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quarta-feira, 10 de outubro de 2012

A princesa Maya e os duendes Gorubos .





A princesa Maya e os duendes Gorubos .

Os duendes gorubos viviam na terceira gaveta do terceiro armário da terceira sala do terceiro prédio da terceira transversal da terceira rua depois da casa da princesa Maya. Era lá que ficava a creche aonde ela ia todo o dia da semana - menos sábado e domingo – para se encontrar com seus irmãos de creche.

Os gorubos eram pequenininhos e só apareciam quando queriam. Eram muito brincalhões e usavam uns chapéus verdes, pontudos, e tinham orelhas muito grandes. Todo dia quando as tias não estavam na sala de aula os gorubos saiam das gavetas e gritavam:

- Pocupagaruba... Pocupagaruba!

E a as crianças começavam a fazer bagunça. Não ouviam nada, mas os gorubos tinham o poder de se comunicar com as crianças dizendo aquelas palavras mágicas. Às vezes a bagunça era muito grande, e a tia entrava na sala dizendo:

- Ai, ai, ai... Que é que houve aqui? Parece que passou um furacão... Comportem-se e toca a arrumar tudo... Quem começou esta bagunça?

E as crianças olhavam sempre umas para as outras, sem saber quem tinha começado. Elas nem conheciam os gorubos. Nunca os tinham visto. Não sabiam que eram os gorubos. Mas cada uma das crianças sabia que todas eram muito bem comportadas e que alguma coisa as tinha levado a fazer aquela bagunça toda. Todas reconheciam que a sala estava bagunçada, tudo fora do lugar. Então elas fizeram uma reunião para tentar descobrir o que as fizera mudar de comportamento.

Armaram um esquema: quando a tia saísse da sala, ficariam quietas, e cada criança procuraria num lugar para ver se viam alguma coisa. Procuraram no saco de brinquedos, abriram todas as gavetas, mas nada. Quando olharam à volta, estava tudo desarrumado. Claro! Tinham mexido em tudo e tinha que estar desarrumado. Então arrumaram tudo outra vez e ficaram quietas esperando a tia. Quando viu tudo arrumado a tia disse:

- Olha só...Que lindo.. Tudo arrumado.. Vou dar-lhes um presente. Vamos fazer uma festa ! Vocês querem?

Ouviu-se uma algazarra, as crianças gritando, ao mesmo tempo, que queriam, perguntando se tinha bolo, bolo de quê, quantos pedaços para cada uma, se tinha refrigerante e qual era.

Enquanto comia um pedaço de bolo de chocolate, a princesa Maya disse para a tia:

- Sabe, tia, nós não sabemos porque bagunçamos a sala quando a senhora sai da sala, mas estamos pensando que pode ser alguma coisa que nos faz fazer isso, mas só faz isso conosco, porque quando a tia está, não há bagunça.

- E o que você acha que é? – Perguntou a tia.

-Não sei! Respondeu a princesa Maya, mas vamos descobrir.

Muitos dias se passaram, com as crianças cuidando da sala para ver se viam alguma coisa que as fizesse fazer bagunça, mas não descobriram nada, até que certo dia...

Foi depois de um trabalho que tiveram que fazer em grupo, depois do recreio, e que a tia tinha passado para fazerem. Ficaram ainda mais cansadas e a tia lhes perguntou se queriam dormir um pouco para descansar. E as crianças se deitaram, e se prepararam para dormir, mas a princesa Maya lembrou-se de continuar a procurar o que é que fazia as crianças fazerem bagunça. E ficou atenta entre um cochilo e outro. Ficou com os olhos quase fechados, olhando à volta, escutando tudo, até mosquito voando ao longe. De repente, olhou para um raio de luz que passava por debaixo da fresta da janela. Havia algo estranho no raio de luz. Ele tremia e os raios de luz não tremem. Passam retos, sempre na mesma direção. Concentrou o olhar, levantou-se devagarzinho e foi olhar. Mas ao tocar no raio de luz, sem querer, ficou pequenininha de repente, e então levou um tremendo susto ao ouvir uma grande gargalhada.

Na frente dela estava um ser enorme que a olhava com curiosidade, Tinha um chapéu verde, pontudo, e as orelhas muito grandes.

- Quem é você? – perguntou séria a princesa Maya, logo que o susto passou.

- Eu sou um gorubo. Vivo aqui com meus irmãos e irmãs e viajamos a uma velocidade muito grande, á velocidade da luz, que é o que se move à maior velocidade no Universo... Universo é esse espaço imenso onde vivem todas as estrelas e planetas. Agora estamos neste seu planeta, que é a Terra. Como se chama?- perguntou o gorubo.

- Chamo princesa Maya, tenho três anos, olha – e mostrou três dedinhos para o gorubo - e sei contar até um dois três quarenta cem. Em inglês também! Conhece minha mãe?

- Conheço – disse o gorubo. E continuou... Como vivemos em raios de luz que correm todo o universo, e iluminam tudo quando se encostam nas pessoas e nas coisas, conhecemos tudo e todos do Universo. Estamos presos nesta gaveta porque há poucos raios de luz. E este raio de luz que agora está batendo em nós é muito pequeno para podermos sair daqui...

- São vocês que nos fazem fazer essa bagunça toda quando a tia não está na sala?

O gorubo foi apanhado de surpresa. Não contava com aquela pergunta... E respondeu: - É... É... Quando estamos tristes, na escuridão da gaveta, gritamos - Pocupagaruba... Pocupagaruba! Para nos alegrarmos...

(Ao pronunciar as palavras, os outros gorubos acordaram e começaram a gritar - Pocupagaruba... Pocupagaruba! As crianças da creche acordaram e começaram a fazer bagunça. Não viram a princesa Maya e começaram a chamar a tia)

Entretanto, um dos gorubos perguntou para aquele que estava falando com a princesa Maya, o gorubão: - É esta princesa que nos vai tirar da gaveta? E o gorubo chefe disse: Não sei, mas ela pode.

- Eu acho que posso, disse a princesa Maya, mas primeiro tenho que voltar a ser grande. Como faço?

-Isso é simples... Disse o gorubão, basta sair deste raio de luz.

A princesa Maya então se afastou do raio de luz e logo começou a crescer rapidamente. Com a mão, abriu um pouco a janela e a sala foi inundada pela luz. A princesa Maya ainda pôde ver os gorubos sendo levados muito velozmente pelos raios de luz a caminho do Universo ou de outra creche. Diziam adeus à princesa Maya, agradecidos e felizes.

Quando os amiguinhos da princesa Maya a viram, disseram:

- Olha... Olha... A princesa Maya está aqui... Onde estava você, que ninguém viu?

E a princesa Maya disse:

- Eu estava num raio de luz salvando os gorubos da escuridão da gaveta, mas acho que vocês não vão acreditar...

