1012 - Armadilhas do amor - 2012
No ano de
1012, a iluminação se fazia com tochas embebidas em óleos, não havia vasos
sanitários, escrevia-se com penas de pato cortadas e os ricos com penas de
pavão. As notícias eram dadas por velozes cavaleiros, e as carroças eram o meio
de locomoção mais veloz quando os cavalos não morriam exaustos ou as rodas não
se quebravam. Os perfumes eram o antídoto nada eficaz para os maus odores do
corpo. Ninguém ainda imaginava que as doenças se transmitiam pelo contato, pela
respiração, pela falta de higiene. Diziam que Deus levava as almas dos corpos e
rezavam-lhe penhoradamente para que suas almas fossem preservadas. As mulheres
eram preservadas com cintos de castidade para que nas longas ausências de seus
maridos lhes fossem fiéis. Não raro os homens, sempre atarefados na arte de
lutar contra tudo e qualquer coisa, usavam tripas de porco que enfiavam em seus
prepúcios para evitar o nascimento de filhos indesejáveis. Os homens enfiavam
seus órgãos genitais em vaginas através de um buraco no lençol de sexo, para
não terem que furar todos os lençóis. Também para que crianças demasiada e
insistentemente curiosas não ficassem perguntando para que servia aquele
buraquinho no lençol. Nem imaginar que se pudesse fazer sexo fora de casa, a
não ser nos campos sob árvores ou no meio de milharais, ou em estalagens de
prostituição, das quais D. Rodrigo era freqüentador contumaz.
Em 1012 o
povo judeu foi expulso de Mainz, na Alemanha, com a omissão do Papa; Mael Morda
começou uma rebelião contra Brian Boru na Irlanda, que só terminaria em 1014
com a batalha de Clontarf; O rei Máel Coluim mac Cináeda de Alba derrotou uma
armada dinamarquesa na Baía de Cruden em Buchan, que eventualmente deu o nome
ao Buchanan's
um excelente Whisky por sinal; Suleiman foi reposto como califa de Córdoba com
o título de Umayyad, sucedendo a Hisham II, e Oldrich sucedeu a Jaromir como
duque da Boêmia; o califa al-Hakim ordenou a destruição de todos os lugares de
adoração judaicos e cristãos; o arcebispo Alphege de Canterbury é assassinado
pelos seus captores dinamarqueses; o papa Benedito VIII sucedeu a Sérgio IV
como o 143º Papa e Gregório VI transforma-se no antipapa.
Em 2012, mil
anos depois, o mundo tem energia elétrica proveniente de muitas e diversas
fontes de energia; os vasos sanitários fazem parte do nosso dia a dia e quem
está apertado usa banheiros de casas comerciais onde se aproveitam os momentos
para paquerar o gênero oposto ou até o mesmo gênero; depois da pena de pato,
descobriu-se a caneta com bico de metal, e a caneta tinteiro, mas já ninguém
sabe para que servem, se lhes mostrarmos uma, porque tudo se digita em
computadores; automóveis em terra, navios no mar e aviões no céu, nos põem em
qualquer lugar do mundo antes que o sol se ponha, embora as rodas continuem a
furar; Continuamos a usar perfumes adoidado, mas tomamos banho todos os dias, e
quem não toma fede mesmo que não sinta o cheiro; sabemos como se transmitem as
doenças e nos preservamos, evitando assim idas constantes á igreja para pedir a
Deus que não nos leve a alma. Aprendemos que podemos fazer esse pequeno
trabalho de Deus, mas que um dia iremos mesmo contra a vontade; as mulheres já
não se preservam por que usam preservativos em pílula ou em confortáveis
invólucros de látex; homens e mulheres continuam lutando mas muito mais por
emprego do que em guerras, consumindo-lhes o tempo que deveriam dedicar á
família. Prepúcios se enfiam em vaginas em qualquer lugar, a qualquer tempo,
seja com quem for, desde que se agrade, mutuamente, á primeira ou à enésima
vista.
Mas nem
tudo mudou. Algumas coisas continuam iguais.
