O Tempo [1], para leigos Quânticos como eu.
Nada como um grande “desastre”
na vida para nos fazer refletir sobre o nosso passado, o presente e o futuro.
Nessas horas de apreensão, costumamos pensar no que fizemos durante toda ela
para que ocorresse o “sinistro”, o desastre em nossa vida, e pensarmos se
tivéssemos agido de modo diferente, se o poderíamos ter evitado. Podemos até
pensar se Deus nos castigou, se nos castigamos, ou se foi um acaso que
determinou o acontecimento, o fato. Crentes e ateus pensarão de modo diferente,
mas não é sobre Deus este tema.
Telmo Lunardi é um grande
amigo que conheci há 37 anos atrás, na Tijuca, Rio de Janeiro. Costumávamos
tomar nossos chopes nos finais de semana no condomínio onde morávamos, à beira
da piscina, ou em saídas com as famílias para distrair. As duas famílias são
amigas até hoje. Com minha separação matrimonial, perdi o contacto até porque
vivemos em cidades diferentes e Telmo dedica boa parte de sua vida a velejar.
Lá por 1996, Telmo teve um problema nos rins e precisou ser operado. Um corte
dado de forma deficiente provocou um problema ainda maior e ele necessitou de
uma longa recuperação. Quase que Telmo nos deixou caminhando sozinhos no tempo.
Recuperou-se, e quando já estava em convalescença, caminhando devagar,
empurrando uma mesinha com rodas onde se encontravam o soro pendurado, os remédios,
uma bolsa para a urina que lhe saía por uma sonda, rosto meio amarelado, tivemos
uma conversa inesquecível: Telmo me dizia, dentre outras coisas, que Deus sabia
tudo, que o futuro estava predeterminado, e que, fizéssemos o que fizéssemos,
tudo aconteceria como previamente determinado. Mesmo que Deus não existisse,
era como se a vida de cada um fosse um filme a que estamos assistindo:
Conhecíamos o inicio do filme, o momento atual, mas não conhecíamos o final,
embora já estivesse “realizado”, e nada o pudesse alterar. Em tal situação,
pedir alguma coisa a Deus, como, por exemplo, a sua própria melhora, de nada
adiantaria. O futuro estava traçado.
Minha visão era completamente
oposta. Sempre acreditara que poderíamos mudar alguma tendência do futuro de
acordo com os nossos atos, o nosso caminhar na vida, isto é, no tempo. Hoje não
tenho tanta certeza. Albert Einstein me
deixou em dúvida, mas em compensação, as alternativas são excitantes.
Quando passei no vestibular
para a Universidade de exatas, em 1967, escolhi engenharia porque tinha uma
enorme vontade de viabilizar enormes projetos, de difícil cálculo, modernizar o
presente, e queria ganhar bons salários. Foi nessa época que comecei a me
interessar por física, e, em especial, pela física quântica. Minha profissão me
empurrou pela vida e só nos tempos vagos continuava lendo alguma coisa a
respeito. Meus conhecimentos de matemática ficaram por ali, limitados aos da Universidade
de Engenharia, e por isso meu entendimento desta Física tem os seus problemas:
Falta-me conhecimento matemático para desenvolver cálculos, mas tenho uma
razoável percepção. Com esta percepção, igual á de quase todos nós, três fatos
sempre me intrigaram:
1- Porque razão o tempo parece andar mais devagar quando
esperamos que algo de bom, que sabemos irá acontecer aconteça realmente?(como
em vésperas de uma festa, de um passeio, receber o salário, esperar que chegue
sexta-feira).
2- Como será possível viajar no tempo de forma
“diferente”? (já que viajamos no tempo enquanto estamos vivos, parados ou em
movimento).
3- Porque razão, viajando nós para norte, sul, oeste, ou
em qualquer direção tridimensional, o tempo sempre flui, aparentemente, numa só
direção, isto é, no sentido do futuro, para frente, sem uma direção fixa?
4- Haverá um espaço-tempo, ou um tempo que flui
continuamente, ou não haverá nenhum tempo, ou, finalmente haverá vários “tempos”
em “camadas” ou como vetores?
