Arquivo do blog

domingo, 9 de novembro de 2014

Já sei onde está o céu.

Já sei onde está o céu.



Sabe aquelas noites estreladas, longe das luzes fortes das cidades? Olhando-se para cima, vê-se o céu. A nós, parece-nos acabar logo ali, as estrelas coladas como se fosse na parte interna de imenso balão de gás feito de látex negro. Mas não... Esse céu é imenso, imenso, imenso, praticamente infinito de tão grande. Tão infinito que se conseguirmos imaginar que tenha bordas, fim, chegaríamos à conclusão de que seria plano onde quer que estivéssemos pisando em sua fronteira. Sabemos que não tem nem bordas nem fronteiras. É infinito!



Um dia me preocupei em saber o que pensaria uma formiga do Empire State Building, uma construção antiga na cidade de N. Iorque, imaginando-a no limiar do primeiro degrau do prédio. Nada. Ela não estaria preocupada com o prédio porque não tem noção de sua dimensão. Sua visão é muito curta, não têm olhar telescópico, assim como nós também não temos. Têm que chegar muito perto do topo do prédio para saber onde estão, mas o máximo que saberão é que estão “ali”, sem saber nem ver a rua lá embaixo. Nossa visão é um pouco mais melhorada, conseguindo ver a rua e outras mais, e quase toda a cidade, mas como a Terra é redonda, a sua curvatura nos vai escondendo o resto da paisagem, e não podemos enxergar mais do que umas dezenas de quilômetros. Olhando para cima, vemos um céu. É o céu que temos.



Descobriram o uso de motores para foguetes e os telescópios, bem como sistemas de transmissão de imagens e dados. Juntaram os três e hoje temos imagens de boa parte de nosso universo, o nosso céu, cheio de planetas, estrelas, cometas, pedregulhos imensos, pedras, pedrinhas, poeira e gases. Estrelas já explodiram dando origem a novas estrelas e planetas. O ouro e o urânio que usamos são produtos de estrelas que já explodiram. Nossos telescópios não enxergaram vivalma fora de nosso planeta. Alguns objetos chamados de “não identificados” têm sido confundidos como produtos manufaturados, industrializados, provenientes de outras civilizações, mas tendo o Universo que conhecemos a mesma idade em cada ponto, as demais “civilizações” teriam aproximadamente o mesmo tempo de existência do que a nossa, e estando os sistemas solares que podem abrigar vida a anos luz de distância, nem nós tivemos tempo de poder chegar ate eles nem eles a nós.Mesmo que tivessem evoluído “mais rapidamente” e melhor do que nós. A escala do tempo, as velocidades e as distâncias conspiram contra um encontro imediato ou por “estes dias”. Vivemos sob o mesmo “céu” sob as mesmas condições de evolução. O próprio Universo, o único céu que conhecemos, evolui.



Assim como as formigas do Empire State Building não conseguem enxergar do primeiro degrau o topo do prédio nem sabem que lá existe um miradouro e uma torre cônica, nós também não conseguimos enxergar as sete dimensões extras que este Universo parece possuir. Nossos olhos são “funcionais”. Só percebem e enxergam o que precisam de forma imediata. Além disso, essas sete dimensões ficaram enroladas desde o inicio da formação do nosso universo. Não se expandiram como ele, que continua se expandindo a uma velocidade aparentemente constante. Nosso Universo “infla” constantemente. Cresce, aumenta de volume, de massa, mas a densidade continua constante, próxima de 1 (Um). As outras dimensões são microscópicas, insuficientes para conter outro céu, outros céus. Se houver mais algum “céu”, ainda que seja um paraíso, será fora do nosso Universo, mas o mais provável é que encontremos outros Universos se conseguirmos sair deste algum dia. E nos colocaríamos num dilema: Onde estaria o céu extra de cada Universo (já temos um, o que vemos) ou o outro céu comum a todos os universos?  Parece que não poderemos contar com mais nenhum céu além do que temos e vemos. A natureza não desperdiça nada. Um céu apenas parece ser o bastante e já nos distrai suficientemente para que o exploremos. Há trabalho para bilhões de anos. Para uma eternidade. Trabalho a realizar-se geração a geração.



