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domingo, 7 de julho de 2013

Carta para Maya - abrir em 2024

Carta para 2024




À minha netinha Maya, em 2013.



Oi, Paixão...

Se guardares esta carta num envelope para abrir somente em 2024, terás então 14 para 15 anos. As datas realmente não têm muito sentido. Pode viver-se uma vida maravilhosa em cinco anos e partir contente, e pode viver-se menos bem e a vida durar uma eternidade, mas uma carta guardada por tanto tempo deve merecer ser boa e agradável. Talvez possamos lê-la juntos. Tu para a leres pela primeira vez, e eu para que me lembres o que te escrevi.

Como é meu costume, escrevo-te contos infantis para te distrair em alguns momentos da vida. São contos mais ou menos como sonhos em que se acorda rindo, com vontade de chegar a noite para escutar mais um conto antes de dormir. Mas agora que tens 14 anos e vais ler a carta no dia de teu aniversário, vou contar-te outra historinha para lembrar os velhos tempos.

Era uma vez...

Há muitos... Muitos anos atrás, uma porção de pessoas que se conheceram formando casais. De um desses casais nasceu um ancestral teu, e de mais outro, outro ancestral. No mesmo lugar do mundo, um continente imenso que começa na África, se desvia para a Europa e acaba lá no fim do mundo, no Extremo Oriente. Não conhecemos nenhuma dessas pessoas porque se conheceram num tempo em que não havia Internet nem sequer se sabia se um dia se poderia escrever uma carta. Eram gentes muito antigas. Mas como não amá-las, se foram elas que concorreram ao longo do tempo para que um casal, um dia, descendente de todos esses ancestrais, se encontrassem e te “fizessem” nascer?

Entre esses ancestrais havia gente de África, da Europa, do Médio Oriente, gente que sabia lidar com a neve, com as areias, com as inundações e as secas. Gente que cultivava a vinha, que criava gado, que construía, que administrava, que tocava instrumentos. Mais, muito mais do que minha netinha és filha da humanidade, e mais ainda do que filha da humanidade és filha da natureza.

Cada um tem a sua vida, ao longo da qual mudamos muitas vezes de caminho, umas vezes por opção, outra porque a vida naturalmente “nos empurra” para esses outros caminhos. Mas os teus genes têm a experiência daqueles seres humanos de África, da Europa, da Ásia, e estás em condições de viver a tua vida. Não importa nada, absolutamente nada, como é o nosso corpo. O que importa mesmo é como é o nosso pensar, que sentimentos temos. Aos quinze anos ou já escolheste ou irás ainda escolher os teus rumos. Se não o fizeres por ti, a vida te empurrará o tempo todo, ao sabor do imenso mar dos “outros”. Se quiseres um conselho de um velho avô, escolhe. Será uma opção tua, independentemente de ouvires ou não conselhos. Só decidindo por ti mesma te tornará independente. Sabes porque razão? Se tu não decidires sempre por ti mesma, podes escutar até bons conselhos, mas não sempre. Existem umas leis, as da probabilidade, que decerto agora já conheces, segundo a qual a repetição constante no jogo da vida é praticamente impossível. Um desses conselhos que de boa fé sigas, pode tornar-te a vida muito difícil. E para saberes o que escolher na vida e seguir na vida, tens que saber, conhecer, aprender por ti mesma, adquirir experiência. Dizem que é errando que se aprende. Recomendo-te cuidado. Se aprenderes e prestares atenção à vida, não precisarás errar onde a maioria das pessoas erra, e quem sabe, talvez teus erros sejam sem grande importância. Então, estudar é muito, muito importante. Por mais que não gostes de uma matéria na escola, ou de duas ou três, é nestas que deverás concentrar a tua atenção. Teus professores te ajudarão se te mantiveres interessada em estudar. O conhecimento te faz sentir firme, sabendo o que fazer sem muita hesitação. Não dependerás dos outros que nem sempre estarão interessados em ti. Ou apenas em ti.

Ah... O amor... Deverás estar gostando de alguém. É comum aos 15 anos, mas se não te disseram ainda, deixa que te diga. O amor é um sentimento “esquisito”. É um processo simultaneamente químico e biológico, agindo em nosso cérebro, produto de estímulos naturais. É a nossa natureza, em meio a natureza maior, que nos faz amar na juventude, amar em qualquer idade, mas é na juventude que a falta de experiência nos faz passar por alguns apertos. Por que te digo isto? Porque as pessoas têm a péssima mania de se desiludir quando o processo do amor – aquele tal processo químico - não lhes corre como imaginavam e ficam tristes, produzindo em seus cérebros exatamente aquela enzima contrária ao do amor correspondido, que nos dá alegrias. Então, qual é o raciocínio? De certeza que não irás ficar triste por muito tempo. Isso não é nada bom. Palavra de especialista, tal como todos os que atingem uma idade avançada. E também te digo isto porque não me gostaria que sofresses até chegares a uma idade avançada.

De importante só se te falar da ambição, porque de resto, tu sabes o que fazer, quando fazer e como fazer. É que por ambição cometemos os maiores erros de nossas vidas, até mais do que quaisquer outros, inclusivamente o amor. Se quiseres muito da vida, serás infeliz na mesma proporção, porque a ambição exagerada é amoral e não tem muita ética, e se perdem os amigos que se fazem. Não há ninguém tonto. Mas também, se não tiveres nenhuma ambição, uma roupa, um sanduíche roubado do lixo e uma ponte são tudo o que poderás ter de graça junto com todo o sofrimento que poderás imaginar. Se deres o que tens, ficarás sem nada, talvez com o coração cheio de amor, mas isso não concorre para a tua felicidade. Os dias seguintes serão de vazio, mas ajuda sempre, comedidamente, a quem precisa e merece.

Drogas são o apagar da mente, uma borracha que se passa em nossa consciência, o destruir das realidades, dos amigos, de nós mesmos, e a construção de uma redoma irrespirável cheia de nada, onde nem a linda natureza que nos cerca tem o mínimo sentido. Uma morte viva. Cai fora desde o primeiro instante em que te ofereçam alguma. Nem tenta.

E quando tiveres a minha idade, estarás bem melhor do que nós, que já chegamos lá...

Beijos nesse teu lindo coração.

Vôvô Rui, o “ oi paixão”.


© Rui Rodrigues

sábado, 6 de julho de 2013

O amor no tempo que for.

O amor no tempo que for.

O amor não se define. Apenas é quando for, pelo tempo que for, e como tudo é imprevisível, ame tanto quanto puder, no tempo que puder. 


O amor na juventude.



O que era o mundo? O mundo era ela. Já saíra uma meia dúzia de vezes com corpos femininos apressados, alguns nem me cobraram, mas sempre distantes, sorridentes, com argumentos que não conseguiam convencer. Era muito mais do que moda, o hábito da iniciação e do treinamento sexual, ainda mais apreciado com o prazer, mas sempre, sempre nas relações com um sentimento de vazio. O saco ficara vazio, mas o coração não. O coração queria algo mais do que esse simples contato carnal, a penetração e o gozo. Talvez fosse uma questão simples de desejar construir algo na vida, perene, para sempre, como se precisássemos de ajuda feminina para alcançar os objetivos: Família, trabalho, carro, casa, filhos, riqueza de esbanjar ou riqueza de sobrevivência. O resto era paisagem onde nos locomovíamos: O mundo e eu. E sem estudo, os objetivos ficariam seriamente comprometidos. Não impossíveis, mas muito difíceis. Por isso admiro quem, com dificuldades consegue criar seus filhos, ter sua família, viver nem importa onde. Um amor e uma cabana ainda existem, podem acreditar. Na montanha, na praia ou nas cidades.  Não é vergonha, é circunstancial.

