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quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Já sei como é Deus.


Já sei como é Deus.



Desde pequeno que me pergunto “como deve ser Deus?” Que imagem tem, o que aparenta, se tem cabeça, mãos, pernas, se fala, como se move, se é maior que sua obra ou nanico como nós, onde vive, como vive, se tem casa e como construiu sua rede de esgotos. Por várias vezes O chamei, mas não obtive resposta “real”: Só uma vontade tremenda de me ajoelhar, rosto colado ao chão, enquanto meu corpo se enchia de uma alegria que não raro me levava às lágrimas. Por isso sei que existe. O problema é: Como é, o que ele “faz”, e como. Uma coisa era certa para mim: Deus não podia ser nada... Sabem? O Nada? Aquilo que não tem forma, consistência, nem mãos para fazer artefatos, nem “cabeça” para pensar, que lhe permita dizer “Hoje vou começar a fazer um Universo”, e como serão os anjos, a sua corte, se é que precisa deles sendo Deus, e como poderia transformar um anjo em “transador” para fazer um filho numa moça recém casada com marido fiel, filhos de boas famílias. Sobretudo, queria saber se pode Deus passar por cima das próprias leis com que construiu o mundo, tudo o que existe, e como o faria.  Surpreendi-me ao encontrar um Deus totalmente diferente do que me tinham ensinado a “ver”... Totalmente não... Bem diferente, mas essencialmente o mesmo: Deus e único sem necessidade de assessores nem ninguém para ventilar o ambiente com plumas de avestruz. Um Deus que por muito pouco quase não existe! Um Deus “improvável”.




O processo da descoberta de Deus foi gradativo ao longo de minha vida. Primeiro me mostraram um homem como Deus. Fui olhar nos livros de história e constatei que isso era uma idéia muito antiga de materializar os “deuses”, torná-los “reais”, palpáveis. Nunca tinham conseguido. O mais perto que haviam chegado fora em Alexandria quando descobriram as leis físicas da hidráulica: Conseguiram construir uma carruagem leve de bronze e colocaram-lhe uma estátua de Zeus, puxando as rédeas de um cavalo. Sob a luz de archotes, e os efeitos da hidráulica, a carruagem subia do recinto do templo até o teto que se fechava logo que a carruagem passava o nível do telhado... O povo à distância jurava que Zeus todos os dias descia a Alexandria e que pela tarde, ao anoitecer, voltava aos céus. Quase todos os deuses iam e vinham do céu.  Logo os estudantes conheceram a hidráulica e como a “subida aos céus” era feita, e Zeus deixou de ser Deus. Cansados de tantas mágicas de deuses, um punhado de crentes da Galiléia e arredores, na Palestina, acreditaram mais tarde na palavra. Não era na palavra do homem Deus, filho do Homem que acreditaram. Foi na palavra de uma meia dúzia que conviveu com ele e que disseram que a mãe dele era virgem e que ele fora morto e ressuscitara.  Isso sim... Eram duas mágicas de peso. Chamaram-lhes de milagres e criaram uma nova religião que ao longo dos tempos cresceu, se ramificou por dissidências, gerou muitas e terríveis guerras e discriminações. Fiéis pobres e Igrejas ricas, assim como antigamente foram os templos ricos e as populações pobres e geralmente escravas. Pagavam dízimos. Parecia um negócio florescente. Ainda pedem em nome de Deus. Mas que Deus é esse? O do velho testamento, ou o do novo? E o que dizer de D’Us, Buda, Alá, Vishnu, Iemanjá e outros deuses que andam por aí? Serão todos falsos, ou serão o mesmo visto (entendido) de forma diferente? A primeira coisa que nos passa pela cabeça é: Se for o mesmo, porque não poderá haver uma outra forma diferente de o entender, a minha forma, por exemplo? E em decorrência, a segunda coisa é: Se forem todos diferentes, qual é o verdadeiro, já que Deus é Único ? E fatalmente vem a terceira: Se o Mundo e o Universo sempre existiram por serem infinitos no tempo e no espaço, quem fez o que sempre “já esteve” feito? Nesta ultima hipótese, não haveria necessidade alguma de um criador, um Deus, porém, os negócios com os templos vão tão bem, são tão prósperos, que a resistência a uma nova forma de entender Deus, seria punida com fogueiras, crucificações, perseguições, fuzilamentos, para não lhes arruinar os negócios. Não tinha sido sempre assim? Ainda não é em algumas regiões do mundo, onde o conhecimento anda escasso?



Então vamos imaginar que o mundo, o Universo, teve um inicio, o Big-Bang, mas isto já é um truque, por que o mais certo é que sempre tenha existido, e se sempre existiu, sempre, não teria havido um Criador. Mas, se admitirmos que nosso Universo foi criado, ao construir o Universo teria Deus construído mais de um? Tudo leva a crer que sim, quer pela ciência quer pelas amostragens deste universo, onde nada é “único”, começando pelo gênero (de macho e fêmea) pela diversidade de tipos de estrelas, astros em geral. Então vejamos como seria o Deus Criador.



Teria mãos e equipamentos para comprimir uma região do espaço a ponto de torná-la extremamente quente, extremamente densa, que logo inflaria como um balão e aumentaria tanto de volume, tanto, tanto, que em menos de um segundo ficaria com dimensões infinitas e Deus reduzido a um tamanho tão diminuto que um grão de areia pareceria um meteoro imenso quase infinito. Como se Deus desaparecesse de sua criação ou ficasse menor que ela, muito menor. Não faz muito sentido... Melhor acharmos que Deus é infinito, maior que o Universo, mas como o universo não existia antes dele, seus equipamentos e suas mãos deveriam ser infinitos... Também parece não fazer o mínimo sentido. Mas Deus, segundo dizem, é capaz de tudo, e pelos vistos, o diabo também. Qual teria sido o papel do diabo na formação do Universo? Quando Deus, o criador, teria resolvido criar o diabo para atazanar umas pobres criaturinhas cheias de vida num planeta chamado Terra, e para que teria Deus criado um diabo tão poderoso que simples mortais não teriam a mínima força para o enfrentar? Também não faz sentido: Homens e mulheres seriam sempre perdedores para o diabo se este estivesse na ativa diariamente. Talvez tenhamos uma explicação. Vejamos.