(E contou para eles e para a tia que estava chegando toda preocupada, o que lhe acontecera... Mas parece que não acreditaram)

Rui Rodrigues

(É bom nunca parar de sonhar. São sempre os sonhos que se transformam em realidades, jamais as realidades em sonhos...)

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Mulheres - Homenagem a Amy Johnson


 

As mulheres são a nossa alegria, proporcionam-nos os carinhos de que necessitamos para levar a vida de forma equilibrada e têm méritos sem fim, dentre eles, a construção e a evolução da humanidade, uma tarefa a dividir equanimente.

Minha homenagem hoje vai para Miss Amy Johnson – Pioneira da aviação britânica.    


Em 1930 fez o primeiro vôo “solo” da Inglaterra (Croydon) até a Austrália (Darwin) em apenas 20 dias – recebeu o troféu Harmon. O governo australiano concedeu-lhe  o primeiro brevê feminino.

Em 1931 com o co-piloto Jack Humphreys foi a primeira a viajar de London até Moscovo em aproximadamente 21 horas.

Em 1932 casou-se com o piloto escocês Jim Mollison oito horas depois de o ter conhecido durante um vôo que fizeram juntos.

Em Julho de 1932 voou de Londres até Capetown na África do Sul, quebrando o Record que pertencia ao marido.

Em 1933 volta a voar com o marido desde Pendine Sands na Gales do Sul (Reino Unido) até os EUA – Bridgeport – Connecticut.  Os dois se machucaram. Depois de se recuperarem desfilaram para o público americano na Wall Street.

Em 1934, voaram de Londres até a Índia como parte de um rali – MacRobertson Air race, mas abandonaram por causa de pane no motor. Pousaram em Allahabad.

Em 1936 bateu o ultimo Record de sua vida, voando de Londres para a África do Sul.

Em 1938 separou-se do marido com tanta dor que reverteu seu nome para o de solteira.

Em 1940 , em plena segunda guerra mundial, ela e o marido fizeram parte da ATA – que transportava peças de aviões no território inglês, sendo ela promovida a primeiro oficial. O marido não.

Morte de Amy

Em 1941, saindo com tempo adverso, e fora de curso, a gasolina do avião acabou em pleno vôo e embora seu pára-quedas abrisse,  caiu na bacia do Tamisa. Estava viva quando a viram, mas quando o resgate chegou seu corpo já não foi visto e nunca encontrado.  Sobre este  incidente há um mistério; O vôo era secreto e no avião viajavam além dela, dois sujeitos , Fletcher e um sujeito que supostamente ela deveria largar em algum lugar. Esse sujeito foi visto com ela na água, mas seu corpo também desapareceu. Em 1999, Tom Mitchell, de Coroados, Sussex, afirmou ter atirado porque Amy teria errado a cor do código do dia por duas vezes ( cor de identificação trocada todos os dias só do conhecimento da força aérea britânica). Tom Mitchell disparou então 16 salvas de tiro e o avião mergulhou na bacia do Tamisa, o que leva a supor que Amy, vista ainda viva, sucumbiu pelos tiros. Segundo Tom Mitchell, foi-lhe pedido pelos oficiais da RAF que nunca contasse o sucedido.

Rui Rodrigues


PORQUE O PT PERDEU AS ELEIÇÕES -2012






Há gente muito boa no PT. Conheço algumas. Mas...

O PT começou com Lula, um líder de sindicato, no ABC, com um grande sonho, sem instrução, jamais deve ter lido – ou lhe leram – Karl Marx, Lênin, Freud, Mao tse Tung, mais porque não se interessava por isso do que por falta de oportunidade. Nessa época Lula não era nem socialista nem comunista. Não tinha esses ideais, nem era esse o seu discurso. Nunca fez administração pública, era um sindicalista que se relacionava com os empresários e os trabalhadores. Era isto que Lula conhecia. Para fazer um governo, Lula precisava de alguém que soubesse tudo o que ele não sabia, e o que Lula sabia era extremamente restrito às relações sindicais. Lula queria ser alguém na vida como “nunca na história deste país” existira: Um “Zé ninguém” que chegaria à presidência da República. Iludido, o povo pensava que Lula queria mudar o Brasil tornando-o mais justo. Fundou o PT.

Um dia, quando participava em Cubatão da abertura de uma loja para que Lula fizesse uma reunião com o pessoal do PT, comentei com umas assessoras dele porque razão Lula não tomava posições mais agressivas em relação à ditadura. A resposta foi que Lula não queria esse caminho. Ele chegaria, devagar e sempre, sem violência, à presidência do Brasil e acabaria com as diferenças sociais. Fiquei impressionado.

Depois de duas tentativas em que perdeu para Fernando Collor e Fernando Henrique Cardoso, Lula chegou à presidência, sim, e nela ficou 8 anos. O que mudou em seu governo? Sensivelmente nada. Saúde pública deficiente, país sem infra-estruturas com esgotos a céu aberto, vilas e cidades sem água potável e sem energia elétrica ou com apagões ou faltas esporádicas de energia, ensino deficiente e limitado, falta de segurança pública, total descontrole da economia com os Bancos cobrando os juros que querem, as empresas de telefonia cobrando tarifas altíssimas e limitando o sinal porque vendem mais do que sua capacidade de sinal, gente morrendo em filas de hospitais, os maiores impostos do mundo e índices de corrupção que colocam o governo do Brasil no 75º lugar em honestidade moral e ética. Um desastre completo também pela mentira: Conseguiram convencer a população que a classe C passou a ser classe media. O resultado foi um consumo exagerado por parte desta classe C que deve a Bancos o que não pode pagar. O programa do Álcool e de produção, distribuição e consumo de combustíveis renováveis não decolou. Continuamos dependentes do caro petróleo. Não houve construção de novas vias de escoamento da produção, como estradas interestaduais, ou alargamento onde necessário, vias férreas e o transporte desses bens é caro. Os portos são ineficientes. As “reformas” que tanto foram usadas em suas campanhas nunca foram efetivadas apesar das alianças com outros partidos.