Na fase de treinamento e alívio, pernas eram pernas, assim como rostos, peitos, bundinhas, jeitão, papo, escolhendo as melhores, as mais bonitas, as mais torneadas, as mais sensuais. Mas quando ela apareceu, o mundo sumiu e ficamos apenas eu e ela. Não importava se suas pernas tinham cabelinhos louros ou se eram lisas, passadas no aparelho de barbear, ou arrancados a cera quente, se seus peitos eram grandes ou pequenos. Toda ela era bela, cheirosa mesmo sem perfume, gostosa mesmo sem transar, deliciosa quando transávamos. O construir passou a ter o significado de sobreviver, mas não um objetivo de vida pensando no futuro. O futuro era aquele momento, ao seu lado, curtindo cada momento, um desejo de posse que ultrapassava os limites das camas, das cozinhas, dos tapetes na sala. Fogão não, porque podia estar ainda quente. Cada conquista no emprego, um sinal de “estou aqui, estamos construindo juntos”, contado como vitórias que de fato eram. Amores duram pouco, mais ou menos, ou muito, mas jamais são eternos tal como se supõe na juventude, ainda que sejamos jovens aos 60 anos. O amor amadurece, muda, transforma-se com a experiência e a idade. Preocupações do dia a dia se misturam com as emoções, o corpo muda, a qualidade começa a prevalecer sobre a quantidade. Se um dos corpos do casal deseja ou tem o sentimento de se manter “eternamente” jovem, a mente retém a juventude enquanto o corpo agüentar. E continua desejando quantidade, quantidade, que se não encontra no lar, encontra do lado de fora. Arquivos vivos de assuntos mortos não satisfatoriamente resolvidos começam a solapar as emoções mais nobres, e outras emoções entre as quais as de “justiça” e “merecimento” tomam lugar, gerando conflitos. O amor com chama de vela começa a apagar-se e acaba por falecer por falecimento geral dos órgãos. Dos órgãos sexuais, dos mentais, do fígado, da bílis, do estômago, dos rins. E lá se vai a canoa do amor, sem que venhamos a saber, algum dia, com quantos paus tal canoa fora construída.

Nem fotos acabam por restar. Para alguns ainda fica restando ódio. Para outros, o esquecimento, como fumaça de trem que some na primeira curva da estrada de ferro depois da última estação onde nos apeamos.


O amor do tempo.

O amor do tempo é o amor do tempo que for, a qualquer tempo, quando aparece. Mas é como aparição. Não aparece para qualquer um. Tem que se estar disposto. Ninguém é hipnotizado contra vontade. Ninguém ama contra vontade. Mesmo desiludidos somos capazes de recomeçar, mas não se peça ou exija, ou sequer se espere que tudo seja como na juventude em que o tempo à frente não tinha a mínima importância, e se penduravam vários cabides com roupa em cima do pênis. Se nos deixarmos levar pelas desilusões da vida, nem vontade se tem de tomar viagra. Não que o sexo importe de forma determinante na felicidade, quer do homem ou da mulher. A felicidade pode estar em sentar no meio fio de uma rua aos 70 anos, e soprar bolinhas de sabão divertindo as crianças da rua, dar milho aos pombos, cozinhar uma receita preferida, passear pelo mundo, ouvir música, assistir a filmes, gastar tudo o que restou de 50 anos de poupança, cuidar dos netos, apoiar filhos, ajudar quem se pode e merece a nossa ajuda.

Mas de repente pode aparecer em nossas vidas aquela paixão, como costuma acontecer com as velas quando estão se extinguindo e a chama parece mais forte do que antes. O amor pode transformar-se em uma necessidade premente de dividir o tempo de mãos dadas, falar sobre o passado, contar histórias, ajudar-se mutuamente, agora sem os temores, as inconformidades, os ciúmes, as prevalências de pensamento da juventude. Em vez do divergir, o convergir nas opiniões, aproveitar o pôr-do-sol da vida, entre um copo de vinho, um chá com biscoitos num sofá de uma varanda. Dar banho nas costas um do outro. E com sexo, porque não? Mas há sempre tantos fatores que determinam nossas preferências, nossa forma de agir, que por vezes nos surpreendemos namorando uma mulher mais nova, as mulheres namorando um sujeito mais novo, alguém namorando alguém bem mais novo. A experiência da idade e a impetuosidade da juventude em confronto todos os dias, nem sempre com a mesma visão de futuro. Tanto pode dar certo por muito tempo como por pouco tempo.  

Lamento profundamente meu saudosismo. Ele não me faz muito bem, não preciso dele e nem contribui para a evolução da humanidade, mas constato que numa família composta como “antigamente” de avós, pais, filhos, netos e bisnetos, o amor e a cooperação contribuíam para o bem estar do dia a dia de todos os membros da família. Evidentemente não me refiro às famílias altamente competitivas em que netos e filhos brigam entre si pelo espólio de pais e avós. E nas famílias modernas, que já não são tão grandes como “antigamente”, encontrar solitários e solitárias não é incomum. Esses têm que comprar uma escova longa para lavar as costas. Não é grande a dificuldade e vencida a dificuldade fica sempre o espírito de auto-suficiência.

Vista seu terno, suas bermudas, calce seus sapatos. Vista seu vestido, pegue sua bolsa, calce seus sapatos. Saiam. Encontrem-se em algum lugar da vida para viver um outro grande amor. De repente se encontram em algum lugar do tempo, em lugar da vida, em algum lugar desta natureza tão vasta e tão bonita.

Ainda há flores que encantam, aves canoras de lindos trinados, regatos de águas sonoras cantando suas melodias, dias de sol, esperanças mil nos ares que se espalham como perfume e contagiam. Saiam e se encontrem. Não se pode perder uma única oportunidade nesta vida. Nem que seja em Paris. 

© Rui Rodrigues




quarta-feira, 3 de julho de 2013

Senatus Populis Que Brasilis.

Muitas histórias se ouvem no Bar do Chopp grátis. Nunca perguntamos se são verdadeiras porque os clientes têm sempre razão...



Senatus Populis Que Brasilis.

Um dia foi aprovado o grande projeto. O pessoal do senado só trabalharia de terça a quinta feira alegando dentre outras coisas que gastavam o sábado para viajar para casa, e o domingo para viajar para o senado. Evidentemente que, apesar de terem residência em Brasiliae, que era a sede do Senado, e receberem uma gorda ajuda de custo, preferiam continuar morando em suas residências em seus estados, muitos a mais de 4.000 km de distância de Brasiliae.

(De notar que se usam nomes fictícios para evitar coincidências).  

O dinheiro das ajudas de custo de moradia em Brasiliae eles embolsavam, evidentemente, porque político o que não é mesmo é trouxa. Além disso, ainda tinham a comissão das passagens de avião: Cinquinho por cento do valor das passagens, mais a milhagem. Por isso os senadores só trabalhavam de terça a quinta. Mas também não era tanto assim. Logo que chegavam na terça, iam para o hotel, se arrumavam, e passavam o resto da manhã sabendo das novidades, que por vezes se estendia até depois de almoço. E na sexta feira, usavam a parte da tarde para preparar as malas e programar a semana seguinte.

