O CASO CAMARATE
(Sobre o atentado aéreo em
que morreram o primeiro ministro Sá Carneiro e o ministro da defesa Adelino
Amaro da Costa, sendo reeleito em decorrência, Ramalho Eanes que tinha um
perfil mais adequado aos interesses da CIA, entenda-se EUA.)
Se o poder estivesse com os
cidadãos através de voto a qualquer instante, podendo eleger/deseleger,
políticos não teriam a importância nem o poder que têm, e para mudar os rumos
de uma nação seria necessário matar a todos.
A CIA – Central Intelligence
Agency da qual todos ouvimos falar mas não conhecemos muito bem, costuma fazer
alguns inimigos em decorrência natural de suas ações. Agentes convencidos e
enganados para executarem determinadas ações acabam por tornarem-se seus
inimigos. Acontece com todas as agências de Inteligência. Porém, tanto agentes
da CIA quanto seus inimigos perpetuam atentados à vida que até então era
considerada inocente. Foi o caso de Bin Laden que já havia trabalhado para a
CIA e o de Fernando Farinha Simões que somente agora em abril de 2012 resolveu
contar o que aconteceu no abate do avião em que viajavam Sá Carneiro que se
candidatava ao posto de primeiro ministro e estava em campanha, e ao ministro
da defesa de Portugal Adelino Amaro da Costa. O atentado aconteceu em Camarate no dia 04 de dezembro de 1980. O
aeroporto da cidade do Porto tem hoje o nome de Sá Carneiro, assassinado pelos
interesses políticos.
Ainda hoje no Brasil nos
intrigamos e interrogamos com a queda do helicóptero de Ulysses Guimarães,
ainda sem explicação, e com a morte de Tancredo Neves exatamente quando já
fazia declarações à imprensa após melhoras notáveis em relação à sua
doença.
Enquanto não tivermos uma
Democracia Participativa, coisas como esta continuarão a ocorrer, porque é
muito grande o poder que reis, ministros, primeiro ministros e ditadores têm de
fazer leis e aplicá-las sem o consentimento da população. Não existe democracia
verdadeira.
O depoimento a seguir, de
Fernando Farinha Simões, agente da CIA, é determinante para entendermos o que
aconteceu: ele armou tudo em conjunto com a CIA e outros que são figuras
públicas.
O texto da carta que
Fernando Farinha Simões fez divulgar – com todas as explicações, digna de filme
na linha de James Bond ou de Bin Laden – está transcrita a seguir:
Eu, Fernando Farinha Simões, decidi finalmente, em 2011, contar toda a
verdade sobre Camarate. No passado nunca contei toda a operação de Camarate,
pois estando a correr o processo judicial, poderia ser preso e condenado.
Também porque durante 25 anos não podia falar, por estar obrigado ao sigilo por
parte da CIA, mas esta situação mudou agora, ao que acresce o facto da CIA me
ter abandonado completamente desde 1989. Finalmente decidi falar por obrigação
de consciência.
Fiz
o meu primeiro depoimento sobre Camarate, na Comissão de Inquérito Parlamentar,
em 1995. Mais tarde prestei alguns depoimentos em que fui acrescentando factos
e informações. Cheguei a prestar declarações para um programa da SIC,
organizado por Emílio Rangel, que não chegou contudo a ir para o ar.
Em
todas essas declarações públicas contei factos sobre o atentado de Camarate,
que nunca foram desmentidos, apesar dos nomes que citei e da gravidade dos
factos que referi. Em todos esses relatos, eu desmenti a tese oficial do
acidente, defendida pela Polícia Judiciária e pela Procuradoria Geral da
Republica. Numa tive dúvidas de que as Comissões de Inquérito Parlamentares
estavam no caminho certo, pois Camarate foi um atentado.
Devo
também dizer que tendo eu falado de factos sobre Camarate tão graves.e do
envolvimento de certas pessoas nesses factos, sempre me surpreendeu que essas
pessoas tenham preferido o silêncio. Estão neste caso o Tenente Coronel
Lencastre Bernardo ou o Major Canto e Castro. Se se sentissem ofendidos pelas
minhas declarações, teria sido lógico que tivessem reagido. Quanto a mim, este
seu silêncio só pode significar que, tendo noção do que fizeram, consideraram
que quanto menos se falar no assunto, melhor.Nessas declarações que fiz, desde
1995, fui relatando, sucessivamente, apenas parte dos factos ocorridos, sem
nunca ter feito a narração completa dos acontecimentos.
Estavamos
ainda relativamente próximos dos acontecimentos e não quis portanto revelar
todos os pormenores, nem todas as pessoas envolvidas nesta operação. Contudo,
após terem passado mais de 30 anos sobre os factos, entendi que todos os
portugueses tinham o direito de conhecer o que verdadeiramente sucedeu em
Camarate. Não quero contudo deixar de referir que hoje estou profundamente
arrependido de ter participado nesta operação, não apenas pelas pessoas
que aí morreram, e cuja qualidade humana só mais tarde tive ocasião de
conhecer, como do prejuízo que constituiu, para o futuro do país, o
desaparecimento dessas pessoas. Naquela altura contudo, camarate era apenas
mais uma operação em que participava, pelo que não medi as consequências. Peço
por isso desculpa aos familiares das vítimas, e aos Portugueses em geral, pelas
consequências da operação em que participei.
Gostaria
assim de voltar atrás no tempo, para explicar como acabei por me envolver nesta
operação. Em 1974 conheci, na África do Sul, a agente dupla alemã, Uta Gerveck,
que trabalhava para a BND (Bundesnachristendienst) - Serviços de Inteligência
Alemães Ocidentais, e ao mesmo tempo para a Stassi. A cobertura legal de Uta
Gerveck é feita atravez do conselho mundial das Igrejas (uma espécie de ONG), e
é através dessa fachada que viaja praticamente pelo Mundo todo, trabalhando ao
mesmo tempo para a BND e para a Stassi. Fez um livro em alemão que me dedicou, e
que ainda tenho, sobre a luta de liberdade do PAIGC na Guiné Bissau. O meu
trabalho com a Stassi veio contudo a verificar-se posteriormente, quando estava
já a trabalhar para a CIA. A minha infiltração na Stassi dá-se por convite da
Uta Gerveck, em l976, com a concordância da CIA, pois isso interessava-lhes
muito.
Úta
Gerveck apresenta-me, em 1978, em Berlim Leste, a Marcus Wolf, então Director
da Stassi. Fui para esse efeito então clandestinamente a Berlim Leste, com um
passaporte espanhol, que me foi fornecido por Úta Gerveck. 0 meu trabalho de
infiltração na Stassi consistiu na elaboração de relatórios pormenorizados
acerta das “toupeiras" infiltradas na Alemanha Ocidental pela Stassi. Que
actuavam nomeadamente junto de Helmut Khol, Helmut Schmidt e de Hans Jurgen
Wischewski. Hans Jurgen Wischewski era o responsável pelas relações e contactos
entre a Alemanha Ocidental e de Leste, sendo Presidente da Associação Alemã de
Coopenção e Desenvolvimento (ajuda ao terceiro Mundo), e também ia às reuniões
do Grupo Bilderberg. Viabilizou também muitas operações clandestinas, nos anos
70 e 80. de ajuda a gupos de libertação, a partir da Alemanha Ocidental. Estive
também na Academia da Stassi, várias vezes, em Postdan - Eiche.
Relativamente
ao relatodos factos, gostaria de começar por referir que tenho contactos, desde
1970, em Angola, com um agente da CIA, que é o jornalista e apresentador de
televisão Paulo Cardoso (já falecido). Conheci Paulo Cardoso em Angola com quem
trabalhei na TVA - Televisão de Angola na altura.
Em
1975, formei em Portugal, os CODECO com José Esteves, Vasco Montez, Carlos
Miranda e Jorge Gago (já falecido). Esta organização pretendia, defender, em
Portugal, se necessário por via de guerrilha, os valores do Mundo Ocidental.
