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quinta-feira, 20 de agosto de 2015

Crônicas do Pontal do Peró – Céu de Brigadeiro, mar de Almirante .


Anunciaram uma frente fria vinda lá do Sul. Por aqui, neste dia 19 de agosto do ano de 2015 continua ventando forte desde ontem e os helicópteros que passam por aqui vindos de Campos dos Goytacazes de Macaé e Búzios, voam meio de lado para compensar. É como o Norte Magnético em relação ao Norte geográfico: Defasados em cerca de 17 graus que não podem ser nem Celsius nem Fahrenheit, nem Kelvin nem Gay-Lussac [1]. São graus geométricos, mais precisamente graus de círculos, como naquelas cartas portuguesas de navegação, antigas. Com um céu destes, céu brilhando, mar calmo e o departamento televisivo de meteorologia anunciando frio e chuva, desisti de ir às Casas Pernambucanas comprar um cobertor Parayba, nas Lojas Americanas um bote salva-vidas inflável, e na loja do Marcondes logo ali na esquina um guarda-chuva dos antigos que não faz “plop” mas que em compensação abriga a família toda, gato periquito e papagaio e de sobra o aparelho de TV onde se apreciam os prognósticos do tempo como se fossem programas de divertimento para rir á vontade. Inveja tenho da turma que cuida da Fórmula-1 lá da Alemanha. Disseram que em 28 minutos ia chover começando lá na curva “e deram o nome da tal curva” na direção de fora para a pista de corridas...Eu ri como rio por aqui. Que preciosidade os tais 28 minutos. Porque não 30 redondos?  Depois tive que tomar um comprimido para a dor de cabeça quando avisaram: Daqui a quatro minutos vai chover “e deram o nome da mesma curva”, avisando que a direção seria de fora para dentro da pista. Ri tanto que precisei comprimido. Depois abri a boca, arregalei os olhos, lembrei-me do jogo de 7 a 1 no futebol contra o nosso time composto de canarinhos empacotados a vácuo sob os auspícios de uma entidade que tem uma estrelinha amarela em fundo vermelho com o numero 13 – aquele que dá um azar danado – gravado com o nome dela. A chuva aparecera e soprara desde o lado da curva “que eles deram o nome” para dentro. Ah... Grande Alemanha da matemática e das ciências. A Ângela Merkel não me quer nem me conhece, mas se ela bobeasse, pedia a moça em casamento. Não procurei saber se é casada, mas pelo á vontade com que transita todos os dias pelo mundo e pelos noticiários, o marido deve estar de férias bem longe dos acontecimentos. Mulher independente!
Quando as mulheres usarem o novo produto (Flibanserin) para obter mais prazer sexual os maridos do planeta dançam. Sexo será apenas casual, para quem estiver com muita, mas muita vontade de transar. Quem desejar ter sexo pra valer, do tipo animalesco, todos os dias, cada companheiro não durará mais que uma semana e olhe lá que talvez não chegue a tanto. O mundo terá enjôo de sexo. O que pensariam os antigos, dos que ficaram no passado?

E fui á praia pensando nestas barbaridades todas.




Estava completamente vazia de gente. Nem vivalma. Raspei areia da praia com os pés indo na direção contrária ao Pontal, isto é, na direção da Vila do Peró. Aquilo é uma Vila, quase isolada de Cabo Frio, muito mais que um Bairro. Nesta vida não se pode perder o norte, nem o rumo, nem os ângulos e nem o juízo. Por isso, lá fui beirando a praia sem lenço, sem documento, sem bússola e sem mapa. Quando cheguei na metade do caminho parei, sentei numa duna e fiquei olhando para o mar. Não tinha apanhado concha alguma. Fazia-se uma neblina um pouco ao largo, a uns trinta metros da areia, provavelmente por causa da frente fria que estaria chegando do Sul. Foi de lá que ouvi um pi-pi-pi de apito de marinheiro que não reconheci. Embora tenha feito Marinharia na Base Naval do Cais do Alfeite, de frente para Lisboa na outra margem do Tejo, não me ficaram na memória os apitos. Ia jurar que alguém importante estava desembarcando de um vaso de guerra. Ouvi uma vozearia, barulho de metais, chiado de vergas e remos na água. Depois vi um bote de madeira com seis remadores, e adentrando pela névoa, ligeiros metros mais afastados, consegui divisar velas com a cruz espanhola dos descobrimentos. Um homem que vestia panos pretos sobre o corpo e uma boina que me lembrava o povo Basco desembarcava de um bote com quatro marinheiros aos remos. Dirigiu-se a mim, enquanto os acompanhantes se postavam circunspetos a uns três passos de distância.