Bom... Na verdade só trabalhavam na quarta feira no Senatus Populis Quaes Brasilis.  Quando havia alguma coisa com muita urgência, programavam votações noturnas e ganhavam horas extras. Como era bom ser senador... Mas era uma vida dura. Quando estavam em casa eram sempre incomodados pelo pessoal dos lobies que sempre lhes ofereciam algumas coisinhas, que mais não fosse uns favores. Nos corredores do Senatus Populis, nem pensar por causa do decoro parlamentar. José Safson, que é barman no Senado, e ganha cerca de dezoito mil reais por mês, como base, conta muitas coisas. E ri muito quando conta, porque é muito engraçado e ele ganha muito bem. Uma vez viu um papel sobre uma mesa e leu rapidamente. Era para a aprovação de um projeto de lei que pagava a quem criasse animais selvagens em casa. Cada pessoa poderia ter até 10 animais. José Safson até pensou que iria abrir um zoológico, que era o lugar mais indicado para isso. Reservas Zoológicas do Brasil, mas dinheiro é dinheiro e o Brás era o tesoureiro. Ele acompanhou, por acaso, um senador que pegou o papel e o mostrou rapidamente a um outro senador que estava aparecendo por perto, vindo em sentido contrário.

- Senador... Por favor... Preciso de sua ajuda.
- Pois não, nobre senador.. Em que posso ajudá-lo?
-  Estamos coletando assinaturas para um projeto que paga prêmio a quem juntar até 10 animais silvestres e os mantenha vivos e confortáveis até que o IBAMA passe para os reconduzir às florestas.. Posso contar com sua nobre assinatura?

E José Safson viu que o outro senador, velhote, pensando em ser enterrado com a bandeira nacional depois de um ataque cardíaco, passou os olhos pelo documento... Procurou a palavra pagar, encontrou escrito que o governo pagaria. Procurou números, encontrou o 10 (onde dizia até dez animais) e assinou. Tudo se passou em cerca de dez segundos. Era crível porque é assim que se fazia política, pensou nosso barman. Dessa forma passaria até elefante enquanto o povo matava formiga com os pés. E uma porção considerável deles assinou em branco, levado pela conversa aliada de velhos aliados. Se fulano diz que é bom, então é... Não há ninguém no Senatus Populis Que Brasilis que diga que não é bom sob pena de perder a sua porcentagem no negócio... Os animais da floresta, alguns em extinção, passarão agora a ser caçados para que os caçadores ganhem mais uns trocados. Mais uma vergonha nacional aprovada pelo Senatus.

Quando o Populis saiu para as ruas, na Terra Brasilis, o Senatus entrou em pânico. E agora, para desfazer velhos negócios? Tantas verbas comprometidas? Atender os anseios da população arruaçada? Mudar a mentalidade febril e doente daquela gente do Senatus não se faz de uma hora para a outra, por mais pressa que o Populis possa ter. Então resolveram enrolar, empurrar com a barriga, (ventilabis ventrem) propor um plebiscito, como se fosse isso – ou que queriam fazer com isso – que interessasse à Populis... Entretanto, a ex-terrorista, agora no poder, mandava sua guarda pretoriana (praetorium) contra a Populis, armada dos calcanhares até a raiz dos cabelos protegidos por elmos aterrorizantes, lançando gases nauseabundos (abominanda vapores) sobre a multidão. Cometem erros Crassos, quer a ex-terrorista, quer o Senatus, quer a guarda pretoriana. Não pretendem mudar nada. Mas a crise atual veio e está no Senatus Populis Que Brasilis. O Fórum condenou, o Senatus não considerou as condenações.

Ouve-se da velha Grécia os gritos de Democracia. A vox Populi vox Dei não soa ainda nos ouvidos do Senatus Populis Que Brasilis. Soará como trombetas que derrubam muros maiores do que os de Berlim, de Jerusalém...

© Rui Rodrigues





   

Egito – uma primavera da humanidade.



Egito – uma primavera da humanidade.

O Egito é uma fonte de referência histórica, de hábitos, de cultura. Uma das primeiras civilizações da história que estendeu sua influência a toda a África, ao Oriente Médio e à Europa. Seu povo é de respeitar, tanto ou mais do que qualquer outro. Não se entende, sem ferirmos aspectos religiosos que nos últimos mil anos sua população tenha sido submetida a ditaduras constantes em nome de Alah. O povo Egípcio, por mais nacionalista e tradicional que seja, não merecia isso. Assim o entendem por lá, desde que se iniciou a primavera árabe.

É muito difícil tirar ditadores do governo, como temos a oportunidade de ver agora no Brasil, quando os “líderes” do Brasil, arrebanhados à mão pequena entre antigos militantes da guerrilha, comprou senadores para que votassem em seus projetos destinados a prolongar o seu poder, a torná-lo de exemplo – infeliz - para toda a América Latina. Apesar dos movimentos de rua em nossa terra, os políticos se fazem de desentendidos e estão preparados para assassinar de vez a nossa constituição, aprovando os termos de um plebiscito fadado a ser negado pela população alerta.

A primavera árabe não queria ditadores. Como os ditadores dificilmente largam os seus cargos – basta olhar para Cuba e para a Coréia do Norte –  as forças armadas egípcias destituíram Mubarak. Promoveram rapidamente novas eleições e Morsie foi eleito. Promoveu como prometido uma nova constituição egípcia, mas a preparou de tal modo que se tornou um novo Pachá, um novo ditador. Não era isso que o povo egípcio desejava e voltou às ruas...

No dia de hoje, 03 de julho de 2013, o exército tirou mais este ditador do poder. Morsie, o valentão, fugiu. Ainda existem muitos ditadores à solta na comunidade internacional, ainda impunes. Urge retirá-los do poder, porque a primavera não é apenas árabe. É uma primavera da humanidade, como o demonstram as manifestações de rua da Turquia, da Espanha, por toda a Europa... é o mundo que está mudando, e as velhas forças do poder, encasteladas em Partidos políticos que nada fazem pelas populações de cidadãos não desejam entender e nunca irão entender... O conforto de cargos e liberdade de poderem governar como querem, não a desejam ver em perigo. Cidadãos ao redor do mundo estão mudando e hão de mudar esta forma de encarar a cidadania. Uns dirão que as forças armadas egípcias esperam que a população eleja alguém que lhes seja simpático... Não... Não creio... Creio mais em que depois de mil anos de ditaduras, o Egito esteja ainda engatinhando nos rumos da Democracia.

Parabéns, Egito!

© Rui Rodrigues

A descoberta do Mundo Novo



A descoberta do Mundo Novo.

O Novo Mundo já foi descoberto há séculos com caravelas que partiram do Velho Mundo. Famílias perseguidas buscaram novas terras recém descobertas para construírem nações livres da perseguição. A perseguição era religiosa. Enquanto fiéis rezavam pelas igrejas, descrentes eram perseguidos, esquartejados, torturados, queimados em fogueiras, os bens expropriados e distribuídos por outros que nem, necessariamente, tinham tanta fé. Não há como esconder a história. Sempre houve perseguidos e perseguidores, abusados e abusadores.

Refiro-me ao Mundo Novo, aquele que está começando agora a ser descoberto. Fica em qualquer lugar onde se queira viver em paz, trabalhando sempre para um bem comum, o bem social, onde qualquer cidadão possa ver o resultado de seu trabalho dentro de suas fronteiras e na boa relação com o exterior. Mas para isso não pode haver políticos corruptos, e o Estado não poderá ter o poder que hoje tem. Sabemos que em nome dos cidadãos se cometem todos os tipos de atrocidades. Os cidadãos fazem o que os governos querem, os governos não fazem o que os cidadãos querem. Governos de hoje usam bandeiras de marcas políticas para se elegerem e discursar publicamente, mas consomem diariamente bandeiras únicas de interesses escusos.

