz bem, que pertencem a ela, mas não vi nas suas atitudes, por mais que fossem comedidas e introspectivas, que houvesse muitos justos por lá. Eram turistas comedidos. Muçulmanos vão a Meca com a mesma devoção. Havia tão poucos quantos nas demais cidades do mundo, e eu já tinha viajado por quase todas elas. O mundo não me é estranho. Até pelo deserto já andei e nele vivi. Mordem mais os mandantes e os sacerdotes do que as víboras mais peçonhentas. E como se disfarçam. Então parei no Gólgota e perguntei sem obter resposta, enquanto o céu se fechava, escurecia, pesadas nuvens se formaram e uma chuva torrencial se abateu sobre a cidade:



- Pai!... Porque o abandonaste?

E sem resposta ao diálogo perdido no tempo, dirigi-me, já noite, ao monte das oliveiras. Ainda lá estão. Os romanos derrubaram o Templo, mas não as oliveiras. Olhei para uma em especial, a mais retorcida, a mais velha, de casca mais áspera, e nela apus minhas mãos. Senti que tremia, meu rosto se encheu de suor de lágrimas, senti medo. Medo de consumação da vida, medo de nada poder fazer porque as escrituras da vida assim são: Um dia ela acaba e o que dá medo é a forma como acontecerá esse fim. Pelo amanhecer fui até o deserto. Parece impossível que nele haja vida, mas há e muita. Há pastores de ovelhas que cuidam dos seus rebanhos, mas são ovelhas e nada pedem, não falam, balem sem significados especiais. Não pagam tributos porque os tributos são elas mesmas e o que produzem. Não sabem reclamar que o leite da cria seja usado pelos pastores, as tosquias são favores, e depois de mortas que lhes importa a carne? O que as assusta é a forma como morrem, e balem porque percebem, mas os balidos parecem todos iguais e não impressionam os pastores algozes. A passagem é apenas um momento ruim da vida que logo passa. E anoiteceu no deserto. Então olhei para o céu estrelado. Do céu do deserto se vêm as estrelas que não se vêm em qualquer lugar. E mais uma vez olhei o céu e chamei meu Pai. Disse-lhe:




- Faça-se em mim a Tua vontade!... Ressuscita a Cristo em mim e manda-me para Jerusalém, para qualquer lugar deste mundo, para que seja crucificado, receba injeção letal, morra em manifestação, seja fuzilado, enforcado, esquartejado, mas que veja toda a Tua Glória e este mundo tome jeito...

E me prostrei nas frias areias noturnas do deserto esperando uma resposta que como de costume jamais viria. Mas veio do céu uma voz que assustou meu camelo e o fez fugir a galope desenfreado, enchendo a noite de roucos e nervosos gritos.




- Filho... Porque és tão ignorante? Acaso não sabes que se aparecesses por aí fazendo milagres, coisa que mágicos fazem parecer tão bem, os sacerdotes, esses mesmos que falam em meu nome, te mandariam de Anás para Caifás, os mandantes, e te prenderiam numa prisão de meliantes ou de loucos e te anulariam como fizeram com ele? E que perguntariam ao povo: Querem este ou Barrabás? E que o povaréu gritaria em uníssono que preferiam soltar Barrabás e não a ti? E além do mais, que pensas tu que eu sou? Um tonto que insista em salvar um mundo que tem preguiça de se salvar a si mesmo, sendo composto de tantos bilhões de ovelhas tapadas, ignorantes como uma porta que beijam os pés dos mandantes aos quais pagam exorbitantes impostos, pagam dízimos aos sacerdotes e cultuam a aparência dos que os exploram, dizendo-lhes: Este é o justo?

- Não, meu filho... Não vou ressuscitar ninguém. E nem desamparei ninguém porque não amparo. O mundo é de vocês, virem-se... E tu, o que farias quando alcançasses – se alcançasses- o poder? Serias como eles, te juntarias a eles? Ou as ovelhas te escorraçariam? Então volta para tua terra, e aguarda. O mundo é imprevisível a cada instante. É o mundo quântico, em que uma andorinha só não faz verão, mas pode trazer alguma chuva ou secar um pouco os campos, mas nada para sempre. Não são apenas os mandantes e a natureza que fazem o mundo. Ovelhas também! E, além disso, que pensais? Ireis sofrer por séculos sem saberdes sequer se tenho a intenção de ressuscitar o Cristo, e muito menos quando, se por acaso essa for a minha opção? Pacientes tendes sido...



Peguei meu avião de volta, aterrissei no Pontal do Peró, e fui tomar um banho. Esse mundo é como é, e a história de Jesus caso não tivesse sido crucificado, ainda não se escreveu. Quem sabe teria sido eleito Sumo Sacerdote do Templo de Salomão, governador da Judeia... Um mandante diferente? 


® Rui Rodrigues 

quarta-feira, 19 de março de 2014

O céu noturno das Dunas do Peró.

O céu noturno das Dunas do Peró.



Nem sempre estou só, mas quando estou, não estou só. 