Era
primavera em Abril de 1012. D. Rodrigo Vaz partia para uma guerra com seu
séqüito. Na noite anterior, à luz de uma só tocha, fez um sinal para a sua
mulher, bela, com seus 27 anos de idade, já mãe de dois filhos, mas inteira,
como se fosse virgem. Ana Bentes entendeu o olhar. Aprendera a conhecer os
desejos de seu marido a quem atendia em tudo, não fosse perder seus atributos
de castelã, ou levar umas tapas por conta da fúria de seu sempre furibundo
marido. Tinha outros desejos de outros, mas o preço era muito caro. Não corria
risco. Assim, apanhou o lençol com o furo no meio, levantou os saiotes com seu
marido de costas, enfiou-se debaixo do lençol, abriu as pernas e deixou que seu
marido a penetrasse com fúria. Gemeu de dor porque estava seca, sem a mínima
vontade de ser possuía, mas deu a seus gemidos um tom diferente, soando como se
adorasse o vai e vem bruto D. Rodrigo. Quando este acabou, foi no armário,
apanhou o cinto de castidade e colocando-o na mulher, passou-lhe a chave que
pendurou em seu cordão de ouro, ao pescoço. Deitou-se, dormiu. Na manhã
seguinte, depois de alguns conselhos à bela Ana Bentes, partiu com seu séqüito
para a fronteira. Ana disse-lhe adeus à porta levadiça do castelo. D. Rodrigo
olhou com olhar duro sobre a multidão, como se avisasse para que se portassem
bem em sua ausência. Quando o séqüito já ia longe e não passava de alguns
pontos ao longe, Ana chamou o armeiro de D. Rodrigo.
Lúcia Maria,
35 anos, fogosa, quente, estava casada há alguns anos. Talvez uns quinze. Seu
marido já não era o mesmo. Embora fizessem sexo várias vezes por semana, não
mais de três, nunca menos de uma não era propriamente o sexo que a deixava
afogueada, desejando cada homem que via na rua e que lhe chamasse a atenção.
Era o gosto por novidade, como quem precisa de experiências novas. Algo como
comer uma lagosta ao térmidor, ou caviar de vez em quando para variar do feijão
com arroz. O marido, Pedro Luiz, ia viajar no dia seguinte e ficaria fora por
dois dias. Chegou em casa cedo, tomaram um banho e saíram para jantar fora.
Curiosamente, Pedro pediu uma lagosta ao térmidor e Lúcia uns canapés de caviar.
Foram para casa. Na volta rolaram na cama, fazendo tudo o que tinham direito.
Eram bons nisso. Sua mulher já não suspirava ou gemia como dantes, mas isso ele
atribuía à idade. Discretamente, ligou um pequeno botão escondido atrás do
armário, e a pequena câmara escondida num canto da sanca do teto, começou a
funcionar. Passaria a controlar pelo
celular se sua mulher o traía. Partiu na manhã seguinte, contente, feliz, para
a guerra diária do trabalho. Guerreava para mantê-lo, para ser promovido, para
poder dar conforto em casa. Sua mulher também trabalhava, mas juntos tinham um
poder aquisitivo bem melhor. Logo que saiu, Lúcia desceu também para o
trabalho. Pelo celular ligou um número. Atendeu uma voz de homem maduro, dos
seus cinqüenta anos. Disse-lhe Lúcia: - Já saiu. Já estou indo pra lá. E
desligou.
O armeiro
chegou esbaforido aos aposentos de Ana Bentes. Fez uma vênia à bela castelã,
que logo mandou afastar as duas aias. Logo que saíram, o armeiro pegou uma
chave idêntica á do marido, D. Rodrigo Vaz, e ali mesmo, o armeiro a possuiu
sem lençol furado, com todo o carinho e a ânsia de meses a fio sem poder tê-la
nos braços. Quando acabou, entregou a chave a Ana Bentes que dispensou o
armeiro e mandou entrar Nuno d’Andrade, o belo e jovem cavaleiro, uma promessa
para o futuro das batalhas de D. Rodrigo. Com esse passou a noite inteira entre
desmaios. O membro de Nuno não teve mãos a medir e passou a noite inteira
mudando-se de uma toca para outra, gozava de prazer com os lábios ávidos da já quase
consolada castelã.
No Motel, quando
Armando chegou ao quarto, Lúcia já o esperava completamente nua, o rosto
sorridente virado para a porta de entrada, suas nádegas arredondas sobressaindo
sobre os pés cruzados com as pernas levantadas. Os seios abriam-se carentes. Um
banho rápido, a roupa pelo chão, Armando dedicou-se ao prazer de dedilhar
aquela bela mulher que lhe permitia até o guloso traseiro que negava ao marido.
Corretor de imóveis, já se conheciam há bastante tempo e sempre que havia uma
possibilidade de ausência do marido, Lúcia telefonava. Já sabiam onde se
encontrar, porta do quarto do motel aberta.
Como nem
tudo mudou de 1012 para 2012, quando D. Rodrigo chegou da batalha e Pedro Luiz
voltou do trabalho, entraram em casa e olharam ao redor, tudo estava arrumado,
a casa florida, cheirosa, as esposas suspirando de saudades. O cinto de
castidade tinha sido uma garantia eficaz e a câmara na sanca do teto cumprira a
sua função.
Rui
Rodrigues
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