É necessário descobrir e construir um mundo novo em que não haja governadores nem governados. Um mundo novo em que todos tenham em sua palavra, em seu voto, a mesma força, sem prerrogativas, sem impunidades. Um mundo com leis iguais para todos, poderes que executem as leis emanadas e aprovadas pelos cidadãos.

As caravelas já partiram dos portos do Novo Mundo e estão chegando ao Mundo Novo e a bordo levam a luz da Democracia Participativa, aquela em que de forma autônoma, cada cidadão pode votar, eleger, deseleger.




© Rui Rodrigues

sexta-feira, 28 de junho de 2013

Como os cidadãos podem governar por si mesmos

Como os cidadãos podem governar por si mesmos sem deixarem de ser democratas.


Imagine-se que, de forma pacífica, se consiga convencer um governo a montar um SITE NACIONAL, seguro, com fiscalização popular de experts, no qual se lancem todos os itens da Constituição e suas alterações através de Medidas Provisórias, e de atos como aprovações particulares de aumentos de salários e alteração de horas obrigatórias de trabalho do senado e outras benesses constituídas, por aprovação “soberana” dos senhores que perambulam pelo senado... E...

Se colocassem em votação popular através desse Site?  O que achamos que aconteceria, se o resultado por votação tivesse a força de uma LEI?

Diriam que muitos brasileiros não têm acesso à Internet. É verdade... Muitos e muitos mais, ou tantos quanto, também não tiveram acesso ao ensino, à saúde pública, à segurança... A transportes públicos decentes. A nada. A maioria não tem acesso a nada. Mas sem instrução, podem votar... Não há o mínimo problema. Para o país todo mundo sabe o que quer. Lá no senado parece que só conhecem o que não é bom para o país... Parece que estão interessados em desconstruir o BRASIL. 

E poderia esse site, em continuação, servir para DESELEGER quem perder a confiança popular. Servidor que não serve, não serve para ditar leis, impor a sua moral que passa a ser duvidosa. O país ficaria instável, tal como está.

E se algum cidadão, seja qual for, achar que tem uma boa idéia para a nação, que a publique nos sites sociais... Não faltará quem a discuta, e em harmonia, poderá ser discutida e votada em sua forma final no SITE NACIONAL.

Assim, os cidadãos teriam sua palavra aprovada, como lei nacional. Com aprovações diferentes para cada estado, sendo que as aprovações por Estado não poderiam ferir as aprovações nacionais. Assim se respeitaria a idiossincrasia dos estados.

O que haveria de errado nisto?


© Rui Rodrigues

quinta-feira, 27 de junho de 2013

Se eu fosse senador


Conto do mês de Junho de 2013.
 Senado - uma vergonha nacional

“Se eu fosse Senador ou Deputado de qualquer partido”


Por vezes nos enganamos nas melhores das intenções. Faz parte da genialidade humana reconhecer o erro e há erros perdoáveis que jamais são corrigidos. Há outros erros que são imperdoáveis. Em algum lugar já se disse que este planeta deveria ser chamado de “planeta água”, porque é o que mais tem por aqui, mas em vez disso chamam-lhe de “Planeta Terra”. Não foi propriamente um erro, porque quem lhe atribuiu o nome nem sabia que havia tanto mar, tanto mar... E por falar em mar, e para não deixar apenas um equivoco como exemplo de erros que ficam para todo o sempre, analisemos o caso do Descobrimento do Brasil. Podemos imaginar um “gajo” lá na torre de vigia, já tendo passado por uma enorme Baía lá em cima, e o comandante querendo dar nome àquela nova porção de terra. Bahia não podia ser porque já tinham dado nome àquela outra, bem perto do Monte Pascoal. Mas não lhes era evidente que naquela Baía desaguava um rio? Notava-se até pela maré comprida que pela manhã parece que faz o mar subir pela baía e pela tarde descer como um rio. Era Janeiro e foi dado a este maravilhoso lugar o nome equivocado de Rio de Janeiro. Corrigir isto nos dias de hoje seria um atentado a alguma coisa, e não valeria a pena mudar. Ia ser muito complicado, uma despesa tremenda. Mas algum senador poderia ter esta idéia, já que tiveram tantas absurdas, como uma destinada a destinar verbas e serviços para curar indivíduos e individuas gays... Isto seria um milagre. Para os religiosos, um milagre dos céus. Para os “gaycientes” seria uma ação do demônio, porque quem é gay é gay e ninguém tem nada com isso, porque não é doença e não desejam a “cura”. Se eles não reclamam, porque reclamar por eles? Só se for para gastar verbas em hospitais de amigos. Amigos dos senadores, não dos gays.

Foi por coisas como esta, e por muito piores que esta, que um dia o Rio não amanheceu cantando como era costume até então... Foi tarde para as ruas, deitou-se tarde, e com uma vontade danada de voltar às ruas e ficar por lá até o Sol raiar. E foi o povo para as ruas do Rio, e de S. Paulo, em todas as cidades costeiras e do interior desde o Oiapoque até o Chui. Se olhássemos nos rostos de repórteres, transeuntes passando em frente a lojas de venda de televisões, veríamos o espanto. Era inusitado. O que era aquilo, que movimento era aquele? Logo se pensou que tivesse sido movido por algum partido político, mas era evidente que não. Nenhum partido político se atreveu a publicar sobre a autoria de tão nobre ato, o povo reclamando nas ruas contra a corrupção, pela falta de sentido de ser tão mal representado, por um grupo até pequeno de senadores, que ganhavam uma fortuna por mês e por ano e alguns até por décadas, mais de cinco, como se a casa lhes pertencesse e fossem eleitos de forma perene. Qual o segredo de um senador se reeleger anos a fio e por vezes até em terras onde não nasceram? Por mérito não deveria ser, porque o povo nunca gostou muito deles. Deveria haver algum truque nas urnas [1]. A vozearia sempre tinha sido grande, mas como democracia é democracia – assim se julgava – os senadores foram se elegendo por décadas a fio. Se houvesse prêmio, receberiam até um Oscar pelo total da obra, mesmo não tendo ganhado nenhum Oscar antes. Na verdade o povo já não suportava mais os desvarios evidentes de governos que gastavam bilhões em copas do mundo e jogos olímpicos, sem cuidar da atualização dos aeroportos, das estradas de rodagem, da educação, dos transportes públicos, da saúde pública, da segurança pública [2]. O que teria feito a FIFA escolher o Brasil nestas condições? Pior ainda era o estado dos serviços públicos decadentes, como a saúde, os transportes públicos, a insegurança, a falta de ensino e de condições de ensino, o transporte de crianças em ônibus precários. Mas ainda muito pior é que o governo destinava verbas e elas não chegavam ou pareciam não chegar ao seu destino. Pessoas morriam nas filas de hospitais, ambulâncias novas estacionadas à deterioração, equipamentos modernos e custosos que nunca foram instalados. Dias antes da saída às ruas havia cerca de 3.000 processos tramitando no senado sem solução, há alguns anos, mas quando chegou o limite de prazo para distribuir os royalties do petróleo, o senado esqueceu os 3.000 processos pendentes e queria resolver logo o mais gordo, o mais volumoso em verbas: o dos royalties. Chegaram a informar que se preciso fosse passariam a noite toda votando os três mil processos pendentes. Mas nesse caso como seria possível votar com critério? Havia algo errado com o senado ou com o governo. Talvez com os dois. Mas ainda havia algo pior. O senado era uma caixa de surpresas, de mágicos. Os cidadãos logo perceberam que uma das coisas erradas era o fato de só trabalharem de terça a quinta feira e receberem 15 salários por ano. Havia um condenado pela justiça que em vez de esperar o esgotamento dos recursos contra o julgamento fora do senado, foi reintegrado ao cargo. Então, o senado abrigava condenados da justiça? Mas ainda muito pior... Corria uma tal de PEC-47, que tirava do Supremo da Justiça o ato de investigar. Ora agora não restavam dúvidas de que havia algo de muito podre no reino de Brasília. E havia mais uma meia dúzia com pendências na justiça também atuando e votando no senado. O projeto para a “cura gay” era realmente uma piada face a esta PEC-47, o ponto final de golpe que se perpetuaria por décadas transformando o Brasil num estado sem lei.  A oposição ao governo não existia. Alguns dos réus atuando no senado são condenados de uma prática de corrupção por pagamentos mensais a senadores e deputados a que se deu o nome de mensalão: Compravam-se votos da posição da oposição e quem sabe até dos que não eram nem uma coisa nem outra. O senado, um antro de negociantes ávidos pelo enriquecimento. E a presidência e os ministérios, estarão fora disto? Claro que pelo que se vê se pode pensar qualquer coisa. Dirão que sem provar não se pode julgar nem condenar. Certo. É verdade, mas a confiança no governo desaparece, e assim os cidadãos acham que deve mudar alguma coisa de muito importante, porque o poder está num meio de pessoas que nem sequer avisam que há desvios de moral no interior da casa. Tudo o que se descobre é por denúncias. O primeiro a denunciar que havia algo muito maior do que um simples roubo isolado foi o senador Roberto Jefferson. Foi também condenado, é certo, mas foi dele que saiu a denúncia. Não estou convicto, eu pessoalmente, de que devesse ser “tão” condenado.

