O amor nos tempos do dengue.
Para se entender o amor nos tempos do dengue, seria conveniente que se entendesse “o amor nos tempos do cólera” ou "cem anos de solidão" do Gabriel Garcia Marques, mas não necessariamente. Basta sabermos como era o amor nos tempos da guerra fria e como se manifesta agora com toda esta tecnologia no mundo em que vivemos. Os mais idosos sabem a diferença. Os novos só poderão entender se escutarem aqueles e aquelas de cabeça branca, o olhar perdido entre o ontem e o amanhã que os jovens não conseguem entender porque não viveram ainda o “ontem”, e se há coisa que neste planeta é diferente, é o ontem, o hoje e o amanhã de cada um. A maioria de nós consegue soltar-se do ontem a cada dia, mas uma boa parte não consegue largar o ontem e fica presa no tempo, sonhando ainda com os “bons momentos“ do passado ainda que tivessem sido terríveis. É por esse tipo de sentimento que os saarianos amam seu mundo de areia sem água, os do mangue os seus manguezais insalubres e lamacentos, os lapões seu frio mundo de gelo onde é proibido tomar banhos de sol. Ela não era general, detestava militares, detestava a rigidez da educação, ainda mais que seu pai tinha imigrado de um país comunista. Saíra de seu país para poder ser capitalista, ter sua liberdade, seu dinheiro. Sabia que para tudo era necessário dinheiro, e o problema era consegui-lo de um modo mais fácil. Seus pais a mandaram para um colégio, para estudar, se formar, mas a mesada era curta e sempre lhe cobravam os resultados. Era época de grandes mudanças no mundo impulsionadas pela juventude. Por aquela época, quando tinha apenas 12 anos, em 1959, estudantes faziam barricadas em Paris. Stalin morrera de acidente cerebral em 1953 e lhe sucederam desde então Malenkov, Krushchev, e o comunismo continuava de pé, vangloriando-se de sua educação, suas conquistas sociais, sua tecnologia de ponta que mandara homens para o espaço. Quem não se lembra de Yuri Gagarin correndo o mundo em viagem de glórias, a propaganda toda embandeirada com cenas de colheitas de trigo, o hino da internacional socialista arrepiando os cabelos dos braços dos mais sensíveis? Em plena guerra fria, parecia que o comunismo iria governar o mundo, vencer os americanos que haviam vencido o nazismo também tão forte, e que ditavam as regras do mundo com sua política bélica externa a título de acabar com esse comunismo diabólico. No ano em que Stalin morrera, o de 1953, Eisenhower, o general da vitória aliada sobre o nazismo, se elegeu presidente dos EUA sucedendo a Harry Truman que lançou as bombas sobre Hiroshima e Nagasáki. Aos olhos de comunistas, a Rússia e a China eram duas potências nucleares que provavam ao mundo a sua força, que o regime comunista era viável, que o mundo poderia ser melhor. Ficou essse sonho no passado. Jean Paul Sartre, o filósofo, por essa época distribuía folhetos de propaganda marxista pelas ruas de Paris e pela entrada de instituições de ensino como a Sorbonne, mas o mais importante de tudo era o plano de cargos e salários dos braços armados do comunismo, instalados em países democraticos porque em Cuba se implantara o comunismo, exatamente em 1959, Che Guevara o argentino fazia parte dos exércitos revolucionários que mudariam o viés político do mundo e em particular na América do Sul. Enquanto nos EUA e no mundo ocidental europeu os políticos tinham formação acadêmica, o comunismo permitia o acesso ao poder de gente popular sem instrução. O que ela, filha de emigrante comunista em busca do capitalismo poderia querer mais se tinha o mundo todo para ser transformado em comunista? Gulags, muros de abatimento a tiros de quem se manifestava contra o regime, o que isso importava se a causa tudo justificava? E que importava se as populações não podiam emigrar nem sequer receber prêmios Nobel oferecidos pelo ocidente? Que importava se filhos denunciavam pais que murmuravam contra o regime comunista que havia traído seus ideais, se fugitivos de seus países comunistas eram abatidos quando tentavam passar pelas fronteiras da Alemanha Oriental ou pelas águas do Caribe fugindo de Cuba? E nunca se constituiu uma comissão da verdade para esse efeito. O ideal comunista parecia-lhe, a ela, muito muito mais nobre do que tudo isso, os comerciantes eram gente má e ambiciosa, o dinheiro do capital tinha que ser colocado