O céu das dunas do Peró não é um céu como outro qualquer. É um céu muito especial por não ter o que muitos céus que aparecem por aí têm, mas tem outras coisas que eles não têm. Sarkye, por exemplo, é uma tigre-fêmea mirim e minúscula a que muitos chamam de gato – e sempre aviso que se trata de uma gata – que vai para onde vou, quase não me deixa datilografar porque se encosta sempre em meu braço, e me acompanha à cozinha, ao banheiro e ao banho de chuveirão na área da churrasqueira, montando guarda sempre de costas para mim. Se miar, é sinal de que alguém se aproxima do portão, a uns dez metros de distância. É esperta e linda a minha tigre-fêmea anã, e é lindo e inteligente o meu céu. Nosso céu nos contém. Ele não fica “lá em cima”, somos nós que estamos dentro do céu que vemos. Lua cheia hoje. Desliguei as luzes e acabei de tomar o banho à luz da lua. Todas as estrelas estavam lá no céu, mesmo as que sei que estão lá, mas não as vejo a olho tão nu quanto eu no banho. Com um binóculo veria algumas mais, com um telescópio veria milhões mais.



Os muros da casa não me deixaram ver o Cruzeiro do Sul, mas não importa. Sei que está lá, assim como sei que o céu que vejo é um enorme computador onde tudo se equilibra. Se a Terra parasse, a Lua dispararia imediatamente como lançada por uma catapulta e tomaria um novo rumo a caminho do Sol, provavelmente. É como se as leis do Universo – aquelas da Física - fossem “automáticas” e houvesse censores espalhados em cada ponto que transmitissem a informação de que algo mudou por ali e precisa ser “equilibrado”. Tudo automaticamente. O Universo é um computador automático, inteligente, que se sustém a si mesmo. Eu não! Minha tigre-fêmea anã também não. Eu sustento a minha guardiã, o Universo me sustenta aqui na Terra. Se eu sair completamente nu para dar um passeio pelo Universo, morro logo que atingir a altitude de 5.000 metros por completa falta de ar, e se conseguir sobreviver a mais uns tantos mil metros, meu corpo explode todo estraçalhado, ensanguentado, tudo congelado, porque a minha pressão interna o fará explodir. Lá fora a temperatura estará próxima do zero absoluto, ou seja, - 253º graus centígrados. Esquisito esse meu céu. Não sei como alguns religiosos imaginam que seja o céu, como paraíso, mas deve ficar em algum planeta, ou numa porção deles, porque fora deles viver é quase uma impossibilidade. Só pedras se dão bem.




Lembrei-me de tomar um café. Minha gata gigante, guardiã levantou a cabeça – estava dormindo – e olhou-me como quem pergunta: Para onde vamos? E tive que dizer-lhe como é costume, que ficasse onde estava porque ia só tomar café. Deu-me uma lambida rápida na mão esquerda que ainda mantinha apoiada no teclado, e se arrumou para se encostar. Fui até a cozinha e me servi de um café. Só então ela se encostou tranquilamente para dormir mais uns minutos. Ela não toma café. Em certos dias o planeta vermelho que passa pelos céus em seu trabalho diário de girar em torno do Sol e manter o equilíbrio do sistema solar parece mais com cor de café ralo. Dizem que é vermelho, que já teve oceanos de água e até que já teve vida. Interessante como isso me preocupa, mas nem deveria porque nunca me preocupou antes de eu nascer e nem me preocupará depois que parar de viver. Com um pouco de sorte, se não sofrer de Alzheimer, ainda poderei me preocupar com isso uns anos mais. Mas mesmo com essa doença, também não terei porque me preocupar: Meu computador craneano terá perdido a noção de quase tudo e terá outras preocupações.



É claro que eu sou o meu céu, dotado de um computador onde tudo está funcionando perfeitamente, mas que já nasceu com um defeito congênito, problema que o céu lá de cima (mas que na verdade cerca este planeta) não tem: Nasceu para ser infinito no tempo, com uma temperatura média de 2,4º Kelvin, ou seja, próximo do zero absoluto, mas com zonas tão quentes e tão temperadas como o meu corpo, que fico impressionado, dentre tantas outras coisas, como até nas leis da natureza alguém parece ter-se preocupado com o isolamento térmico. Se este isolamento não funcionasse, estaríamos mortos há muito tempo, o Sol apagado, o Universo inteiro morto.



Fica a pergunta se o universo é assim para nos manter vivos. Parece que esse é o único propósito deste Universo. O meu, é continuar gastando meu tempo com a vida que herdei de forma tal que posso dar minha vida por um ente querido ou por uma causa que mantenha a vida, mas preocupado a cada instante para que não seja em vão, á toa, um desperdício. Já me perguntei se minha gata Sarkye faria o mesmo por mim. Acho que não. Ela me avisa se tem algo “vivo” diferente nas imediações da casa, faz vigília a meu lado, mas é a primeira a fugir a cada ruído estranho que chegue mais perto. Se eu pudesse iria dar um passeio por Alfa de Centauro que fica bem perto de nosso planeta, mas ainda não abriram as bilheterias para embarque. El algum lugar do mundo haverá um “louco” pensando na melhor e mais eficiente forma de chegar até lá, mas as Agências Espaciais têm outras prioridades, e os governos nem se preocupam com as populações. Seu imediatismo é serem reeleitos para serem donos das verbas públicas que dividirão com quem entenderem ser “melhor” dividir, sempre pensando na reeleição.




O céu desses – aquele céu divino de que falam as Escrituras e Livros Santos – Não o céu que vemos, é nos palácios onde são servidos a expensas dos cidadãos. Dizem eles que isso é Democracia. Democracia é a vida entre eu e minha gata: Eu cuido dela como posso, ela cuida de mim como pode. O Céu, cheio de estrelas, planetas e políticos é testemunha. O que o céu contém nem me conhece, mas continuarei estudando o céu, o universo. Meu filho chega hoje da Noruega. Passou por Barcelona e Lisboa para se despedir dos amigos. Outros terras, outros céus.

® Rui Rodrigues