O Seppuku, a honra e a política.
Yukio
Mishima (nome verdadeiro Kimitake Hiraoka) foi um escritor japonês três vezes indicado ao
prêmio Nobel de literatura. Cometeu haraquiri, ou Seppuku em 25 de novembro de 1970,
indignado com a Constituição Japonesa que não permitia o rearmamento. Foi o
último ritual famoso conhecido de haraquiri. O primeiro foi 1170 quando o samurai Minamoto
Tametomo se atirou sobre a própria espada ao perder uma batalha para um clã
rival.
O Seppuku, palavra mais
nobre para o termo Haraquiri, significa “romper o ventre” e é uma forma de
suicídio em nome da honra. A honra é uma qualidade da personalidade,
diretamente relacionada à moral e à ética com as quais é construída.
Ainda que cada religião se
afirme como sendo a melhor de todas, com seu Deus diferenciado mais forte e
mais tudo, o Japão não é um país muçulmano, cristão ou adventista, nem judeu ou
da Umbanda, mas seu povo adquiriu um senso de responsabilidade, de ética e de
moral, enfim, da honra, que faz inveja a um esmagadora maioria de seres humanos que vivem fora
do entorno dessa pequena ilha do Pacífico.
Essa honra, essa moral, essa
ética, são as responsáveis pelo enorme desenvolvimento japonês, uma tradição ao
longo da história, pelo espírito de cooperação entre todos e que nos admira
quando olhamos para a sua recuperação da segunda guerra mundial, ou de um
tsunami que devastou cidades, usinas nucleares. As cidades já estão recuperadas
com ruas e edifícios reconstruídos, as usinas nucleares foram encerradas. Em
nome do bem estar das populações, o Japão declina da energia nuclear que lhe
proporcionava energia elétrica para o seu desenvolvimento.
Não é essa honra, moral e
ética que vemos pelo ocidente ou pelo oriente quando analisamos os políticos.
Por aqui, indo aos templos
todos os dias, pagando dízimos, benzendo-nos com água benta, lamentando-nos em
muros, ouvindo os chamados dos muezins para a oração, não temos esse senso de moral, ética e muito menos de honra. Longe disso.
Não que religião tenha algo a haver com estes sentimentos, mas parece que
deveria através dos reflexos da religião na educação e na idiossincrasia.
Parece que dizemos ser religiosos ou abraçar religiões, mas temos os ouvidos
vazados, os neurônios comprometidos, a consciência manca, a moral estropiada,
ética surda e muda, paralítica.
No Brasil, verbas públicas
roubadas, desviadas, desaparecidas, somem e jamais voltam aos cofres públicos,
no que pese que um ou outro tenha sido indiciado, mas não preso, e se preso ou
destituído, já voltou a fazer parte da vida, do governo, onde faz sabe-se lá o
quê. Nenhum desses cometeu seppuku. Jogaram os problemas para todos os lados e
para debaixo do tapete, comeram pizza no senado em meio a festanças de
Comissões Parlamentares de Inquérito regadas a alimentação paga pelos cidadãos
e fartas horas extras.
Já ouvimos falar de
corrupção em todo o mundo oriental e ocidental, que pode ser avaliada em
consultas na NET. Não temos notícias de algum corrupto que se tenha suicidado, exceto o de um norte americano , Budd Dwyer, que em frente às câmaras de televisão, sacou uma arma de um saco de papel e atirou em sua própria cabeça.
Em compensação, alguns dos que perdem substanciais valores em bolsas de
valores, em empreendimentos, cometem suicídio, mas não pela ética ou pela
moral. Indivíduos “cheios da vida”, desesperados amorosos, também. Parece que a
moral e a ética sofreram desvios comportamentais graves, e o pior, é que quem
padece desses fatores humanos está quase sempre em disputa por cargos
políticos, querem o poder a qualquer preço.
Notícias do Vaticano nos dão
conta de candidatos a Papa que mataram concorrentes, que compraram votos.
Também por lá a moral e a ética nem sempre são bem tratadas.
Poderia falar de figuras
públicas corruptas de Norte a Sul e de Este a Oeste deste planeta, mas diz-nos
tudo o relatório da Transparecy International (http://www.dn.pt/DNMultimedia/DOCS+PDFS/Corrupcao_2010/CPI2010_report_embargoed.pdf)
Ninguém dos que contribuíram para a corrupção nestes países cometeu suicídio, ou
Seppuku. A moral e a ética andam distantes, levadas pelo vento da história. Se
os cidadãos não se movimentarem, passaremos o resto de nossas vidas, e nossos
filhos e netos a vida inteira, trabalhando para lhes pagarmos impostos e viverem
a vida que mais ninguém pode ter: A vida rica e nababesca, de alto consumo, com
tudo o que o mundo proporciona e que está ao seu alcance com os nossos impostos.
A Democracia participativa é
uma boa alternativa, porque nela, os políticos não podem absolutamente nada a
não ser pensar, propor, e fazer o que os cidadãos lhes determinam que façam (
http://conscienciademocrata.no.comunidades.net/)
Rui Rodrigues
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