O fantasma da Praia Fluvial de Fornelos
A Escócia é famosa por seus fantasmas. Londres também. Com fama se faz turismo, mas este fantasma da Praia Fluvial de Fornelos é real. É verdadeiro, contrariamente ao fantasma do lago Ness, ou dos da torre de Londres. O do lago Ness nunca foi encontrado; os da torre de Londres são pesados, tristes, urram e lamentam-se. Este, da praia de Fornelos, aparece quando menos se espera e é brincalhão... Quando passar por lá, fique atento. É um fantasma interessante. Não tem halo, sombra, ou sequer é transparente.
Meu primeiro contato com o Fantasma da Praia Fluvial de Fornelos, que passarei a designar simplesmente como fantasma ou fantasma da praia, não é magro nem gordo. É médio de corpo em tudo, com uma altura que beira os 1,74 pela manhã e 1,72 pela noite. É Isso mesmo. Ele aparece de manhã, ao meio dia e de noite, conforme lhe dá na telha, porque é muito imprevisível. É um gozador por vezes. Pessoas que já o viram ao meio-dia ficaram impressionadas. Como seria possível ver fantasmas ao meio dia? Isso lhes parecia sinal de loucura e nunca falavam dele quando o viam a primeira vez. Ficavam com o olhar distante, desconversavam, e só quando se recompunham voltavam ao teor da conversa que haviam interrompido. Casais de namorados costumavam beliscar-se pensando que ela estava distraída, que não prestava atenção ao noivo ou namorado. Então, tomavam mais umas caipirinhas, comiam mais uns petiscos e pronto. Mas sempre de olho nas imediações para ver se o fantasma voltava a aparecer.
Aparece do nada, toca nas mulheres, bem ao de leve, segura-lhes a mão, escreve bilhetes de amor, dança, transforma-se em alguém do grupo, bebe caipirinhas de copos distraídos. Não se relaciona com os homens. Só com as mulheres, sejam bonitas ou nem tanto. Não há mulher feia para o fantasma.
A sua história é mais antiga do que a praia fluvial. Reza a lenda, escondida a sete chaves na alma dos mais velhos de Fornelos, que sempre a negam, que um homem que passara pela aldeia (o fantasma) se apaixonara por uma linda mulher da aldeia. Fora amor à primeira vista, ao primeiro olhar e ela correspondeu-lhe com a mesma intensidade. Amaram-se durante os dias em que ele passou por lá, sempre às escondidas. Quando teve que partir, ficou a promessa de que voltaria para casarem. Mas a vida nem sempre se controla. Ela teve que partir com os pais para Lisboa. De lá perdeu-se-lhes o rumo. Ele veio a morrer numa queda de um avião em África. Volta sempre à praia fluvial de Fornelos onde ele e sua amada costumavam encontrar-se nos dias de verão. Seu espírito alegre e folgazão leva-o a fazer brincadeiras com as moças do lugar. Por isso toca-as de leve, e se gosta de alguma delas e um amigo ou companheiro lhe faz “olhinhos”, tenta confundi-los. Por vezes até os aproxima. Em cada moçoila vê a sua amada. Bilhetinhos enviados por algum rapaz mais afoito com o número de telefone, troca-lhe os números, faz com que chegue às mãos de outra. Por vezes ajuda, noutras atrapalha, mas nunca fez nada de mal a ninguém. E avisa. Quando alguém trai alguém, sempre dá um jeito de avisar. Uma característica é que sabe sempre qual a cor das cuecas das raparigas. E sempre coloca um rebuçado ou uma flor ou qualquer objeto de cor semelhante sobre a mesa em que ela está.
Costuma aparecer na praia fluvial de Fornelos, de forma fugaz, vestido de roupa preta, cravo vermelho na lapela, camisa branca, caminhando sobre as águas do rio. Depois se confunde rapidamente com os freqüentadores da praia. São raras suas aparições no inverno, mas a qualquer hora, dia ou mês, sempre aparece.
Tratem-no bem. É um bom sujeito e aprecia umas caipirinhas, um whisky caubói. Vinho com uns petiscos também rouba descaradamente, sem que se lhe repare.
Rui Rodrigues
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