Este mundo é feito de aleatoriedades. Aleatoriedades são acontecimentos, fatos, que acontecem segundo leis que desconhecemos e para os quais não temos explicação (para nós, o Caos). Muitas “aleatoriedades” para uma civilização mais adiantada já teriam explicações e deixariam de sê-lo. Por exemplo, não temos detectores corporais de vírus. Por isso não sabemos quando nem onde os apanhamos nem quando vamos ficar doentes. Só sabemos de algumas precauções para evitá-los, como as vacinas, e não para todos os tipos. Não sabemos, por exemplo, se o próximo verão vai ser mais seco, quente, úmido ou frio. Não temos “sensores” que permitam saber antecipadamente.  E muito menos podemos saber se seremos assaltados na rua, o grau de gravidade, como ou quando. Vivemos num mundo aleatório. Nossas “certezas” são limitadas. Quando adoeço a culpa não é (geralmente) minha, de meus atos, nem maldade de Deus ou do demônio. Quando sou assaltado, a culpa não é (geralmente) minha, de meus atos, nem maldade de Deus ou do demônio. A menos que me tenha infectado por freqüentar lugares inseguros sem estar imunizado, ou sido escolhido por assaltante, não há razão para atribuir a Deus ou ao demônio, a salvação, a prosperidade, e “milagres” de cura sempre os houve. O mundo é aleatório e a cegueira muitas vezes é psicológica. Fazer ver a cego cujas órbitas tenham sido retiradas, isso sim, seria um milagre, ou fruto de tecnologia muito avançada se o paciente fosse submetido a cirurgia. Milagre seria perder uma perna e a perna voltar a crescer. Ressuscitar poderia ser um milagre se constatada a morte prévia por aparelhos que a atestassem. Há muitas testemunhas que mentem por todos e quaisquer motivos. Até para salvar a honra ou a vida de filhos, primos, militantes de partidos políticos ou seitas. Há fanáticos que se explodem esperando que haja no céu sete virgens que os esperam de pernas e bocas abertas.Temos deficiências em definir o que é milagre, mágico ou enganação. Há muitos profetas e são falsos. Essa mesma classe de “profetas” na antiguidade lia a vida passada, presente e futura em vísceras de peixes e animais que depois comia longe dos consulentes. Ganhavam a vida assim. Mas então como será Deus, se não parece plausível a existência de deuses como nos ensinam a aceitar desde criancinhas, desde o inicio da humanidade, das civilizações, caindo um após outro por falta de crédito, de continuação de crença?

Deus existe dentro de cada um de nós, não importa que nome tenha, que poderes tenha, quem beneficia, quem ataca. Este Universo possui leis que o regem a todo o instante e nos mostram que Deus não interfere em nada (a não ser em nós mesmos pelo simples fato de que nos dá ânimo, mas somos nós que nos damos esse ânimo. Idéias têm força. Imaginações têm força, e podem dar unidade a um grupo, um povo, uma nação). Vivemos num mundo aleatório, tementes por nossas vidas, nosso conforto todos os dias. Imaginar um Deus todo-poderoso que nos ajuda nos conforta, e se Deus falha, mais temos certeza que a culpa é nossa e que não nos “portamos” bem. Ou que a culpa é da nação ou grupo a que pertencemos por que não fomos completamente perfeitos em nossas atitudes. Isso ajuda a construir um mundo melhor e se há algo que precisamos é de um mundo melhor. Este não pode ser consertado – nunca foi – através de milagres. É aleatório para tudo o que desconhecemos.

Comparemos nosso comportamento dentro dos templos e fora deles. Dentro de nossa casa e fora dela. Criamos deus à nossa imagem e o criamos, sem ser homem nem mulher, para unir e dar razão a todos os pequenos pedaços de que somos feitos. Isso foi no Éden. Depois o expulsamos e teve muitos filhos com nomes diferentes. Nosso Éden precisa ser reconstruído. Por enquanto somos todos artistas da sobrevivência, dotados de muita imaginação.E estátuas são apenas estátuas. 

® Rui Rodrigues

A Cortina de Cana Caiana


A Cortina de Cana Caiana



Um dia, nem se sabe que parte da sociedade, mas pequena por certo, sem perguntar nada ao povo, enfiou a mão nas verbas públicas e resolveu fazer uma estátua em homenagem a um sujeito “muito importante”. Uma não... Várias. Encheram o país de estátuas. Das verbas públicas, saiu o dinheiro para o bronze, pagar as fundições, os moldes. O artista ganhou uma casa para morar, porque não tinha nenhuma, duas caixas de vodka e carnês com cupons para um ano. Os cupons garantiam a parca comida, dois pares de sapatos dos que estivessem disponíveis, dois casacos de inverno e meia dúzia de roupa além de sabonetes e lâminas de barbear, coisa quase desnecessária porque era moda usar barba grossa.

Várias gerações de crianças passaram sua primeira vez em frente às estatuas do herói e perguntaram quem era. Em dois segundos lhes explicavam quem tinha sido. Era o tempo de dizer que ele, o herói, lhes trouxera a liberdade, a igualdade, o bem estar. Da segunda vez que passavam à frente da estátua, e a partir daí sempre que passavam, se questionavam que liberdade era aquela, que igualdade era essa, porque o bem estar era tão pouco, difícil e deprimente. Não tinham nada na verdade, e corria notícia de que no mundo lá fora uma imensa maioria tinha quase tudo, e embora houvesse desigualdades, pelo menos perante a lei todos eram iguais, e podiam sair do país quando quisessem, viajavam, tinham automóveis. Quem contava a vida lá fora – sempre em sussurros e em confidência - eram os atletas que competiam em jogos internacionais, jornalistas, funcionários em férias de embaixadas no exterior, gente privilegiada cujas funções lhes permitiam saber do “mundo lá fora” por detrás do muro de concreto e arame farpado com postos militares de vigia, por detrás da cortina de ferro. Havia outra cortina, mas era em outro país. Era de bambu.

Das ultimas vezes que essas crianças viram essas estátuas, estavam sendo derrubadas. As próprias crianças de antigamente, agora feitos adultos, as derrubavam. As estátuas incomodavam. O herói os enganara. E os enganara tanto que até a bandeira do país foi lavada das cores e uma velha bandeira, surrada, usada antes do grande movimento de libertação, de igualdade teve suas cores reavivadas e tremula agora nos prédios públicos. A era da grande mentira terminara. O herói agora já estava até esquecido. O mundo lá de fora triunfara a grande guerra fria. Hoje, tal como antes no regime do grande camarada, havia os protegidos do sistema e os não protegidos. Mas a diferença era muito sutil. No tempo do grande camarada, havia proteção sim, e a divisão entre os que passavam melhor e os que passavam pior eram fruto do companheirismo protetor. Quem era protegido do grande partido passava bem. Quem não era passava pior. Nem os empregos se conseguiam por mérito, mas por “confiança”. No mundo vencedor, o que ficava para além dos muros, das cortinas, a diferença era mais uma questão de capacidade Uns tinham, outros não. Diplomados sem mérito não tinham futuro. Diplomas de formação eram atestados de capacidade que deveria ser comprovada na prática.