- Ora muito bom dia!... Sou Cristóvão Colombo e dei uma descida do céu para ter o prazer de voltar a sentir o ambiente deste planeta... Fique tranqüilo que só você nos vê!
- Muito prazer... Como devo tratá-lo?
- Por tu. O Barbas disse-me há pouco que me arrumasse com a minha tripulação e que desembarcássemos aqui. Deveria falar com o homem que estivesse na praia... Que és tu. Não me disse porque razão. Deves ser uma pessoa muito importante... És Rei, presidente? Alguma coisa assim? Onde está o povo, onde estão as mulheres?


- Que nada, Colombo... Sou aposentado, as mulheres já ganharam carta de alforria, o mundo está da pá virada. Ninguém se entende. Mas porque perguntas pelas mulheres, se a bordo eram proibidas e passaste quase a tua vida toda a navegar?

- Tínhamos, dos grumetes, e só para os oficiais, os que não eram rapazes. Havia meninas disfarçadas. Como sabes, poucos eram os grumetes mandados por famílias, como eu fui no começo de minha vida. Marujos e grumetes eram arrebanhados no meio das ruas, e a guarda apanhava muitas meninas quando as apanhavam pelos cantos escuros á noite. Nunca admitimos grumetes virgens do sexo feminino. Onde andam então as mulheres daqui?


- As daqui, tal como eu, já estão meio passadas da idade. Nas vilas daqui encontrarão algumas, mas são todas sérias. Não conheço nenhuma que se tenha prostituído. Agora somos todos, homens e mulheres, gente fácil. Quem quer e gosta, aceita quem dá mostras de querer pedir. Se pedir perde o valor.
- Entendi... Mas o Barbas pediu-me que te contasse o que me viesse á cabeça...
- Então conta... Mas quem é o Barbas?
- Ora então nunca ouviste falar do Barbas?
- Não...Mas vindo do céu, Barbas será o Pedro?
- Nãã... Esse tem barbas, mas não é o chefe. É o porteiro, o homem das torneiras. O chefe nem barbas tem. É imberbe e nunca aparece. Não tem rosto, nem corpo, nem fala, nem nada. Só sentimos que existe uma certa “ordem”. Quem não lhe obedece a “‘ordens” não tem benefícios, como este meu, de poder dar uma voltinha por aqui incógnito. Chamamos o chefe de um nome de “deus”, e para não dizermos seu nome verdadeiro, ele não gosta, chamamos de “barbas” por gozação ao Pedro. Aliás, o Pedro anda com um problema na bexiga, que é por isso que falta chuva na Terra. Vou levar pra ele uns barris de cerveja lager. Sempre que ele encontra uma jovem chamada “Niña” ou o irmão chamado “niño” perde-se por completo e é grande a seca no mundo. Ama-os tanto que nem consegue urinar... Entendes agora porque uma das minhas caravelas se chama “Niña”? É para não dar na ‘Pinta” á “Santa Maria”... Agora entendestes, antão na é?
- Vejo que não perdestes o sotaque assim meio galego, meio português, meio aragonês, leonês, castelano...
- Pudera... Como sabes vivi entre 1476 e 1485 na ilha da Madeira e em Lisboa. Nasci em 1451 em Gênova e comecei a vida como trabalhador no negócio da lã. Eu e meus dois irmãos saímos da casa de meu pai, mas nunca ficamos desamparados por causa dos armadores e banqueiros genoveses. Naveguei muito com portugueses e até com um pirata que tinha um nome igual ou parecido com o meu. Naveguei com o Colombo o velho, não com o novo.
- E como te tornaste um navegador?
- Nunca freqüentei universidade. Comandava homens a bordo. O que sabia de escrever e matemática aprendi mais com os navegadores do que na pequena escola que freqüentei em Lisboa e já tarde quando tinha mais de 25 anos.
- Então...Como conseguiu descobrir a América?
- Pois aí que está... E nunca me perdoaram. Quem deveria ter sido o comandante da expedição nem era eu, mas os banqueiros me escolheram por ser conhecido deles, por família, e por saberem que eu era um homem de fibra e que conhecia o mar. Como a Terra é redonda, navegando sempre para ocidente teria que encontrar terra, e a única conhecida naquela direção, quer dizer, mais ou menos, era a índia onde esteve o Marco Pólo.
- Mas essas terras ficam do outro lado da América, muito para lá... Tão longe teria sido muito melhor terem navegado para Oriente como fizeram os portugueses, contornando a África.
- Perfeitamente. Já sei disso. Mas eu não sabia qual era o raio da Terra. Não sabia que era tão grande. Não tinha esse mérito de saber fazer os cálculos corretos. Assim, quando encontramos terra, logo vimos que estávamos no Japão. Até me preparei pra ir visitar o rei, o Imperador. Não sei que raios que me passou pela vista e me toldou o pensamento, que nem reparei nas roupas que aquela gente usava comparando-as com as pinturas que tínhamos do Japão e dos Hindus. Teríamos visto logo que era um engano, só pelas roupas.
- Mas porque te escolheram?
- Os outros eram uns aleijões, baixos, não tinham modos nem porte de comandantes, nem sabiam conversar, por exemplo, com a Rainha e o Rei de Espanha. Isabel a católica e Fernando, o marido a quem tivemos que convencer, eu e o pessoal dos banqueiros e armadores genoveses.
- Então você foi uma farsa que descobriu um continente por acaso e por engano...
- É isso mesmo... Na verdade é isso mesmo! E não está a ver nenhuma similaridade com o governo que tens agora, esse que tomou o poder e o pervertiu? Olha... Se há coisa que dá azar é gato preto, passar debaixo de escada, e o numero 13... Ah... Sabes, a propósito, de onde veio o dinheiro para os empreendimentos marítimos, e porque as cruzes das caravelas espanholas e portuguesas são tão parecidas?