Na década de 60 o mundo ainda se questionava se o comunismo e o socialismo poderiam ser a solução para sociedades mais justas, com menos diferenças sociais. Lula não era comunista nem socialista nem nunca foi. Tal como Martin Luther King, “tinha um sonho”.  Tinha também plena consciência de sua ignorância e de que era um ‘sapo barbudo” tal como o definiu o falecido Leonel Brizola. Brizola sabia que Lula não era comunista nem socialista. Nessa época, e ainda com os ecos das barricadas de Paris na consciência e na emoção, estudantes contestavam a sociedade, os governos e a educação nos colégios e nos lares. Alguns desses entraram numa simbiose com alguns revoltados e fundaram movimentos contra a ditadura que logo foram vistos com simpatia pela sociedade em geral. Eu também. Vi em Lula alguém que poderia acabar com a ditadura, tornar o Brasil mais socializado, melhorar o que tinha que ser melhorado. Da mesma forma pensou um grupo de terroristas que, com o fim da ditadura se uniram a Lula. Eles tinham na bagagem o que Lula necessitava: Conhecimento e o dom de “fazer acontecer”.  Para desenvolver o PT Lula não podia unir-se a reconhecidos “capitalistas”. Por isso se uniu a elementos-simbolo da luta contra a ditadura, mas se por uma lado Lula os usou, estes usaram Lula para ascender ao poder. O fato comum a todos eles, incluindo Lula, é a sua incapacidade de lidar com o capital: São reféns fáceis de quem o tem e os pode usar. Por isso mesmo, apesar de Lula estar no governo e o Pt ser maioria, quem continuou governando o Brasil foram os mesmos que sempre o governou: Os que pagam as eleições e sabem fazer opinião e marketing. Com eles viajou para o exterior, como figura decorativa para lhes vender os produtos que fabricam no Brasil. Finalmente, necessitando de mais experiência em ações de assalto a fundos para financiamento de projetos, une-se a Paulo Maluf, julgado, condenado, preso e solto que agora faz parte da “base aliada”, da qual fazem parte também Fernando Collor que já sofreu “impeachment”, e José Sarney o rico político maranhense.

O PT ficou assim dividido em três “vertentes”. Lula queria a melhoria do social. A base guerrilheira queria a revanche sobre a sociedade que os rejeitara no passado, e a classe empresarial, agora engrossada pela aplicação de capital estrangeiro, queria a exploração do mercado.  Assim não se faz nada, não se muda nada.

A população sabe que Lula ficou rico. Que seu filho ficou rico. Que os aliados de Lula ficaram ricos. Sabe também do mensalão – a compra de aquiescência de parlamentares em troca de milhões de reais em pagamento - e essa população sofre na própria carne o alto custo de vida e de impostos sem retorno em obras e serviços básicos.

A população brasileira não é burra. A terceira vertente - a dos investidores em governos - os empresários e banqueiros também sabem disso, e resolveram que Lula já tinha dado o que tinha a dar e a tendência seria descer na opinião pública. Lula não fez o que prometeu apesar de tanto capital disponível. Começaram a financiar outros partidos. O PSB desponta agora e pode vir a ser o partido da vez. Provavelmente, e dependendo de sua administração nas prefeituras para as quais se elegeu, poderá ganhar as próximas eleições em 2014, porque a união do PT ao PSDB não agradou aos cidadãos, perdendo votos nas duas facções.  

O PT não morreu, mas está moribundo!

Nestas eleições, 22.000.000 de eleitores anularam o voto ou não votaram, e o PSB demonstra que veio para atingir a preferência nacional.  



Ou querendo se transformar no “partido sombra” que puxa os cordéis de outros partidos fantoches ou laranjas no cenário político. Pratica em desviar verbas públicas tem. 

Rui Rodrigues

CASO VERÍDICO NO JAPÃO





CASO VERÍDICO NO JAPÃO


Na ocasião eu fazia um trabalho para qualificação no mestrado em Artes na UNESP e minha dissertação era sobre Escola de Samba, que considero a Ópera do Asfalto. Comparava os ritmos das Escolas de São Paulo, que são acelerados, com as do Rio de Janeiro, que são mais lentos. Frequentava a Escola de Samba Rosas de Ouro, onde colhia elementos para minhas pesquisas. Ela foi a vencedora do carnaval paulista naquele ano e foi convidada a se apresentar no Japão. O presidente, saudoso, Eduardo Basílio,  convidou-me a integrar os componentes que iriam como convidados a se apresentar numa Festa das Nações em Nagoya, no Japão.


Sobrou me ir fantasiada de baiana, com muitos colares, desses comprados na Rua 25 de março, vistosos, baratinhos, de plástico ou de vidro.


Fizemos inúmeras apresentações e uma apresentação especial ao rei do Japão, com a presença de todas as autoridades locais, uma pompa, com uma plateia de mais de 5 mil pessoas! E cada japonês possui no mínimo duas câmeras fotográficas cada um... Imaginem...


Numa das voltas do desfile, ao passar em frente da comitiva real, o governador da província se levantou e veio até a mim e tocou num dos meus colares que brilhavam, quebrando o protocolo. Imediatamente fiquei ofuscada com tanto brilho de flashes, que espocavam de todo lado. Tirei um dos colares e coloquei no pescoço do governador. Ouviu se um OOOOHHHH na plateia. Foi tudo filmado e fotografado e manchete nos jornais do dia seguinte. Ele permaneceu com o colar até o final da nossa apresentação, que era a mais importante e esperada do festival, quando as autoridades vieram nos cumprimentar pessoalmente no final do espetáculo.


Havia um intérprete ao lado do governador, que veio entregar-me o colar e agradecer. Respondi que era um presente meu a ele e que não precisava me devolver. O intérprete insistia comigo e eu com ele junto ao governador. Ele então beijou-me a mão, agradeceu e se foi.


Na manhã seguinte recebi, no hotel, um lindo colar de pérolas marinhas, iguais, lindo, com um cartão do governador e uma mensagem do rei a mim... Tenho- os até hoje...


Aí me disseram: __Você deveria ter dado era um monte desses seus colares, Marlene!



Marlene Caminhoto Nassa


quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Pressões sociais hoje- A Partilha do Queijo



 A partilha do queijo

Marcelo de Finizzio, dono de um restaurante em Trieste, norte de Itália, subiu a 137 metros de altura, na cúpula de S. Pedro no Vaticano, para reclamar contra a decisão da Comunidade Européia de colocar em leilão todas as concessões junto á praia. Quem não vir nesta decisão da União Européia um atentado contra a iniciativa privada, nem precisa ler o resto deste artigo. Ao colocar em leilão, certamente donos de hotéis e de grandes empresas serão beneficiadas porque têm mais capital. É o mesmo que um dia resolverem leiloar todas as pequenas propriedades agrícolas para grandes multinacionais. O povo está sendo alijado da propriedade e transformado em mecânicos artesãos, trabalhadores braçais e de prestação de serviços, perdem (i)legalmente a propriedade. É um caminho perigoso porque esta ação da Comunidade Econômica Européia se junta a algumas outras ao redor do mundo compondo um quadro onde é visível o extraordinário poder do capital nos dias de hoje, que chega a sobrepor-se ao bom senso, à lei – obrigando-a a alterações - e como vemos, à vontade política dos cidadãos, e ao Estado de Direito.

