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segunda-feira, 2 de julho de 2012

Mutilação genital feminina - Humanidade condescendente - até onde?





Mutilação genital feminina - Humanidade condescendente - até onde?

Falar do passado pode ser válido apenas como referência. As leis e os costumes estão mudando rapidamente, e até a moral, a ética, e os direitos humanos decorrentes parecem ter sempre duas faces dependendo em que extremos se incluem os que analisam os fatos que neles se podem enquadrar.

Por exemplo, para ocidentais – imaginando que seja inquestionável o que é ser ocidental – o corte do clitóris feminino enquadra-se como um atentado aos direitos humanos, em particular aos da mulher, e fere os seus costumes, a sua moral e a sua ética. Já para os adeptos deste procedimento, de forte tradição em quase toda a África central e em alguns países da Ásia, é um ato normal que faz parte dos costumes. Cerca de três milhões de mulheres são mutiladas anualmente por este processo. Em 2006, cerca de 140 milhões de mulheres em todo o mundo tinham recebido esta bárbara intervenção em seus corpos. Não bastassem as deficiências físicas a que todos estamos sujeitos, criaram esta para as mulheres nas regiões indicadas a título de que nasçam mais filhos homens, e de que não se vejam tentadas ao prazer com estranhos ao harém ou ao marido, dentre outros fatores. Com o corte do clitóris, grande parte ou a totalidade do prazer dessa zona erógena se perde nas mulheres. Fazem sexo porque têm que fazer, porque é assim. O ponto é: o que se pode e deve fazer para ir diminuindo esta prática até que cesse definitivamente?

Não me parece que uma intervenção armada sob os auspícios da ONU pudesse resolver esta pendência; Seria uma catástrofe, um erro colossal. Mandar agentes infiltrados para derrubarem o governo e instaurar uma nova Constituição, também não, porque o erro seria o mesmo, sob forma diferenciada. Comprar a mídia desses países para que começassem uma conscientização em todos os níveis, seria outro erro igual sob forma também diferente. Manter ONGS que cuidem desse assunto nesses países, é uma solução a muito longo prazo. Acredito mais num intercâmbio cultural. Em contato com a civilização ocidental, as influências seriam mais rápidas e abrangentes, e o movimento para mudar seria de dentro para fora, isto é, as próprias mulheres e muitos dos homens se interessariam por acabar com esta prática. O dinheiro pago às ONGS, e que não é pouco, seria utilizado para cobrir as despesas de intercâmbio. Ou se manteriam os dois processos.

O certo é que algo tem que ser feito urgentemente. Não se pode mutilar o corpo humano de forma tão trágica, a título de manter costumes e idiossincrasias, só porque alguém, lá atrás no tempo, também os tenha mudado para permitir o que vemos hoje. São três milhões de mulheres todos os anos, o numero total passa dos 150 milhões.

Podemos questionar muitos hábitos estranhos como este, lembrando que a Turquia, em contato com a civilização ocidental mantém uma firme liberdade de costumes em relação ao mundo muçulmano, apesar de ser um país muçulmano. Não vi na Turquia nenhuma mulher com o rosto coberto, nas cidades ou nos campos, embora muitas usem véus cobrindo-lhes os cabelos.

Evidentemente não faltará quem ache, por convicção ou para não se incomodar, que este é um assunto inerente às sociedades nas quais esta prática faz parte de suas tradições, mas nossa omissão em adotar uma estratégia eficiente e definitiva nos coloca numa situação tão desumana que é como se estivéssemos de acordo com esta prática.

A humanidade, e cada indivíduo em particular têm que ser livres para fazer com seus corpos o que desejarem, desde que não os usem para impedir, limitar ou fazer cessar a liberdade dos demais.

E somos responsáveis, completamente responsáveis pelo que está acontecendo a essas mulheres.

Rui Rodrigues


domingo, 1 de julho de 2012

A sedução e o amor num tapete voador




A sedução e o amor num tapete voador

Não há tornado ou vendaval que eleve um tapete no ar com duas pessoas a bordo e o deixe navegar sempre paralelo ao solo, levando o casal aos píncaros do vento, assistir ao nascer ou acabar do dia pintados de arrebol. Pensar que isso possa existir é insanidade. Olhar o pôr do Sol ou o nascer do dia, admirando as cores avermelhadas, alaranjadas ou em tons róseos, é um prazer que qualquer casal de namorados pode usufruir sobre um tapete, persa de preferência, á beira mar, sem testemunhas, os horizontes infinitos ao sabor da imaginação e da liberdade de se amarem.

Casais inexperientes vêm o infinito do mar como uma viagem certa, definida, longo tempo para navegar. Casais experientes vêm sempre o horizonte como algo que deve ser percorrido com cautela e precaução, terminar a viagem a qualquer momento se houver indícios de tempestade no mar. Para os primeiros, as tempestades são novidade e devem ser vencidas. Para os experientes, as tempestades são apenas tempestades e já sabem como acabarão. Não vale a pena lutar contra o fim inexorável: o mar vence, e o tapete é débil.

O amor não é nada complicado. Surge sempre de pequenos atos de sedução, como se nosso corpo fosse feito de órgãos independentes que trabalham uns para os outros, assim como o coração mantém o sangue circulando, o cérebro determina os ritmos e as ações para cada coisa e movimento, o estômago digere a comida.  Assim também a pele, os olhos, os ouvidos, a boca pela fala e as mãos e dedos pelo toque, cativam prazerosamente para a realização de um prazer maior; o ato sexual, onde o maior prazer, com o qual nada se compara neste mundo, pode explodir em alegria, realização, e relaxamento. Uma fonte de energia.  A Complicação do entendimento do amor vem exatamente da sedução e do que imaginamos que seja.

A sedução pode ser comparada com um tapete voador, de preferência persa, ricamente trabalhado, decorado, cativante, sobre o qual dois seres humanos realizam o desejo de se atrair mutuamente. Ambos sobem no tapete, e essas primeiras imagens da sedução, através de toques de pele, de olhares, de falas, de ouvidos atentos, são o próprio tapete. Viajam no tempo, juntos por breves instantes ou por anos, décadas, e olham o tapete de vez em quando enquanto atravessam o mar da vida. Quanto mais o olham, mais se convencem de que apesar de desbotado, puído, é apenas um meio de transporte de algo que se tornou maior: o amor.

Mas a sedução é também um jogo no qual se entra com maior ou menor convicção. Por vezes, nesse jogo, um dos passageiros desce do tapete ou puxa-o em sua direção deixando o outro no ar. Serve muitas vezes, esta façanha de risco, para que o outro lhe sinta a falta e retorne com mais vontade de continuar o jogo, mas pode acontecer que aquele tapete perca rapidamente a cor e fique puído em poucas tentativas deste jogo de rato e gato, e, quando se compara a cor e o estado do tapete nos primeiros dias com os últimos dias, nota-se uma diferença tão grande, tão abissal, que se volta para a praia de onde se saiu. Nestes casos, o jogo de sedução terminou, o amor foi tão modificado, que ou acabou também, ou se transformou em algo completamente diferente, como um veneno que mata aos poucos o coração, o estômago que vomita, pára os membros.

Dizem que homens e mulheres praticam o jogo de sedução de forma diferente. Não creio. Inúmeros tapetes voadores saem todos os dias para o mar transportando um casal, muitas vezes já com outros que viajam de carona sem que eles percebam. Reações comportamentais femininas são vistas em homens e vive-versa. A dor e a alegria são iguais no maior prazer na maior das decepções. Mas tudo não passa de uma biografia de viagem num tapete voador.

E não há nunca motivo para uma decepção total.

Na praia, no continente, há sempre novos pares que se formam, gente que quer formar um novo par, o retorno da viagem é garantido, o jogo de sedução pode sempre ser mais ou menos franco.