E o mundo mudou. Mudou, mas não completamente. Na América do Sul, vinte e poucos anos depois, há grupos de “camaradas” e “companheiros” que querem resgatar os tempos do Grande Camarada, da Revolução, sem sequer se perguntarem porque mais de noventa países no mundo a abandonaram e derrubaram as estátuas. Marx, Lênin, Stalin, são figuras históricas de quem se fala em salas de universidades por um par de aulas e isso é tudo o que resta de sua lembrança. Seus sistemas – ou os sistemas baseados em suas filosofias, não funcionam. São como relógios sem corda, sem baterias que nem o tempo marcam mais. A América do Sul é o único país que quer resgatar o passado ou, por falta de consistência na alegação, porque todos sabem que o sistema não funciona, talvez o façam por outros motivos, como, por exemplo, aproveitar-se da ignorância política e funcional das populações para, com falsas promessas, tomarem o poder e nele se perpetuarem. Mas no fundo há uma grande dose de ignorância nessa meia dúzia de governantes resgatadores de filosofias falidas e mortas: As populações aprendem como aquelas crianças que passaram pela primeira vez em frente às estátuas, que hoje sabem que não representavam heróis, mas opressores com certa dose campônia de credulidade ignota por falta de educação.

Inauguraram uma estátua dedicada a um ET – Extra Terrestre – numa povoação. Ninguém sabe qual o nome do ET, não fez nada por ninguém, não se sabe de que planeta veio. O presidente foi à inauguração mesmo antes de estar acabada.  Na América do Sul, além da ignorância campônia que os da cortina de ferro demonstravam, deve creditar-se um certo grau de demência ou exagero na demonstração de imbecilidade como meio de expressão de igualdade entre governo e povo, assim como quem diz: “Vejam! Sou igual a vocês e vos entendo”. Um dia ainda dirão que vivemos numa cortina de cana caiana na longa fila do armazém do estado para troca de cupons, sabendo perfeitamente que em palácio se comem lagostas do Maranhão com molho de castanhas de caju e calda de chocolate. Sem charutos porque é proibido fumar. Mas com pó do bom. Da Bolívia e do Afeganistão.

® Rui Rodrigues

terça-feira, 11 de novembro de 2014

Linguagem dos gatos baseada na esperança e na certeza.

Linguagem dos gatos baseada na esperança e na certeza.



Minha gata de quatro patas não fala, mas me diz muitas coisas. Ela tem uma linguagem muda baseada na postura, na esperança e na certeza. Tem além de tudo uma paciência quase ilimitada.  Quando sua paciência está chegando ao fim, mia suavemente e nem é um miado como o conhecemos: Parece mais um gemido sem dor. Quando sua paciência beira o estresse, então mia e é bem claro que é uma reclamação. Não pára enquanto não for atendida em seus desejos. Só pára se eu lhe disser “Não!”, de forma a eliminar dúvidas.

Se quiser água e o fogão estiver aceso com algo cozinhando, ela pára perto de mim e mia suavemente. Eu a apanho, ponho-a em cima da pia, abro a torneira e ela bebe água da bica corrente. Depois pula sozinha para o chão. Mas se não há nada cozinhando, ela pula no fogão e do fogão para a pia. Não diz nada. Ela espera que eu abra a torneira. Sabe que infalivelmente a notarei e ajudarei.

Se quiser sair da casa para fazer suas necessidades ou apanhar sol, pára sentada em frente à porta da rua ou da área da churrasqueira que dá acesso ao jardim. Ali fica, quieta, até que lhe abra a porta. Se tiver pressa mia suavemente, se estiver quase estressada, dá-me uma bronca miando mais forte como gente grande até que eu cumpra a minha parte do acordo de cooperação mútua entre eu e ela. Ou deverei dizer entre ela e eu? Acho que escrevemos juntos os termos desse acordo mútuo e, sobretudo, tácito.

Se eu for cozinhar, fica ali, quase encostada a mim, a uns três passos, sentada, virada na direção da sala. Ela me cuida! Sabe que minhas costas estão viradas para o mundo, não posso ver o que está atrás de mim. Ela vê, cuida e “rosna”... Isso mesmo... Rosna se houver intrusos perto da porta da rua, lá fora do portão. E quando deixo cair algo no chão, fica cheirando, ali, onde caiu, até que eu apanhe. Se eu deixar algo no fogo, ela não sai de lá, mesmo quando começa a cheirar a queimado. Sabe que estarei olhando para ela e que vou acabar descobrindo a mancada que dei, salvando o “lar” que, ao que parece, tanto é meu quanto dela. Não posso “esquecê-la” quando a deixo muito tempo lá fora, porque começa a miar em desespero querendo entrar, e quando abro a porta levo uma tremenda bronca que se estende, enquanto caminha, até ao prato de ração. É um miado “estranho” que tem o som de conversa de admoestação. Chama-me para comer quando tem fome. Mia de longe e quando me levanto para comer, ela se dirige até o prato de ração. Já sei... Meto a mão no saco [1], tiro um punhado e dou-lhe, passando-lhe a mão pela cabeça e pelas costas.  Ela gosta!

Também gosta de assobios... Não assobios de ordem como os que se usam para cachorros. Gosta de música assobiada. Esteja onde estiver, corre para mim sussurrando e ronronando e encosta-se a mim. Se eu estiver deitado, deita-se a meu lado, bem encostada. E ali fica mesmo que eu pare de assobiar. Mas nem sempre está disposta a ficar parada, dormindo, sossegando, coisa que sempre faz a meu lado, perto de mim, ou nos meus braços enquanto teclo na NET ou escrevo minhas bobagens. De vez em quando mia, olha para mim, e sai correndo escadas acima para que eu tente apanhá-la. E ali ficamos brincando de pega-pega por uns bons minutos. Depois ou eu ou ela desistimos. Quando não brincamos de esconde-esconde, jogo-lhe uma bolinha das que quicam quer para a direita quer para a esquerda, e ela sai alucinada atrás dela. Muito raramente pega a bolinha na boca e ma traz para que volte a jogá-la. Não é cachorro mas aprende facilmente um gesto comum a toda a humanidade: Quem quer brincar participa da brincadeira, quem precisa trabalhar está sempre cansado. Banho só morno, numa boa.  Durante toda a vida dela, e já tem 13 anos de vida, só dois. Ela tom seus próprios banhos de língua. De vez em quando ela mesma me dá um banho de língua no braço ou nas costas de minha mão. Ela deve achar que estou precisando ou se trata apenas de uma linguagem de comunicação hierárquica felina, porque nunca lhe dei banho de língua.

Não posso ir para o banheiro sozinho. Fica na porta, do lado de fora, miando, até que lhe abra a porta. Se não lhe disser “Não”, ela entra dentro de minhas calças ou shorts arreados. Gosta de sentar ou deitar em cima de minha roupa. Deve ser o cheiro, ou uma forma de também se “vestir”, tal como faço. Ela que sabe o que lhe passa pela cabeça, porque algo lhe passa certamente. Não sei, francamente, se ela me adotou como pai, como irmão mais velho, ou se quer casar comigo. Só sei que me ama, o que é um sentimento mútuo.