Até cerca de trinta anos atrás as pressões sociais eram exercidas sobre os governos que eram obrigados a contemporizar, rever as suas posições. Hoje as pressões sociais perdem a força, porque se criaram mecanismos, no seio do poder, para amortecimento destas pressões sem necessidade de repressão física ou moral. O sucesso desta realidade são as leis, que em vez de serem aprovadas pelos cidadãos, são aprovadas ou rejeitadas por “representantes” dos cidadãos que estão comprometidos com os Partidos, não com os cidadãos. Os Partidos políticos servem a quem lhes paga as eleições. É o capital que lhes paga.

O desfalecimento quase instantâneo do comunismo ao redor do mundo, sem revoluções, foi a porta de abertura para a invasão do capital que tomou de assalto as empresas estatais fundadas com dinheiros de impostos públicos, vendidas em leilão pelo mundo afora. Dado o alto valor dessas empresas, eram poucos os concorrentes, o que se prestou à manipulação das ofertas. Era a globalização. Como empresas privadas visam o lucro, e com o lucro ampliar seus negócios, em reinvestimentos contínuos, podemos antever o que sucederá a seguir: A queda do padrão de qualidade, o aumento do custo de vida, o empobrecimento dos serviços públicos. Mas antes que continuemos, que fique claro que o comunismo e o socialismo também não fizeram melhor. É necessária uma democracia participativa se os cidadãos desejarem mudar estas tendências.

Sobre como os grandes banqueiros do mundo se apoderaram das verbas públicas já foi fartamente discutido neste site em alguns artigos específicos, o que contribuiu para a queda do emprego público e a qualidade dos serviços, e, portanto, aumentou a pressão social que os governos tentam controlar.

A prévia abertura de Shoppings que centralizavam o comércio de bens de consumo diminuiu drasticamente o faturamento de muitas lojas de pequenos empreendedores e investidores, e do comércio de bairro, e foi certamente o sucesso destes empreendimentos que gerou a perspectiva da aglutinação de pequenos negócios em mãos de quem tem o capital para comprá-los. Como os donos não querem vender, o que parece óbvio, faz-se necessária, por parte do capital, a implantação de medidas emanadas de governos para legalizar o que antes parecia um atentado à propriedade. Aparentemente, vemos um comunismo capitalista agindo sobre populações democraticamente agora comunistas na divisão das migalhas que vão sobrando da mesa do capital. E cada vez sobram menos migalhas, como enorme queijo que seria o comercio mundial, sendo comido por ratos, cuja comilança tem um limite: o número de ratos e o tamanho do queijo, sinal de que um dia, não se sabe quando, o queijo acaba e os ratos morrem. É um alívio saber disso, que a impunidade não dura sempre. Já aconteceu isso com as teocracias, com as realezas, com o comunismo, e acontecerá certamente com o capitalismo. O mundo evolui rumo a caminho incerto.   

Repare-se, por exemplo, nos deficientes serviços de telefonia, mesmo em banda larga: Pode reclamar à vontade que não será completamente atendido, porque os juízes são pagos pelo Estado, as leis são permissivas e dúbias, por vezes prolixas, a burocracia cansa o cidadão e custa caro, perde-se tempo que é necessário para não faltar ao emprego e ganhar o seu salário. Experimente reclamar sobre os serviços de energia elétrica ou sobre o custo da água, ou sobre a falta de serviços de infra-estruturas... Nada diferente, e as esperas e deficiências para consultas e intervenções em hospitais públicos ou em clinicas associadas a planos de saúde, segue o mesmo processo de frustração pela impotência em resolver estes atentados à justiça e ao bom senso do que se entende por democracia.

Estradas construídas sob contrato para durarem tinta anos, não duram cinco com transito normal, e para não interferir no “lucro” das empresas rodoviárias de transporte, não há balanças nas estradas para fiscalizar o peso dos caminhões, que, como se sabe, com carga em excesso diminuem a vida útil de pontes, estradas, ruas, barcaças de transporte e podem causar desastres com perdas irreparáveis. Podem implantar reservas florestais à vontade, mas alegando falta de recursos alocam meia dúzia de fiscais e um par de viaturas que usam até ponto de sucata para vigiar essas áreas por vezes imensas, o que lhes provoca a invasão e a deterioração, e torna inócuas as leis.

E são muitos os exemplos ao redor do mundo que cada cidadão, ao ler este artigo certamente se lembrará de imediato por lhe afetarem seriamente a vida. Uma vida que se irá deteriorar ao longo da próxima década se equilibrará e permanecerá estável por pelo menos uma centena de anos. A menos que haja movimentos mundiais mudando esta tendência. Antigamente dizia-se que a humanidade cuidava do futuro de seus filhos, mas com o decréscimo da natalidade – porque o custo de vida e o trabalho não permitem ter e cuidar de filhos – é possível que a humanidade escolha simplesmente viver o momento, a vida, e assistir calmamente os ratos comerem o queijo, devidamente protegidos por alfarrábios de novas leis, polícia com ares de exército, exército com ares de cavaleiros apocalípticos, enquanto toma a sua coca-cola, come um hambúrguer gorduroso, mas saboroso, assistindo a um show publico pago a peso de ouro pelos poderes públicos com o dinheiro dos cidadãos.

Não temos ainda um consenso sobre este novo capítulo das eras da humanidade, algo parecido com uma séria revolta do capital contra as limitações do Estado de direito. O povo não tem a mínima participação na escolha de seu destino.E incrívelmente, são os ratos que nos montam armadilhas.



Rui Rodrigues

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Fotografia de um segundo no tempo



Fotografia digital de um segundo

Do instante zero até o final do tempo de um segundo, registrei:

Uma gambá esfomeada que escolheu o meu telhado para ninho, passou pelo jardim comendo os restos de verdura que lhe deixo por amor e consideração, não por pena; O funeral de Hebe Camargo estava cheio de fãs, tristes como eu, que provavelmente não pensaram nos milhões de doentes com a mesma doença, porque os investimentos e as despesas pessoais e dos governos se concentram na mídia que dá fama, e outros devaneios, e não em centros de pesquisa que possam curar; Na TV ouviu-se um tiro, e um personagem caiu morto, como tantos outros personagens que nos reportam para a via real: Mais real do que as fantasias do cinema, que até já não o são; nunca mais vi minha mãe depois dos quatro anos e ela faleceu de câncer quando eu tinha dez anos, e nesse tempo todo, que hoje estou com 67, o número de casos aumentou, as mortes tanto quanto isso; nos EUA há eleições para não mudar nada, porque republicanos são democratas e os democratas são republicanos; lamento muito que minha gata tenha sido castrada, porque é linda e amiga de verdade, e seus filhotes provavelmente também o seriam; o Papa do Vaticano vê o mundo em guerra e visita países onde não há guerra, fala uma vez por ano conclamando á paz, mas é uma andorinha parada que não faz verão; minha gata não sabe o que são preocupações mas olha, perscruta, cuida, cheira tudo, cuidando do que para mim não é importante, mas que ela julga que é, e me lembrei do povo nas votações atuais para prefeitos e vereadores, cuidando do que não importa, como frases vãs, beleza dos candidatos, matando formigas com os pés, tigres e jacarés passando em suas costas por propaganda que desvirtua; ouvir as ondas do mar que chegam até aqui, imaginar veleiros, mares cheios de peixe, águas límpidas de séculos atrás e o quanto se descuidou do asseio do planeta que as florestas desapareceram, os mares se poluíram, os rios carregam águas pútridas, o ar causa cânceres, os alimentos matam; em algum lugar de S. Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Brasília, Porto Alegre, por exemplo e neste instante, pessoas são mortas por traficantes, bandidos assaltam bancos e casas comerciais, o governo dá desculpas e não resolve, mas quer que se reelejam os mesmos de sempre ou outros treinados que serão iguais aos de sempre; uma de minhas aves, coisa estranha que nunca vi, não bota ovos, nem canta de galo, não sei porque razão, mas merece todo o respeito das outras aves, porque o deixam comer sem interferir, os galos não o montam e não consigo rir porque dá no que pensar; e meu filho em Barcelona numa época de crise, a Catalunha querendo separar-se da Espanha com toda a razão, o resto da família está bem; o povo sírio sendo dizimado por um ditador e por questões que se desconhecem por completo, China e Rússia vetam intervenção em nome de uma legalidade ilegal, fruto de suas próprias convicções de que o povo, haja o que houver, tem que ser irrestritamente fiel ao governo mesmo que este o mate; nunca vi ou senti que minha gata soltasse um peido, coisa incrível, porque cachorros peidam e seria natural que gatos e gatas também, ou então, a minha é muito dissimulada; Já foi o tempo em que os galos cantavam por volta das cinco horas da manhã para despertar, quando havia sinos de igrejas mas agora sem igrejas, sem sinos, cantam a qualquer hora por falta de referência; a fornecedora de energia, a AMPLA, hoje, e só hoje, ainda não falhou com a energia elétrica senão teria perdido a vontade de escrever estas linhas, e a VIVO, que me permite enviar bytes pela NET voltou à velocidade razoável, quase nunca conseguida, porque o sinal é deficiente nesta localidade; Sarney continua lá ganhando uma exorbitância e o país nem por isso melhora onde como e quando deve e pode melhorar; com igrejas que não têm sino e sem sinos que já não se colocam em igrejas, meu galo canta a qualquer hora, mas não será por isso que o mandarei para a panela; quando eu morrer não quero choro nem vela, quero uma fita amarela gravada com o nome dela.

Rui Rodrigues
Das 02:40: 50 às 02:40: 51

12- O ser humano e a humanidade



12 – O ser humano e a humanidade


Hoje não fui à praia. Estava chovendo e resolvi ficar em casa. Pensava como é costume, no modo como as sociedades se relacionam entre si, buscando respostas para a conturbada história da humanidade. Tal como todo mundo que se preocupa com a própria existência e das sociedades em que vive. Filósofos, paleontólogos, sociólogos, escritores, poetas, parece que todos vivemos em torno destas questões. Como sempre, se Deus não me der as respostas eu mesmo não serei capaz de encontrá-las. Com o barulho da chuva no piso exterior á casa e nas folhas das árvores balançadas pelo vento, comecei a escrever.

A humanidade, conjunto de todos os seres humanos, li em vários livros de ciências e em livros religiosos, começou há milhões de anos, e segundo as mais recentes estimativas científicas, há cerca de 4,2 milhões de anos mais exatamente. Os livros sagrados dizem isso também, não com a mesma exatidão, nem com a mesma riqueza científica de detalhes, porque seus textos foram escritos há muitos séculos e nada se conhecia da verdade, no que pese a afirmação de que os livros foram escritos sob inspiração divina. A ser assim, Deus não poderia enganar-se nos detalhes. Provavelmente os que começaram a tradição oral que deu origem aos livros se equivocaram, e muito, quanto á origem da humanidade, quer na forma como se iniciou, quer nos métodos e detalhes em que evoluiu. Sintomático de que não entenderam a inspiração divina reside no fato de que cada sociedade entendeu o Criador de forma diferente, levando nações a guerras sangrentas, algumas das quais ainda não acabaram, estando apenas ligeiramente adormecidas e latentes. Cada nação afirma que seu Deus é mais poderoso e melhor do que o Deus das demais. Sendo único, ou nenhuma entendeu Deus, e então Deus será um tanto ou quanto diferente de como O imaginam, ou trata-se de algo difícil de adjetivar sem pecar pelo politicamente correto.

A ter Deus criado o homem – e a mulher – à Sua natureza, teríamos um Deus realmente muito complicado, porque é assim que se apresenta a humanidade na forma como tem agido ao longo desses milhões de anos. Parece ser mais eficiente e verdadeiro pensar que o homem, e a mulher são fruto de uma natureza criada por Deus que lhe deu um impulso inicial permitindo a vida e a evolução, de tal forma que um planeta “Gaia” como a Terra, se auto-sustenta não importando que espécie herde a sua superfície, os mares e os ares. Assim, homem e mulher, fruto de uma evolução permitida pelo Criador, são autônomos e independentes para escolherem os seus próprios caminhos.

Basicamente a humanidade vive num relativo equilíbrio dividida em nações, cada uma com suas próprias características idiossincráticas, perpetuadas por séculos de tradições, crenças, costumes, características genéticas.  Cada nação, por sua vez, pode apresentar várias etnias, ou sociedades diferenciadas em função da evolução regional. De modo geral cada nação se divide em sub-regiões com seu próprio governo mais ou menos autônomo, governado o conjunto por um governo central. As leis regionais e as gerais mantêm um nível de ordem que se destina não só a atender as exigências do governo central e regional, como a promover o bem estar social geral.
Mas de modo geral, vemos que ao longo da história têm sido muitas as divergências entre as sociedades e os governos, e entre as nações entre si mesmas. São muitas as causas de tais divergências nas particularidades, mas sempre fundamentadas na religiosidade, na economia, ou na pressão governamental sobre as populações. Uns atribuem a culpa aos governos, outros às sociedades. Aos governos porque tomam decisões equivocadas, ás sociedades porque não escolhem bem os seus governos ou a eles se submetem sem reclamar. As religiões que raramente falam da vida no planeta, preparando os fieis para a vida do além, influenciam as respectivas sociedades impelindo-as para a guerra quando acham conveniente. Fazem-no sempre em nome do seu Deus.

Qual então o papel que não é bem desempenhado pelos seres humanos de forma a tornar as sociedades e a própria humanidade numa espécie que seja auto sustentável num planeta que se auto sustenta? Vivendo em revoluções e guerras como vem acontecendo há milhões de anos sem nunca mais acabar? Deve haver um outro caminho.

E então ouvi a resposta.