Atrav´s
de Paulo Cardoso sou apresentado, em 1975, no Hotel Sheraton, em Lisboa, a um
agente da CIA, antena, (recolha de informações), chamado Philip Snell. Falei
então durante algum tempo com Philip Snell. O Paulo Cardoso estava então a
viver no Hotel Sheraton. Passados poucos dias, Philip Snell, diz-me para ir
levantar, gratuitamente, um bilhete de avião, de Lisboa para Londres, a
uma agência de viagens na Av. de Ceuta, que trabalhava para a embaixada dos
EUA. Fui então a uma reunião em Londres, onde encontrei um amigo antigo, Gary
Van Dyk, da África do Sul, que colaborava com a CIA. Fui então entrevistado
pelo chefe da estação da CIA para a Europa, que se chamava John Logan. Gary Van
Dyk, defendeu nessa reunião, a minha entrada para a CIA, dizendo que me
conhecia bem de Angola, e que eu trabalhava com eficiência. Comecei então a
trabalhar para a CIA, tendo também para esse efeito pesado o facto de ter
anteriormente colaborado com a NISS - National Intelligence Security Service (
Agência Sul Africana de Informações). Gary Van Dyk era o antena, em Londres, do
DONS - Department Operational of National Security (Sul Africana).
Regressando
a Lisboa, trabalhei para a Embaixada dos EUA, em Lisboa entre 1975 e 1988, a
tempo inteiro. Entre 1976 e 1977, durante cerca de uma ano e meio vivi numa
suite no Hotel Sheraton, o que pode ser comprovado, tudo pago pela Embaixada
dos EUA. Conduzia então um carro com matrícula diplomática, um Ford, que
estacionava na garagem do Hotel. Nesta suite viveu também a minha mulher, Elsa,
já grávida da minha filha Eliana. O meu trabalho incluia recolha de informações
/contra informações, informações sobre tráfico de armas, de operações de
combate ao tráfico de droga, informações sobre terrorismo, recrutamento de
informadores, etc. Estas actividades incluem contactos com serviços secretos de
outros países, como a Stassi, a Mossad, e a "Boss" (Sul Africana),
depois NISS - National Information Sectret Service, depois DONS e actualmete
SASS.
Era
pago em Portugal, reccebendo cerca de USD 5.000 por mês. Nestas actividades
facilita o facto de eu falar seis línguas. Actuei utilizando vários nomes
diferentes, com passaportes fornecidos pela Embaixada dos EUA em Lisboa.
Facilitava também o facto de eu falar um dialecto angolano - o kimbundo.
A
Embaixada dos EUA tinha também uma casa de recuo na Quinta da Marinha, que me
estava entregue, e onde ficavam frequentemente agentes e militares americanos,
que passavam por Portugal. Era a vivenda "Alpendrada".
A
partir de 1975, como referi, passei a trabalhar directamente para a
CIA. Contudo a partir de 1978, passei a trabalhar como agente encoberto, No
chamado "Office of Special Operations", a que se chamava serviços
clandestinos, e que visavam observar um alvo, incluindo perseguir, conhecer e
eliminar o alvo, em qualquer país do mundo, excepto nos EUA. Por pertencermos a
este Office, éramos obrigados a assinar uma clausula que se chamava
"plausible denial" que significa que se fossemos apanhados
nestas operações com documentos de identificação falsos, a situação seria por
nossa conta e risco, e a CIA nada teria a ver com a situação. Nessa
circunstância tínhamos o discurso preparado para explicar o que estavamos a
fazer, incluindo estarmos preparados para aguentar a tortura.
Trabalhei
para o "Office of Special Operations ” até 1989, ano em que saí da
CIA.
Para
fazer face a estes trabalhos e operações, as minhas oontas dos cartões de
crédito do VISA, American Express e Dinners Club, tinham, cada uma, um planfond
de 10.000 USD, que podiam ser movimentados em caso de necessidade. Estes
cartões eram emitidos no Brasil, em bancos estrangeiros sedeados no Brasil,
como o Citibank, o Bank of Boston ou o Bank of America. Entre 1975 e 1989,
portanto durante cerca de 14 anos, gastei com estes cartões cerca de 10 milhões
de USD, em operações em diversos paises, nomeadamente pagando a informadores,
politicos, militares, homens de negócios, e também traficantes de armas e de
drogas, em ligação com a DEA (Drug Enforcement Agency), Existiram outros
valores movimentados à parte, a partir de um saco azul, “em cash”,
valores esses postos à disposição pelo chefe da estação da CIA, no local onde
as operações eram realizadas. Este saco azul servia para pagar despesas como
viagens, compras necessárias, etc.
Posso
referir que a operação de Camarate, que a seguir irei transcrever custou a
preços de 1980 entre 750.000 e 1 milhão de USD. Só o Sr, José António dos
Santos Esteves recebeu 200.000 USD. Estas despesas relacionadas com a operação
de Camarate, incluiram os pagamentos a diversas pessoas e participantes, como o
Sr. Lee Rodrigues, como seguidamente irei descrever.
Entre
1975 e 1988, participei em vários cursos e seminários em Langley, Virginia e
Quantico, pago pela CIA, sobre informação, desinformação, contra-informação.
terrorismo, contra-terrorismo, infiltrações encobertas, etc, etc.
Trabalhei
em serviços de infiltração pela CIA e pela DEA (Drug Enforcement Agency), em
diferentes países, como Portugal, El Salvador, Bolívia, Colômbia,Venezuela,
Peru, Guatemala, Nicarágua, Panamá, Chile, Líbano, Síria, Egipto, Argélia,
Marrocos, Filipinas.
A
minha colaboração com a DEA, iniciou-se em 1981, através de Richard Lee Armitage.
Em 1980, Richard Armitage viria também a estar comigo e com o Henry Kissinger
em Paris, Richard Lee Armitage era membro do CFR (Counceil for Foreign Affairs
and Relations) e da Organização e Cooperação para a Segurança da Europa (OSCE),
criada pela CIA, Richard Armitage era também membro, na altura, do Grupo
Carlyle, do qual o CEO era Frank Carlucci. O Grupo Carlyle dedica-se à
construcção civil, imobiliário e é uma dos maiores grupos de tráfico de armas
no Mundo, junto com o Grupo Haliburton, chefiado por Richard
"Dick" Cheney. O Grupo Carlyle pertence a vários investidores
privados dos EUA, por regra do Partido Republicano. Este grupo promove
nomeadamente vendas de armas, petróleo e cimento para países como o Iraque,
Afeganistão e agora para os países da primavera árabe.
A
lavagem do dinheiro do tráfico de armas e da droga, era feito, na altura, pelo
Banco BCCI, ligado à CIA e à NSA - National Security Agency. O BCCI foi fundado
em 1972 e fechado no princípio dos anos 90, devido aos diversos escândalos em
que esteve envolvido.
Oliver
North pertencia ao Conselho Nacional de Segurança, às ordens de william walker,
ex-embaixador dos EUA em El Salvador. Oliver North seguiu e segue sempre as
ordens da CIA, dependente de William Casey. Oliver North está hoje
retirado da CIA , e é CEO de vários grupos privados americanos, tal como Frank
Carlucci.
1.
Da
DEA conheci Celerino Castilho, Mike Levine, Anabelle Grimm e Brad Ayers, tendo
trabalhado para a DEA entre 1975 até 1989. Da CIA trabalhei também com Tosh
Plumbey, Ralph Megehee - tenente coronel da NSA, actualmente reformado. Da CIA
trabalhei ainda com Bo Gritz e Tatum. Estes dois agentes tinham a sua base de
operações em El Salvador, (onde eu também estive durante os anos 80, durante o
tráfico Irão - Contras), desenvolvendo nomeadamente actividades com tráfico de
armas. Uma das suas operações consistiu no transporte de armas dos EUA para
El-Salvador, que eram depois transportadas para o Irão e a Nicarágua. Os
aviões, normalmente panamianos e colombianos regressavam depois para os EUA com
droga, nomeadamente cocaina, proveniente de países como a Colômbia, Bolivia e
El Salvador, que serviam para financiar a compra de armas. Esta actividade
desenvolveu-se essencialmente desde os finais dos anos 70 até 1988.
