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segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Crônicas do Pontal do Peró, 10 ago 15.


Eram umas dez e meia da manhã quando interrompi a limpeza do remanso do lar e decidi ir a Cabo Frio para repor umas faltas e tirar uma merrequinha do Banco só para não ficar usando meu dinheiro para emprestar a 400 por cento ao mês e me dar só meio por cento de “lucros” na poupança que, considerando a inflação, me representa um rombo, um desperdício, um déficit, uma gozação, uma hilariedade fenomenal. Ia tirar uma merrequinha, tirei uma merrequeta que é um pouco maior. Não tirei mais, um marrecão, por que não sou pato tanto assim. Não tenho marrecão em banco. Nem adianta me assaltar. É uma perda de tempo.  
Fui de táxi.
Assim de supetão, vidros fume, que não quero dar bandeira, ninguém precisa saber que não estou em casa. Se souberem, quando voltar não encontro nem as paredes. Desta vez passei primeiro na loja de um casal de chineses que me querem ensinar mandarim em troca de lhes ensinar português. São muito simpáticos e os dois têm aquele “espírito” bem brasileiro, riem, contam piadas, evidentemente trocando os erres, mas isso não importa. O que importa é o pastel de queijo. O pastel deles não é pastel de vento com cheiro de queijo, mas um pastel de meio vento e a outra metade queijo. Vale a pena. O caldo de cana é sempre de cana esmagada ali mesmo. O resto das bebidas que vendem não as garanto. Podem ser de qualquer coisa com muita água e cheiro de qualquer coisa. Como não sei a data de vencimento dos ingredientes, e supermercados tentam desfazer-se sempre desses que vencem, não como os maravilhosos quibes, os quibebes, as tortas, as pizzas que estão na vitrine com saudável aspecto de moça dadivosa. Acho que vou topar esse negócio de aprender mandarim só pra ficar moderno e poder aplicar-me na cultura chinesa com todas as minhas “ÐÙÝfurada”  que pouco mais passam de cinco reais.

Depois do banco fui numa loja onde comprei duas telas de algodão para pintar, dei uma passada na casa de uma amiga e dali ao supermercado. Na volta o motorista do táxi era outro. Há motoristas calados e motoristas que falam. Prefiro os que falam. Havia uma motorista que eu gostava muito, mas ela foi para Macaé, depois para Campos e agora não sei por onde anda. Essa que era legal. É casada, conheço o marido, e tem dois filhos. Um barato. Ríamos muito ás minhas custas, porque nunca deixei de lhe pagar as viagens, e se um dia eu vier a ter motorista particular ela será a primeira a ser convidada, coisa de que duvido porque a situação do país é catastrófica e eu já não faço parte de mercado de trabalho. 



Na volta do supermercado, viemos conversando. Sempre me sento ao lado do motorista para que saiba que não sou “diferente”. Sou pop. Sou igual. Sou companheiro do motorista. A conversa fica mais agradável, acaba aquela coisa do senhor lá atrás, o lugar do motorista é na frente. Ele acha que no governo os políticos estão todos unidos como unha na carne, atrás de grana, e que por isso Dilma não cai. O tempo todo conversamos sobre isso, cerca de meia hora, porque tive que passar no Jardim Esperança, mas de lá para cá, mudamos de assunto. Foi no trevo logo na entrada do loteamento onde vivo, que lhe disse:


- Cara... Aqui mesmo nesta esquina, o ônibus costumava parar e um dia saltei e o que vejo no chão misturado com a grama verde á margem da pista? Um saco cheio de limões... Peguei, porque não havia ninguém na parada. Mas sou daqueles que andam com os olhos no chão. Já achei muita coisa...
- Eu também... Mas achou mais alguma coisa?
- Um dia em Lisboa, ao entrar na porta da rua do edifício onde trabalhava encontrei um cordão grosso de ouro enrolado num suporte de mão daqueles para empurrar a porta. Levei para o escritório e guardado, foi comunicado que se tinha encontrado um objeto de ouro. Se alguém tivesse perdido algum que o descrevesse ficaria com ele. Alguns do escritório tinham perdido objetos de ouro, mas ninguém descreveu o que eu tinha encontrado e me foi devolvido...Mas encontrei muitas coisas mais, algumas também de ouro perdidas na rua...
- Pois você não vai acreditar... Um dia vinha pela estrada que leva até Araruama, e vejo um peixe grande sobre a linha amarela que divide as pistas. Diminui um pouco a velocidade e deu para ver claramente que era uma anchova enorme, aí dos seus quatro quilos. Diminui um pouco a velocidade, mas vinha um cara atrás de mim, que pelo espelho vi que também diminuiu a velocidade. Pensei que ele ia apanhar o peixe mas seguiu. Não encostou.
- E você não apanhou o peixe?
- Não... Já estava longe, tinha que dar a volta arriscando a não o encontrar mais. Alguém o perdeu, talvez de algum carregamento de peixe, caído de um carro, alguma esposa briguenta que o jogou no marido que dirigia e caiu na estrada...

Então lhe contei dos dois pescadores que encontrei na praia do Pontal do Peró, com tarrafas, e que a meio do caminho encontrei uma tainha de uns três quilos se debatendo na areia. Ainda dei uma gozada nos pescadores dizendo que eu pescava sem tarrafa. Eles que me disseram que não é incomum as tainhas virem com a onda, serem jogadas na praia, o mar recuar e ficarem por ali morrendo. Meu amigo motorista me deu uma dica muito boa. Quando a corrente de Humboldt que passa por aqui, chega um pouco mais perto das águas mais quentes da beira da praia, que até meros sentem o choque térmico e podem até ficar se debatendo na água morna até morrerem.


Aprendi a conversar com motoristas de táxi com meu tio Adolfo em Lisboa, sem me importar se eram negros, brancos, homens, mulheres, ou o que quer que fossem. O importante é conviver, nos comunicarmos, trocar informações, aproveitar o tempo. Um de meus motoristas, esse com quem tive o prazer de viajar hoje, é negrinho. Eu sou branquela, mas nenhum de nós teve culpa ou virtude nisso. Ele ganha muito mais do que eu. Que continue assim, que seja abençoado por esta natureza que nos deveria unir. Também tem dois filhos. Quer um táxi porreta em Cabo Frio? Chame 22- 99967-6950 e fale com o Anselmo.

® Rui Rodrigues.





[1] Pataca-furada. Antiga moeda da região que não valia nada. 

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