- Cada ser humano possui uma carga genética quase imperceptível que o diferencia de outro ser humano. Este fator aliado à educação que sofre no lar e de grupos em que participa, aceitando ou rejeitando a influência, tornam-no um ser único com opinião própria, ainda que a opinião seja a de seguir a opinião de outros por falta de conhecimentos, por submissão ou por preguiça de pensar. Assim é a humanidade que escolhe os seus caminhos todos os dias, a todo o segundo que passa.

E continuou:

- Cada ser humano dá também a sua contribuição todos os dias, a todo segundo que passa, mas prevalece algo que é indefinível a cada momento: o caminho próprio da humanidade como resultante de todos os atos dos seres humanos que a compõem. É como se cada ser humano fosse um vetor, e o vetor resultante fosse o caminho da humanidade. Assim, quando aparece algum ser humano que lidere um movimento que a maioria ache importante, a humanidade começa a mover-se no sentido dessa liderança, seja ela de arte, de moda, de política, filosofia ou qualquer outra manifestação. Os seres humanos tendem a identificarem-se uns com os outros, numa clara demonstração de humanidade, mas é mais do que isso, porque inclui o receio de uma exclusão do meio se não seguir a “onda”. Por isso muitos vão aos templos mas não são religiosos. Por isso muitos dizem sim até mesmo quando não têm opinião, e muitos votam num candidato porque lhe disseram os mais próximos que nele iriam votar.  A moda das saias curtas não poderia ter aparecido antes de Mary Quant. Mary Quant lançou a moda depois da invenção da pílula que libertaria sexualmente a mulher. O movimento de libertação da mulher, vilipendiada, denegrida e ignorada nos livros bíblicos, depois da invenção da pílula nunca mais parou. Ou seja, a própria humanidade conserta o que está equivocado. A humanidade faz parte da natureza e esta é auto-suficiente: repara os próprios erros ao longo do tempo. Assim como a natureza parece não ter pressa numa escala do tempo, assim à humanidade lhe parece também não haver pressa em mudanças radicais. E não tem pressa, mesmo que algum líder lhe tente mudar os rumos. Uma parte dela pode segui-lo enquanto a outra espera os efeitos. Depois decide.

E finalizou:

- Cada um expressa a sua opinião mesmo em regimes, seitas ou grupos em que lhe proíbem a sua manifestação. O resultado da troca de informações seja qual for, não pode ser tomada como definitiva, porque em decorrência da opinião geral são tomadas ações que na prática comprovarão o interesse ou desinteresse por determinada opinião ou filosofia política, econômica ou religiosa. O tempo resolve tudo, e muitas vezes podem ver o retorno a velhas idéias, filosofias, ou a evolução das que foram seguidas. De qualquer forma, nenhuma “verdade” é perene. Tudo evolui e somente duas manifestações da humanidade se têm mostrado quase que estagnadas: as filosofias religiosas e políticas. Se a humanidade não tomar cuidados, cada ser humano de per si, o resultado poderá ser catastrófico, e certamente o desastre virá da vontade que alguns seres humanos têm de que sua opinião prevaleça. Essa vontade vem da vaidade ou da ganância, ambição. A maior “virada” na evolução da humanidade virá quando os velhos modos de governar mudarem radicalmente. Os seres humanos devem escolher o seu presente e o seu futuro vigiando os que governam e dizendo-lhes pelo voto como querem ser governados. Fica fácil entender o que digo, se pensarem que um presidente ou primeiro ministro têm o poder de declarar guerra ou lançar bombas atômicas sem consultar as suas populações. Não só para isto, mas para tudo, é a nação que deve dizer o que quer aos governos e não estes a ela. As religiões têm que evoluir para acompanhar, porque nos últimos seis mil anos ninguém se atreveu a dizer que eu falei algo para alguém ou apareci em alguma sarça ardente.

Acordei no dia seguinte. A chuva tinha parado. A partir daquele dia, comecei a entender a humanidade como algo independente que segue o seu caminho, muito mais importante do que o caminho de cada um de nós. Eu já me sentia um quase nada comparado ao tamanho do Universo. Menos até do que quase nada me sentia agora, porque por mais importância que me pudesse dar, a da humanidade é muito maior. Sete bilhões e meio de vezes maior...

Era o décimo segundo dia e a décima segunda vez que me acontecia.


Rui Rodrigues e a "voz do vento" 

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

As belas pernas de Louise





O banheiro é arrumado, e o quarto também. No resto da casa não há uma ordem aparente, mas se tirarem algo do lugar, eu noto. Sou assim, cuido do essencial, o que é mais importante, o que me permite sobrar sempre tempo para tudo. Ou quase. Quando o pó incomoda, varro em um par de minutos e está limpo. Como não esperava ninguém, deixei o pó descansar, fui até o bar da cozinha e me servi de um Bourbon cow-boy. Dizem que whiskey é escocês, mas o Bourbon não lhe deve nada e não bebo a Escócia por mais que me seja simpática: Bebo o Whiskey que produzem por lá. E o da Irlanda também é bom. Tudo depende do carinho na produção. Mas isto foi apenas um devaneio para chegar á palavra “carinho”. Meu subconsciente me entende e de vez em quando aflora com os termos certos, parecendo que sabe o que quero. Passei a desejar Louise. Foi a primeira que me veio à cabeça entre velhas lembranças, antigas paixões, recentes desejos, premonições do futuro. Poderia estar aqui, todos os dias, mas não está nem estará porque o pó se tira quando incomoda e não todos os dias em horário pré-determinado. Nem pensar que é por causa do pó que ela não vive comigo todos os dias. Nada como desejar uma mulher e, para desejar, ela não pode estar disponível a qualquer momento, o que é muito diferente de dizer que não está disponível por qualquer motivo. Por isso elas se enlouquecem com amantes e nós, homens, também. Se os casamentos fossem assim, duravam mais. Ou não. Mas isso era outro devaneio meu. Nada tem que ser como deve ser para manter a curiosidade, a surpresa, o interesse e até o susto. Não podia imaginar, como estou imaginando, as belas pernas róseas de Louise emolduradas por sapatos pretos, meias de seda suavemente pretas, despontando desejos desde os pés até o encontro com a borda da saia, onde o real passa à imaginação, ou a imaginação passa à realidade quando a deixa cair suavemente. É uma viagem. Seus tornozelos perfeitos, uma leve barriga de perna, joelhos redondos, coxas fartas e bem delineadas. É o andar de Louise que, tal como numa orquestra, acompanha, emoldura, lhe realça as belas pernas e me provoca o desejo de ir mais além, por onde se pode entrar no paraíso dos delírios que, entre vais e vens nem sempre suaves, nem sempre emotivos, nos fazem explodir em alegrias muito mais intensas de quem sobe a pódios, é eleito presidente da república, ganha o prêmio Nobel, é pai pela primeira vez, ganha sozinho o prêmio da loteria. Sozinho? Bem, não creio que Louise tenha outro em sua vida. Não me julgo machista, mas ficaria meio desanimado de soubesse que só a perna esquerda – ou a direita – dela, é dividida comigo. Não é uma questão de direitos de propriedade sobre ela. È mais do que isso: É a doce ilusão de que sou o escolhido por ela para passarmos momentos íntimos e confidenciais, ou, ainda melhor, sou o “eleito”, “the one”, “o tal”. Resolvi fazer um teste tão infantil quanto minha compulsão para não dividir os meus amores com os outros. Quando chegou, e depois de bons momentos passados no frio, colados na cama, propus-lhe que fizesse uma tatuagem pequena na perna que a fizesse lembrar-se de mim. Gostou da idéia. Eu também, não só por sua demonstração de amor, mas também porque se eu tivesse um desafeto, certamente por ciúmes ele lhe pediria que fizesse outra na outra perna.