A
cocaina vinha nomeadamente da Ilha Normans Cay, nas Bahamas, de que era
proprietário Carlos Lheder Rivas. Carlos Rivas era um dos chefes do Carte de
Medellin, trabalhando para este cartel e para ele próprio. Carlos Rivas era,
neste contexto um personagem importante, sendo o braço direito de Roberto
Vesco, que trabalhava para a CIA e para a NSA. Roberto Vesco era proprietário
de Bancos nas Bahamas, nomeadamente o colombus trust. Carlos rivas fazia toda a
logística de Roberto Vesco e forneciam armas a troco de cocaina, nomeadamente
ao movimento de guerrilha Colombiano M19. Roberto Vesco está hoje refugiado em
Cuba.
O
dinheiro das operações de armas e de droga são lavadas no Banco BCCI e noutros
bancos, com o nome de código "Amadeus". Há no entanto contas activas
nas Bahamas e em Norman's Cay, nas Ilhas Jersey, que gerem contas bancárias,
nomeadamente para o tráfico de armas para os “Contras” da Nicarágua, e para o
Irão.
Como
acima referi, muito desse dinheiro foi para bancos americanos e franceses, o
que em parte explicará porquê é que Manuel Noriega foi condenado a 60 anos de
prisão, tendo primeiro estado preso nos EUA, depois em França, e actualmente no
Panamá. Foi preso porque era conveniente que estivesse calado, não referindo
nomeadamente que partilhava com a CIA, o dinheiro proveniente da venda de armas
e da venda de drogas. Noriega movimentava contas bancárias em mais de 120
bancos, com conhecimento da CIA. Noriega fazia também parte da operação Black
Eagle, dedicada ao tráfico de armas e de droga, que em 1982 se transformou numa
empresa chamada Enterprise, com a colaboração de Oliver North e de Donald Gregg
da CIA.
Em
face do grau de informações e de conhecimento que tinha, é fácil de perceber
porquê se verificou o derrube e a prisão de Noriega. Devo dizer que estou
pessoalmente admirado que não o tenham até agora “suicidado", pois deve
ter muitos documentos ainda guardados. Noriega tinha a intenção de contar tudo
o que sabia sobre este tráfico, nomeadamente sobre os serviços prestados à CIA
e a Bush Pai, tendo por isso sido preso. Washington e a CIA são assim veículos
importantes do tráfico de armas e de droga, utilizando nomeadamente os pontos
de apoio de South Flórida e do Panamá.
No
início dos anos 80 conheci um traficante do cartel de Cali, de nome Ramon
Milian Rodriguez, que depois mais tarde perante uma comissão do Senado
Americano, onde falou do tráfico de armas e de droga, do branqueamento de
dinheiro, bem como das cumplicidades de Oliver North neste tráfico às ordens de
Bush Pai e do Donald Gregg.
Muito
do dinheiro gerado nessas vendas foi para bancos americanos e franceses. Este
dinheiro servia também para compras de propriedades imobiliárias. Por estar
ligado a estas operações, Noriega foi preso pelos EUA.
Foi
numa operação de droga que realizei na Colômbia e nas Bahamas, em 1984, onde se
deu a prisão de Carlos Lheder Rivas, do Cartel de Medallin, em que eu não
concordei com os agentes da DEA da estação de Maiami, pois eles queriam ficar
com 10 milões de dólars e com o avião "lear-jet" provenientes do
tráfico de droga. Não concordando, participei desses agentes ao chefe da
estação da DEA de Maiami. Este chefe mandou-lhes então levantar um inquerito,
tendo sido presos pela própria DEA. A partir de aí a minha vida tornou-se num
verdadeiro inferno, nomeadamente com a realização de armadilhas, e detenções,
tendo acabado por sair da CIA em 1989, a conselho de Frank Carlucci. O
principal culpado da minha saida da CIA foi e da DEA foi John C. Lawn, director
da estação da DEA e amigo de Noriega e de outros traficantes. John Lawn
encobriu, ou tentou encobrir, todos os agentes da DEA que denunciei aquando da
prisão de Carlos Rivas. Ápos a minha saida da CIA, Frank carlucci continuou
contudo a ajudar-me com dinheiro, com conselhos e com apoio logístico, sempre
que eu precisei até 1994.
Regressando
contudo à minha actividade em Portugal, anteriormente a camarate e ao serviço
da CIA, devo referir que conheci Frank Carlucci, em 1975, através de duas
pessoas: um jornalista Português da RTP, já falecido, chamado Paulo Cardoso de
Oliveira, que conhecera em Angola, e que era agente da CIA, e Gary Van Dyk,
agente da BOSS (Sul Africana) que conheci também em Angola. Mantive contactos
directos frequentes com Frank Carlucci, sobretudo entre l975 e 1982, de quem
recebi instruções para vários trabalhos e operações. Os meus contactos com
Frank Carlucci mantêm-se até hoje, com quem falo ainda ocasionalmente pelo
telefone. A última vez que estive com ele foi em Madrid, em 2008, na escala de
uma viagem que Frank Carlucci realizou à Turquia.
Em
Lisboa, também lidei e recebi ordens de William Hasselberg - antena da CIA em
Lisboa, que além de recolher informacões em Lisboa actua como elo de ligação
entre portugueses e americanos. Tive inclusivamente uma vida social com William
Hasselberg, que inclui uma vida nocturna em Lisboa, em diferentes bares,
restaurantes, e locais públicos. William Hasselberg gostava bastante da vida
nocturna, onde tinha muito gosto em aparecer com as suas diversas “conquistas”
femininas. Trabalhei também com outros agentes da CIA, nomeadamente Philip
Agee. Neste ambito, trabalhei em operações de tráfico de armas, e em
infiltrações em organizações com o objectivo de obter informações políticas e
militares, “Billie” Hasselberg fala bem português, e era grande amigo de Artur
Albarran, Hasselberg e Albarran conheceram-se numa festa da embaixada da Colômbia
ou Venezuela, tendo Albarran casado nessa altura, nos anos 80, com a filha do
embaixador, que foi a sua primeira mulher.
Das
reuniões que tive com a embaixada americana em Lisboa, a partir de 1978,
conheci vários agentes da CIA. O Chefe da estação da CIA em Portugal, John
Logan, oferece-me um livro seu autografado. Conheci também o segundo chefe da
CIA, Sr. Philip Snell, Sr. James Lowell, e o Sr. Arredondo. Da parte militar da
CIA conheci o cor Wilkinson, a partir de quem conheci o coronel Oliver North e
o coronel Peter Bleckley. O coronel Oliver North, militar mas também agente da
CIA e o coronel Peter Bleckley, são os principais estrategas nos contactos
internacionais, com vista ao tráfico e venda de armas, nomeadamente com países
como Irão, Iraque, Nicarágua, e o El Salvador. Na sequência do conhecimento que
fiz com Oliver North , tendo várias reuniões com ele e com agentes da CIA, por
causa do tráfico e negócio de armas. Estas reuniões têm lugar em vários países,
como os EUA, o México, a Nicarágua, a Venezuela, o Panamá. Neste último país
contacto com dois dos principais adjuntos de Noriega, José Bladon, chefe
dos serviços secretos do Panamá, que me disse que práticamente todos os
embaixadores do Panamá em todo o Mundo estavam ao serviço de Noriega. Blandon
pediu-me na altura se eu arranjava um Rolls Royce Silver Spirits, para o
embaixador do Panamá em Lisboa, o que acabei por conseguir.
Em
meados de 1980, Frank Carlucci refere-me, por alto, e pela primeira vez, que eu
iria ser encarregue de fazer um "trabalho" de importância máxima e
prioritária em Portugal, com a ajuda dele, da CIA, e da Embaixada dos EUA em
Portugal, sendo-me dado, para esse efeito, todo o apoio necessário.
Tenho
depois reuniões em Lisboa, com o agente da CIA, Frank Sturgies, que conheço
pela primeira vez. Frank Sturgies é uma pessoa de aspecto sinistro e com grande
frieza, e é organizador das forças anti-castristas, sediadas em Miami, e é elo
de ligação com os "contra" da Nicarágua. Frank Sturgies refere-me
então, que está em marcha um plano para afastar, definitivamente, (entenda-se
eliminar) uma pessoa importante, ligada ao Governo Português de então, sem
dizer contudo ainda nomes.