A matéria tal como a
conhecemos se comporta fisicamente de dois modos: No microcosmo das partículas,
o da física quântica, elétrons dão saltos quânticos, mudando de uma órbita para
outra sem percorrerem o espaço entre elas; não se pode determinar a posição
exata de um elétron, mas o local onde “provavelmente” está, um mundo louco do
qual sabemos quase tudo e não sabemos quase nada. No macrocosmo da força de
gravidade, para moléculas e massas maiores, tudo parece resolvido e
determinado. Se a gravidade somente se apresenta mensurável em grandes massas –
relativamente às partículas – o que dizer do tempo em relação às partículas
atômicas? Estará o lugar entre as camadas de elétrons não sujeito ao tempo e
espaço?
Isto me parece fazer sentido
(a mim que sou leigo) porque não havendo espaço a percorrer entre camadas de
elétrons, também não existe tempo, e o elétron pode dar o seu salto quântico
quando desejar ou se sentir “excitado” energeticamente, Mesmo embora sabendo
que, onde não há espaço nem tempo teríamos uma singularidade, ou seja algo
parecido com um buraco negro, mas a física quântica é louca, maluca e fora de
nossa capacidade – ainda – de dominá-la.
Se tivéssemos um aparelho
capaz de medir o tempo decorrido entre o momento em que um neutrino começa a
atravessar um átomo, fazendo-o obrigatoriamente pelo “espaço” entre camadas de
elétrons, talvez se chegasse à conclusão que o tempo gasto seria de exatamente
zero, com pelo menos quinze ou vinte casas decimais.
Nossos telescópios são cada
dia mais potentes. Vêem estrelas e planetas como eram até há bilhões de anos, e
um dia chegarão até o momento em que nosso universo tinha cerca de 300.000 anos
e aí irão parar porque nessa oportunidade o universo não era transparente e a
luz ainda não existia. Se tivéssemos telescópios ainda mais potentes poderíamos
ver o que acontece na superfície dos planetas e estrelas que estão a apenas
alguns milhares de anos-luz, e se neles houver vida, o que estiver acontecendo
por lá – naquele tempo – e se tivéssemos naves que viajassem acima da
velocidade da luz, poderíamos ir lá, intervir na evolução a fim de preparar uma
ocupação futura e voltar a tempo de assistir ao ultimo documentário na
International Geographic. Era disso que meu amigo precisaria quando foi
operado. Não creio que isso seja possível, porque a velocidade da luz não pode
ser ultrapassada, mas para quem acredita, já poderiam ter feito isso com nosso
planeta.
Ao nível de partículas, o
entrelaçamento quântico (quando duas partículas se aproximam e ficam
“dependentes” uma da outra mesmo que depois sejam afastadas a longas
distâncias), permitiria o “teletransporte”, e já se fazem experiências nas ilhas
espanholas de La Palma e Tenerife. Extrapolando, uma partícula poderia ter sido
deixada em Alpha de Centauri e sua entrelaçada viajado até nós, depois de
quatro anos de viagem. Se um dia se
puder fazer isto com equipamentos humanos, ou com pessoas, nos permitiria fazer
o caminho inverso de forma instantânea través de teletransporte quântico. .
O problema é que ao se criar uma “cópia” real, idêntica, o original se destrói. Há vertentes filosóficas a respeito, tema que já se discute desde as discussões entre Albert Einstein e Niels Bohr, e que podem levar a uma revisão das leis da física, ou ao seu desenvolvimento em mais um grande passo da ciência. Mas repare-se que, ao se destruir o original, isto é como a nossa morte. Morremos, mas a nossa outra parte continua viva no tempo. É a esta segunda parte nossa que chamamos de alma, e que não julgamos ser material porque ainda não a identificamos nem medimos (como o gato de Schrödinger)?
Curiosamente, a grande
questão que ainda persiste, tal como no tempo de Einstein e de Bohr, em 1935, é
que ao medirmos uma partícula, ao analisá-la, ela se comportaria como se
tivesse “vontade” e quebraria o encanto. Em outras palavras, só haveria uma
forma de saber se temos alma: Seria ir
até onde ela provavelmente estaria, mas ao fazermos isso, e então voltarmos,
poderíamos encontrar o morto, absolutamente vivo ou seu cadáver destruído como
se nunca tivesse existido...
Física Quântica e tempo são coisas para loucos, mas funcionam perfeitamente e as interpretamos corretamente com as equações que já possuímos.
Física Quântica e tempo são coisas para loucos, mas funcionam perfeitamente e as interpretamos corretamente com as equações que já possuímos.
Rui Rodrigues.