E o tempo passou. Vários encontros, e Louise nem é uma mulher realmente bonita. Para mim, é. Satisfaz meus desejos e meu ego. Melhor que chocolate no inverno.
Um dia chegou de meia calça preta, delineando-lhe as pernas e a silhueta, um sorriso maroto, adiantando a frase que me poria na expectativa de uma surpresa.

- Tenho uma surpresa para você, mas tem que me despir peça por peça.

Já tinha passado tanto tempo que já me esquecera de meu pedido para que fizesse uma tatuagem e jamais me passara pela cabeça fazer o pedido duas vezes. Então comecei a despi-la. Primeiro a blusa, depois o sutiã. Beijei-lhes os seios, os mamilos duros, em pé, pedindo-me que a despisse toda, lhe fizesse o corpo rolar na cama, levá-la ao êxtase.  Depois despi-lhe a saia. Fiz um pequeno intervalo e tirei minha própria roupa. Ser-me-ia impossível ver Louise nua e eu ainda vestido. Quando acabei, tirei-lhe a meia calça. Quando me preparava para lhe tirar os sapatos, eu vi. Eram duas tatuagens. Uma num tornozelo, pelo lado de dentro, e outra no outro, na outra perna.

- Fez duas, paixão? Perguntei-lhe mais curioso do que agradavelmente surpreendido.

-Fiz! – Respondeu. A da perna esquerda é para me lembrar de você. Escolhi um besourinho que sempre me anda cutucando o corpo e não pára quieto. A outra, um coelho, que é para me lembrar de meu pai que sempre me dava ovos de chocolate de Páscoa, enormes: Os dois homens de minha vida.

Fiquei tranqüilo. Louise, além das lindas pernas, tinha belos sentimentos, mas não estranhei muito quando anos depois se casou com Francivelto Nunes Coelho, famoso jogador de futebol.

Rui Rodrigues

terça-feira, 25 de setembro de 2012

Crise mundial. Sou paciente. Tenho paciência.





Crise mundial. Sou paciente. Tenho paciência.

Já vi algumas revoluções acontecerem pelo mundo, mas nenhuma parecida com esta, que estamos vivendo, mas sei que também passará. Tudo nesta vida passa. O problema é sempre se passa antes que nós passemos também desta vida, ou depois.

Um dia darão na história um nome para esta revolução macia, surda, tramada nos bastidores da democracia e que está causando sofrimento no mundo inteiro, de norte a sul, de leste a oeste.

Trata-se, em suma, do assalto aos cofres públicos por empresas nacionais e multinacionais, ao redor do mundo, sob a alegação de que criam empregos.

Um resumo muito sucinto e compreensível poderá ser como este:

  1. Com a queda do muro de Berlim e a incapacidade do comunismo de resolver seus problemas de planejamento, produção, crescimento, cai o muro de Berlim como símbolo do inicio do fim do comunismo e cria-se um vácuo na política internacional: O capitalismo já não tem adversário. Os trabalhadores ficam órfãos. Os sindicatos começam a perder a força.
  2. Como numa balança, o capitalismo tradicional tende para a esquerda sem deixar de ser direita e o outro capitalismo, o da ambição desenfreada ou selvagem, ocupa a extrema direita.
  3. Inicia-se o processo de globalização. Governos de todo o mundo começam a vender o seu ativo: as Estatais, que já não davam “lucro” por serem cabides de emprego de políticos influentes, cada um na sua estatal, e que lhes exauriam as verbas. Como as estatais tinham prejuízo pela ação dos políticos, nada mais natural que essa corrupção se estendesse às novas empresas, modificando-se o sistema de distribuição dos “lucros”.
  4. O primeiro impacto foi a diminuição dos postos de trabalho. Para dar lucro era necessário enxugar as empresas que antes eram estatais. Muitos desempregados deixaram de poder pagar as suas contas nos bancos aos quais haviam pedido crédito. A força dos sindicatos continuou em descida.
  5. Em 2008 três Bancos deram sinais de inadimplência devido, ao que se legou, a deficiente administração nos empréstimos imobiliários. Apavorados com a possibilidade de uma crise nas proporções da de 1929, os governos de todo o mundo, comprados ou não pelos banqueiros, decidiram ceder verbas públicas, produto de impostos, a Bancos. A qualidade dos serviços públicos piorou, os governos ficaram sem lastro, as empresas de avaliação da capacidade de liquidez bancaria rebaixaram as notas desses países que cederam verbas públicas e a desconfiança no mercado se instalou definitivamente. Os próprios Bancos retiveram esse dinheiro com medo de não o terem de volta.
  6. O que se desejava evitar, a crise, diziam, ainda não terminou em 2012. Os juros subiram. Os Bancos ficaram com o dinheiro dos governos, receberam juros de até 200% ao ano de empréstimos em cartão de crédito no Brasil, e atingiu níveis exorbitantes na Grécia, na Espanha, na Itália, em Portugal e em outros países.
  7. Começaram os movimentos de indignados nas ruas, como o de NY, e os da Grécia, Inglaterra, Espanha, Itália. O Chile foi para as ruas reclamando melhor educação. Este movimento, nascido em 2010, terminou como por encanto em meados de 2012 sem que o panorama econômico mundial melhorasse.
  8. O mundo árabe da África do Norte exige democracia e explode na primavera árabe quebrando velhos tabus do Islã: Da vontade ou não de Alah, nenhum governante islâmico passaria a poder eternizar-se no poder.  
  9. O mundo, em 2012 entra numa fase de economia de guerra, todos os cidadãos e governos trabalhando para pagar dívidas a banqueiros.
  10. Os sindicatos já não têm a mínima força, a democracia transformou-se numa ditadura do capital, as grandes empresas servem os seus produtos como querem, os cidadãos não têm a quem reclamar, ou se reclamam não há quem os ouça e tome uma atitude. Impera o desânimo, empresas e governos reinam absolutos. O povo nem sai para as ruas. Governos extremistas e ditatoriais gritam seus últimos gritos impotentes. O capital tem que ser aberto às nações, como os chineses já foram obrigados a abrir seus portos no passado.
  11. Decresce a qualidade dos serviços porque os Estados são coniventes. Bancos e empresas  apresentam lucros Record, os ativos dos tesouros nacionais diminuem quase à beira da falência como nação.
  12. Sem confiança no mercado a nível internaional, o capital imobiliza-se esperando melhores dias, cai o emprego, os governos recebem menos impostos, mas ainda há o suficiente para satisfazer as ambições de empresarios, políticos, banqueiros. Um dia não será suficiente.  A crise arrasta-se.