Algum
tempo depois, possívelmente em Setembro ou Outubro de 1980, jogo ténis com
Frank Cariucci quase toda a tarde, na antiga residência do embaixador dos EUA,
na Lapa. Janto depois com ele, onde Frank Cartucci refere novamente que existem
problemas em Portugal para a venda e transporte de armas, e que Francisco Sá
Carneiro não era uma pessoa querida dos EUA. Depois já na sobremesa, juntam-se
a nós o General Diogo Neto, o Coronel Vinhas, o Coronel Robocho Vaz e Paulo
Cardoso, onde se refere novamente a necessidade de se afastarem alguns
obstáculos existentes ao negócio de armas. Todos estes elementos referem a
Frank Caducci que eu sou a pessoa indicada para a preparação e implementação
desta operação.
Em
Outubro de 1980, num juntar no Hotel Sharaton onde participo eu, Frank Sturgies
(CIA), Vilfred Navarro (CIA), o General Diogo Neto e o Coronel Vinhas (já falecidos),
onde se refere que há entraves ao tráfico de armas que têm de ser removidos.
Depois há um outro jatar também no Hotel Sharaton, onde participam, entre
outros, eu e o Coronel OliverNorth, onde este diz claramente que "é
preciso limar algumas arestas" e "se houver necessidade de se tirar
aguém do caminho, tira-se", dando portanto a entender que haverá que
eliminar pessoas que criam problemas aos negócios de venda de armas. Oliver
North diz-me também que está a ter problemas com a sua própria organização, e
que teme que o possam querer afastar e "deixar cair", o que acabou
por acontecer.
Há
também Portugueses que estavam a beneficiar com o tráfico de armas, como o
Major Canto e Castro, o General Pezarat Correia, Franco Charais e o empresário
Zoio. Sabe-se também já nessa altura que Adelino Amaro da Costa estava a tentar
acabar com o tráfico de armas, a investigar o fundo de desenvolvimento do
Ultramar, e a tentar acabar acabar com lobbies instalados. Afastar essas duas
pessoas pela via política era impossível, pois a AD tinha ganho as eleições.
Restava portanto a via de um atentado.
Passados
alguns dias, recebo um telefonema do Major Canto e Castro (pertencente ao
conselho da revolução), que eu já conhecia de Angola, pedindo para eu me
encontrar com ele no Hotel Altis. Nessa reunião está também Frank Sturgies, e
fala-se pela primeira vez em "atentado", sem se referirem ainda quem
é o alvo. referem que contam comigo para esta operação. O Major Canto e Castro
diz que é preciso recrutar alguém capaz de realizar esta operação.
Tenho
depois uma segunda reunião no Hotel Altis com Frank Sturgies e Philip Snell,
onde Frank Sturgies me encarrega de preparar e arranjar alguns operacionais
para uma possível operação dentro de pouco tempo, possívelmente dentro de 2 ou
3 meses. Perguntam-me se já recrutou a pessoa certa para realizar este
atentado, e se eu conheço algum perito na fabricação de bombas e em armas de
fogo. Respondo que em Espanha arranjaria alguém da ETA para vir cá fazer o
atentado, se tal fosse necessário. Quem paga a operação e a preparação do
atentado é a CIA e o Major Canto e Castro. Canto e Castro colabora na altura
com os serviços Secretos Franceses, para onde entrou através do sogro na época.
O sogro era de Nacionalidade Belga, que trabalhava para a SDEC, os serviços de
inteligência franceses, em 1979 e 1980. Canto e Castro casou com uma das suas
filhas, quando estava em Luanda, em Angola, ao serviço da Força Aérea
Portuguesa. Em Luanda, Canto e Castro vivia perto de mim.
Tendo
que organizar esta operação, falo então com José Esteves e mais tarde com Lee
Rodrigues ( que na altura ainda não conhecia). O elo de ligação de Lee
Rodrigues em Lisboa era Evo Fernandes, que estava ligado à resistância
moçambicana, a renamo. Falo nessa altura também com duas pessoas ligadas à ETA
militar, para caso do atentado ser realizado através de armas de fogo.
Depois,
noutro jantar em casa de Frank Carlucci, na Lapa, na Mansarda, no último andar,
onde jantamos os dois sozinhos, Frank Carlucci diz abertamente e pela primeira
vez, o que eu tinha de fazer, qual era a operação em curso e que esta visava
Adelino Amaro da Costa, que estava a dificultar o transporte e venda de
armas a partir de Portugal ou que passavam em Portugal, e que havia luz verde
dada por Henry Kissinger e Oliver North. Cumprimento ambos, referindo que sou
"o homem deles em Lisboa".
Três
semanas antes dos atentado, Canto e Castro e Frank Surgies, referem pela
primeira vez, que o alvo do atentado é Adelino Amaro da Costa. O Major Canto e
Castro afirma que irá viajar para Londres. Frank Sturgies pede-me que obtenha
um cartão de acesso ao aeroporto para um tal Lee Rodrigues, que é referido como
sendo a pessoa que levará e colocará a bomba no avião.
Recebo
depois um telefonema de Canto e Castro, referindo que está em Londres e para eu
ir ter lá com ele. Refere-me que o meu bilhete está numa agência de viagens
situada na Av. da Republica , junto à pastelaria Ceuta. Chegado a Londres fico
no Hotel Grosvenor, ao pé de Victoria Station. Canto e Castro vai buscar-me e
leva-me a uma casa perto do Hotel, onde me mostra pela primeira vez, o
material, incluindo explosivos, que servirão para confeccionar a
"bomba" nesta operação. Essa casa em Londres, era ao mesmo tempo
residência e consultório de um dentista indiano, amigo de Canto e Castro, Canto
e Castro refere-me que esse material será levado para Portugal pela sua
companheira Juanita Valderrama. O Major Canto e Castro pede-me então que vá ao
Hotel Altis recolher o material. Vou então ao Hotel acompanhado de José esteves,
e recebemos uma mala e uma carta da senhora Juanita, José Esteves prepara então
uma bomba destinada a um avião, com esses materiais, com a ajuda de Carlos
Miranda.
O
Major Canto e Castro volta depois de Londres, encontra-se comigo, e digo-lhe
que a bomba está montada. Lee Rodrigues é-me apresentado pelo Major Canto e
Castro. Alguns dias depois Lee Rodrigues telefona-me e encontramo-nos para
jantar no restaurante galeto, junto ao Saldanha, juntamente com Canto e Castro,
onde aparece também Evo Fernandes, que era o contacto de Lee Rodrigues em
Lisboa. Fora Evo Fernandes que apresentara Lee Rodrigues a Canto e Castro. Lee
Rofrigues era moçambicano e tinha ligações à Renamo. Nesse jantar alinham-se
pormenores sobre o atentado. Canto e Castro refere contudo nesse jantar que o
atentado será realizado em Angola. Perante esta afirmação, pergunto se ele está
a falar a sério ou a brincar, e se me acha com “cara de palhaço"- fazendo
tenção de me levantar. Refiro que, através de Frank Carlueci, já estava a par
de tudo. Lee Rodrigues pede calma, referindo depois Canto e Castro que
desconhecia que eu já estava a par de tudo, mas que sendo assim nada mais havia
a esconder.
Possivelmente
em Novembro, é-me solicitado por Philip Snell que participe numa reunião em
Cascais, num iate junto á antiga marina (na altura não existia a actual
marina). Vou e levo comigo José Esteves. Essa reunião tem lugar entre as 20 e
as 23 horas, nela participando Philips Snell, Oliver North, Frank Sturgies,
Sydral e Lee Rodrigues e mais cerca de 2 ou 3 estrangeiros, que julgo serem
americanos. Nesta reunião é referido que há que preparar com cuidado a operação
que será para breve, e falam-se de pormenores a ter em atenção. É
referido também os cuidados que devem ser realizados depois da
operação, e o que fazer se algo correr mal. A língua utilizada na reunião é o
Inglés. José Esteves recebeu então USD 200.000 pelo seu futuro trabalho. Eu não
recebi nada pois já era pago normalmente pela CIA. Eu nessa altura recebia da
CIA o equivalente a cinco mil dólares, dispondo também de dois cartões de
crédito Diner's Club e Visa Gold, ambos com plafonds de 10.000 Doláres.