Há sempre um mar infinito a atravessar, um nascer de manhãs sãs ou insanas coloridas de vermelho, laranja ou cor de rosa. Como num arrebol. Pores do sol também. Cada casal escolhe a hora de iniciar a viagem. Quanto à sanidade, ela é relativa, apenas uma extremidade da sanidade.

Um velho lobo do mar nunca gosta de partir ao meio-dia.

Rui Rodrigues

sábado, 30 de junho de 2012

Amor e sexo – E como em rio de piranhas jacaré nada de costas.




Amor e sexo – E como em rio de piranhas jacaré nada de costas.

Esta é uma história feita de histórias de amor e sexo na zona do agrião. Devemos considerar, antes de ler, que em rio de piranha, jacaré nada de costas. E “zona do agrião” significa que é algo importante onde se decide a vida. É perto dos rios onde cresce o agrião que existem piranhas e jacarés. Portanto, cuidado ao ler. Estas pequenas histórias são fruto de informações recolhidas ao longo da vida e até mesmo de experiências próprias, mas nada é mentira. Uso a descrição na primeira pessoa para dar autenticidade.

Leia com moderação!

Eram os idos de 1970. As beatas infestavam as sacristias e os conceitos de moral eram terríveis. Tudo falso, mas tinham o seu poder. Recentemente ainda em 1968 as barricadas de Paris tinham sido levantadas para mudar essa falsa moral. Os alunos das universidades parisienses queriam, e conseguiram, que moças e rapazes pudessem visitar-se em seus alojamentos, que os banheiros fossem compartilhados independentemente de gênero. Alguns anos atrás, um amigo meu tinha sido obrigado a casar com a empregada por tê-la engravidado. Suspeitava-se que o pai da criança fosse o próprio avô dele, por ter sido o mais feroz defensor da moral naquela casa. O garoto tinha 14 anos e tiveram que emancipá-lo. Não havia ainda testes de DNA. Já com 25 anos, eu não queria complicações nem ser responsável por abortos em minhas companheiras de cama. Quando saía com mulheres casadas, ou aquelas “casuais” de oportunidade, que queriam uma aventura fora do casamento, nunca me preocupava com piranhas na zona do agrião e nadava de todos os modos naqueles rios de corpos sedentos, mas quando se tratava de moças tinha meus cuidados. As camisinhas de látex davam-me alergia e deixavam-me a cabeça inferior completamente irritada e vermelha, em fogo... Lurdinha, que entendia das coisas do prazer, ainda virgem, sempre me dizia sorrindo: - Isto aqui, é só para os trouxas!...(e apontava para a sua zona pilosa do agrião)... E isto aqui, gostosa como ela só, é para você... (e me apontava os glúteos fartos, redondos, carnudos).. Na verdade, sempre tive o cuidado, como bom jacaré, de nadar de costas em rios infestados de piranhas. Exceto uma vez!

Gilda era uma moça que há poucos dias tinha feito 19 anos. Tinha um filho e era tarada. Logo nos primeiros movimentos, levou minha mão para seu sexo e foi ajeitando, ela mesma, os meus dedos para que entrassem mais. Relaxava... Meus dedos foram entrando naquele mundo úmido como se fosse meu pênis. Cheguei a sentir um tesão como se já estivesse dentro dela. Aos poucos a minha mão foi entrando, entrando, até que estava toda dentro de sua vagina, e se não tivesse achado que poderia machucá-la, teria subido até o útero. Cheguei a pensar que, depois daquele ensaio, pouco poderia dar-lhe a mais de prazer, visto que meu membro não tinha o comprimento da ponta do dedo até o pulso, nem a grossura da mão. Mas enganei-me. Quando a penetrei, sua vagina contraiu e meu membro entrou por um tubo perfeito, lubrificado, e viajamos ao céu em teco-teco, bem devagar, até descermos de pára-quedas e aterrissarmos no paraíso. Quando se pôs de quatro e baixou um pouco o chassi, adivinhei que me oferecia o outro túnel, aquele que não era dos trouxas. Ainda fiz algumas viagens por essas águas infestadas de piranhas, mas como bom jacaré, fui nadando para outras bandas do rio. Voltar a casar nem pensar...

Quando namorei a Eugênia, em 1966, ela fazia de tudo. Eu também fazia de tudo. Não era raro que ela, com aquelas belas pernas, de frente para o espelho, pintando-se, já vestida, voltasse a despir-se para reiniciar a sessão de prazer como se nem tivesse começado. Um dia, pela primeira vez, lambuzou-se na minha glande. Divertiu-se como se fosse um gostoso sorvete. Lambeu-o de cima para baixo, dos lados, e por qualquer processo descobriu que sentia prazer em engoli-lo até o talo, todo, até tocar a sua glote. Tinha a garganta profunda. Sentia prazer nisso, e em dar-me prazer. Um dia, depois que me separei, voltei a encontrá-la por puro acaso. Resolvemos “voltar” a algo interrompido na juventude. Ficava em casa lendo, e todas as segundas feiras voltava ao Rio para as suas atividades. Isto durou mais ou menos uns três meses. Não cozinhava, não lavava, não fazia nada. Desaprendera toda a arte de agradar e ser agradada. Queria boa vida. Eu também. Por isso um dia partiu deixando até algumas roupas usadas. Não gostou de ouvir algumas verdades. Esta zona do agrião é perigosa, quando se lida com o presente em simultâneo com lembranças do passado. São grandes as decepções, e como bons jacarés, devemos estar sempre atentos às armadilhas que nos aprontam e por vezes começamos a aceitar, na zona do agrião.

Quando parei para abastecer o carro num posto da Shell, atendeu-me uma bela mulher, loura, olhos azuis. O lugar dela não era ali. Saltava aos olhos. Era muito evidente. No momento conversava com meu engenheiro de obra sobre assunto importante, e ela me chamou tanto a atenção, que não pude deixar de lançar-lhes uns olhares interessados. Quando ela acabou e foi olhar o valor marcado na bomba, meu engenheiro chamou-me a atenção:

- Você viu a moça? Estava com o pescoço com a pele toda arrepiada. Essa mulher está interessada em você!

Quando ela voltou com a informação de quanto era o valor a pagar, olhei-a nos olhos e no pescoço. Era verdade. Estava com a pele como o amigo dissera, e perguntei a que horas sairia. Seria às quatro e meia. Perguntei se poderia apanhá-la na saída. Disse que sim.

Levei-a para meu apartamento. Como toda a nudez deve ser devidamente apreciada, fomos tomar um banho quente porque era inverno. Ela primeiro. Esperou-me na cama.  Deitei-me a seu lado e vi sua pele rosada, em vários tons, mais rosados nos peitos, as pontas levantadas, indicando desejo. Era uma mulher perfeita. Seus lábios estavam entreabertos, esperando tudo. Sua aliança no dedo indicava que era casada. Não a tirara. Sinal de que não pretendia uma conquista, mas sim um bom momento. Beijei-lhe os lábios, sua boca com bom hálito. Nunca tinha deitado com nenhuma mulher que me despertasse tanto desejo, nem procurei saber porquê. Talvez devesse.
Quando Leila saiu de meu apartamento, seis horas depois, eu estava exausto. Pela primeira vez na minha vida, tinha penetrado aquela mulher por seis vezes em seis horas. Leila era única. Não quis que a levasse em casa. Entendi. Deixei-a num ponto de táxi. Não quis que lhe pagasse a viagem. Também entendi.Passei a noite pensando que logo pela manhã passaria no posto de gasolina para encontrá-la novamente. Mas nesse dia, a piranha era eu, e ela o jacaré que em zona do agrião toma cuidado e nada de costas. Fui ao posto pelo entardecer.
Já não trabalhava lá. Nunca mais vi a Leila. Se a tivesse encontrado novamente, a borboleta do caos, cujo vôo pode mudar o rumo das coisas no planeta, teria mudado minha vida e não sei o que poderia ter acontecido. Mas o que aconteceu ficou-me gravado na memória. Inesquecível. 


