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terça-feira, 25 de junho de 2013

A GUERRA FRIA DA ÁGUA

A GUERRA FRIA DA ÁGUA

Uma historinha de fricção.. Ooooopsss. De Ficção... 




Eu não sabia que existiam extraterrestres, milagres, nem uma guerra da água. Cuidem-se, porque existe, pelo menos esta última!

No principio não havia nada, e fez-se a Luz. Era o primeiro dia. No nosso loteamento, não havia nada e fez-se a água, e se matou a sede de justiça, porque agora, o que a constituição garante a cada cidadão, apareceu vinda de um cano milagreiro e milagroso que se enterrou da noite para o dia. Ninguém sabe de onde veio. Do governo não foi, certamente, porque nunca cumpre nada. Deve ter sido uma dádiva dos céus celestiais, Aleluia, Viva Jesus!

Gosto das redes sociais, porque elas põem a nu o que vai pela alma de cada um de nós, e separa o joio do trigo. Não há quem resista a manter-se o tempo todo numa imagem construída que corresponda à verdade verdadeira, aquela do real perfil social que temos frente aos nossos amigos, conhecidos e principalmente à sociedade em geral. Um dia se escorrega na casca da banana que nós mesmos descascamos, ou no quiabo que outros plantaram e nem colhem... 

Então um dia, começou a faltar água aqui em casa. De repente. Achei que deveria ser porque se construíram mais casas e havia agora menos água para um consumo maior. Comecei a economizar a água. 

Por doze longos meses economizei água. Devo ir para o céu, porque dos pobres de espírito será o reino dos céus, dizem. Porém, no que toca à falta de água, ouvi algumas histórias por aqui, frases soltas, indiretas bem diretas. Mas sempre corria de vez em quando um filete de água que ficara retido num abrir e fechar de válvula, e que ia dando para sobreviver, embora reduzindo os banhos, economizando como se pagasse água. Isso mesmo...O cano à disposição não tinha um relógio sequer para medir o consumo. O que fez transbordar o copo foi a gota de três meses de seca. 

Três meses seguidos sem uma gota de água. O que se passara? Deus se arrependera? Iríamos perecer num dilúvio de seca atroz, igual à do Nordeste, sem a transposição que pende do São Francisco, logo o nome de santo protegido por deus? Não.. Deveria haver algum problema fora do alcance da mão de deus, mas ao alcance dos seres humanos feitos à semelhança de deus, isto é sacanas pra cacete... Uns gozadores... 

E chamei um amigo para dar uma olhada na tubulação: 

Eu tinha instalado apenas um registro, que, por estar na parte do tubo interna à minha propriedade, não interferia com a água dos demais “lotistas”, que são os moradores fixos e flutuantes dos lotes do loteamento... Mas alguém, vesgo, ou deficiente visual, não conferiu, e pensou que o registro estivesse na linha principal. Então passaram a abrir e fechar a água para satisfazer a sua pressa de encher o que tinham de encher, sabe-se lá o que encheriam... E só de vez em quando entrava um filete na minha tubulação. 

Mas três meses sem entrar água? 

E fui olhar: Agora havia três registros: Um lá na esquina... Outro que era o meu e que estava lacrado, mas rompido. Alguém o rompera para fechar a minha adução e permitir mais água para as suas necessidades, comprometendo seriamente as minhas. Em três meses a água das duas caixas de água no total de dois mil litros, secou. Uma semana sem tomar banho é muito, é humilhante, decepcionante, num momento especial em que se luta por nossos direitos e pela moral e a ética. Não posso imaginar quem fez isso se candidatar a presidente de alguma instituição e muito menos a presidente da republica. Já se falasse a acertasse um programa de adução, seria outra coisa, porque haveria o consenso, o acordo, ainda que verbal. Mas nem uma palavra foi dita. Tudo – o novo registro e a quebra do registro anterior quase fechando a adução, certamente feito com alicate, foi nas escuras da noite, ou na ausência de um dos interessados: Eu, e o Eu de cada um é deveras importante. Sem o Eu, não somos nada. Vale a pena morrer pelo “Eu”. 

Mas havia um terceiro registro, adicional, que não mandei colocar, instalado no fundo da vala – e fechado completamente - no trecho da tubulação que sai da principal para a minha casa: Um registro fantasma, bem enterrado, disfarçado, com cara do espião que saiu do frio, filme da década de sessenta. Mas agora, com a guerra da água fria, renascido pelo menos na sacanagem de “spy x spy”, esta uma dupla de personagens das histórias em quadrinhos daquela época. Por isso eu não tinha água há três meses... 

Moral da história... 

Que cada um tire a sua. A minha, é que não posso acreditar numa união de todos no loteamento por uma causa decente e comum. Há alguém que destoa pela moral e pela ética. 

Como manda toda a regra da convivência, perdoar eu perdôo mesmo sem quase nem saber a quem, mas esquecer, jamais... Garantidos o bom, dia, o boa tarde, o boa noite. 

Um grande abraço para todos, beijos para todas, e vamos em frente que os tempos estão mudando e precisamos ficar unidos... Pelo menos os que têm moral e ética, o que já é uma grande vantagem e motivo para boa convivência. 

© Rui Rodrigues

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