Há cerca de 5.000 anos atrás, uma migalha de tempo desde que o Universo se iniciou (cerca de 10,4 bilhões de anos) os egípcios descobriram uma possibilidade de existência de um segundo “céu”, sem saber onde se localizaria. Era um céu que corrigia todos os erros vivenciados neste planeta. Para se chegar lá era necessário passar por um tribunal comandado por um de seus deuses, Osíris, e ter uma alma (Ka) ou um coração tão puro e leve, que se colocado numa balança para competir com o peso de uma pena, não poderia pesar mais do que ela. A alma era submetida também a um interrogatório, e toda a população do Egito sabia de cor as perguntas, não fossem esquecer-se e perder a oportunidade de passar para o outro céu, o céu extra. Embalsamaram também os corpos para que pudessem chegar lá inteiros. Não conseguiam imaginar um céu polvilhado de esqueletos sem roupa, sem arcos e flechas, pratos, cavalos, cães e gatos. Colocavam tudo nos túmulos. Ladrões de túmulos nunca acreditaram nessa teoria teológica e devastaram muitos túmulos, estragaram muitas múmias. 
Mais ou menos pela mesma época, no Extremo Oriente surgiu uma religião – o Tao – que prometia 25.000 céus a seus fiéis. Nunca foram mostrados. Apenas se falava deles. Os fiéis precisavam ser bem comportados para ganhá-los assim como prometemos doces a crianças para se comportarem bem. Entenda-se que “comportar-se” bem significava dentre outras coisas, contribuir para a vida dos sacerdotes, a manutenção dos templos. A função dos templos nunca foi a distribuir riquezas por seus fiéis, mas exigir-lhes contribuição. Três mil anos depois apareceu Jesus na Galiléia. Mágico, curandeiro, milagreiro, nunca chamou seus discípulos e lhes deu uma visão do céu. Falou dele, mas não o mostrou. Como Deus poderia tê-lo feito. Maomé prometeu um céu especial para os guerreiros que lutassem pela causa do islã: Um céu com sete virgens. Não lhe passou pela cabeça que mulheres pudessem ser guerreiras também, e que ao morrer pela causa teriam um céu especial com sete mancebos virgens, ou com extrema experiência. Deveriam elas morrer virgens?



Ainda hoje se fala muito em céus, e se há lugar onde possa haver outro além deste que olhamos nas noites estreladas, longe das luzes fortes das cidades, é em nosso cérebro, em nossa farta e pródiga imaginação que uns exploram e outros deixam explorar. Nossos esqueletos são o que deixamos de material neste planeta. O intangível, o imaterial que deixamos foi passado na forma de ensinamento a cada nova geração. Ficou na tradição oral, nos livros, nas gravuras, nas artes e construções, e agora fica nos computadores. Um dia ficará num lindo cristal de quartzo branco ou verde como no filme de Superman, mas ainda precisamos descobrir a sua tecnologia. A humanidade é um enorme animal de fluxo contínuo – por enquanto – que em camadas de gerações após gerações busca povoar o único céu que conhecemos. Não há outro real, mas em nossa imaginação talvez seja conveniente acreditar que somos tão bons que mereceríamos um “céu”, quem sabe um planeta especial onde não existissem os horrores que vemos neste. Será este uma provação, uma escola para o “outro” céu? Não pode ser. Muitos de nós provocamos esses horrores e morremos tranqüilamente em palácios, mansões, cercados de todo o conforto até na morte. Vamos para onde todos nós vamos: para a terra da Terra, limpar dos ossos as carnes, alimentar seres minúsculos para que a vida continue e o planeta não se desestabilize.



Precisamos construir nosso segundo céu, o paraíso, aqui mesmo, neste planeta e em outros que iremos povoar. Como está, estamos muito mal. Só temos um céu distante, frio a apenas 2,4 graus Kelvin, muito próximo do zero absoluto, sem ar. Precisamos de muita fé e quase zero graus de hipocrisia para o construirmos.Temos que construir um paraíso AQUI MESMO!


® Rui Rodrigues.  

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Grato por seus comentários.