Mas isto já não era um governo. Isto era uma anarquia controlada de forma oligárquica por um senado eleito “democraticamente”, olhem a ironia, pelo próprio povo do Brasil. Lá fora, os demais países do globo, tinham o Brasil como um país democrático, tão democrático que, numa época em que os Bancos correm atrás de cada centavo que lhes devem, o governo esbanjava dinheiro perdoando dívidas externas de milhões, bilhões na soma. Ninguém reclamava. Parecia que o governo representava realmente o povo. Pior ainda foi a constatação: O Senado desperdiçava com lucros próprios, e o governo distribuía dinheiro pelo exterior, promovia obras de vaidade, deixava os serviços públicos se deteriorarem. O governo não era uma benção, era um castigo. Parte de algum golpe para sublevar a população e instaurar uma ditadura?

Nas redes sociais, os mais extremistas de esquerda tentavam convencer que quem queria dar um golpe era a direita. Mas não havia nem direita nem esquerda. Isso era apenas uma “bola” de um jogo que rendia dinheiro, alucinações e diversão.

Mas o povo que saiu para as ruas saiu de verde e amarelo, vestindo camisas brancas ou verde-amarelas, gritando aos políticos e ao mundo que eram apartidários. E pelos vistos, para sempre. Nos últimos dez anos, a ação de corruptos corromperam a honra, a moral e a ética da política e dos políticos. Isto não se conserta, não tem volta porque completamente relaxaram com os deveres de seus cargos. O sistema não presta, a Constituição é vilipendiada e alterada a cada Medida Provisória[3].

Antes da ida dos cidadãos para as ruas em protesto, seria relativamente fácil consertar os erros, mediante pedidos de desculpas e promessas de que a partir daí tudo seria diferente. Mas agora, com o povo nas ruas, completamente descrente de seus políticos e partidos políticos parece não haver solução prática. Exceto a proposta por alguém desses brasileiros, desses desconhecidos, mas sempre atentos, com inventiva e discernimento, tudo na mais perfeita ordem e paz, que me disse:

- O Congresso não representa o povo, porque seus membros foram eleitos pelo voto segundo o estabelecido na Constituição?
- Representa, respondi.
- Mas face aos fatos parece que o povo perdeu a confiança nesses políticos. Como os votos foram em confiança, e eles provaram que já não a têm, o que o Senado tem que fazer é por na rua os condenados pela justiça e os demais que tenham ficha suja. Que aguardem o desenrolar do processo fora das instituições de governo.
- Vamos supor que isso fosse possível... Qual seria o próximo passo?
- Exigir a devolução das verbas desperdiças ou comprovadamente desviadas, e colocar todo mundo sob investigação, todo mundo mesmo, até o presidente do senado, verificar índices de riqueza e inquirir para determinar se houve enriquecimento ilícito. Tem que haver meio de saber quem foi beneficiado, quem pagou, quem recebeu, onde o dinheiro foi usado. E há as escutas telefônicas.
- Bem... Mesmo que sobrasse alguém no senado como em Sodoma e Gomorra... Qual seria o próximo passo?
- Refazer o orçamento da união e aplicar o dinheiro onde deveria ter sido aplicado, isto é, nos transportes públicos, na saúde pública, na segurança pública, no ensino público, nas infra-estruturas de água, esgoto, energia...
- Mas nesse caso, as obras da Copa poderiam não ser concluídas... A nação falharia frente à comunidade internacional...
- Não... Respondeu o meu amigo... O que é pior? Falhar com a FIFA ou falhar com 200 milhões de brasileiros?

Pareceu-me que o amigo tinha uma certa razão. Mas apresentou ainda mais um problema que eu mesmo resolveria se fosse um senhor Senador:
- Há um problema... Não vão ter tempo para fazer tudo isso de imediato. Eles só trabalham de terça a sexta... Imaginou quanto trabalho?

- Então que paguem parte de sua ineficiência, trabalhando de segunda a sexta, sem folga, sem férias, sem receber horas extras nem subsidio algum porque trabalharão dentro das instalações do senado. Deve ser estabelecido um prazo para terminarem...  Devem até trabalhar com a mesma alegria com que iriam votar 3.000 assuntos numa noite só, como foi o caso dos Royalties. Quanto ao prazo dois meses.
- E se não terminarem?
- Pagam uma multa diária com base nos juros bancários de cartão de crédito que eles mesmos deixaram subir à revelia... E nós, o povo, lhes pagamos no Maximo, os almoços, os lanches e os jantares que podem ser feitos na cozinha nova da presidente. Tão grande que dá para todo o mundo.

Mas o amigo era teimoso. Ainda tinha uma pergunta a fazer...
- E se para realizar tudo isso tivessem que infringir uma regrinha ou outra?
- Mesmo que fosse uma regra fundamental, já infringiram tantas, que mais uma não faria diferença, mas agora seria por uma excelente causa: Os cidadãos e cidadãs deste país, antes e tudo antes da presidente pedir demissão.


© Rui Rodrigues

PS – Creio que para o povo votante, ou pelo menos a maioria, vota por confiança, por fé nos candidatos, e nem sempre a lei é vista ou entendida sem uma dose de confiança. Quando o povo perde a confiança, a lei sente. Quando falha a lei, a confiança se vai por completo. Quando a podridão é tamanha numa instituição como o senado, todos devem pedir demissão e o supremo tribunal federal – os que entendem de lei, de moral e de ética, assumir o governo até novas eleições nas quais nenhum dos políticos eleitos nos últimos 50 anos poderão concorrer. É como na seleção de futebol. Mas antes, faz-se necessário mudar o sistema para uma Democracia Participativa.