Obrigado, Leila, onde quer que esteja agora.

Rui Rodrigues

O perfil vencedor de um candidato a senador




O perfil vencedor de um candidato a senador

Entre tantas idas e vindas a Brasília, o velho senador já estava dividindo a esposa com velhos amigos de carreira e principalmente com o motorista e o encanador. Ela já nem se importava. Não faltava nada em casa, viajava muito, a imprensa ficava longe porque traição já não dava IBOPE. Antigamente, um caso de traição familiar era assunto de meses na mídia e até podia derrubar políticos de cargos públicos. Para que isso não acontecesse, a justiça “liberou geral”. Agora qualquer um ou qualquer uma pode trair á vontade sem medo de ser feliz. Moral adaptada às circunstâncias políticas. As próximas eleições estavam chegando e era necessário escolher perfis adequados para a vitória do Partido em todos os estados da nação. Político para ser eleito, não é o que o povo quer ou deseja: São aqueles que os Partidos escolhem e põem à disposição para serem votados. O senador sabia disto e tinha que escolher muito bem! A família que se danasse. Cuidava dela dando-lhe o dinheiro necessário para não o amolarem.

Lendo tudo e recebendo todas as informações sobre as características dos seres que habitavam o seu país, o velho senador sabia o que era mais recomendável para um candidato ao senado. Contribuía com informações e conselhos para o Partido a que pertencia. Viu então que o candidato tinha que ser maleável para poder cumprir com as determinações do Partido. Essa maleabilidade era conseguida de acordo com as características do candidato: Se fosse vaidoso, o Partido dava-lhe prestígio; se fosse ambicioso, dava-lhe dinheiro; se fosse político por convicção, dava-lhe um posto “neutro” daqueles em que o senador apenas contribui com recomendações que nem sempre se aceitam, mas que justificam a posição; se fosse corrupto por natureza, poderia servir tanto para “boi de piranha” no futuro, entregando o indivíduo aos lobos da moral e da ética, ou aproveitar a sua ambição para dividir os roubos com o partido. Qualquer sujeito ou sujeita serviria para ser senador desde que obedecesse aos “requisitos”. Político, mesmo santo, que fosse eleito, perdia a santidade logo nos primeiros dias de mandato: Logo no primeiro dia já era voz corrente que existia um “dossiê” que o incriminava.


Quem prestar atenção às estatísticas verá que os casos de câncer de pulmão e ataques cardíacos não diminuíram no mundo, no que tenham pesado os esforços para diminuir o consumo de fumo. Com tanta poluição, o problema do fumo como fator cancerígeno é mínimo. Ninguém fala na poluição causada por aviões que cruzam os céus consumindo em média 22.000 litros de gasolina por viagem, e todas as viagens, poluidoras. Se houvesse um movimento mundial contra a poluição de aviões, uma boa fonte de renda dos Estados seria perdida. Então taxaram o tabaco que passou a ficar mais caro do que as drogas que essas, sim, matam e aleijam para toda a vida. Porém, sobre o tabaco o Estado tem controle, e sob as drogas nem pensar, porque derrubaria muitos políticos envolvidos. O senador sabia disso. Sabia também que o importante não era salvar vidas, mas que doentes fossem atendidos às custas do Estado. O dinheiro do Estado era muito mais necessário para as campanhas políticas. Os políticos á frente dos ministérios se encarregariam de distribuir o dinheiro.

O movimento “gay” crescia a olhos vistos. Cada vez mais as passeatas cresciam em número e qualidade. Lá nos EUA, Barak Obama já se declarara gay assumido sem que a bela esposa reclamasse. Isso foi um rude golpe no seu adversário político que logo após esta declaração de Obama diminuiu o seus ataques para não ferir os sentimentos da classe gay.  Os candidatos dos Partidos ao senado deveriam todos eles ser gays assumidos mas discretos, não daqueles  que desmunhecavam, exageravam nos gestos, saiam pelas ruas requebrando ou desfilando em escolas de samba completamente aturdidos pela glória de se mostrarem em público.

A Igreja Católica sempre freqüentara os corredores do Congresso e tinham até um público grande. Já havia contribuído com verbas e campanhas disfarçadas no passado para a eleição de políticos, e os casos de pedofilia vindos a público em nada recomendavam candidatos desta religião, e havia que repensar. Novas Igrejas estavam agora ocupando espaços da Igreja Católica que era muito tradicional e se transformava em Ortodoxa. Os santos desta Igreja já não faziam milagres. Mas havia uma que os estava fazendo todos os dias em seus templos. Curavam cânceres, paralisias, expulsavam demônios, cegueiras, mudos voltavam a falar, e tudo em troca de pagamentos de dízimos e compra de artigos milagrosos de artesanato. Este era o melhor perfil religioso para o candidato. Mas sem exagerar. Bastava que dissesse uma vez só na campanha que pertencia à turma do Valdomiro e nunca mais falaria nisso. Além destes, os das outras religiões votariam nele também. E a pesar de não serem tão ricas quanto a Igreja Católica - que só aparecia no Sendo para pedir dinheiro - estas contribuíam com muito mais para as campanhas. Um bispo era até ministro da pesca. Coisa bem bolada!

O senador sabia que o consumo de drogas estava aumentando no país. Senadores seus amigos até defendiam penas menores para viciados, para traficantes, a polícia nunca sabia por onde entravam as drogas nem onde se vendiam. O cigarro, daquele tabaco tradicional das Américas, esse, sim, era pernicioso mas dava uma boa arrecadação e merecia ser vendido a peso de ouro. Drogas eram a distração do povo, que o mantinha feliz. Nem pensar em diminuir o consumo das drogas, ainda mais que serviam bem à causa: muito do dinheiro proveniente das drogas fazia as delícias de muitos políticos, policiais, promotores e juizes. Eram uma força dentro do governo e não era bom brigar com eles. Por isso, o melhor seria um candidato egresso das drogas. Um convertido. Declararia logo no início da campanha que já tinha usado drogas e vendido algumas lá na favela onde vivera com sua pobre mãe diarista. Por isso teria que ser analfabeto. Ou quase!

O senador articulista, que tudo articulava no senado, sabia do mundo que o cercava. Quando não era possível comprar o voto dos cidadãos, infalivelmente votavam nos candidatos com quem se identificassem. Num país de esmagadora maioria analfabeta ou com baixíssima instrução, o ideal seria algum candidato também com o mesmo perfil. Por um processo de identificação e representatividade, candidato saído da mesma classe ou situação social dos eleitores seria sucesso certo. Quando as listas prévias para votação passassem por um candidato desses, nos corredores apressados do senado, bastava que alguém mais próximo lhe dissesse do que se tratava, mesmo mentindo, para que ele apusesse rapidamente e sem titubear o seu jamegão na lista, a assinasse em nome do que era “bom para o Brasil e o Partido”.

Tinha que ser casado. Desde os tempos de Jesus Cristo que religioso ou político não tinham o menor crédito se fossem solteiros, desgarrados, com mulher correndo atrás para arranjar um bom casamento. Ser casado era sinal de ser familiar, apoiar os movimentos em torno da família, ao velho estilo de Pátria e família, ser irresponsavelmente responsável. Se a mulher tivesse um perfil interessante, seria mostrada em fotos na campanha e desfilaria a seu lado. Se fosse uma tremenda ratazana, seria tirada do foco das atenções e substituída por uma bela secretária acompanhante de campanha, que subiria nos palanques. Imagem feminina sempre vende, até nas velhas propagandas de cigarro e cerveja. Se a mulher for promíscua, melhor, porque sempre existe a esperança de o eleitor “comer” a mulher do candidato nem que seja na pura imaginação. Seria casado o candidato.

