Feitos à imagem de Deus
Disseram isto e muitos de
nós acreditamos. Enchemo-nos de orgulho, cremos que somos umas grandes coisas,
que até podemos mudar o mundo, a natureza, e saímos por ai, uns achando que são
mais parecidos com Deus do que outros; uns pensando que são filhos legítimos de
Deus e que outros são bastardos ou simples parentes.
Foi isto que construíram com
essa frase: Somos filhos de Deus, feitos à sua semelhança. Até que não é ruim
pensar assim. Há muitos – e muitas – que gostam de sentir-se assim. Faz bem ao
ego, fortalece o espírito...
Mas estaríamos menosprezando
a inteligência divina. Deus, Deus é muito mais inteligente do que pensamos que
seja e nós mais ignorantes do que também acreditamos. Que deus faria seres que
defecam todos os dias umas pastas mal cheirosas que fedem ao inferno? Mas são
muitas, incomensurável o numero de diferenças – e não de semelhanças – entre Deus
e nós, que seria bem mais proveitoso partirmos do princípio que somos fruto de
uma Obra de Deus, dotada de inteligência, e que nada nem ninguém pode destruir
essa Obra, motivo pelo qual, se não aprendermos a conviver uns com os outros em
breve estaremos destruídos. Mas vamos analisar mais as nossas dessemelhanças,
para que fixemos de uma vez por todas que somos pó, que voltaremos ao pó, e que
a não ser por uma referência nem sempre credível, talvez um ou outro de nós
sejamos lembrados num livro qualquer, mas mesmo assim com a certeza de que os
lembrados poderiam ser um qualquer porque a referência não dá a imagem completa
do indivíduo.
Como sermos semelhantes a Deus
se precisamos urinar um líquido amarelado que fede ao fim de algumas horas? Não
podemos ser semelhantes porque parimos, nos matamos uns aos outros, nos
roubamos uns aos outros, olhamos o semelhante e não lhe damos a mão, vamos a
templos, escutamos e nada mudamos. E não há religião que tenha feito o mundo
mudar desde o seu início. Continuamos achando que estamos bem –enquanto estamos
- e que o resto não é da nossa responsabilidade, mas quando estamos mal, perguntamos
a DEUS que mal que nós fizemos para “merecermos” isso, como se Deus se
importasse com quem reclama, se um ser humano ou um dinossauro, um sapo ou uma
flor. Afinal, todos sofrem doenças, alguns nascem com deficiência, uns se curam
e outros não, mas se somos feitos à semelhança de Deus este abriria um
Consultório particular onde pudesse faturar por seus milagres.
Não, senhores e senhoras...
Não somos feitos à semelhança de Deus. Nem lindos e maravilhosos somos, porque
a idade não deixa. Nós envelhecemos e Deus, esse não. Nem morre! A beleza dura apenas enquanto a fertilidade
está no auge, como uma armadilha da natureza para que possamos procriar. Ele, o
Todo Poderoso, não precisa disso. As mentiras só são verdades para quem não
raciocina, e pode ser facilmente enganado. Outros concordam para não darem
parte de fracos ou serem expulsos da comunidade dos que não entendem.
Olhemos à volta e vejamos se
Deus maltrataria animais, desperdiçaria alimentos, mataria por uns trocados,
declararia guerras levando jovens à morte por vaidade ou para encher os cofres
de amigos, mentiria na política para se eleger, deixaria morrer de fome com os
estoques cheios, pediria dízimo a quem tem que roubar para o pagar...
Triste humanidade que se
julga semelhante a Deus e ainda escreve propagandas onde se lê “Deus é fiel”,
se nenhum de nós Lhe é fiel. A vaidade faz parte do modo de nos governarem: Dizem
que temos o que não temos e tiram-nos o que temos.
Rui Rodrigues
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