® Rui Rodrigues





[1] Meto a mão no saco de ração....

domingo, 9 de novembro de 2014

Já sei onde está o céu.

Já sei onde está o céu.



Sabe aquelas noites estreladas, longe das luzes fortes das cidades? Olhando-se para cima, vê-se o céu. A nós, parece-nos acabar logo ali, as estrelas coladas como se fosse na parte interna de imenso balão de gás feito de látex negro. Mas não... Esse céu é imenso, imenso, imenso, praticamente infinito de tão grande. Tão infinito que se conseguirmos imaginar que tenha bordas, fim, chegaríamos à conclusão de que seria plano onde quer que estivéssemos pisando em sua fronteira. Sabemos que não tem nem bordas nem fronteiras. É infinito!



Um dia me preocupei em saber o que pensaria uma formiga do Empire State Building, uma construção antiga na cidade de N. Iorque, imaginando-a no limiar do primeiro degrau do prédio. Nada. Ela não estaria preocupada com o prédio porque não tem noção de sua dimensão. Sua visão é muito curta, não têm olhar telescópico, assim como nós também não temos. Têm que chegar muito perto do topo do prédio para saber onde estão, mas o máximo que saberão é que estão “ali”, sem saber nem ver a rua lá embaixo. Nossa visão é um pouco mais melhorada, conseguindo ver a rua e outras mais, e quase toda a cidade, mas como a Terra é redonda, a sua curvatura nos vai escondendo o resto da paisagem, e não podemos enxergar mais do que umas dezenas de quilômetros. Olhando para cima, vemos um céu. É o céu que temos.



Descobriram o uso de motores para foguetes e os telescópios, bem como sistemas de transmissão de imagens e dados. Juntaram os três e hoje temos imagens de boa parte de nosso universo, o nosso céu, cheio de planetas, estrelas, cometas, pedregulhos imensos, pedras, pedrinhas, poeira e gases. Estrelas já explodiram dando origem a novas estrelas e planetas. O ouro e o urânio que usamos são produtos de estrelas que já explodiram. Nossos telescópios não enxergaram vivalma fora de nosso planeta. Alguns objetos chamados de “não identificados” têm sido confundidos como produtos manufaturados, industrializados, provenientes de outras civilizações, mas tendo o Universo que conhecemos a mesma idade em cada ponto, as demais “civilizações” teriam aproximadamente o mesmo tempo de existência do que a nossa, e estando os sistemas solares que podem abrigar vida a anos luz de distância, nem nós tivemos tempo de poder chegar ate eles nem eles a nós.Mesmo que tivessem evoluído “mais rapidamente” e melhor do que nós. A escala do tempo, as velocidades e as distâncias conspiram contra um encontro imediato ou por “estes dias”. Vivemos sob o mesmo “céu” sob as mesmas condições de evolução. O próprio Universo, o único céu que conhecemos, evolui.



Assim como as formigas do Empire State Building não conseguem enxergar do primeiro degrau o topo do prédio nem sabem que lá existe um miradouro e uma torre cônica, nós também não conseguimos enxergar as sete dimensões extras que este Universo parece possuir. Nossos olhos são “funcionais”. Só percebem e enxergam o que precisam de forma imediata. Além disso, essas sete dimensões ficaram enroladas desde o inicio da formação do nosso universo. Não se expandiram como ele, que continua se expandindo a uma velocidade aparentemente constante. Nosso Universo “infla” constantemente. Cresce, aumenta de volume, de massa, mas a densidade continua constante, próxima de 1 (Um). As outras dimensões são microscópicas, insuficientes para conter outro céu, outros céus. Se houver mais algum “céu”, ainda que seja um paraíso, será fora do nosso Universo, mas o mais provável é que encontremos outros Universos se conseguirmos sair deste algum dia. E nos colocaríamos num dilema: Onde estaria o céu extra de cada Universo (já temos um, o que vemos) ou o outro céu comum a todos os universos?  Parece que não poderemos contar com mais nenhum céu além do que temos e vemos. A natureza não desperdiça nada. Um céu apenas parece ser o bastante e já nos distrai suficientemente para que o exploremos. Há trabalho para bilhões de anos. Para uma eternidade. Trabalho a realizar-se geração a geração.



Há cerca de 5.000 anos atrás, uma migalha de tempo desde que o Universo se iniciou (cerca de 10,4 bilhões de anos) os egípcios descobriram uma possibilidade de existência de um segundo “céu”, sem saber onde se localizaria. Era um céu que corrigia todos os erros vivenciados neste planeta. Para se chegar lá era necessário passar por um tribunal comandado por um de seus deuses, Osíris, e ter uma alma (Ka) ou um coração tão puro e leve, que se colocado numa balança para competir com o peso de uma pena, não poderia pesar mais do que ela. A alma era submetida também a um interrogatório, e toda a população do Egito sabia de cor as perguntas, não fossem esquecer-se e perder a oportunidade de passar para o outro céu, o céu extra. Embalsamaram também os corpos para que pudessem chegar lá inteiros. Não conseguiam imaginar um céu polvilhado de esqueletos sem roupa, sem arcos e flechas, pratos, cavalos, cães e gatos. Colocavam tudo nos túmulos. Ladrões de túmulos nunca acreditaram nessa teoria teológica e devastaram muitos túmulos, estragaram muitas múmias. 
Mais ou menos pela mesma época, no Extremo Oriente surgiu uma religião – o Tao – que prometia 25.000 céus a seus fiéis. Nunca foram mostrados. Apenas se falava deles. Os fiéis precisavam ser bem comportados para ganhá-los assim como prometemos doces a crianças para se comportarem bem. Entenda-se que “comportar-se” bem significava dentre outras coisas, contribuir para a vida dos sacerdotes, a manutenção dos templos. A função dos templos nunca foi a distribuir riquezas por seus fiéis, mas exigir-lhes contribuição. Três mil anos depois apareceu Jesus na Galiléia. Mágico, curandeiro, milagreiro, nunca chamou seus discípulos e lhes deu uma visão do céu. Falou dele, mas não o mostrou. Como Deus poderia tê-lo feito. Maomé prometeu um céu especial para os guerreiros que lutassem pela causa do islã: Um céu com sete virgens. Não lhe passou pela cabeça que mulheres pudessem ser guerreiras também, e que ao morrer pela causa teriam um céu especial com sete mancebos virgens, ou com extrema experiência. Deveriam elas morrer virgens?