Faltava definir o perfil psicológico, mas o senador não precisou pensar muito. Bom candidato sob o ponto de vista psicológico é o do “cara safo”, isto é, o do cara que sempre dá um jeitinho nas coisas, que escapa de armadilhas, que tem sempre uma resposta pronta mesmo que não seja adequada. Para isso teria que ter passado por situações na vida das quais tivesse escapado ileso. Encontraria sempre um candidato – ou candidata – da vida pública que já tivesse sido um garoto de programa, ou uma garota de programa, com fotos e vídeos pornográficos de montão pela NET, e que teria certamente de vir a público dizer que naquela época isso não era crime nem reprovável, mas que agora já tinha até vencido o problema psicológico de ter sido abusado ou abusada na infância. A prova seria o sucesso público do candidato, ou candidata. O povo vê na mentira improvável a verdade inquestionável desde que posta a nu publicamente. Ou então que já tenha passado por alguma instituição de recuperação da juventude, ou sido preso e depois libertado.

Umas aulas de postura, umas maquilagens, corte de cabelo adequado, uns ternos e gravatas ou roupas femininas condizentes, um par de óculos da moda, perfume francês e mídia comprada para publicar o que interessa e rebater o que não é desejável...

Para o senador, o candidato está pronto! Que venham as eleições!

Rui Rodrigues




sexta-feira, 29 de junho de 2012

2011 - As dívidas interna e externa de Portugal e Brasil




2011 - As dívidas interna e externa de Portugal e Brasil
(Ou até que ponto chega a insanidade moral e ética de quem dirige os destinos dos cidadãos)


Este estudo não tem a finalidade de comparar as duas economias, mas uma referência para quem tiver a curiosidade de saber como se desenvolvem, o que esperar no futuro, dependendo de quem o ler, se portugueses ou brasileiros. Minha preocupação é analisar em que medida nossos destinos e os de nossas famílias se perdem nos interesses de pequenos grupos que dominam as instituições através de pressão nos corredores onde “nossos” senadores, deputados, governadores, prefeitos, autarcas, presidentes e vice-presidentes fazem as leis e as alteram sem que nos consultem.

Brasil e Portugal são duas republicas de política democrática representativa, mas como não nos perguntam nada, apenas fazem o que lhes interessa, não nos representam: Impõem-nos o que querem. É uma ditadura disfarçada de democracia, um esforço internacional para manter o “status quo” existente onde as grandes empresas e os grandes Bancos imperam.


1- Dados para raciocinar - 2011

Brasil: População: 200.000.000
Dívida Interna – 2.500.000.000.000 dólares
Dívida Externa – 311.000.000.000 dólares
Total – aprox. 3.000.000.000.000 dólares


Portugal: População: 10.000.000 
Dívida Interna – 200.000.000.000 dólares
Dívida Externa - 600.000.000.000 dólares
Total – aprox. 800.000.000.000 dólares

Se dividirmos o total pela população, teremos que, cada cidadão deve, em média no total:

Cada brasileiro - 15.000 dólares ou 30.000 reais
Cada português - 80.000 dólares ou 34.000 euros.


2- Considerações 

O que vemos é que a maioria esmagadora dos cidadãos não contraiu tal dívida em particular. Alguém, ou muitos, uma multidão, que nunca se sabe quem, nem onde, nem quando, nem porque razão foram contraindo dívidas em nome da população. Não vemos que tenha sido para melhorar substancialmente os serviços públicos, as infra-estruturas, ou de qualquer forma para investimentos em centros de pesquisa, melhor educação e serviços de saúde ou transporte públicos... Toda a dívida parece ter sido contraída para atender uma classe muito especial que se encontra nas camadas mais altas da sociedade e evidentemente a classe política, conforme índices de corrupção em governos que se encontram disponíveis na Internet.

Os empréstimos são tomados na Banca, nos Bancos. Este aumentaram os juros nos empréstimos pessoais, e agências internacionais como a Moodys’s se encarregam de subi-los no plano das dívidas externas, rebaixando as classificações de países e Bancos. Isto faz parte da política de extração de dinheiro das populações sem ter muito trabalho ou produzir alguma coisa. Dinheiro fácil através de pressão política de governos que têm a seu lado as forças armadas, as polícias e os fazedores de leis.

Alegando – os Bancos- desde 2008, que poderiam correr grande risco de fechar porque dois ou três bancos demonstraram nos EUA deficiente administração, os presidentes das maiores economias do mundo correram em seu auxilio disponibilizando verbas públicas provenientes de impostos arrecadados, em vez de simplesmente deixar quebrar esses dois ou três Bancos. Eles mesmos, os dirigentes desses Bancos foram às TVs, sem gravatas, confessando as deficiências de suas administrações. Ficaram com o dinheiro público e seguraram-no, restringindo o crédito por medo da própria situação que criaram: o medo de emprestarem e não receberem. O problema é que agora, grande parte do dinheiro que têm em caixa foi dinheiro público doado...

O mundo encolheu sua economia. Cada vez se compra menos, cresce a inadimplência, cada vez se exporta menos. Ninguém quer perder dinheiro. Restringem-se as necessidades.

Ninguém quer admitir mas o mundo está em recessão, tal como em 1929.

Como nos pode passar pela cabeça que, com juros entre 6% e 12% ao ano sobre as dívidas externas acima indicadas, cada brasileiro e cada português possam pagar a dívida interna e externa?

E sabemos muito bem que, no caso da dívida interna, todos os contratos têm cláusula de reajuste. Mesmo as empresas de construção, de aprovisionamento de bens e serviços têm essas cláusulas, aumentando a dívida pública todo o ano, nos valores correspondentes, com o crescer dos juros bancários.

Mas enquanto as dívidas internas e externas sobem, a “renda per capita” e o PIB diminuem em função da retração do mercado internacional agora em recessão... Isto ainda mais inviabiliza  o pagamento das dívidas das nações.

Merkel apoiou sempre os empréstimos quando tudo estava “bem”, e agora que tudo está mal os nega. Teria sido melhor que não tivesse incentivado tanto os empréstimos para crescimento dos países da zona do Euro e agora para ajudar na crise, os liberasse, mas creio que fez parte das armadilhas do crédito, como dar doces envenenados de juros de a crianças deslumbradas em quem votamos para que nos representassem.

Os governos do mundo atuam em conjunto de forma ditatorial, mudando os conceitos de justiça e as leis para que se libertem das obrigações cidadãs do estado e possam fazer seus negócios particulares. Mas que não nos iludamos. A situação está terrivelmente feia para gregos, troianos e arredores. Balançam as contas chinesas, alemãs, francesas, espanholas, americanas, do Barhein e do Katar... De norte a sul, este a oeste.

Avacalharam a democracia e a política agora é uma questão financeira de partidos e políticos. O mundo espera por mudanças.

Em nome da Democracia Participativa,

Rui Rodrigues


Fontes de dados

quinta-feira, 28 de junho de 2012

Certamente uma sensação de absurdo...



Certamente uma sensação de absurdo...

(Ou como diria um amigo meu residente no Reino Unido, “Certainly a sense of nonsense”).

Minha gata de focinho e patas brancas olhou para mim, veio até meus braços como vinham as gatas de duas pernas, de qualquer cor, e aninhou-se em meus braços. Lambeu-me o braço, a mão, os dedos. Todas as gatas de duas pernas tinham gostado desta de quatro, a Sarkye, nascida e registrada em Lisboa no posto de Carcavelos. Ao lembrar-me de uma delas, pensei em três coisas de uma coincidência incrível: Todas estas tinham tido um final infeliz e, de certa forma, não tinha o menor sentido.