Lee
Rodrigues pede-me então que arranje um cartão para José Esteves entrar no
aeroporto. Para este efeito, obtenho um cartão forjado, na Mouraria, em Lisboa,
numa tipografia que hoje já não existe. Lee rodrigues diz-me também que irá
obter uma farda de piloto numa loja ao pé do Coliseu, na Rua das Portas de
Santo Antão. A meu pedido, João Pedro Dias, que era carteirista, arranja também
um cartão para Lee Rodrigues. Este cartão foi obtido por João Pedro Dias,
roubando o cartão de Miguel Wahnon, que era funcionário da TAP.
Apenas
foi necessário mudar-se a fotografia desse cartão, colocando a fotografia de
Lee Rodrigues.
José
Esteves prepara então em sua casa no Cacém, um engenho para o atentado.
Conta com a colaboração de outro operacional chamado Carlos Miranda,
expecialista em explosivos, que é recrutado por mim, e que eu já conhecia de
Angola, quando Carlos Miranda era comandante da FNLA e depois CODECO em
Portugal. José Esteves foi também um dos principais comandantes da FNLA, indo
muitas vezes a Kinshasa.
Depois
do artefacto estar pronto, vou novamente a Paris. No Hotel Ritz, à tarde, tenho
um encontro com Oliver North, o cor. Wilkison e Philip Snell, onde se refere
que o alvo a abater era Adelino Amaro da Costa, Ministro da Defesa.
Volto
a Portugal, cerca de 5 ou 6 dias antes do atentado. É marcado por Oliver North
um jantar no hotel Sheraton. Necesse jantar aparece e participa um indivíduo
que não conhecia e que me é apresentado por Oliver North , chamado Penaguião.
Penaguião afirma ser segurança pessoal de Sá Carneiro. Oliver North refere que
Penaguião faz parte da segurança pessoal de Sá Carneiro e que é o homem que
conseguirá meter Sá Carneiro no Avião. Penaguião afirma, de forma fria e
directa que sá Carneiro também iria no avião, "pois dessa forma matavam
dois coelhos de uma cajadada! " Afirma que a sua eliminação era
necessária, uma vez que Sá Carneiro era anti-americano, e apoiava incondicionalmente
Adelino Amaro da Costa na denúncia do trático de armas, e na descoberta do
chamado saco azul do Fundo de Defesa do Ultramar, pelo que tudo estava, desde o
início, preparado para incluir as duas pessoas. Sá Carneiro e Adelino Amaro da
Costa. Fico muito receoso, pois só nesse momento fiquei a conhecer a inclusão de
Sá Carneiro no atentado. Pergunto a Penaguião como é que ele pode ter a certeza
de que Sá Carneiro irá no avião, ao que Penaguião responde de que eu não me preocupasse
pois que ele, com mais alguém, se encarregaria de colocar Sá Carneiro naquele
avião naquele dia e naquela hora, pois ele coordenava a segurança e a sua
palavra era sempre escutadda. No final do jantar, juntam-se a nós três o
General Diogo Neto e o Coronel Vinhas.
Fico
estarrecido com esta nova informação sobre Sá Carneiro, e decido ir, nessa
mesma noite, à residência do embaixador dos EUA, na Lapa, onde estava Frank
Carlucci, a quem conto o que ouvi. Frank Carlucci responde que não me
preocupasse, pois este plano já estava determinado há muito tempo. Disse-me que
o homem dos EUA era Mário Soares, e que Sá Carneiro, devido à sua maneira de
ser, teimoso e anti-americano, não servia os interesses estratégicos dos EUA.
Mário Soares seria o futuro apoio da política americana em Portugal, junto com
outros lideres do PSD e do PS. Aceito então esta situação, uma vez que Frank
Carlucci já me havia dito antes que tudo estava assegurado, inclusivamente se
algo corresse mal, como a minha saída de Portugal, a cobertura total para mim e
para mais alguém que eu indicasse, e que pudesse vir a estar em perigo. Isto é
a usual "realpolitik" dos Estados Unidos, e suspeito que sempre será.
Três
dias antes do atentado há uma nova reunião, na Rua das Pretas no Palácio Roquete,
onde participam Canto e Castro, Farinha Simões, Lee Rodrigues, José esteves e
Carlos Miranda. Carlos Miranda colaborou na montagem do engenho explosivo com
José Esteves, tendo ido várias vezes a casa de José esteves. Nessa reunião são
acertados os últimos pormenores do atentado. Nessa reunião, Lee Rodrigues diz
que ele está preparado para a operação e Canto e Castro diz que o
atentado será a 3 ou 4 de Dezembro. Nessa reunião é dito que o alvo é
Adelino Amaro da Costa. No dia seguinte encontramo-nos com Canto e Castro no
Hotel Sheraton, e vamos jantar ao restaurante "O Polícia".
No
dia 4 de Dezembro, telefono de um telefone no Areeiro, para o Sr. William
Hasselberg, na Embaixada dos EUA, para confirmar que o atentado é para
realizar, tendo-me este referido que sim. Desse modo, à tarde, José Esteves
traz uma mala a minha casa, e vamos os dois para o aeroporto. Conduzo José
esteves ao aeroporto, num BMW do José Esteves.
Já
no aeroporto, José Esteves e eu entramos no aeroporto, por uma porta lateral,
junto a um posto da Guarda Fiscal, utilizando o cartão forjado, anteriormente
referido. Depois José Esteves desloca-se e entrega a mala, com o engenho, a Lee
Rodrigues, que aparece com uma farda de piloto e é também visto por mim. Depois
de cerca de 15 minutos, sai já sem a mala, e sai comigo do aeroporto.
Separamo-nos, mas mais tarde José esteves encontra-se novamente comigo no
cabeleireiro Bacta, no centro comercial Alvalade.
Depois
José esteves aparece em minha casa com a companheira da época, de nome Gina, e
com um saco de roupa para lá ficar por precaução. Ouvi-mos depois o noticiário
das 20 horas na televisão, e José Esteves fica muito surpreendido, pois não
sabia que Sá Carneiro também ia no avião.
Afirma
que fomos enganados. Telefona então para Lencastre Bernardo, que tinha grandes
ligações à PJ e à PJ Militar, e uma Ligação ao General Eanes, Lencastre
Bernardo tem também ligações a Canto e Castro, Pezarat Correia, Charais, ao
empresário Zoio a José António Avelar que era ex-braço direito de Canto e
Castro. José Esteves telefona-lhe, e pede para se encontrar com ele. Este aceita,
pelo que, pelas 23 horas, José Esteves, eu, e a minha mulher Elza, dirigimo-nos
para a Rua Gomes Freire, na PJ, para falar com ele. José Esteves sobe para
falar com Lencastre Bernardo que lhe tinha dito que não se preocupasse, pois
nada lhe sucederia. Passámos contudo por casa de José Esteves pois este temia
que aí houvesse já um conjunto de polícias à sua procura, devido a considerarem
que ele estava associado à queda do avião em camarate. José Esteves ficou assim
aliviado por verificar que não existia aparato policial à porta de sua casa.
Vem contudo dormir para minha casa.
Alguns
dias depois falei novamente com Frank Carlucci. A quem manifestei o meu
desconhecimento e ter ficado chocado por ter sabido, depois de o avião ter
caído, que acompanhantes e familiares do Primeiro Ministro e do Ministro da
Defesa também tinham ido no Avião. Frank Carlucci respondeu-me que compreendia
a minha posição, mas que também ele desconhecia que iriam outras pessoas no
avião, mas que agora já nada se podia fazer.