Ainda hoje se fala muito em céus, e se há lugar onde possa haver outro além deste que olhamos nas noites estreladas, longe das luzes fortes das cidades, é em nosso cérebro, em nossa farta e pródiga imaginação que uns exploram e outros deixam explorar. Nossos esqueletos são o que deixamos de material neste planeta. O intangível, o imaterial que deixamos foi passado na forma de ensinamento a cada nova geração. Ficou na tradição oral, nos livros, nas gravuras, nas artes e construções, e agora fica nos computadores. Um dia ficará num lindo cristal de quartzo branco ou verde como no filme de Superman, mas ainda precisamos descobrir a sua tecnologia. A humanidade é um enorme animal de fluxo contínuo – por enquanto – que em camadas de gerações após gerações busca povoar o único céu que conhecemos. Não há outro real, mas em nossa imaginação talvez seja conveniente acreditar que somos tão bons que mereceríamos um “céu”, quem sabe um planeta especial onde não existissem os horrores que vemos neste. Será este uma provação, uma escola para o “outro” céu? Não pode ser. Muitos de nós provocamos esses horrores e morremos tranqüilamente em palácios, mansões, cercados de todo o conforto até na morte. Vamos para onde todos nós vamos: para a terra da Terra, limpar dos ossos as carnes, alimentar seres minúsculos para que a vida continue e o planeta não se desestabilize.



Precisamos construir nosso segundo céu, o paraíso, aqui mesmo, neste planeta e em outros que iremos povoar. Como está, estamos muito mal. Só temos um céu distante, frio a apenas 2,4 graus Kelvin, muito próximo do zero absoluto, sem ar. Precisamos de muita fé e quase zero graus de hipocrisia para o construirmos.Temos que construir um paraíso AQUI MESMO!


® Rui Rodrigues.  

sexta-feira, 7 de novembro de 2014

A queda do Muro e Dilma...

A queda do Muro e Dilma...

Se o Muro tivesse caído em Cuba, ela pegaria o primeiro avião para Cuba e iria beijar o chulé do Comandante da Ilha, rastejando como cobra...
... Mas como o Muro representa a queda do Comunismo no mundo, ela ficará em casa sentada numa privada de luxo fazendo o que faz todos os dias de manhã á noite...
Querem apostar que nem vai dar os parabéns à Angela Merkel e à Alemanha ???


® Rui Rodrigues

Nova teoria do hímen (a palavra aos cientistas)

Minha mais recente teoria (a palavra aos cientistas)



O hímen teria sido desenvolvido pelas próprias mulheres, como forma de cativar prováveis companheiros para a vida toda, num longo processo que levou milhões de anos de evolução. Se isto for verdade, a tendência para os próximos milhares - ou milhões - de anos. é que as mulheres voltem a não possuir hímen à nascença já que não serve para mais nada...


® Rui Rodrigues

quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Golem – Ai meu Deus!

Golem – Ai meu Deus!

 

E pegou Deus um pedaço de barro e dele fez uma imagem. Deus tinha mãos e fazia imagens. Precisava ter olhos e bom gosto. Gostou da imagem e soprou-a. Deus tinha pulmões. E após o sopro, a imagem andou, caminhou, correu, experimentou ser dona de seus atos. Podia agir. Deus lhe deu a vida e a chamou de “homem e mulher”. Deus era um homem ou uma mulher, quem sabe até os dois, e fazia imagens que se reproduziam, porque ao homem lhe deu um par de gônadas e um apêndice, e à mulher uma gruta selada. Deus e criaturas cada um à semelhança do outro, de tal forma que para qualquer leigo, fica difícil garantir quem terá criado quem: Se Deus aos homens e mulheres, se estes a Deus. Porém, sendo Deus por definição único, “incriado”, ou seja, ninguém nem nada o criaram, não precisaria de sexo, quer fosse constituído de um par de gônadas e um apêndice, quer de uma gruta selada. A ser Deus o criador, separou os sexos para que as criaturas se criassem a si mesmas sem necessidade de sua intervenção constante, como fazem as parteiras. Da mesma forma fez os outros seres vivos, porque as criaturas são sabiam produzir vida nova, novas espécies. E toda a vida se reproduz a si mesma. Não tendo mais nada para fazer, descansou desde o sétimo dia da criação até hoje e ninguém sabe onde ele está. Dizem os crentes que está no céu, mas é o céu tão vasto e infinito que a sua localização exata é impossível, ainda mais que apenas conseguimos ver uma parte infinitamente pequena do céu. Disseram então, ao perceber isto, que Deus está em toda parte. Fazendo o quê, se criou um Universo que se basta a si mesmo, criaturas que se bastam a si mesmas? Existem muitas hipóteses, mas nenhuma dita e confirmada por ele, apenas teses humanas, das criaturas a quem deu vida de forma indireta. Deus não era professor: Não ensinou nem Adão, nem Eva nem Lillit a escrever, aritmética, geometria. Nada. Nem a se vestirem. Com um Deus assim, meio ausente, fugiram do paraíso. Não foram expulsos. Deus não ficou zangado com eles, o Adão, a Lillit e a Eva por terem transado. Foi porque fugiram. Sendo a Terra redonda, e sendo Deus um Deus, e estando em toda a parte, poderia ter ido procurá-los e os trazido de volta ao lugar de origem, onde havia barro, mas não. Deixou-os à própria sorte. Arrependido de os ter criado, afogou-os a todos num dilúvio tremendo, e a humanidade hoje pensa duas vezes: Com um Deus desses, não querem nem ouvir falar em pai ou em Deus. E surgiram os ateus. Os ateus e os não ateus uniram-se na ciência. Aprenderam sozinhos a moldar o barro, a matemática, a geometria, a escrita, fizeram foguetes, viajaram por uma lasca de espaço exterior ao próprio planeta e modificaram geneticamente a vida feita por Deus. São pequenos deuses. E lembraram-se da tradição oral que tanto pode ser verdadeira como falsa, soar a verdadeiro ou a falso, mas que serve para a união de pessoas geneticamente parecidas. Para cada grupo de genes, um leque de tradições, e a do Deus que fez imagens de barro respirarem, andarem, caminharem, é tão significativa da mágica de ser Deus, que resolveram fazer golems...

 

Quem sabe, pega um pedaço de  barro, argila, pasta de cimento, massa de moldar, sopra-a e ela se agita, faz o que lhe mandam, tem vida mas não tem alma. É simplesmente um golem sem inteligência, conhecimento, saber.

 

Será que temos um golem na presidência de nossa nação?

 

® Rui Rodrigues

 

segunda-feira, 3 de novembro de 2014

O Éden sempre foi aqui! ... O fim até 2.055 ...

O Éden sempre foi aqui! ... O fim do Éden até 2.055



Na ultima semana de Outubro de 2014, antes do dia de Haloween e de Finados, o mundo se deparou com uma porção de vídeos lançados nas redes sociais: A vida na Terra poderia ser extinta em função do aquecimento global e de produtos químicos já armazenados no subsolo e na atmosfera desde a revolução industrial, e o que é estarrecedor, até um máximo de 4 décadas. Todas as emissões de CO2 deveriam cessar imediatamente e mesmo assim sem garantias de reverter o processo. O maior perigo estaria no Ártico, onde uma camada subterrânea de poluentes gasosos estaria começando a evaporar devido ao degelo das camadas sobre o oceano. Neste momento o Ártico está cheio de cientistas conferindo os estudos que outros já fizeram e publicaram.