Quando o Titanic zarpou do porto de Southampton na noite de 14 de abril de 1912, com escala em Queenstown, com destino a N.York, ninguém poderia imaginar o desenrolar da viagem. O comandante, barbudo, era um certo Edward J. Smith, e uma ruiva deslumbrante prometia não sair de seu camarote durante toda a viagem. Aquele era o maior navio de passageiros do mundo, construído em Belfast, na Irlanda, e apesar dos movimentos do IRA originados no velho Ulster em prol da independência, a sua construção decorrera de forma tão tranqüila que não se esperava qualquer tipo de sabotagem. John Coffey, 23 anos, estava a bordo como foguista fazendo parte da tripulação. A Europa e os EUA estavam em relativa paz embora houvesse muito desemprego e a Alemanha estivesse num processo de rearmamento. Diziam que o Titanic nem Deus o poderia afundar. Também ninguém notou quando John Coffey saltou para fora do navio em Queenstown, escondendo-se em um dos botes no meio das sacolas de cartas que estavam destinadas ao continente. Nativo da cidade, ele provavelmente se juntou ao navio em Southampton com essa intenção.

Na Itália, o navio “Costa Concordia” já saíra para mais um cruzeiro pelo mar Mediterrâneo. Margeava a ilha de Giglio, e a bordo, no camarote do comandante Francesco Schettino, uma loura deslumbrante mostrava seus dotes de sedutora, suas pernas bem torneadas, seus lábios bem delineados e grossos. Já entrara no camarote sem calcinha, e sentada no beliche entreabria as pernas para os olhares ávidos e atentos do comandante. Para agradá-la, Schettino passou um pouco mais perto da ilha de Giglio onde a conhecera. Fumavam um baseado, e estavam alegres. Muito alegres. O comandante confiava na sua tripulação a quem já instruíra para se chegar um pouco mais para junto da ilha. Teria pelo menos umas duas horas de privacidade até a próxima parada. Sentou no beliche, a vigia a suas costas, a loura de joelhos com os braços ao redor de sua cintura puxando-o para si, a boca de lábios grossos tocando-lhe os pelos pubianos. Não via a paisagem.

Os “doze da Ucrânia”, todos portugueses, partiram de avião para defenderem a honra de umas damas ucranianas, por sinal muito lindas, que os convidaram para uma lide de vida ou morte em defesa da honra. Não gostavam de viajar de navio, e se o fizessem demorariam muito tempo para atravessar todo aquele mar dando a volta à península Ibérica, Galícia, Norte da França, Norte da Alemanha, para chegar à Polônia e depois à Ucrânia. O desafio havia sido lançado por uma Congregação esportiva que se reunia de quatro em quatro anos para lavar a honra, embora não tivessem muita certeza do que essa palavra significava em face à confusão generalizada de tomar a honra como coisa desportiva. Levavam um galo enorme de Barcelos. Na verdade eram somente onze, e um armeiro que os treinava assiduamente. Luiz Vaz de Camões já falara sobre isso, séculos antes. Não era o melhor armeiro do reino, aquele apelidado carinhosamente de Meirinho, mas ninguém sabe porque razão, não foi, não quis ir, não o convidaram. O Décimo segundo homem que fazia parte o grupo não era o Meirinho. Era outro o verdadeiro Magriço, que  jamais chegaria para o combate em defesa da honra das damas ucranianas.

Quando pelo meio da noite avisaram por rádio que havia icebergs na rota do Titanic, o comandante Edward alterou a rota para mais a sul, e foi para o camarote descansar com a consciência tranqüila. Abriu uma garrafa de champanhe e olhou a ruiva estendida na cama, adormecida. Edward estava já um pouco avançado na idade, de modo que optou por deixá-la descansar um pouco. Ligou então para a ponte e avisou:  - “Só me interrompam se houver algo de muito grave. Afora isso, só me acordem amanhã de manhã”. E sentou-se na cama, alisando as pernas da bela ruiva, as mãos subindo, subindo, subindo... Quando ouviu o estrondo, pensou que alguém invertera a marcha os motores e algo quebrara lá embaixo na gigantesca casa de máquinas. Apertou os botões da braguilha, pediu desculpas à ruiva dizendo que já voltaria e foi para a ponte de comando, o navio um pouco adernado. Pensou também que alguém poderia ter detonado alguma bomba. Talvez alguém do IRA. O certo é que o navio fazia água.

Quando a bela loura começava a puxar o zíper das calças brancas do comandante Schettino a bordo do Costa Concordia, e já passava a língua entre os lábios, os olhos postos nos do comandante, preparando-se para os primeiros movimentos do prazer, sentiu um estrondo, sentiu-se tonta pelo giro repentino da cabine  que quase virou do avesso. Algo muito estranho e terrível tinha acontecido. O navio estava adernando rapidamente, e tão repentinamente como começara, estabilizou. Podia ver o nível da água do mediterrâneo a dois palmos do nariz logo abaixo da vigia. Apressado, o comandante voltou a fechar o zíper ainda no chão, apanhou uma valise, e segurando a mulher pelo braço, abriu a porta da cabine e saiu para o tombadilho inclinado. Um lancha de fiscalização do porto que passava por perto, deu-lhes uma carona e levou-os até a costa, a não mais do que uns duzentos metros do navio adernado. Enquanto a mulher apanhava um táxi para casa, Schetinno apreciou o estrago. O navio tinha capotado no mar. Chegara perto de mais... Ainda deu uma risada sob os efeitos do cigarro de maconha que acabara de fumar com a loura minutos atrás, e preparou-se para o pior. Não sabia ainda se fugiria ou se ficaria por ali esperando o desenrolar dos acontecimentos.

Os combates começaram contra os cavaleiros espanhóis em honra das belas damas ucranianas. Pelas regras, se houvesse empate, cada cavaleiro teria que dar um golpe de lança,  a cavalo, tentando derrubar o cavaleiro inimigo no fundo da liça. O 12 da Ucrânia, saídos de Portugal, todos eles nobres cavaleiros, já cansados da lide de  90 minutos mais 30 minutos de prorrogação prepararam-se para o desempate. Começava por uma série de cinco tentativas de lado a lado: Se fosse o Meirinho a decidir quem seriam os primeiros  teria sido diferente, mas este que o substituiu, mandou primeiro os menos experientes. Os espanhóis começaram, e na primeira tentativa o cavaleiro português desviou-lhe a lança: Portugal atacou a seguir e marcou. Estava Portugal 1x 0. Tudo indicava que seria possível passar à fase seguinte.


O Titanic era agora uma plataforma adernante, toda iluminada na noite fria do Atlântico Norte, perto das águas da Terra Nova, metendo água rapidamente. Edward na sua torre de comando, dera ordem para baixar os escaleres, dando preferência aos passageiros da primeir classe, depois aos de segunda classe e trancando os de terceira classe nos pisos mais baixos do Titanic. Muitos moreram ali mesmo afogados. Poucos conseguiram escapar. Os botes não tinham lugar para todos os passageiros, alguns turcos onde se suspendiam os botes não funcionaram. Um bote emborcou, outros não conseguiram ser baixados. Às 4:10 do dia 15 de abril de 1912, o navio Carpathia recolheu os primeiros sobreviventes do naufrágio. Já não existia o Titanic como navio. Partira-se em dois e jazia no fundo do mar. Das 2.223 pessoas a bordo, apenas 706 foram resgatadas. Morreram 1517 pessoas (quatro portugueses, três originários da ilha da Madeira e um radicado em Londres).

A mesma lancha que deixara o comandante italiano na costa, a poucos metros do Costa Concordia, junto á ilha de Giglio, voltou para lhe dizer que havia um comunicado do chefe da administração do porto. Por várias vezes ouviu pelo radio “Vada a bordo, Cazzo” (Volte ao navio, Caralho!), ordens para voltar ao navio e assumir o comando, e outras tantas respondeu que voltaria sim, mas não disse porque não voltaria nem que não voltaria: A maconha que fumara com a loura era muito forte e ainda estava meio zonzo. Morreram 32 pessoas.

Na seqüência entre desvios de lança e acertos, os espanhóis somavam 4 x 2. O melhor cavaleiro português nem chegou a tentar, porque nas quatro tentativas já era impossível passar a marca dos espanhóis. Se Meirinho estivesse lá, colocaria os melhores de início para desmoralizar logo os adversários. Como os espanhóis falharam logo a primeira tentativa, os 11 da Ucrânia teriam ganhado aquela fase do torneio passando á fase seguinte. Melancolicamente, os 12 da Ucrânia voltaram a cavalo para Lisboa.