[1]  O processo do Mensalão provou que se pode comprar votos de senadores e deputados através de gordas somas. Mas isto no Senado. Agora imaginemos se um Partido Político desejar governar para sempre. Pode entrar em acordo com os demais partidos numa enorme base aliada, programarem as urnas e os resultados serão sempre os que já tinham combinado. As verbas e os cargos então se dividem após as eleições. O povo que se dane, porque o dinheiro dos impostos é gordo e paga bem. 
[2] Há muitas décadas se falava da insegurança no Rio de Janeiro. Não era tanto assim, realmente. Vivi no Rio por mais de 50 anos e não conhecia casos de assaltos a amigos, familiares. Fui assaltado em 1988, de forma leve, e daí para cá o crime foi chegando mais perto: Hoje há mortes todos os dias por atos de violência. Rio é só um exemplo.
[3] Na ditadura militar, ou no “regime” militar, que dá  no mesmo (agora temos uma ditadura de políticos, ou um “regime” de políticos) as Medidas Provisórias tinham o nome de AI – Atos Institucionais. É como chamar de Cônsul a qualquer outra marca desde que seja uma geladeira. O povo sem instrução não entende isso. Precisamos melhorar os níveis de educação. Então este tipo de políticos desaparecerá por completo. 

terça-feira, 25 de junho de 2013

A JURISPRUDÊNCIA E A MORALIZAÇÃO DO BRASIL



Tancredo e Ulisses
A JURISPRUDÊNCIA E A MORALIZAÇÃO DO BRASIL
Sob o ponto de vista da necessidade de uma constituinte.


A transição política da ditadura para um sistema democrático no Brasil, na passada década de 80, foi efetuada com a participação fundamental de um senador chamado José Sarney. Existem opiniões diversas, mas é certo que, tal como Lula, tanto estava de um lado como do outro. No caso de José Sarney, tanto do lado da ditadura para garantir que não houvesse revanchismo por parte da esquerda brasileira que provocasse perseguições a policias do DOPS, políticos e militares, e, além disso, “organizasse” o trabalho para convocar uma constituinte que nos desse uma nova Constituição. Realmente, a anterior era digna de qualquer ditador, por sua vez toda remendada e furada por Ais, isto é, Atos Institucionais que castravam a liberdade de expressão, prendiam e arrebentavam. O trabalho de coordenar foi entregue a Ulysses Guimarães.  Na época, se não me equivoco, nossa constituição foi considerada como uma das melhores do mundo. Mas que mundo? Um mundo em evolução, ainda na infância da participação popular. Na verdade, a nova constituição também permitia Atos. Não os Atos institucionais, mas Medidas Provisórias. Vistas as coisas com olhar crítico e isento, a nova constituição era falha. Ninguém até hoje alterou a Carta Magna num país muito conhecido de todo o mundo, que tem apenas 18 cláusulas. Se precisasse de emendas, seria um sinal de que tinha sido mal feita, e ninguém tem filho feio. Então veio-se alterando a constituição, que depende sempre de quem a altera, que partido a altera, ou seja, a constituição passa pela mão de todo o mundo que lhe tira um pedaço, lhe acrescenta outro, e de uma saga de uma nação, se transforma o documento num livro administrativo de gestão de zonas de meretrício. A constituição sofreu, durante o processo de aprovação, emendas que foram negociadas entre os partidos no Senado. Hoje podemos adivinhar que o interesse maior das emendas não visavam o bem estar público, mas os interesses políticos incluindo os lobies nos corredores. Lobies de empresas, bancos, instituições de caridade, religiosas,  mas os cidadãos não tinham ninguém para pedir, implorar, que os ouvissem. Os políticos os reprresentavam. Será?

É isto o que temos em mãos. Recentemente, fizeram uma lei para beneficiar os políticos de ficha limpa e punir os políticos de ficha suja, mas (que coisa realmente incrível), se “esqueceram” de estabelecer a partir de que data ela teria validade. O resultado foi que fichas sujas se reelegeram. Em muitas cidades se votou em candidatos que estavam inelegíveis. Candidatos que deviam à justiça e ao povo brasileiro, foram reeleitos, e recentemente, condenados da justiça foram reintegrados na posse de seus cargos no senado.

Esperem...

Temos um grande problema aqui: A responsabilidade recai sobre os políticos do senado, sobre quem faz as leis, e sobre quem deveria aplicá-las. É a falência total do governo brasileiro, englobando todos os partidos políticos sem exceção. A constituição apenas permitiu que todos se eximissem de responsabilidades e governassem a casa e a nação ao seu prazer, limitados apenas, não à vontade dos cidadãos, que reclamavam e não eram ouvidos, nunca, mas pura e simplesmente à maior ou menor dificuldade de os senadores, os políticos, os partidos políticos se “entenderem” nos interesses de cada um. E começaram a ver-se coisas absurdas, revoltantes que acabariam por levar os cidadãos de bem para as ruas. O maior dos absurdos é o fato de o governo gastar tudo o que arrecada, com taxas de impostos que estão em primeiro lugar em todo o mundo, e nada se fazer... Nem obras, nem serviços. Tudo parado. Poderíamos pensar que o próprio governo estivesse tentando dar um golpe, deixando a nação se transformar num inferno, para depois aparecer como o salvador da pátria. Mas nesse caso, para onde teria ido o dinheiro todo que foi recolhido por impostos e não foi convertido em desenvolvimento, saúde, segurança, ensino... Sumiu! Isto é um golpe dado por quadrilha que está no governo. E quem está lá são gente de todos os partidos políticos. Isto é, está tudo podre, os cidadãos nem têm uma oposição que modere a ambição e a sofreguidão financeira da política sobre o tesouro nacional.

Sem ser para rir, é aquela esquerda dos velhos ideais sociais, mais para o lado do socialismo comunista dos anos sessenta, quem desarrumou a casa e transformou a constituição num livro extremamente capitalista de surripiar dinheiro dos cofres públicos. O movimento do principal partido de esquerda não se destinou a dividir a riqueza com quem votou nele, que a estes só deu migalhas roídas em seguida pela inflação que voltou com toda a força a correr solta, mas aos lideres e amigos – deles, claro – recebendo em troca favores de influência no senado e em outros órgãos.

Como podemos acreditar que estes partidos políticos agora, sob mil promessas, se tenham corrigido, e passem a ser bonzinhos, cuidando da nação? Aceitariam ver seus salários nababescos rebaixados? Já? Amanhã ? Reduzir suas passagens aéreas a uma por mês e vetando viagens ao exterior por conta do Estado? Para começar por aqui, eles não aceitariam.

Porém surge o problema: Como demitir esses abutres se eles dizem que temos uma constituição que os legaliza, e que todos os benefícios foram legalmente atribuídos? Não há forma legal para isso. Uma revolução seria um ato de força, que atentaria contra a “constituição” moral de todos nós, cidadãos brasileiros que temos familiares de primeiro ao ultimo grau nesta terra abençoada e pelo mundo afora. Isso não. Esperar que os políticos consertem tudo o que está errado, devolvendo o dinheiro roubado, centenas de bilhões, rebaixar os salários, colocar na prisão quem foi condenado... Poderíamos esperar uma eternidade.

Mas ir para as ruas pedir uma nova constituição, votada item por item pelas redes sociais, isso podemos fazer. Aprovada, os políticos podem pegar suas malinhas e ir embora para casa, sendo substituídos por outros com uma nova mentalidade política:

Quem manda são os cidadãos, o governo obedece!