Em
1981, encontro-me com Victor Pereira, na altura agente da Polícia Judiciaria,
no restaurante Galeto, em Lisboa. Conto a Victor Pereira que alguns dos
atentados estão atribuidos às Brigadas Revolucionárias, relacionados com
a colocação de bombas, foram porém efectuadas pelo José Esteves, como foram os
casos dos atentados à bomba na Embaixada de Angola, de Cuba ( esta última com
conhecimento de Ramiro Moreira), na casa de Torres Couto, na casa do prof.
Diogo Freitas do Amaral, na casa do Eng. Lopes Cardoso, e na casa de Vasco
Montez, a pedido deste, junto ao Jumbo em Cascais, para obter sencionalismo á
época, tendo José Esteves espalhado panfletos iguais aos da FP25. Não falei
então com Victor Pereira de camarate. Tomei conhecimento no entanto que Victor
Pereira, no dia 4 de Dezembro de 1980, tendo ido nessa noite ao aeroporto da
Portela, como agente da PJ, encontrou a mala que era transportada pelo eng.
Adelino Amaro da Costa. Nessa mala estavam documentos referentes ao tráfico de
armas e de pessoas envolvidas com o Fundo de defesa do Ultramar. Salvo
erro, Victor Pereira entregou essa mala ao inspector da PJ Pedro Amaral, que
por sua vez a entregou na PJ. Disse-me então Victor Pereira que essa mala, de
maior importância no caso de Camarate, pelas informações que continha, e que
podiam explicar os motivos e as pessoas por detrás deste atentado, nunca
mais voltou a aparecer. Esta informação foi-me transmitida por Victor Pereira,
quando esteve preso comigo na prisão de Sintra, em 1986. Não referi então a Victor
Pereira que, como descrevo a seguir, eu tinha já tido contacto com essa mala,
em finais de 1982, pelo facto de trabalhar com os serviços secretos na
Embaixada dos EUA.
Também
em 1981, uns meses depois do atentado, eu e o José Esteves fomos ter com o
Major Lencastre Bernardo, na Polícia Judiciária, na Rua Gomes Freire. Com
efeito, tanto o José Esteves como eu, andávamos com medo do que nos podia
suceder por causa do nosso envolvimento no atentado de Camarate, e queríamos
saber o que se passava com a nossa protecção por causa de Camarate. Eu não
participo na reunião, fico à porta. Contudo José Esteves diz-me depois que
nessa conversa Lencastre Bernardo lhe referiu que, numa anterior conversa com
Francisco Pinto Balsemão, este lhe havia dito ter tido conhecimento prévio do
atentado de Camarate, pois em Outubro de 1980, Kissinger o informou de que essa
operação ia ocorrer. Disse-lhe também que ele próprio tinha tido conhecimento
prévio do atentado de Camarate. Disse-lhe ainda que podíamos estar sossegados
quanto a Camarate, pois não ia haver problemas connosco, pois a investigação
deste caso ia morrer sem consequências.
A
este respeito gostaria de acrescentar que numa reunião que tive, a sós, em
1986, com Lencastre Bernardo, num restaurante ao pé do edifício da PJ na Rua
Gomes Freire, ele garantiu-me que Pinto Balsemão estava a par do que se ia
passar em 4 de Dezembro. No restaurante Fouchet's, em Paris, Kissinger tinha-me
dito, “por alto”, que o futuro Primeiro Ministro de Portugal seria pinto
Balsemão. E importante referir que tanto Henry Kissinger como Pinto Balsemão
eram já, em 1980, membros destacados do grupo Bilderberg, sendo certo que estas
duas pessoas levavam convidados às reuniões anuais desta organização.
Deste
modo, aquando da conversa com Lencastre Bernardo, em 1986, relacionei o que ele
me disse sobre Pinto Balsemão, com o que tinha ouvido em Paris, em 1980. Tive
também esta informação, mais tarde, em 1993, numa conversa que tive com William
Hasselberg, em Lisboa, quando este me confirmou de que Pinto Balsemão estava a
par de tudo.
Em
finais de 1982, pelas informações que vou obtendo na Embaixada dos EUA, em
Lisboa, verifico que se fala de nomes concretos de personalidades americanas
com tendo estado envolvidas em tráfico de armas que passava por Portugal.
Pergunto então a William Hasselberg como sabem destes nomes. Ao fim de muitas
insistências minhas, William Hasselberg acaba por me dizer que a PJ entregou,
na embaixada dos EUA, uma mala com os documentos transportados por Adelino
Amaro da Costa, em 4 de Dezembro de 1980, e que ficou junto aos destroços do
avião, embora não me tenha dito quem foi a pessoa da PJ que entregou esses
documentos. Peço então a William Hasselberg que me deixe consultar essa mala,
uma vez que faço também parte da equipa da CIA em Portugal. Ele aceita, e pude
assim consultar os documentos aí existentes. que consistiam em cerca de 200
páginas. Pude assim consultar este Dossier durante cerca de uma semana, tendo-o
lido várias vezes, e resumido, à mão, as principais partes, uma vez que não
tinha como fotografá-lo ou copiá-lo.
Vejo
então, que apesar do desastre do avião, e da pasta de Avelino Amaro da Costa
ter ficado queimada, e ter sido substituida por outra, os documentos estavam
intactos. Estes documentos continham uma lista de compra de armas, que incluia
nomeadamente RPG-7, RPG-27, G3, lança granadas, dilagramas, munições,
granadas, minas, rádios, explosivos de plástico, fardas, kalashiskovs AK-47 e
obuses. Referia-se também nesses documentos que para se iludir as pistas, as
vendas ilegais de armas eram feitas através de empresas de fachada, com os
caixotes a referir que a carga se tratava de equipamentos técnicos, e peças
sobresselentes para maquinas agrículas e para a construção civil. Esta forma de
transportar armas foi-me confirmada várias vezes por Oliver North, no decorrer
da década de 80, até 1988, e quando estive em Ilopango, no El Salvador, também
na década de 80, verifiquei que era verdade.
Nestes
documentos lembro-me de ver que algumas armas vinham da empresa portuguesa Braço
de Prata, bem como referências de vendas de armas de Portugal e de países de
Leste, como a Polónia e a Bulgária, com destino para a Nicarágua, Irão, El
Salvador, Colombia, Panamá, bem como para alguns países Africanos que estavam
em guerra, como Angola, ANC da África do Sul, Nigéria, Mali, Zimbawe, Quénia,
Somália, Líbia, etc. Está também claramente referido nesses documentos que a
venda de armas é feita atraves da empresa criada em Portugal chamada
"Supermarket" (que operava através da empresa mãe "Black -
Eagle").
Nos
referidos documentos ví também que as vendas de armas eram legais através de
empresas portuguesas, mas também havia vendas de armas ilegais feitas por
empresas de fachada, com a lavagem de dinheiro em bancos suíços e
"off-shores" em nome dos detentores das contas, tanto pessoas civis
como militares.
As
vendas ilegais de armas ocuriam por várias razões, nomeadamente: Em primeiro
lugar muitos dos paises de destino, tinham oficialmente sanções e embargos de
armas. Em segundo lugar os EUA não queriam oficialmente apoiar ou vender armas
a certos países, nomeadamente aos contra da Nicarágua, ou ao Irão e ao Iraque,
a quem vendiam armas ao mesmo tempo, e sem conhecimento de ambos. Em terceiro
lugar a venda de armas ilegal é mais rentável e foge aos impostos. Em quanto
lugar a venda de armas ilegal permite o branqueamento de capitais, que depois
podiam ser aproveitados para outros fins. Entre os nomes que vi referidos
nestes documentos figuravam:
- José Avelino Avelar
- Coronel Vinhas
- General Diogo Neto
- Major Canto e Castro
- Empresário Zoio
- General Pezarat Correia
- General Franco Charais
- General Costa Gomes
- Major Lencastre Bernardo
- Coronel Robocho Vaz
-
Francisco Pinto Balsemão
Francisco
Balsemão e Lencastre Bernardo eram referidos como elementos de ligação ao grupo
Bildeberg e a Henry Kissinger, Francisco Balsemão pertence também à loja
maçónica "Pilgrim", que é anglo-saxónica, e dependente do grupo
Bildeberg. Lencastre Bernardo tinha também assinalada a sua ligação a alguns
serviços de inteligência, visto ele ser, nos anos 80, o coordenador na PJ e na
Polícia Judiciária Militar.