Senso ou falta de senso parece sempre ser fruto de uma opção: Fazer o que se deve fazer, ou o que se quer fazer, e nem sempre as duas coisas coincidem. Nunca me arrependo do que faço.

Rui Rodrigues

quarta-feira, 27 de junho de 2012

Porque a crise mundial não termina antes de 2018-2028



grafico crise

Porque a crise mundial não termina antes de 2018.
(Oxalá não seja antes de 2028)


Há séculos, centenas deles, que se sabe que quem tem dinheiro são os Bancos. Eles que sempre tiveram dinheiro.

Quando em 2008 os banqueiros foram aos governos para lhes pedir dinheiro porque estavam passando por uma situação “difícil”, os cidadãos deste planeta pasmaram... O seu dinheiro de impostos estava sendo “emprestado” de pai para filho pelos governos, o pai, aos seus filhos banqueiros, que não sabiam lidar com o motivo principal de sua existência: o dinheiro.
Tão absurdo isto parece ao mais distraído cidadão, que só aos poucos o povo começou a ganhar as ruas em protestos.
As empresas que analisam a liquidez dos bancos, vieram a público para desvalorizar a liquidez dos Bancos, e por tabela, dos respectivos países onde atuam. Isto só contribuiu para o descrédito no sistema política x economia x bancos.
Sabe-se que existe corrupção em todo o planeta, mais nuns menos noutros, e certos governos têm maior ou menor capacidade de administração. A Islândia foi o primeiro país a estar à beira da falência devido à crise. Não se tratou de capacidade de administração nem de corrupção. Simplesmente pelo total reduzido de capital de giro proporcional à população e sua capacidade de gerar dinheiro, qualquer flutuação no mercado poderia gerar uma crise interna. Em 2008 não houve apenas uma flutuação, mas uma crise muito grande, forjada, com influência global. Seguiram-se Espanha, Grécia, Portugal, Irlanda, como os mais afetados: gastavam mais do que podiam. A Grécia está hoje no centro das atenções, porque não consegue formar um governo que atenda simultaneamente ao mínimo que a população pode suportar e a obrigação de pagar os empréstimos ao FMI e ao Banco Central Europeu.
Mas apenas a Grécia?
Na minha opinião, não. Com a crise instalada, o consumo interno diminui por falta de dinheiro. Os serviços públicos diminuem de eficiência por falta de verbas. Lentamente, dia a dia, a situação se agrava. Novos empréstimos serão necessários porque os Bancos, em plena crise, retêm o dinheiro que pára de circular. Empresas fazem o mesmo, e os governos temem criar novos impostos. Outros países passarão pela “síndrome da Grécia”
Estamos como peixe encurralado numa armação de pesca... Falta de dinheiro gera diminuição de consumo, que gera falta de empregos, que gera diminuição das exportações, que gera diminuição dos preços ao consumidor, que gera diminuição de recolha de impostos...
É um ciclo crítico.
O que hoje se passa na Grécia se estenderá a Portugal, Espanha, Irlanda e demais países da União Européia e por tabela aos países em desenvolvimento que terão de reduzir suas exportações, e vender mais barato as matérias primas que exportam. É uma crise mundial de proporções gigantescas, mas quem sempre terá dinheiro, serão os Bancos. Uns irão à falência, outros ficarão mais ricos. 
Quanto tempo demora então para voltar à normalidade? Melhor ainda: O que fazer para voltar à normalidade?
Esta é a segunda vez na história recente que acontece uma crise deste tipo: em 1929 que só terminou com o inicio da segunda guerra mundial, em 1939. Terminou realmente em 1945, porque a guerra em si já era produto da crise de 1929. Para que uma crise termine é necessária a retomada de confiança do mercado. O mercado não pode retomar a confiança por decreto.
É necessário tempo para o mercado acalmar e a confiança ser retomada. Estamos, pelos vistos, numa primeira fase da crise que começou em 2008. Quatro anos passados, a União Européia está num processo de agravamento de crise, com governo atrás de governo caindo e sendo substituído por outros que, tal como eles, não podem resolver por si a situação, pelos problemas enunciados que dependem de “mercado”.
Quando a economia mundial regredir a níveis que permitam menores salários, menores níveis de consumo, menores lucros, então poderá voltar a crescer. O crescimento da economia global, tal como a altura média da população, tem limites. Não pode crescer indefinidamente como crêem os que apostam na bolsa...

A economia mundial estava inchada, gorda, concentrada na camada de gordura da pele bancária e das mega-empresas, que ditavam aos governos o que desejavam que fizessem. Os governos fazem a vontade dos Bancos, mas exaurem a sua capacidade de atender os serviços públicos mínimos, a confiança de todos e deles mesmos.
Temos agora uma verdadeira crise econômica e uma crise política em que o próprio sistema se questiona, seja o sistema comunista, socialista ou capitalista...
E tudo isso não se conserta até 2018...  E 2028 parece uma data mais provável... Até lá escutaremos arautos de governos anunciando boas novas que de velhas já conhecemos como limitadas. Mentirão. Até que sintamos que falam a verdade, a crise continua por falta de confiança... Cada vez mais em todo o mundo se busca a participação popular nas decisões de governo através de voto que também possa deseleger e ser usado a qulquer  momento
Rui Rodrigues

O fantasma da Praia Fluvial de Fornelos






O fantasma da Praia Fluvial de Fornelos

A Escócia é famosa por seus fantasmas. Londres também. Com fama se faz turismo, mas este fantasma da Praia Fluvial de Fornelos é real. É verdadeiro, contrariamente ao fantasma do lago Ness, ou dos da torre de Londres. O do lago Ness nunca foi encontrado; os da torre de Londres são pesados, tristes, urram e lamentam-se. Este, da praia de Fornelos, aparece quando menos se espera e é brincalhão... Quando passar por lá, fique atento. É um fantasma interessante. Não tem halo, sombra, ou sequer é transparente.

Meu primeiro contato com o Fantasma da Praia Fluvial de Fornelos, que passarei a designar simplesmente como fantasma ou fantasma da praia, não é magro nem gordo. É médio de corpo em tudo, com uma altura que beira os 1,74 pela manhã e 1,72 pela noite. É Isso mesmo. Ele aparece de manhã, ao meio dia e de noite, conforme lhe dá na telha, porque é muito imprevisível. É um gozador por vezes. Pessoas que já o viram ao meio-dia ficaram impressionadas. Como seria possível ver fantasmas ao meio dia? Isso lhes parecia sinal de loucura e nunca falavam dele quando o viam a primeira vez. Ficavam com o olhar distante, desconversavam, e só quando se recompunham voltavam ao teor da conversa que haviam interrompido. Casais de namorados costumavam beliscar-se pensando que ela estava distraída, que não prestava atenção ao noivo ou namorado. Então, tomavam mais umas caipirinhas, comiam mais uns petiscos e pronto. Mas sempre de olho nas imediações para ver se o fantasma voltava a aparecer.

Aparece do nada, toca nas mulheres, bem ao de leve, segura-lhes a mão, escreve bilhetes de amor, dança, transforma-se em alguém do grupo, bebe caipirinhas de copos distraídos. Não se relaciona com os homens. Só com as mulheres, sejam bonitas ou nem tanto. Não há mulher feia para o fantasma.