Vamos morrer todos até 2055, mais ano menos ano... Já falta água no Brasil e em particular na cidade de São Paulo. Os rios e lagos africanos estão secando. Na Europa 400.000.000 de aves de espécies comuns morreram nos últimos 30 anos por degradação do habitat. Espécies estão se extinguindo a uma média alarmante. Os indícios são realmente alarmantes. Ocupamos demasiadamente o planeta; jogamos nossos excrementos e dejetos em excesso no mar, em terra e na atmosfera; baseados na máxima do “crescei e multiplicai-vos” [1] não nos demos conta de que o planeta é redondo, sem saída de emergência, não há escadarias para o céu onde muitos já compraram lugar mesmo sem saber se existe, e portanto limitado a uma determinada quantidade de vida ou biomassa; o sol brilha para todos os que existem mas não para todos os que “fabricamos” e na hora da agonia final, toda a nossa prédica sobre moral, ética, religiosidade,bondade, caridade se esvaem e agiremos como os habitantes da Ilha de Páscoa quando as suas florestas se extinguiram pelo descontrole no uso, e ficaram sem o que comer: Refugiaram-se em cavernas onde se fortificaram e daí saiam para caçar e comer os outros habitantes desprotegidos ao ar livre sem árvore onde se pudessem acoitar. Pararam de fazer Moais, aquelas estátuas gigantescas de pedra que eram os seus “deuses”. Nem as estátuas se mexeram para ajudá-los, nem os nossos deuses imateriais aparecem nessas horas para nos salvarem: Já vamos para a sexta extinção em massa neste nosso planeta. Nos dias de hoje, homens de pouca fé, como eu (nos deuses que nos ensinaram a cultuar) leram muitas páginas da história Universal de nosso planeta e sentaram-se por anos nos bancos de universidades escutando os homens da ciência. Não há como ter fé que não seja nas nossas capacidades de adaptação e desenvolvimento para sairmos deste problema crucial, desta catástrofe em que os últimos a morrer não terão quem os enterre, lhes dêem um “enterro cristão” [2]...



O que esperar num mundo que não vê um futuro à sua frente? Nada diferente do que já estamos vendo, apenas de forma bem mais intensa: Sem muito interesse em constituir famílias; extremamente preocupados com a própria sobrevivência e bem estar; reforço da segurança em todos os níveis; sujeitos a uma violência urbana crescente da qual nem os campos e os mares podem escapar; as leis dos mais fortes impostas; aviltamento das instituições, da moral e da ética; reclusão em lares por vontade própria; desregramento da economia, da produção; lutas de ruas, movimentos pró e contra qualquer coisa que ameace alterar o “status-quo” em cada recanto do planeta; fome, sede... Muita fome e sede! O processo de extinção se acelerará porque se comerá qualquer coisa viva que se encontre. A ONU já convida a inclusão de insetos no cardápio diário da humanidade para que nos habituemos a sobreviver. A ultima floresta a morrer será a Amazônia, quem sabe a do Canadá por ter clima mais ameno quando as temperaturas entre trópicos (de Câncer e Capricórnio) forem altamente nocivas à vida.

Não temos naves espaciais suficientes para todos, nem nos preocupamos antes em construir estações de colonização na Lua nem em Marte, e desde a década de sessenta (1960) que já pisamos na Lua... Perdemos todo esse tempo e dinheiro em compras em supermercados, guerras, viagens de automóvel, navio, avião, desperdiçamos tempo e dinheiro porque o comércio se impôs ao bom senso da ciência. A ciência perdeu sua batalha para a religião, a política e o comércio, e agora depende dela a salvação do mundo... Que parece, por sua vez, não dar a mínima para a ciência: O mundo é um ser, uma entidade VIVA!... Viva e inteligente que se adapta às suas próprias alterações para evoluir. Se os seres humanos a degradam, ela degrada o ambiente dos seres humanos e os exclui, os extingue de sua face. Antes de respeitarmos Deus e deuses, temos que respeitar primeiro a Natureza, cujas leis dominam e gerem este planeta, a casa em que vivemos, a casa de Deus se assim desejarem entender o que é este planeta e a natureza. Não fomos expulsos do Éden: Sempre estivemos nele, mas não o reconhecemos e o degradamos. Tornamo-lo inabitável e é a vida eterna da humanidade que perecerá. Até os dias de hoje nos parecia eterna, antes da degradação. Até na forma de representarmos o Éden se nota que sempre foi aqui, com Leite e Mel, árvores, água, animais e aves selvagens, répteis, insetos, peixes. Por que não o reconhecemos em nosso planeta e o desprezamos? Porque a fé move montanhas e era preciso dar lucro aos templos desviando a atenção do que já temos e oferecendo aos fiéis a mesma coisa exatamente num lugar tão longe e inacessível que era necessário morrer primeiro para o alcançar desde que se passasse pelos templos e contribuíssemos com bens pecuniários, bens de raiz, imóveis. A Humanidade sob pressão de governos e templos, não conseguiu enxergar que o Éden sempre esteve aqui, e que foram os poderosos que o deturparam.



Segundo os cientistas [3] – e temos que acreditar neles porque eles sabem e nós apenas imaginamos – o processo de evolução da Terra para um planeta “diferente” já começou há décadas . Parte devido á sua própria evolução, parte devido à ação humana de degradar tudo o que vê para seu “conforto”. Uma guerra nuclear hoje iria apressar o fim ainda mais. Considerando um horizonte de quatro décadas no futuro, talvez não fosse má idéia para evitar o sofrimento das doenças, da fome, sem amparo. Há sinais de alterações também no nosso comportamento, a exemplo dos animais que pressentem terremotos, mudanças no comportamento da natureza e detectam inicio de tempestades. Afinal também somos animais. Nosso comportamento tem-se mostrado mais agressivo em atentados, formação de grupos de extermínio, divisões políticas dentro de fronteiras, domínio da economia mundial por grandes empresas, domínio da política nacional por essas mesmas empresas ainda que se disfarcem de socialistas, ambição exagerada, o reavivar de velhas filosofias políticas degradadas como alavanca para a comoção de populações e indução ao governo perpétuo: Os últimos dias passados num Éden particular onde pensam que serão os últimos a morrer cercados de todo o conforto e um exército para lhes proporcionar tudo o que desejam: A humanidade a seus pés!... Exagerado... Dirão que estou exagerando... Mas tenho ainda quatro décadas para que vejam e comparem o que digo com o que irão ver ao longo desses poucos, parcos, difíceis anos. Nada ficará melhor. Só irá piorar. Cuidem-se os que acreditarem, mas parece que não poderão nem poderemos nos cuidar.   A natureza está revoltada e não há nada que a segure ou impeça.

® Rui Rodrigues.