Excelentes economistas “políticos” poderiam ter planejado esta crise como planejaram a de 1929. Eu não duvido.

No entanto, este relativo silêncio das massas cheira-me a “déjá vue”. Lembra-me o estourar de uma bomba atômica que ao explodir absorve as ondas de som, ficando tudo em silêncio... Depois explode e não deixa pedra sobre pedra.

Rui Rodrigues

Jogos – Jogos políticos – baixe agora para crianças de todas as idades


Jogos – Jogos políticos – baixe agora para crianças de todas as idades

O jogo baseia-se numa constituição e em formas de governar. É emocionante, e se não prestar atenção perde sempre... Sem choro nem vela.

O jogo começa com o seu voto e o de outros jogadores, em candidatos cujos perfis se podem ver em enormes painéis de propaganda política espalhados pela cidade. Num curto vídeo de cada candidato se pode avaliar a firmeza da voz, a entoação. Tanto cartazes quanto vídeos podem expressar sentenças falsas, isto é, os candidatos podem não corresponder ao perfil da propaganda política. Com muita sorte poderá acessar um perfil da vida pregressa de alguns candidatos numa manchete de jornal que aparece de vez em quando ao alcance dos jogadores. Deve ficar atento para ver se novas notícias aparecem para confirmá-las ou negá-las. O jogo termina ao fim de um processo que dura 8 anos (no jogo) e seus pontos serão avaliados de acordo com o seu sucesso no jogo. Sua vida melhorará ou piorará de acordo com o candidato que escolheu para dar seu voto, e suas atitudes na vida. Se vender seu voto, perde o jogo e a vida porque o país vira um inferno sob a lei dos que se apropriaram de sua vontade, de sua opinião.

Opções do jogador: Ao entrar no jogo você pode escolher as seguintes profissões:

Trabalhador braçal e professor - Os salários são baixos. Se tiver dinheiro e tempo, pode fazer cursos para melhorar o seu nível de conhecimento e concorrer a melhores empregos. Se gastar sem controle ou se divertir, vai para o lixão e acaba o jogo. Como a diversão custa caro, vá até o espelho e ria de si mesmo. Assim não gasta nada.

Técnico – Idem trabalhador braçal, porque o seu “status” na vida o faz gastar em roupas e outras demonstrações de posição, e acaba tendo quase a mesma sobra de salário do trabalhador braçal ou até menos.

Curso Superior – Idem Técnico, idem.

Forças armadas e da ordem – Idem, pode morrer atrás de bandidos e só ficará rico se fizer mutretas, mas cuidado que pode ser descoberto e perder não só a farda como até as cuecas, sendo expulso da corporação. Ainda tem mais uma chance: Passar para a marginalidade, mas vive pouco tempo porque não só a polícia como os outros bandidos estarão sempre atrás de você.

Servidor público – Idem forças armadas e com aposentadoria garantida. Mas cuidado. Se caguetar as maracutaias de seu chefe, pode perder o cargo, o emprego e ficar numa saia justa, ou pode ser manchete como herói da honestidade, exemplo para o país.

Professor Universitário – Só não ensina antimoralidades e assuntos antiéticos. Ganha razoavelmente bem.

Empresário - Compra, vende empresas, administra, almoça e janta muito para fazer negócios. Reúne-se ainda mais e muitas vezes, muitas vezes, obriga todo mundo a comer sanduíches porque não há tempo para almoçar. Viaja muito, de forma que quem toma conta das empresas não é o empresário. Ele só diz o que quer. Financia as campanhas dos políticos e ajuda-os a abrirem contas no exterior. Viajam muito por conta das verbas públicas, com o presidente da nação, a título de “fazerem” negócios para o país, mas na verdade o presidente está é vendendo os produtos das empresas que lhe pagaram as eleições e publicam na mídia a seu favor. Se o candidato a presidente não tiver um dos dedos da mão, abra o olho... Ele muda da esquerda para a direita com muita facilidade e você nem percebe. Ele junta-se até a ex-presidiários por corrupção. Não acredite nunca nas pessoas que ele indica para cargos públicos e muito menos para presidente ou presidentA.

Político – Ganharia quase sempre, por isso esta profissão não está disponível neste jogo. Mas cuidado. Podem declarar guerras sem perguntar a ninguém, podem modificar a constituição, podem mudar as leis, aumentar impostos, aumentar juros, tornar sua vida num inferno. Emitem propaganda paga pelos cofres públicos dizendo que tudo vai bem, e você vendo que cada ano se recolhe mais impostos e cada vez os transportes públicos ficam piores quebrando e chegando atrasados, ruas com esgoto a céu aberto e sem pavimentação, falta de água encanada, assaltantes à solta pelas ruas roubando e matando, drogas para todos os lados, e roubam muito das verbas públicas se não tomarmos cuidado. Em especial, cuide bem dos programas de governo, do tipo sua casa sua vida, água pra todos, aceleração de crescimento, porque na maioria das vezes, como as idéias desses programas são realmente muito boas, só servem para alocar verbas públicas a esses programas e depois desviá-las através das construtoras e outros meios. Depois de oito anos verá que se gastou muito e não se fez nada nesses programas. E se o programa incluir estradas, cuidado... Depois o governo vende-as a preço de banana para nos cobrarem pedágios caríssimos.

Chefe de Igreja, pastor, sacerdote - Idem político com a agravante de que ganharia sempre. Não está disponível neste jogo. Além do mais alguns se candidatam a cargos públicos, metem-se em política, o que é um jogo desigual: Basta pedir nos templos que além das esmolas e dízimos ainda lhes dão votos, não porque mereçam como administradores de uma nação, mas dão-lhes os votos por fé e para não se sentirem mal nos templos.

Vamos jogar, ou este jogo você já conhece e já está jogando na vida real?

Mas nem tudo está perdido... Com a democracia participativa[1], nada disto pode acontecer porque para tudo dependerão de seu voto dado instantaneamente pela Internet. Tudo se decide mais rápido e os políticos não terão como roubar-nos nem declarar guerras sem nos consultarem. 

Rui Rodrigues