VIVA O BRASIL

© Rui Rodrigues

Obs-Parece que  nem se falou aqui na necessidade de participação no texto de uma nova constituição por parte da OAB, dos tribunais, dos partidos políticos nem dos políticos.. Todos nós, do Oiapoque ao Chui sabemos o que queremos. As redes sociais estão aí pára que possamos propor, discutir, votar. Com eles participando, tudo seria igual, mais coisa menos coisa. E muito menos precisamos de uma constituinte.

A GUERRA FRIA DA ÁGUA

A GUERRA FRIA DA ÁGUA

Uma historinha de fricção.. Ooooopsss. De Ficção... 




Eu não sabia que existiam extraterrestres, milagres, nem uma guerra da água. Cuidem-se, porque existe, pelo menos esta última!

No principio não havia nada, e fez-se a Luz. Era o primeiro dia. No nosso loteamento, não havia nada e fez-se a água, e se matou a sede de justiça, porque agora, o que a constituição garante a cada cidadão, apareceu vinda de um cano milagreiro e milagroso que se enterrou da noite para o dia. Ninguém sabe de onde veio. Do governo não foi, certamente, porque nunca cumpre nada. Deve ter sido uma dádiva dos céus celestiais, Aleluia, Viva Jesus!

Gosto das redes sociais, porque elas põem a nu o que vai pela alma de cada um de nós, e separa o joio do trigo. Não há quem resista a manter-se o tempo todo numa imagem construída que corresponda à verdade verdadeira, aquela do real perfil social que temos frente aos nossos amigos, conhecidos e principalmente à sociedade em geral. Um dia se escorrega na casca da banana que nós mesmos descascamos, ou no quiabo que outros plantaram e nem colhem... 

Então um dia, começou a faltar água aqui em casa. De repente. Achei que deveria ser porque se construíram mais casas e havia agora menos água para um consumo maior. Comecei a economizar a água. 

Por doze longos meses economizei água. Devo ir para o céu, porque dos pobres de espírito será o reino dos céus, dizem. Porém, no que toca à falta de água, ouvi algumas histórias por aqui, frases soltas, indiretas bem diretas. Mas sempre corria de vez em quando um filete de água que ficara retido num abrir e fechar de válvula, e que ia dando para sobreviver, embora reduzindo os banhos, economizando como se pagasse água. Isso mesmo...O cano à disposição não tinha um relógio sequer para medir o consumo. O que fez transbordar o copo foi a gota de três meses de seca. 

Três meses seguidos sem uma gota de água. O que se passara? Deus se arrependera? Iríamos perecer num dilúvio de seca atroz, igual à do Nordeste, sem a transposição que pende do São Francisco, logo o nome de santo protegido por deus? Não.. Deveria haver algum problema fora do alcance da mão de deus, mas ao alcance dos seres humanos feitos à semelhança de deus, isto é sacanas pra cacete... Uns gozadores... 

E chamei um amigo para dar uma olhada na tubulação: 

Eu tinha instalado apenas um registro, que, por estar na parte do tubo interna à minha propriedade, não interferia com a água dos demais “lotistas”, que são os moradores fixos e flutuantes dos lotes do loteamento... Mas alguém, vesgo, ou deficiente visual, não conferiu, e pensou que o registro estivesse na linha principal. Então passaram a abrir e fechar a água para satisfazer a sua pressa de encher o que tinham de encher, sabe-se lá o que encheriam... E só de vez em quando entrava um filete na minha tubulação. 

Mas três meses sem entrar água? 

E fui olhar: Agora havia três registros: Um lá na esquina... Outro que era o meu e que estava lacrado, mas rompido. Alguém o rompera para fechar a minha adução e permitir mais água para as suas necessidades, comprometendo seriamente as minhas. Em três meses a água das duas caixas de água no total de dois mil litros, secou. Uma semana sem tomar banho é muito, é humilhante, decepcionante, num momento especial em que se luta por nossos direitos e pela moral e a ética. Não posso imaginar quem fez isso se candidatar a presidente de alguma instituição e muito menos a presidente da republica. Já se falasse a acertasse um programa de adução, seria outra coisa, porque haveria o consenso, o acordo, ainda que verbal. Mas nem uma palavra foi dita. Tudo – o novo registro e a quebra do registro anterior quase fechando a adução, certamente feito com alicate, foi nas escuras da noite, ou na ausência de um dos interessados: Eu, e o Eu de cada um é deveras importante. Sem o Eu, não somos nada. Vale a pena morrer pelo “Eu”. 

Mas havia um terceiro registro, adicional, que não mandei colocar, instalado no fundo da vala – e fechado completamente - no trecho da tubulação que sai da principal para a minha casa: Um registro fantasma, bem enterrado, disfarçado, com cara do espião que saiu do frio, filme da década de sessenta. Mas agora, com a guerra da água fria, renascido pelo menos na sacanagem de “spy x spy”, esta uma dupla de personagens das histórias em quadrinhos daquela época. Por isso eu não tinha água há três meses... 

Moral da história... 

Que cada um tire a sua. A minha, é que não posso acreditar numa união de todos no loteamento por uma causa decente e comum. Há alguém que destoa pela moral e pela ética. 

Como manda toda a regra da convivência, perdoar eu perdôo mesmo sem quase nem saber a quem, mas esquecer, jamais... Garantidos o bom, dia, o boa tarde, o boa noite. 

Um grande abraço para todos, beijos para todas, e vamos em frente que os tempos estão mudando e precisamos ficar unidos... Pelo menos os que têm moral e ética, o que já é uma grande vantagem e motivo para boa convivência. 

© Rui Rodrigues

segunda-feira, 24 de junho de 2013

O NOJO



o nojo

O NOJO

O Nojo, não é um nome japonês gritado por quem não gosta de comer sushi [1], peixe cru, ou até um carpaccio ou um quibe cru [2] bem temperados de carne crua de vaca, que deveria ser sempre kosher[3], isto é, proveniente de animais criados e abatidos de forma humana e decente, como se isso fosse realmente possível. Fazemos o melhor que podemos para aliviar-lhes a morte, mas só de pensar em morte de qualquer ser vivo, seja ele um peixe, um mamífero ou uma ave, até mesmo uma abóbora, sinto o tal de nojo...

Nojo é aquela coisa que se sente e nos revolta o cérebro que começa a injetar enzimas e ácidos que nos fazem agitar os intestinos. Acaba sempre numa ida ao banheiro onde se usa o lavatório, o vaso ou os dois ao mesmo tempo. Temos um planeta tão maravilhoso que nada deveria ser abatido. Um dia teremos alimentos artificiais, até com novos sabores, que nos “iludam” a mente e o tomemos como “coisa abatida” dos velhos tempos da infância da humanidade em que se praticava a caça a monte.

Vem isto a propósito exatamente do “matar” e em especial, muito em especial, de algumas causas que mais provocam a morte na humanidade: As doenças e desastres e a corrupção.

Eu esperava que este texto se estendesse por laudas e laudas em que poderia explicar e dissertar sobre as causas de morte que mais nos afetam, a nós, cidadãos e nos incomodam e dão nojo, mas seria por vaidade de demonstrar que conheço alguma coisa deste mundo. Uma vaidade absolutamente desnecessária e sem sentido...