[1] No termo “crescei” está implícita a evolução, o crescimento na evolução, na adaptação, na ciência até mesmo para sobreviver, mas nos templos não se admite muito bem a evolução nem a ciência. Não há razão para isso.
[2] E nem por isso irão para o Inferno.

ENCANTAMENTO - Marlene Caminhoto

ENCANTAMENTO
Marlene Caminhoto

Me encante da maneira que você quiser
Como você souber
Me encante para que eu possa me dar
Me encante nos mínimos detalhes
Saiba me fazer sorrir
Aquele sorriso malicioso, gostoso, inocente e carente,
Me encante com suas mãos, gesticule quando for possível
Me toque, quero correr esse risco
Me acarinhe
Vou fingir que não entendo,
Que nem queria esse momento
Me encante com seus olhos
Me olhe profundo, mas só por um segundo
Depois desvie o seu olhar
Como se o meu olhar não tivesse conseguido te encantar
E então volte a me fitar tão profundamente que eu fique perdida
Sem saber o que falar
Me encante com suas palavras
Me fale dos seus sonhos
Dos seus prazeres
Me conte segredos sem medos e depois me diga o quanto te encantei
Me encante com uma certa calma
Sem pressa
Tente entender a minha alma
Me encante
Sem subterfúgios, sem cálculos, sem dúvidas
Com certeza
Me encante na calada da madrugada
No silencio da lua
Na luz do sol
Ou embaixo da chuva
Ou na rua...
Me encante sem dizer nada
Ou até dizendo tudo
Chorando ou sorrindo
Triste ou alegre
Mas me encante de verdade,
Com vontade
Depois eu te confesso que me apaixonei e prometo te encantar por todos os dias

Pelo resto de nossas vidas!

sábado, 1 de novembro de 2014

Navegando com os vinhos - Vivam os mortos!

Navegando com os vinhos



Quando as primeiras naus navegaram para os mares do Sul, descobriram o Brasil, outras depois, terras cisplatinas, e em pouco tempo tinham dobrado o Cabo Horn o ponto mais extremo do Chile. Assim como os vikings levaram videiras para plantar em sua colônia na América, a Vinland (onde é hoje a Terra Nova, no Canadá) também as naus, cerca de mil e quinhentos anos depois, começaram a carregar videiras nas viagens posteriores, agora para a América do Norte e também do Sul. Os colonos não podiam prescindir do bom vinho, nem os marinheiros. Todas as naus carregavam tonéis de bom vinho. Sem ele as tripulações se revoltavam.



No entanto, embora a carga de vinho fosse limitada por ter que ser proporcional às das demais necessidades, nem sempre o vinho acabava durante as longas viagens de ida e volta. Em Portugal chamavam a esse vinho “vinho de Travessia”. Talvez pela exposição do vinho a diferentes temperaturas, ele ficava com paladar diferente, mais encorpado, “diferente”, e por incrível que pareça, passou a ser disputadíssimo pelos melhores apreciadores do bom vinho.



Por volta de 1850 navios provindos da América do Norte chegam á Europa com uma novidade: A Filoxera, um afídio (inseto sugador alado parecido com mosca) que a partir de 1863 devastou uma imensa parte das videiras européias, e quase que completamente as videiras francesas. Franceses guardam com todo o cuidado os seus monumentos, seus aspectos culturais, e no caso da vinha, sua cultura vinícola. Por isso, sempre atentos, foi-lhes fácil concluir que o melhor lugar para preservar as suas mudas matrizes seria levá-las para o Chile, o único país fora do Mediterrâneo, que possui zonas de clima mediterrânico, onde florescem vinhas, nogueiras, oliveiras, frutas adaptadas ou autóctones do mediterrâneo.



E os anos passaram entre viagens em embarcações á vela, a vapor, até que alguém se lembrou de pesquisar sobre a grande praga que assolara os vinhedos da França em 1850 e o desenrolar das conseqüências. Na França faltava uma espécie de uva: Carmenére. Onde poderia estar ainda preservada alguma matriz? Evidentemente que no Chile. Foi encontrada, e hoje temos vinhos Carmenére (que lembram o Cabernet Sauvignon) nas prateleiras dos supermercados. Em Portugal, que me lembre, ninguém se lembrou dos vinhos das travessias oceânicas... Mas no Chile alguém deu à sua produção de vinhos Carmenére, e de outras castas o nome de Travessia. Este em especial é produzido no Valle Central. E isto nos leva a refletir.



Nesta vida temos muito a agradecer, geneticamente, a nossos ancestrais. Por vezes pensamos que somos um “ser único”, mas nossos genes nos desmentem descaradamente. Olhamo-nos, vemos que temos "uma cor", e nem notamos que temos sangue índio, negro, viking, medo, persa, judeu, vândalo, suevo, oriental, de cromagnon... Todos nos são desconhecidos porque não nos deixaram fotografias, só genes e algumas tradições, muitas mal ou bem perdidas. Assim também estamos vivos porque os soldados, tantos, desconhecidos, nos garantiram com a dádiva de suas vidas a garantia das nossas. Não sabemos também quem foi o primeiro a provar o vinho das travessias e a espalhar a notícia de que era um “espetáculo” e não poderíamos esquecer quem se dedicou a pesquisar onde estava guardada uma das últimas mudas do Carmenére. Por isso, quando tomar um vinho Travessia, Carmenére, feche os olhos, e enquanto se delicia com o seu sabor, ao outro sabor, o das ondas, agradeça mentalmente a toda essa multidão de humanos que palmilharam e navegaram a Terra não só para descobrir, explorar, mas também para cultivar, dividir descobertas, criar senão uma nova espécie de Sapiens, um Sapiens mais humano ainda.

Quanto a mim, agradeço também ao Chile, uma terra encantada, cheia de história e cultura, de bons vinhos que não só não envergonham os vinhos franceses como até deixam muitos deles envergonhados.

Içar as velas para mais uma Travessia de garrafa, viajando a bordo com portugueses, franceses, vikings, brasileiros, chilenos... Vivam os mortos !

Caravelas do Peró, 01-11-2014


® Rui Rodrigues

sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Rio, dois mil e quarenta e cinco.

Rio, dois mil e quarenta e cinco[1].