Entre
as empresas Portuguesas que realizavam as vendas de armas atrás referidas,
entre os anos 1974 e 1980, estavam referidas neste Dossier:
-
Fundição de Oeiras (morteiros, obuses e granadas)
- Cometna (engenhos explosivos e bombas)
- OGMA (Oficinas Gerais Militares de Fardamento e OGFE (Oficinas de Fardamento
do Exercito)
- Browning Viana S.A.
- A. Paukner Lda, que existe desde 1966
- Explosivos da Trafaria
- SPEL (Explosivos)
- INDEP (armamento ligeiro e monições)
- Montagrex Lda,
que
actuava desde 1977, com Canto e Castro e António José Avelar. Só foi contudo
oficialmene constituida em 1984, deixando, nessa altura, Canto e Castro de
fora, para não o comprometer com a operação de Camarate. A Montagrex Lda
operava no Campo Poqueno, e era liderada por António Avelar que era o braço
direito de Canto e Castro e também sócio dessa empresa. O escritório dessa
empresa no Campo Pequeno é um autentico “bunker", com portas blindadas,
sensores, alarmes, códigos nas portas, etc.
Canto
e Castro e António Avelar são também sócios da empresa inglesa BAE - Systems,
sediada no Reino Unido. Esta empresa vende sistemas de defesa, artilharia,
mísseis, munições, armas submarinas, minas e sobretudo sistemas de defesa
anti-mísseis para barcos.
Todos
estes negócios eram feitos, na sua maior parte, por ajuste directo, através de
brokers - intermediarios, que recebiam as suas comissões, pagas por oficiais do
Exército, Marinha, Aeronáutica, etc.
Nestes
documentos era referido que, como consequência desta vendas de armas, gerava-se
um fluxo considerável de dinheiro, a partir destas exportações, legais e
ilegais. Estes documentos referiam também a quem eram vendidas estas armas,
sobretudo a países em guerra, ou ligados ao terrorismo internacional. Era
também referido que todas estas vendas de armas eram feitas com a conivência da
autoridade da época, nomeadamente militares como o General Costa Gomes, o
General Rosa Coutinho (venda de armas a Angola) e o próprio Major Otelo Saraiva
de Carvalho ( venda de armas a Moçambique). Vi várias vezes o nome de Rosa
Coutinho nestes documentos, que nas vendas de armas para Angola utilizava como
intermediário o general reformado angolano, José Pedro Castro, bastante ligado
ao MPLA, que hoje dispõe de uma fortuna avaliada em mais de 500 milhões de USD,
e que dividia o seu tempo entre Angola, Portugal e Paris. O seu filho, Bruno
Castro é director adjunto do Banco BIC em Angola.
No
referido dossier estavam também referidos outros militares envolvidos neste
negócio de armas, nomeadamente o Capitão Dinis de Almeida, o Coronel Corvacho,
o Vera Gomes e Carlos Fabião.
Todas
estas pessoas obtinham lucros fabulosos com estes negócios, muitas vezes mesmo
antes do 25 de Abril de 1974 e até 1980. Era referido que estas pessoas,
nomeadamente militares, que ajudavam nesta venda de armas, beneficiavam através
de comissões que recebiam. Estavam referidos neste Dossier os nomes de
"off-shores", que eram usadas para pagar comissões às pessoas atrás
referidas e a outros estrangeiros, por Oliver North ou por outros enviados da
CIA. Estas "off-shores" detinham contas bancárias, sempre numeradas.
Esta
referência batia certo com o que Oliver north sempre me contou, de que o
negócio das armas se proporciona através de "off-shores" e bancos
controlados para a lavagem de dinheiro.
Vale
a pena a este respeito referir que no negócio das armas, empresas do sector das
obras públicas aparecem frequentemente associadas, como a Haliburton, a Carlyle,
ou a Blackwater, (empresa de armas, construção e mercenários), entre outras.
Esta relação está referida, há anos, em vários relatórios, nomeadamente nos
relatórios do Bribe Payer Index (indice internacional dos pagadores de
subornos), que é uma agencia americana. A indicação deste tipo de práticas foi
desenvolvida mais tarde, pela Transparency International e pelo Comité Norte
Americanos de Coordenação e Promoção do Comercio do Senado Americano, que
referem que há muitos anos , mais de 50% do negócio e comercio de armas em
Portugal, é feito através de subornos. Os americanos sempre usaram Portugal
para o tráfico de armas, fazendo também funcionar a Base das Lajes, nos Açores,
para este efeito, nomeadamente depois de 1973, aquando da guerra do Yom Kippur,
entre Israel e os países árabes. Este tráfico de armas deu origem a várias
contrapartidas financeiras, nomeadamente através da FLAD, que foi usada pela
CIA para este efeito. A FLAD recebeu diversos fundos específicos para a
requalificação de recursos humanos.
Não
ví contudo neste Dossier observações referindo referindo que estas vendas de
armas eram condenáveis ou que tinham efeitos negativos. Havia contudo uma
pequena nota, em que algumas folhas de que se devia tomar cuidade com tudo o
que aí estava escrito, e que portanto se devia actuar. Havia também na primeira
página um carimbo que dizia "confidentical and restricted".
Estas
vendas de armas continuaram contudo depois de 1980. Tanto quanto eu sei, estas
vendas de armas continuaram a ser realizadas até 2004, embora com um
abrandamento importante a partir de 1984, a partir do escandalo das fardas
vendidas à Polónia.
No
referido Dossier estavam também referidas personalidades americanas envolvidas
no negócio de armas, nomeadamente Bush (Pai), dick Cheney, Frank Carlucci,
Donald Gregg, vários militares, bem como a empresas como a Blackwater. são
ainda referidas empresas ligadas aos EUA, como a Carlyle, Haliburton, Black
Eagle Enterprise, etc, que estavam a usar Portugal para os seus fins, tanto
pela passagem de armas através de portos portugueses, como pelo fornecimento de
armas a partir de empresas portuguesas. Tirei apontamentos desses documentos,
que ainda hoje tenho em meu poder.
A
empresa atrás referida, denominada Supermarket, foi criada em Portugal em 1978,
e operava através da empresa mão, de nome Black-Eagle, dirigida por William
Casey, (membro do CFR (counceil for Foreign Affairs and Relations),
ex-embaixador dos EUA nas Honduras e também com ligações à CIA). A empresa
supermarker organizava a compra de armas de fabrico soviético, através de
Portugal, bem como a compra de armas e munições portuguesas, referidas
anteriormente, com toda a cumplicidade de Oliver North. Estas armas iam para
entrepostos nas Honduras, antes de serem enviadas para os seus destinos finais.
Oliver North pagou muitas facturas destas compras em Portugal, através de uma
empresa chamada Gretsh World, que servia de fachada à Supermarket. Mais tarde,
cerca de 1985, quando se começou muito a falar de camarate, Oliver North cancelou
a operação "Supermarket, e fechou todas as contas bancárias.
Devo
ainda referir que William Hasselberg e outros americanos da embaixada dos EUA,
em Lisboa, comentaram comigo, várias vezes o que estava escrito neste Dossier.
Relativamente
a Hasselberg isso era lógico, pois foi ele que me deu o Dossier a ler. Posteriormente
comentei também o que estava escrito neste Dossier com Frank Carlucci, que
obviamente já tinha conhecimento da informação nele contida.Tanto William
Hasselberg, como membro da CIA, como outros elementos da CIA atrás referidos e
outros, comentaram várias vezes comigo o envolvimento da CIA na operação de
Camarate e neste negócio de armas. Lembro-me nomeadamente que quando alguém da
CIA, me apresentava a outro elemento da Cia, dizia frequentemente "this is
the portuguese guy, the one from Camarate, the case in Portugal with the
plane!".