Basta que pensemos no triste fato do total que se rouba das verbas públicas em todo mundo, mas como vivo no Brasil, o total desperdiçado é muito maior do que 69.000.000.000 (sessenta e nove bilhões) de reais por ano, e somos dos países mais corruptos do mundo. Na verdade, agora, em que todos os países são “democráticos” embora não nos permitam votar em nada que os “eleitos” votam, nem sequer tirar-lhes o voto porque perderam a nossa confiança, são os governos que determinam como deveremos morrer, quando deveremos morrer mais ou menos, e quantos de nós terão que morrer, para que as riquezas sejam divididas por menor numero de pessoas que não devem ser incomodadas com a pobreza que lhes dá O NOJO.

Temos que mudar para uma humanidade que não é nem sequer kasher... E no Brasil muito menos. É um horror digno de um inferno político. Nossos políticos são o conteúdo fedorento dos intestinos de animal abatido, solto às moscas...

© Rui Rodrigues

sábado, 22 de junho de 2013

Meus professores me enganaram.

Meus professores me enganaram.
Ficção não longe da realidade


Em casa nos ensinavam a sermos umas crianças boazinhas. A única maldade que aprendíamos em casa era a bater. Naquela época nos batiam para que fossemos crianças boazinhas. Não pensavam, não raciocinavam, e produziam revoltados. Eu vi mais tarde, aqueles que mesmo apanhando diziam que eram culpados, bem mais tarde, ainda bendizer as surras que apanharam de cinto, de chinelo, de palmatória. Mas isso era na escola. Apanhei bastante apesar de ser sempre o primeiro ou o segundo da turma, até o dia em que comecei de espontânea vontade a oferecer a minha mão para a palmatória da minha querida professora dona Ermelinda. Digo querida, porque sem ela, meu pai não me teria posto na escola para estudar e muito menos para me formar. Já ouvi falar do complexo de Édipo, do complexo de Electra, e agora temos que inventar o complexo de “inveja paternal”. Podia pagar com folga. Porque não queria que eu estudasse? Não valia a pena o sacrifício, que nem era sacrifício nenhum?  Mas quando me formei ficou orgulhoso e me apresentou aos amigos como “meu filho engenheiro”. Ah... Os professores... Então... Todos... Todos eles me ensinaram os bons modos, a ser um sujeito decente, competente, com a recomendação de que seria mais um cidadão do futuro a desenvolver a minha pátria. Como tenho duas pátrias, tenho que desenvolver duas, por isso que não recomendo a ninguém a dupla nacionalidade. Dá muito trabalho e por vezes sentimos que não vale a pena. Roubam-nos tudo em impostos e desperdícios. Melhor emigrar, ficar uns cinco anos e depois emigrar outra vez, depositando a grana economizada num paraíso fiscal que cobre menos imposto.  Assim nos roubam menos em nossa própria terra.

Nunca nenhum professor me alertou para os perigos da vida como eles realmente são. Os professores aprenderam muitas matérias, sofreram muito para estudar, conhecem a vida, mas as diretorias das escolas não deixam que nos alertem para os perigos, contando-nos como o mundo realmente é. Diziam-nos que deveríamos defender a pátria sem nos avisar porque raios de motivos nossos governos declaravam guerras ou se metiam em guerras, e nunca nos disseram que os presidentes tinham o poder de nos chamar em manifestações para baixar o cacete em populações nacionais indefesas, nós, os soldados, armados a acobertados até os dentes como se estivéssemos numa guerra de matar ou morrer. Diziam que era tudo maravilhoso, que a nação era uma esperança só. As duas que me catalogam como binacional. Toda a nação deveria ter verde em suas bandeiras, vermelha cor de sangue, negro a cor da imbecilidade, e branco que representasse o individuo sozinho, tentando sobreviver a esse caos onde todos mandam nele, lhe batem, lhe jogam gás de pimenta, lhe furam o couro com balas de borracha e o trancafiam numa prisão como se fosse um terrorista.

Viemos ao mundo errado, construímos um mundo errado, ou somos umas lesmas vagarosas e sem cérebro que não percebemos bem onde estamos, se numa folha verde de esperança, ou numa salada em um prato, prontos para sermos devorados pelos reis do castelo. Professores não ensinam isto. Não ensinam porque a diretoria e os donos dos colégios não deixam. Querem manter a juventude com esperanças, sem causar problemas em casa. Professor não é livre para ensinar nem para completar a educação de casa. Por isso em muitas escolas a violência dos alunos se torna insuportável. Eles sabem que os professores estão escondendo o jogo, e que “lá fora” a vida é muito diferente e há que sobreviver. E nem sempre os melhores alunos são os mais efetivos neste tipo de sobrevivência. E quando chegam nas empresas, todos verdes, cheios de esperança, começam a aprender coisas nas quais custam a acreditar, coisas que dão lucros incríveis para as empresas, das quais não escapam nem as santas igrejas que têm contas em Banco.

E quando temos nossos vinte anos, e enfrentamos o mundo, olhamos para trás, para o que nos ensinaram em casa e nas escolas e universidades, e comparamos com o que vemos na vida e nas empresas em que trabalhamos e ficamos pasmados, embasbacados, atônitos. Como é possível que sejam dois mundos tão diferentes? Enganaram-nos no ensino. O tempo todo nos enganaram. Talvez para mostrarem como estávamos domados, como éramos boas crianças, educadas, orgulho dos pais, por sua vez excelentes cidadãos... E lá vamos nós pela vida, o balconista enganando o freguês por ordem e instrução do patrão, mas com vontade de avisar que na outra loja o artigo é melhor e mais barato... Engenheiros e médicos, e todos nós, cooperando para as empresas ficarem cada vez mais ricas, arriscados a levar um tombo na vida, indo para hospitais de tratamento alienados, tendo visões com uma bata que mostra a bunda, soro na mão, pelos corredores dizendo: os alemães estão atacando... Cuidado com os índios, eles vão nos pegar... Ou entrar no carro e dizer em voz baixa que façam silêncio porque podem ter plantado escuta no veículo. E tudo para dar lucros às empresas que até pagam bem, muitas vezes não por competência, nem por quem indica, mas por eficiência no trato com as finanças.

Então, fartos de sermos explorados e de mandarem em nós desde a infância, sendo obrigados a esquecer os bons princípios que nos ensinaram durante toda a vida escolar e sob o teto dos pais, vamos para a rua reclamar contra a escravidão mensal, anual, secular, milenar... Sem nunca termos mudado decentemente este mundo, nem nós mesmos, os neo-escravos do século XXI e do Papa Francisco, no que pesem tantas escolas, tantas universidades – algumas católicas, tantos professores. Ninguém quer mudar nada aparentemente, a não ser quem vai para as ruas.

E vêm nossos irmãos, e nos baixam o sarrafo na avenida, só porque queremos decência no modo de governar, bons serviços públicos, bons transportes, boa infra-estrutura com água potável energia elétrica e esgotos tratados, boa educação.

Porque será que somos tão burros e idiotas que não mechemos uma palha para mudar de vida? Será doença? Se for, temos urgentemente que pedir uma bolsa-doença para sobreviver neste mundo, com alguns calmantes de sobra para vencer o mal estar.

Nossos professores também foram enganados. Será desculpável? O que mudou no ensino?

Há gente que está e esteve no governo, com e sem diploma, e que nem passaram pelas prédicas dos professores. Estavam entretidos com guerrilhas, com dar lucros a empresas, e não têm problemas de consciência. Outros até passaram bons tempos na escola, mas aprenderam rapidamente a “nobre” arte de embrutecer a consciência.


© Rui Rodrigues