 Nascera em 1945, cem anos atrás. Quando se avaliava a si mesmo, a sua vida e se fazia perguntas, respondendo-as em voz alta para melhor as compreender, sempre era lento porque seu pensamento era muito rápido. Sempre fora. Estava agora com cem anos e duvidava que muitos tivessem a mesma rica experiência de vida desde que a humanidade se criara de forma consciente há mais de 120.000 anos atrás. Quando nascera há havia aviões a jato e bombas atômicas, mas eram tão recentes que a primeira tinha sido lançada um mês antes de seu nascimento, em setembro de 1945. Depois disso viu tanta coisa, teve de adaptar-se a tantas delas, que por vezes se achava um herói. Mas herói de quê exatamente? De ter sido um bom homem, humano, se adaptado aos computadores, aos celulares, aos automóveis voadores, aos milhões de proibições da lei, evitando multas? Isso não se pode considerar como heroísmo, mas associado á sobrevivência tem seu mérito. Enquanto olhava a paisagem, lembrou-se daqueles velhos telefones pretos, de grosso fone de ouvido que ficava pendente num pedestal. Rodava-se uma manivela e esperava-se que do outro lado se ouvisse uma voz feminina. Então se dizia: Operadora? Por favor, me ligue para o numero 237... Os telefones eram ainda muito poucos, Agora os dígitos numéricos eram associados a letras e já andavam pela casa dos 20 dígitos. Depois vieram os celulares, todos tinham automóveis, menos os pobres. Os pobres nunca tiveram helicópteros, aviões, automóveis, carroças ou sequer cavalos ou mulas e muitos nem sapatos tinham. As fábricas se tinham encarregado de fabricar uma parafernália de bugigangas consumíveis de uso temporário e descartável, a maior parte delas fabricadas com pontos frágeis para obrigar á compra de mais uma unidade. Só mais tarde, ao colocar as compras no lixo nos dávamos conta de que poderíamos perfeitamente ter passado sem aquilo, como fornos de micro ondas. Os fornos eram o reduto da preguiça e da falta de controle. Não havia nada melhor do que passar uma hora na cozinha, cozinhando apenas o necessário para não sobrar e consumir com a família e os amigos. Ainda se economizava na energia da geladeira que não precisava ser tão grande. Europeus sempre tomaram cerveja morna que tem mais sabor e se sente mais o álcool. Em países de alta temperatura (nem queria se lembrar disso) as geladeiras sempre ficavam atoladas de latas e garrafas de cerveja para ficarem “estupidamente” geladas. O que se bebia era algo quase gelado, entorpecendo o sabor, que ficava apenas nos lábios molhados de cada gole. O que ia para dentro não tinha nenhum.




Não tirava os olhos da paisagem à sua frente enquanto meditava sobre o passado, os poucos cabelos ainda negros esvoaçando ao vento que lhe trazia odores de mato seco. Suas narinas estavam há muito com irritações pela secura do ar. Normalmente usava um pano úmido envolvendo-lhe o rosto, um lenço grande que já pertencera a uma namorada, e que periodicamente umedecia com água que sempre trazia a tiracolo num cantil. Não saía de casa. Só raramente, uma vez por semana quando muito. O calor era imenso, o ar seco, as ruas muito perigosas de noite ou de dia. Parecia que um manto estranho tivesse coberto a cidade do Rio de Janeiro. Um manto que a transformara da noite para o dia desde 2014. Já nem se podia chamar de uma cidade, na verdade. Os prédios estavam vazios, não havia quase nada para vender, não havia quem vendesse, tudo se trocava, roubava. Lembrou-se de vários filmes a que tinha assistido em sua vida sobre situações apocalíptica, mas nenhum deles havia retratado o que agora estava vivendo, ali mesmo, em frente aos seus olhos. Não adiantava beliscar-se. Já fizera isso e até fechara os olhos, mas quando os abria após cada beliscão, via sempre a mesma paisagem. Se a humanidade fosse um exército, algum general lhe daria ordens e todos obedeceriam. Mas uma humanidade amorfa como a nossa, era impossível que todos obedecessem. Havia sempre os que forçavam a barra para fugir das leis. Quando os avisos começaram a chegar já era tarde: A produção industrial teria que parar. Reduzi-la não provocaria nenhum efeito. Teria de ser levada a zero, mas isso significaria não ter energia, não fabricar bugigangas, não produzir nem consumir nenhum tipo de energia que não fosse de origem eólica, solar. Terra, ar e mares estavam “aquecidos” pelo consumo exagerado de energia por tantos seres humanos. Por volta de 2014 eram cerca de sete bilhões e meio. Agora não deveria haver mais de um bilhão e todos eles com sérios problemas de sobrevivência. As espécies de seres vivos tinham-se reduzido praticamente a insetos, poucos vegetais, aves, mas aumentara o numero de répteis. A Terra estava doente, preparando-se para mais um ciclo de reconstituição de novas espécies de vida adaptáveis ao novo ambiente. A história da humanidade chegaria ao fim em pouco tempo mais, talvez uma década. Por falta de fundos, vontade, dinheiro, condições, as ruas se tinham enchido de terra, poeira e eram agora cultivadas em forma comunitária pelos poucos habitantes de cada bairro. O homem voltava às origens em sua forma de vida, mas desta vez não para viver, mas para sobreviver.



Estava ali, em pleno centro da cidade onde sempre vivera, ma rua Alexandre Mackenzie, perto do cais da marinha do antigo Loyd. Caminhara alguns quarteirões e agora estava de frente para a Baía de Guanabara. Ou o que fora dela... Havia barcos encalhados de todos os tipos e todas as épocas. Ia-se dali a pé até o outro lado da Baía já em Niterói. Havia um ou outro barraco, uma ou outra plantação de sobrevivência naquela baía seca. O mar nem se ouvia. Tinha recuado muito para lá de Copacabana, Leblon, e não havia peixes por aquelas bandas. Se houvesse estariam protegidos, porque sem combustíveis, aquela meia dúzia de pescadores que se arriscava o fazia em barcos a remos. Pescavam apenas para si, a família, protegidos por armas. Em breve não haveria mais balas por já não haver quem as fabricasse. Cada um sobrevivia como podia ora em cidades, ora nos poucos restos de selva. O rio Amazonas era agora um córrego quase seco. A ilha de Marajó se decidira finalmente a juntar-se ao continente. De muito longe chegaram notícias de que se podia atravessar a pé da Ásia para a América do Norte porque o estreito de Bering já não existia.

Então o velho chorou. Ali a seu lado, sobre as brasas de uma fogueira que fizera, jaziam os restos mortais assados de seu mais fiel companheiro: Estrela, seu cachorro de estimação. Não havia nada mais para comer... Um dia teria que cortar uma perna para assar e continuar vivendo por mais alguns dias. Ou não valeria a pena?Viver? Sem história? Quem iria se preocupar em escrever a história da humanidade a partir daquele ponto se já não havia nem energia para os computadores e nem papel por que as fábricas já haviam encerrado suas portas? Humanidade moribunda esperando pela morte...



Então, finalmente, entendeu porque Deus não interferia nas leis que Ele mesmo criara para a existência deste planeta, da vida, do Universo...Deus escreve direito por linhas realmente muito e exageradamente tortas, mortais. Afinal, não fora Ele que criara a vida sujeita à inevitabilidade da morte, lei válida para todos os mortais? Que diferença fazia se era um a um que morria, ou todos de uma vez?

® Rui Rodrigues

[1] Vale a pena assistir a este vídeo https://www.youtube.com/watch?v=teG3fZLIXuU&app=desktop...