à disposição dos menos validos, do povo pobre. Nunca lhe passou pela cabeça, aos seus doze anos de idade, que acabado o capital, quem iria produzir capital para sustentar toda a pobreza do planeta... A guerra fria foi também a guerra do cólera. O mundo rachou em dois, definitivamente, no grande confronto entre a cortina de ferro e o ocidente quando navios provenientes da Rússia chegaram a Cuba com foguetes transcontinentais que poderiam atingir os EUA e seus amigos das Américas. Krushchev batia com seu sapato novo, que nunca pisara numa universidade, numa mesa da ONU durante conferencia. Kennedy ameaçava retaliação à Rússia, a China se calava observando o mundo ao seu redor. A China sempre foi eminentemente pacífica desde que não a tirem do sério, e já foi invadida pelo Japão imperial, já se envolveu em guerra com a Rússia e guerra não é a sua meta. Kennedy ganhou a guerra fria, reverteu a corrida espacial a seu favor, mandou astronautas à Lua, a cadelinha Laika parou de latir, o Sputnik parou de emitir os seus “bips”, Fidel de Castro recolheu os mísseis, o plano Condor voou sobre a América Latina, e os comunistas começaram a ser perseguidos, enquanto, para compensar, a juventude comunista chinesa percorria os lares chineses lendo em coro o livro vermelho de Mao, Fidel estendia sua experiência a Angola e à Bolívia em troca de diamantes e da experiência com o comércio da coca. Quando o muro caiu, a menina agora com muito mais de doze anos, que parara nos doze anos de idade, filha de emigrante comunista, ainda tinha vontades de desaparecer dos esconderijos e assistir a filmes em cinemas sem que a reconhecessem, embora cartazes com sua imagem estivessem afixados por todas as cidades do Brasil. Ninguém imaginava que Wanda, a terrorista, procurada por assaltos à mão armada a Bancos, rapto de embaixador, pudesse aparecer em cinemas ou ir a uma praia, a um restaurante gastando o dinheiro fácil recebido de Cuba, da China, da URSS e roubado dos bancos, para sustentar o ideal comunista. Dinheiro fácil porque a idade política continuava sendo a dos doze anos, quando despertara para o mundo. Não nascera para ser intelectual, e mesmo na escola não ia bem. Estava sempre ocupada em remoer contra a educação, os métodos, e achava que todos têm o seu lugar de liderança e compensação neste mundo independente do sofrimento de passar anos estudando em cadeiras de escolas e universidades. Seus colegas entendiam e conseguiu alguns amigos que lhe davam presença, e até a ajudavam nas provas. Por isso nunca desenvolveu a língua inglesa ou espanhola, ou sequer tem vagos conhecimentos de economia ou matemática. Nunca tinha tempo para estudar, era compreensível em sua situação de revolucionária, e mais tarde mentiria ao assinar seu currículo afirmando que tinha doutorado em economia. Quando inquirida a resposta foi honesta: Eu não tinha tempo para estudar. Mas a resposta foi também omissa, como nos tempos em que foi interrogada no DOI-CODI: Não informou nem se desculpou por ter mentido ao dizer que tinha o curso de doutorado. Nas malocas do terrorismo aprende-se a usar disfarces, a mentir, a desculpar-se, a tergiversar, a não responder diretamente como qualquer político costuma fazer em qualquer regime político do mundo. Wanda mentia e mente de forma natural e educada quando não a trai a sua expressão facial e corporal, a voz tremida, o olhar rutilante e desafiador quando a incomodam. A impressão que se tem é que não viu cair o muro de Berlim, a URSS se extinguir sem um único tiro e voltar ao regime capitalista ainda que mais suave do que nos tempos do kzar Nicolau regenerando até a própria bandeira dos czares, a China abandonar o comunismo paulatinamente ano após ano até se transformar na primeira economia mundial. Não viu Jean Paul Sartre abandonar o comunismo, nem viu como dos cerca de noventa países que abraçaram o comunismo, apenas dois subsistirem graças às esmolas de “amigos”, com a particularidade dessa amizade não ser proveniente dos povos, das sociedades, mas dos socialistas que ocuparam o poder. Wanda continua fiel ao velho amor dos tempos do cólera, infantil, dos doze a quinze anos quando se acha que existe um príncipe encantado, embora ela tenha abandonado o seu príncipe, e contrariando a história infantil, se aliado a um sapo barbudo para atingir o poder. Sem nunca