- Dos Templários?
- Adivinhão... Ou então já sabias... O numero 13 dá azar porque um Papa temendo o poder dos Templários, os convidou para uma reunião e quando estavam juntos, numa sexta feira 13, os dizimou. Os tesouros deles, guardados, foram parar na Ilha de Creta que foi administrada por portugueses durante muitos anos, e na Ordem de Cristo. Esse dinheiro foi todo gasto, já. Como a Ordem era a mesma em Portugal e Espanha, a leve diferença nas cruzes das caravelas, servia apenas para diferenciá-las pela nacionalidade. No fundo, a origem do dinheiro era a mesma. Era Templária.
- Para onde vais agora?
- Não vou. Eu estou aqui, em qualquer lugar “aqui mesmo”’ quer seja no passado, no presente ou no futuro, e também estou lá em cima, junto com o Barbas. Vamos todos para junto do Barbas.
- Mas onde fica o reino do Barbas? Como é?
- Pensa bem... Vives agora e podes fazer o que queres. Mas o que fazes pelo Planeta, o que fazes com tua vida? Deixa que eu mesmo te responda... Nada! Não fazes nada de cósmico, para o planeta ou para o universo. É como se não existisses. Só te serve o viver porque “sentes” que estás vivo, e para meia dúzia de familiares e amigos. E eles tal como tu. Lá no Reino do Barbas, não é diferente porque de nada adiantaria, e como tanto faz viveres ou não, porque nada fazes pelo universo, pelo planeta, ficas num estado latente. Não existe inferno nem céu. Existe o Xeol. Ficas lá “á disposição” e não te sentes nem bem nem mal. É como se não existisses nem para ti mesmo. Foi aí que o Cristo, ao explicar, deixou os apóstolos confusos. Mas uma coisa eles entenderam: Se procuras recompensa a encontrarás aqui mesmo, ao longo da tua vida, pelo bem ou pelo mal que fizeres. Se pudéssemos fazer uma comparação grosseira, o comportamento da humanidade até hoje, a levaria ao inferno. Ficará no Xeol, e um dia arqueólogos se lembrarão dela. E para mudar este panorama sombrio, somente ela, a humanidade, poderá mudar o seu próprio futuro, que se constrói dia a dia, ou destrói, dilma a dilma.

Deixo aqui gravada a assinatura do Colombo, porque disse muito mais do que eu, que só lhe perguntei e ouvi.  Depois voltei para casa. Não tinha  apanhado nenhum siri, nenhuma concha. Estão ficando raros. 

® Rui Rodrigues



[1] Os três primeiros medem temperatura, o Gay-Lussac mede a porcentagem de álcool em relação á água de um líquido. Joseph Louis Gay-Lussac foi um cientista francês.

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