A sua história é mais antiga do que a praia fluvial. Reza a lenda, escondida a sete chaves na alma dos mais velhos de Fornelos, que sempre a negam, que um homem que passara pela aldeia (o fantasma) se apaixonara por uma linda mulher da aldeia. Fora amor à primeira vista, ao primeiro olhar e ela correspondeu-lhe com a mesma intensidade. Amaram-se durante os dias em que ele passou por lá, sempre às escondidas. Quando teve que partir, ficou a promessa de que voltaria para casarem. Mas a vida nem sempre se controla. Ela teve que partir com os pais para Lisboa. De lá perdeu-se-lhes o rumo. Ele veio a morrer numa queda de um avião em África. Volta sempre à praia fluvial de Fornelos onde ele e sua amada costumavam encontrar-se nos dias de verão. Seu espírito alegre e folgazão leva-o a fazer brincadeiras com as moças do lugar. Por isso toca-as de leve, e se gosta de alguma delas e um amigo ou companheiro lhe faz “olhinhos”, tenta confundi-los. Por vezes até os aproxima. Em cada moçoila vê a sua amada. Bilhetinhos enviados por algum rapaz mais afoito com o número de telefone, troca-lhe os números, faz com que chegue às mãos de outra. Por vezes ajuda, noutras atrapalha, mas nunca fez nada de mal a ninguém. E avisa. Quando alguém trai alguém, sempre dá um jeito de avisar. Uma característica é que sabe sempre qual a cor das cuecas das raparigas. E sempre coloca um rebuçado ou uma flor ou qualquer objeto de cor semelhante sobre a mesa em que ela está. 

Costuma aparecer na praia fluvial de Fornelos, de forma fugaz, vestido de roupa preta, cravo vermelho na lapela, camisa branca, caminhando sobre as águas do rio. Depois se confunde rapidamente com os freqüentadores da praia. São raras suas aparições no inverno, mas a qualquer hora, dia ou mês, sempre aparece.

Tratem-no bem. É um bom sujeito e aprecia umas caipirinhas, um whisky caubói. Vinho com uns petiscos também rouba descaradamente, sem que se lhe repare. 

Rui Rodrigues

terça-feira, 26 de junho de 2012

1012 - Armadilhas do amor - 2012




1012 - Armadilhas do amor - 2012

No ano de 1012, a iluminação se fazia com tochas embebidas em óleos, não havia vasos sanitários, escrevia-se com penas de pato cortadas e os ricos com penas de pavão. As notícias eram dadas por velozes cavaleiros, e as carroças eram o meio de locomoção mais veloz quando os cavalos não morriam exaustos ou as rodas não se quebravam. Os perfumes eram o antídoto nada eficaz para os maus odores do corpo. Ninguém ainda imaginava que as doenças se transmitiam pelo contato, pela respiração, pela falta de higiene. Diziam que Deus levava as almas dos corpos e rezavam-lhe penhoradamente para que suas almas fossem preservadas. As mulheres eram preservadas com cintos de castidade para que nas longas ausências de seus maridos lhes fossem fiéis. Não raro os homens, sempre atarefados na arte de lutar contra tudo e qualquer coisa, usavam tripas de porco que enfiavam em seus prepúcios para evitar o nascimento de filhos indesejáveis. Os homens enfiavam seus órgãos genitais em vaginas através de um buraco no lençol de sexo, para não terem que furar todos os lençóis. Também para que crianças demasiada e insistentemente curiosas não ficassem perguntando para que servia aquele buraquinho no lençol. Nem imaginar que se pudesse fazer sexo fora de casa, a não ser nos campos sob árvores ou no meio de milharais, ou em estalagens de prostituição, das quais D. Rodrigo era freqüentador contumaz.

Em 1012 o povo judeu foi expulso de Mainz, na Alemanha, com a omissão do Papa; Mael Morda começou uma rebelião contra Brian Boru na Irlanda, que só terminaria em 1014 com a batalha de Clontarf; O rei Máel Coluim mac Cináeda de Alba derrotou uma armada dinamarquesa na Baía de Cruden em Buchan, que eventualmente deu o nome ao Buchanan's um excelente Whisky por sinal; Suleiman foi reposto como califa de Córdoba com o título de Umayyad, sucedendo a Hisham II, e Oldrich sucedeu a Jaromir como duque da Boêmia; o califa al-Hakim ordenou a destruição de todos os lugares de adoração judaicos e cristãos; o arcebispo Alphege de Canterbury é assassinado pelos seus captores dinamarqueses; o papa Benedito VIII sucedeu a Sérgio IV como o 143º Papa e Gregório VI transforma-se no antipapa.

Em 2012, mil anos depois, o mundo tem energia elétrica proveniente de muitas e diversas fontes de energia; os vasos sanitários fazem parte do nosso dia a dia e quem está apertado usa banheiros de casas comerciais onde se aproveitam os momentos para paquerar o gênero oposto ou até o mesmo gênero; depois da pena de pato, descobriu-se a caneta com bico de metal, e a caneta tinteiro, mas já ninguém sabe para que servem, se lhes mostrarmos uma, porque tudo se digita em computadores; automóveis em terra, navios no mar e aviões no céu, nos põem em qualquer lugar do mundo antes que o sol se ponha, embora as rodas continuem a furar; Continuamos a usar perfumes adoidado, mas tomamos banho todos os dias, e quem não toma fede mesmo que não sinta o cheiro; sabemos como se transmitem as doenças e nos preservamos, evitando assim idas constantes á igreja para pedir a Deus que não nos leve a alma. Aprendemos que podemos fazer esse pequeno trabalho de Deus, mas que um dia iremos mesmo contra a vontade; as mulheres já não se preservam por que usam preservativos em pílula ou em confortáveis invólucros de látex; homens e mulheres continuam lutando mas muito mais por emprego do que em guerras, consumindo-lhes o tempo que deveriam dedicar á família. Prepúcios se enfiam em vaginas em qualquer lugar, a qualquer tempo, seja com quem for, desde que se agrade, mutuamente, á primeira ou à enésima vista.

Mas nem tudo mudou. Algumas coisas continuam iguais.

Era primavera em Abril de 1012. D. Rodrigo Vaz partia para uma guerra com seu séqüito. Na noite anterior, à luz de uma só tocha, fez um sinal para a sua mulher, bela, com seus 27 anos de idade, já mãe de dois filhos, mas inteira, como se fosse virgem. Ana Bentes entendeu o olhar. Aprendera a conhecer os desejos de seu marido a quem atendia em tudo, não fosse perder seus atributos de castelã, ou levar umas tapas por conta da fúria de seu sempre furibundo marido. Tinha outros desejos de outros, mas o preço era muito caro. Não corria risco. Assim, apanhou o lençol com o furo no meio, levantou os saiotes com seu marido de costas, enfiou-se debaixo do lençol, abriu as pernas e deixou que seu marido a penetrasse com fúria. Gemeu de dor porque estava seca, sem a mínima vontade de ser possuía, mas deu a seus gemidos um tom diferente, soando como se adorasse o vai e vem bruto D. Rodrigo. Quando este acabou, foi no armário, apanhou o cinto de castidade e colocando-o na mulher, passou-lhe a chave que pendurou em seu cordão de ouro, ao pescoço. Deitou-se, dormiu. Na manhã seguinte, depois de alguns conselhos à bela Ana Bentes, partiu com seu séqüito para a fronteira. Ana disse-lhe adeus à porta levadiça do castelo. D. Rodrigo olhou com olhar duro sobre a multidão, como se avisasse para que se portassem bem em sua ausência. Quando o séqüito já ia longe e não passava de alguns pontos ao longe, Ana chamou o armeiro de D. Rodrigo.