As
vendas de armas, a partir e através de portugal, foram realizadas ao longo
desses anos, pois era do interesse politico dos EUA. A CIA organizou e
implementou estas vendas de armas em Portugal, à semelhança do que sucedeu
noutros países, pois era crucial para os EUA que certs armas chegassem aos
países referidos, de forma não oficial, tendo para isso utilizados militares e
empresários Portugueses, que acabaram também por beneficiar dessas endas.
Como
anteriormente referi, William Casei e Oliver North estavam, nas décadas
de 70 e 80 conluiados com o presidente Manuel Noriega, no escândalo Irão
- contras (Irangate). Foi sempre Oliver North que se ocupou da questão dos
refénsamericanos no Irão, bem como da situação da América Central.
Recebeu pessoalmente por isso uma carta de agradecimentos de George Bush Pai,
Vice Presidente à época de Ronald Reagan.
Devo
dizer a este respeito que John Bush, filho de Bush Pai, então com 35 anos, a viver
na Flórida, pertencia em 1979 e 1980 ao “Condado de Dade", que era e é uma
organização republicana, situada em South Florida, destinada a angariar fundos
para as campanhas eleitorais republicanas. John Bush era um dos organizadores
de apoios financeiros para os "contra" da Nicarágua.
Conheci
também Monzer Al Kasser um grande traficante de armas que tinha uma casa em
Puerto Banus em Marbella, e que me foi apresentado, em Paris, por Oliver North,
em 1979.
Era
um dos grandes vendedores de armas para os “Contra” na Nicarágua, trabalhando
simultaneamente para os serviços secretos sírios, búlgaros e polacos. Na sua
casa em Marbella, referiu-me também que, por vezes, o tráfico de armas era
feito através de África, para que no Iraque não se apercebessem da sua
proveniência, pois também vendiam ao mesmo tempo ao Irão e mesmoa Portugal.
Este tráfico de armas, que estava em curso, desde há vários anos, em 1980, e o
começo do caso Camarate.
Através
de Al Kasser conheci, em Marbella, no final de 1981, outro famoso traficante de
armas, numa festa em casa de Monzer, que se chamava Adrian Kashogi. Kashogi,
como pude testemunhar em sua casa, tinha relações com políticos e empresários
europeus, árabes e africanos, por regra ligados ao tráfico de armas e drogas.
Sou
preso em 1986, acusado de tráfico de drogas. Esta prisão foi uma armadilha
montada pela DEA, por elementos que nessa organização não gostavam de mim, por
eu ter levado à detenção de alguns deles, como referi anteriormente. Fui então
levado para a prisão de Sintra. Estou na prisão com o Victor Pereira, que aí
também estava preso. Sei, em 1986, que estavam a preparar-se para me eliminar
na prisão, pelo que peço à minha mulher Elza, para ir falar, logo que possível
com Frank Carlucci. Em consequência disso recebo na prisão a visita de um
agente da CIA, chamado Carlston, juntamente com outro americano. estes, depois
de terem corrompido a direcção da prisão, incluindo o director, sub-director e
chefe da guarda, bem como um elemento que se reformou muito recentemente, da
Direcção Geral dos Serviços Prisionais, chamada Maria José de Matos, conseguem
a minha fuga da prisão. Contribuiu ainda para esta minha fuga, mediante o
recebimento de uma verba elevada, paga pelos referidos agentes americanos esta directora-adjunta
da Direcção Geral dos Serviços Prisionais. Estes agentes americanos obtêm
depois um helicóptero, que me transporta para a Lousã, onde fico cerca de 20
dias. Vou depois para Madrid, com a ajuda dos americanos, e depois daí ara o
Brasil. as despesas com a minha fuga da prisão custaram 25.000 euros, o que na
época era uma quantia elevada.
Só
mais tarde no Brasil, depois de 1986, é que referi a José Esteves que sabia que
Sá Carneiro ia no avião, contando-lhe a história toda. José Esteves, responde
então, que nesse caso, tinhamos corrido um grande risco. Eu tranquilizei-o,
referindo que sempre o apoiei e protegi neste atentado. Dei-lhe apoio no Brasil
no que pude. Assegurei-lhe também o transporte para o Brasil, obtendo-lhe um
passaporte no Governo Civil de lisboa, entreguei-lhe 750 contos que me foram
dados para esse efeito pela embaixada dos EUA, em Lisboa, e arranjei-lhe
o bilhete de avião de Madrid para o Rio de Janeiro . Na viagem de Lisboa para
Madrid, José Esteves foi levado por Victor Moura, um amigo comum. No Rio de
Janeiro ajudei-o a montar uma loja, numa roulote. Como trabalhava ainda para a
embaixada dos EUA, em Lisboa, estas despesas foram suportadas pela
Embaixada. Ficou no Brasil cerca de dois anos. Eu, contudo andava
constantemente em viagem.
José
Esteves recebe depois um telefonema de Francisco Pessoa de Portugal, onde
Francisco Pessoa o aconselha a voltar a Portugal, e a pedir protecção, a troco
de ir depor na Comissão de Inquerito Parlamentar sobre Camarate. Esse
telefonema foi gravado, mas José Esteves nunca chegou a obter uma protecção
formal.
Telefono
a Frank Carlucci, em 1987, pedindo-lhe para falar com ele pessoalmente. Ele
aceita, pelo que viajo do Brasil, via Miami, para Washington. Pergunto-lhe
então, em face do que se tinha falado de Camarate, qual seria a minha situação,
se corria perigo por causa de Camarate, e se continuarei, ou não a trabalhar
para a CIA. Frank Carlucci responde-me que sim, que continuarei a trabalhar
para a CIA, tendo efectivamente continuado a ser pago pela CIA até 1989. Frank
Carlucci confirma nessa reunião que puderam contar com a colaboração de
Penaguião na operação de Camarate, e que ele, Frank Carlucci, esteve a par
dessa participação.
Em
1994, foi-me novamente montada uma armadilha em portugal, por agentes da DEA
que não gostavam de mim, por causa da referida prisão de agentes seus,
denunciados por mim. Nesta armadilha participam também três agentes da DCITE -
Portuguesa, os hoje inspectores Tomé, Sintra e Teófilo Santiago. Depois desta
detenção, recebo a visita na prisão de Caxias de dois procuradores do
Ministério Público, um deles, se não estou em erro, chamado Femando Ventura,
enviados por Cunha Rodrigues, então Procurador Geral da República. Estes procuradores
referem-me que me podem ajudar no processo de droga de que sou acusado, desde
que eu me mantenha calado sobre o caso Camarate.
Por
ser verdade. e por entender que chegou o momento de contar todo o meu
envolvimento na operação de Camarate, em 4 de Dezembro de 1980, decidi realizar
a presente Declaração, por livre vontade. Não podendo já alterar a minha
participação nesta operação, que na altura estava longe de poder imaginar as
trágicas consequências que teria para os familiares das vítimas e para o país,
pude agora, ao menos, contar toda a verdade, para que fique para a História, e
para que nomeadamente os portugueses possam dela ter pleno conhecimento.
Não
quero, por ultimo, deixar de agradecer à minha mãe, à minha mulher Elza Simões,
que ao longo destes mais de 35 anos, tanto nos bons como nos maus monmentos,
sempre esteve a meu lado, suportando de forma extraordinária, todas as
dificuldades, ausências, e faltas de didicaçâo à familia que a minha profissão
implicava. Só uma grande mulher e um grande amor a mim tornaram possível este
comportamento. Quero também agradecer à minha filha Eliana, que sempre soube
aceitar as consequêncais que para si representavam a minha vida profissional,
nunca tendo deixado de ser carinhosa comigo. Finalmente quero agradecer à minha
mão que, ao longo de toda a minha vida me acarinhou e encorajou, apesar de nem
sempre concordar com as minhas opções de vida. A natureza da sua ajuda e apoio,
tiveram para mim uma importância excepcional, sem, as quais não teria
conseguido prosseguir, em muitos momentos da minha vida. Posso assim afirmar
que tive sempre o apoio de uma família excepcional, que foi para mim decisiva
nos bons e maus momentos da minha vida.
Lisboa,
26 de Março de 2012
Fernando
Farinha Simões
B.I.
n.º 7540306
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