ter sido a intelectual das ações, casou com o passado e dele não sai de forma alguma, porque o mundo é dela, e se o mundo muda, o problema é do mundo que estudou para mudar. Sem estudos, assim se entendendo a seqüência completa de assimilação, entendimento e retenção do que se aprende, vive seu momento de sonho já sem se importar com os amores. Afinal, a idade pesa. Não lhe é possível sequer entender que a elegeram por indicação e que os votos que recebeu foram provenientes da ignorância. Eruditos não lhe deram votos. Foi o povo ignorante que a elegeu por indicação do sapo adorado, rouco e barbudo, sem saber realmente porque foi escolhida se o único atributo seu era o da fidelidade, a ambição do poder. Por isso seus programas de governo não andam para frente. Precisa da ignorância para se reeleger. Precisa da pobreza do nordeste, da falta de água, de gado morrendo, de gente passando fome, perdendo suas terras e seu gado. Precisa do descontentamento porque afirma que a culpa não é de seu governo nem de seu adorado sapo barbudo, mas do sistema capitalista. Se seu assessor comprava ou mandava comprar o voto dos corruptos nos senados, sobre ela não se escutam essas coisas, mas a se aplicarem as regras dos últimos doze anos, podemos esperar mais ou menos tempo até que comecemos a escutar. Até agora todos os escândalos foram de seus indicados ou auxiliares e sempre nos fica aquele pensamento de que ou ela não sabe escolher, ou a assessoram muito mal e deficientemente, ou então estará também envolvida porque os escândalos em seu governo já bradam aos céus, e animam os diabos do purgatório. Há indícios de uma incompetência raivosa que fez afastar do partido dos trabalhadores a intelectualidade que deixaram nos anais da história pesadas críticas. Há um medo latente nos ares de denunciar, mas alguns ex-filiados têm falado de forma muita clara temendo até a morte por delação, por contar a verdade dos bastidores do governo. Ela e seu adorado sapo já deram a indicação de sua tendência: apoiaram Ahmadinejad, Fidel Castro, o ditador Mugabe do Zimbábue, ditadores e países africanos e da América do Sul. Suas amizades não são aquelas do mundo ocidental nem do mundo ex-oriental, nem de quase ninguém. È como se associasse – ela, não o povo brasileiro - aos mais escroques do cenário mundial. Muito mais importante do que isso é imaginar quais as razões de tal aproximação e constatar que ela não representa – efetivamente – o povo brasileiro, mas algo de perverso que lhes anda na mente, desses que têm raiva e vivem no passado e que não pode ser apenas a raiva de uma criança de 15 anos que nunca cresceu em educação nem em política, aliada a quem nunca trabalhou na vida e só fez política. Wanda não é assunto sério nacional. É assunto particular de um pequeno grupo ignorante, que ela resolve como quer enquanto tiver dinheiro para pagar a conta e corruptos para lhe seguirem o cheiro. O dengue não se manifesta com raivas, nem se trata com ignorância, e não foi nesta terra, cheia de dengues que se descobriu a vacina para a cura, porque educação e cultura não é nem tem sido a meta prioritária dos que se fazem eleger para governar, porque precisam de votos, e a educação e a cultura não votaria neles, como não votou nem votará. Quem vota vive de esperança enquanto vive, por toda a vida, até que tenha a oportunidade de sentar em bancos de escola e universidades que alguns, em busca de dinheiro fácil desprezaram.Uns foram condenados, alguns se afastaram da cena política até que tudo esfrie, outros pediram aposentadoria antes que lhe neguem os altíssimos soldos, alguns estão presos por corrupção. Wanda e seu querido sapo agora imberbe, esses continuam procurando alianças para se sustentarem, evitando que velhos amigos sejam presos apesar de condenados, perdoando dívidas de marginais enquanto o povo brasileiro - que não parece ser o seu povo - morre pelas secas, pelas tempestades, pela falta de serviços públicos.
O amor é lindo, mas tem que ser verdadeiro, evoluir, e não pode nem ficar parado no tempo, nem se basear na raiva ainda que surda, camuflada pela dissimulação. A não ser desta forma, há sempre situações do dia a dia que nos traem. Freud sabia disso e nós todos também sabemos. Quem governa não é Dilma. É a Vana.
₢ Rui Rodrigues
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