Lúcia Maria, 35 anos, fogosa, quente, estava casada há alguns anos. Talvez uns quinze. Seu marido já não era o mesmo. Embora fizessem sexo várias vezes por semana, não mais de três, nunca menos de uma não era propriamente o sexo que a deixava afogueada, desejando cada homem que via na rua e que lhe chamasse a atenção. Era o gosto por novidade, como quem precisa de experiências novas. Algo como comer uma lagosta ao térmidor, ou caviar de vez em quando para variar do feijão com arroz. O marido, Pedro Luiz, ia viajar no dia seguinte e ficaria fora por dois dias. Chegou em casa cedo, tomaram um banho e saíram para jantar fora. Curiosamente, Pedro pediu uma lagosta ao térmidor e Lúcia uns canapés de caviar. Foram para casa. Na volta rolaram na cama, fazendo tudo o que tinham direito. Eram bons nisso. Sua mulher já não suspirava ou gemia como dantes, mas isso ele atribuía à idade. Discretamente, ligou um pequeno botão escondido atrás do armário, e a pequena câmara escondida num canto da sanca do teto, começou a funcionar.  Passaria a controlar pelo celular se sua mulher o traía. Partiu na manhã seguinte, contente, feliz, para a guerra diária do trabalho. Guerreava para mantê-lo, para ser promovido, para poder dar conforto em casa. Sua mulher também trabalhava, mas juntos tinham um poder aquisitivo bem melhor. Logo que saiu, Lúcia desceu também para o trabalho. Pelo celular ligou um número. Atendeu uma voz de homem maduro, dos seus cinqüenta anos. Disse-lhe Lúcia: - Já saiu. Já estou indo pra lá. E desligou.

O armeiro chegou esbaforido aos aposentos de Ana Bentes. Fez uma vênia à bela castelã, que logo mandou afastar as duas aias. Logo que saíram, o armeiro pegou uma chave idêntica á do marido, D. Rodrigo Vaz, e ali mesmo, o armeiro a possuiu sem lençol furado, com todo o carinho e a ânsia de meses a fio sem poder tê-la nos braços. Quando acabou, entregou a chave a Ana Bentes que dispensou o armeiro e mandou entrar Nuno d’Andrade, o belo e jovem cavaleiro, uma promessa para o futuro das batalhas de D. Rodrigo. Com esse passou a noite inteira entre desmaios. O membro de Nuno não teve mãos a medir e passou a noite inteira mudando-se de uma toca para outra, gozava de prazer com os lábios ávidos da já quase consolada castelã.

No Motel, quando Armando chegou ao quarto, Lúcia já o esperava completamente nua, o rosto sorridente virado para a porta de entrada, suas nádegas arredondas sobressaindo sobre os pés cruzados com as pernas levantadas. Os seios abriam-se carentes. Um banho rápido, a roupa pelo chão, Armando dedicou-se ao prazer de dedilhar aquela bela mulher que lhe permitia até o guloso traseiro que negava ao marido. Corretor de imóveis, já se conheciam há bastante tempo e sempre que havia uma possibilidade de ausência do marido, Lúcia telefonava. Já sabiam onde se encontrar, porta do quarto do motel aberta. 

Como nem tudo mudou de 1012 para 2012, quando D. Rodrigo chegou da batalha e Pedro Luiz voltou do trabalho, entraram em casa e olharam ao redor, tudo estava arrumado, a casa florida, cheirosa, as esposas suspirando de saudades. O cinto de castidade tinha sido uma garantia eficaz e a câmara na sanca do teto cumprira a sua função.

Rui Rodrigues

O Seppuku, a honra e a política.





O Seppuku, a honra e a política.


Yukio Mishima (nome verdadeiro Kimitake Hiraoka) foi um escritor japonês três vezes indicado ao prêmio Nobel de literatura. Cometeu haraquiri, ou Seppuku em 25 de novembro de 1970, indignado com a Constituição Japonesa que não permitia o rearmamento. Foi o último ritual famoso conhecido de haraquiri. O primeiro foi 1170 quando o samurai Minamoto Tametomo se atirou sobre a própria espada ao perder uma batalha para um clã rival. 

O Seppuku, palavra mais nobre para o termo Haraquiri, significa “romper o ventre” e é uma forma de suicídio em nome da honra. A honra é uma qualidade da personalidade, diretamente relacionada à moral e à ética com as quais é construída.
Ainda que cada religião se afirme como sendo a melhor de todas, com seu Deus diferenciado mais forte e mais tudo, o Japão não é um país muçulmano, cristão ou adventista, nem judeu ou da Umbanda, mas seu povo adquiriu um senso de responsabilidade, de ética e de moral, enfim, da honra, que faz inveja a um esmagadora maioria de seres humanos que vivem fora do entorno dessa pequena ilha do Pacífico.

Essa honra, essa moral, essa ética, são as responsáveis pelo enorme desenvolvimento japonês, uma tradição ao longo da história, pelo espírito de cooperação entre todos e que nos admira quando olhamos para a sua recuperação da segunda guerra mundial, ou de um tsunami que devastou cidades, usinas nucleares. As cidades já estão recuperadas com ruas e edifícios reconstruídos, as usinas nucleares foram encerradas. Em nome do bem estar das populações, o Japão declina da energia nuclear que lhe proporcionava energia elétrica para o seu desenvolvimento.

Não é essa honra, moral e ética que vemos pelo ocidente ou pelo oriente quando analisamos os políticos.

Por aqui, indo aos templos todos os dias, pagando dízimos, benzendo-nos com água benta, lamentando-nos em muros, ouvindo os chamados dos muezins para a oração, não temos esse senso de moral, ética e muito menos de honra. Longe disso. Não que religião tenha algo a haver com estes sentimentos, mas parece que deveria através dos reflexos da religião na educação e na idiossincrasia. Parece que dizemos ser religiosos ou abraçar religiões, mas temos os ouvidos vazados, os neurônios comprometidos, a consciência manca, a moral estropiada, ética surda e muda, paralítica.

No Brasil, verbas públicas roubadas, desviadas, desaparecidas, somem e jamais voltam aos cofres públicos, no que pese que um ou outro tenha sido indiciado, mas não preso, e se preso ou destituído, já voltou a fazer parte da vida, do governo, onde faz sabe-se lá o quê. Nenhum desses cometeu seppuku. Jogaram os problemas para todos os lados e para debaixo do tapete, comeram pizza no senado em meio a festanças de Comissões Parlamentares de Inquérito regadas a alimentação paga pelos cidadãos e fartas horas extras.
Já ouvimos falar de corrupção em todo o mundo oriental e ocidental, que pode ser avaliada em consultas na NET. Não temos notícias de algum corrupto que se tenha suicidado, exceto o de um norte americano , Budd Dwyer, que em frente às câmaras de televisão, sacou uma arma de um saco de papel e atirou em sua própria cabeça. Em compensação, alguns dos que perdem substanciais valores em bolsas de valores, em empreendimentos, cometem suicídio, mas não pela ética ou pela moral. Indivíduos “cheios da vida”, desesperados amorosos, também. Parece que a moral e a ética sofreram desvios comportamentais graves, e o pior, é que quem padece desses fatores humanos está quase sempre em disputa por cargos políticos, querem o poder a qualquer preço.

Notícias do Vaticano nos dão conta de candidatos a Papa que mataram concorrentes, que compraram votos. Também por lá a moral e a ética nem sempre são bem tratadas.
Poderia falar de figuras públicas corruptas de Norte a Sul e de Este a Oeste deste planeta, mas diz-nos tudo o relatório da Transparecy International (http://www.dn.pt/DNMultimedia/DOCS+PDFS/Corrupcao_2010/CPI2010_report_embargoed.pdf)

Ninguém dos que contribuíram para a corrupção nestes países cometeu suicídio, ou Seppuku. A moral e a ética andam distantes, levadas pelo vento da história. Se os cidadãos não se movimentarem, passaremos o resto de nossas vidas, e nossos filhos e netos a vida inteira, trabalhando para lhes pagarmos impostos e viverem a vida que mais ninguém pode ter: A vida rica e nababesca, de alto consumo, com tudo o que o mundo proporciona e que está ao seu alcance com os nossos impostos.

A Democracia participativa é uma boa alternativa, porque nela, os políticos não podem absolutamente nada a não ser pensar, propor, e fazer o que os cidadãos lhes determinam que façam ( http://conscienciademocrata.no.comunidades.net/)

Rui Rodrigues