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sábado, 30 de junho de 2012

O perfil vencedor de um candidato a senador




O perfil vencedor de um candidato a senador

Entre tantas idas e vindas a Brasília, o velho senador já estava dividindo a esposa com velhos amigos de carreira e principalmente com o motorista e o encanador. Ela já nem se importava. Não faltava nada em casa, viajava muito, a imprensa ficava longe porque traição já não dava IBOPE. Antigamente, um caso de traição familiar era assunto de meses na mídia e até podia derrubar políticos de cargos públicos. Para que isso não acontecesse, a justiça “liberou geral”. Agora qualquer um ou qualquer uma pode trair á vontade sem medo de ser feliz. Moral adaptada às circunstâncias políticas. As próximas eleições estavam chegando e era necessário escolher perfis adequados para a vitória do Partido em todos os estados da nação. Político para ser eleito, não é o que o povo quer ou deseja: São aqueles que os Partidos escolhem e põem à disposição para serem votados. O senador sabia disto e tinha que escolher muito bem! A família que se danasse. Cuidava dela dando-lhe o dinheiro necessário para não o amolarem.

Lendo tudo e recebendo todas as informações sobre as características dos seres que habitavam o seu país, o velho senador sabia o que era mais recomendável para um candidato ao senado. Contribuía com informações e conselhos para o Partido a que pertencia. Viu então que o candidato tinha que ser maleável para poder cumprir com as determinações do Partido. Essa maleabilidade era conseguida de acordo com as características do candidato: Se fosse vaidoso, o Partido dava-lhe prestígio; se fosse ambicioso, dava-lhe dinheiro; se fosse político por convicção, dava-lhe um posto “neutro” daqueles em que o senador apenas contribui com recomendações que nem sempre se aceitam, mas que justificam a posição; se fosse corrupto por natureza, poderia servir tanto para “boi de piranha” no futuro, entregando o indivíduo aos lobos da moral e da ética, ou aproveitar a sua ambição para dividir os roubos com o partido. Qualquer sujeito ou sujeita serviria para ser senador desde que obedecesse aos “requisitos”. Político, mesmo santo, que fosse eleito, perdia a santidade logo nos primeiros dias de mandato: Logo no primeiro dia já era voz corrente que existia um “dossiê” que o incriminava.


Quem prestar atenção às estatísticas verá que os casos de câncer de pulmão e ataques cardíacos não diminuíram no mundo, no que tenham pesado os esforços para diminuir o consumo de fumo. Com tanta poluição, o problema do fumo como fator cancerígeno é mínimo. Ninguém fala na poluição causada por aviões que cruzam os céus consumindo em média 22.000 litros de gasolina por viagem, e todas as viagens, poluidoras. Se houvesse um movimento mundial contra a poluição de aviões, uma boa fonte de renda dos Estados seria perdida. Então taxaram o tabaco que passou a ficar mais caro do que as drogas que essas, sim, matam e aleijam para toda a vida. Porém, sobre o tabaco o Estado tem controle, e sob as drogas nem pensar, porque derrubaria muitos políticos envolvidos. O senador sabia disso. Sabia também que o importante não era salvar vidas, mas que doentes fossem atendidos às custas do Estado. O dinheiro do Estado era muito mais necessário para as campanhas políticas. Os políticos á frente dos ministérios se encarregariam de distribuir o dinheiro.

O movimento “gay” crescia a olhos vistos. Cada vez mais as passeatas cresciam em número e qualidade. Lá nos EUA, Barak Obama já se declarara gay assumido sem que a bela esposa reclamasse. Isso foi um rude golpe no seu adversário político que logo após esta declaração de Obama diminuiu o seus ataques para não ferir os sentimentos da classe gay.  Os candidatos dos Partidos ao senado deveriam todos eles ser gays assumidos mas discretos, não daqueles  que desmunhecavam, exageravam nos gestos, saiam pelas ruas requebrando ou desfilando em escolas de samba completamente aturdidos pela glória de se mostrarem em público.

A Igreja Católica sempre freqüentara os corredores do Congresso e tinham até um público grande. Já havia contribuído com verbas e campanhas disfarçadas no passado para a eleição de políticos, e os casos de pedofilia vindos a público em nada recomendavam candidatos desta religião, e havia que repensar. Novas Igrejas estavam agora ocupando espaços da Igreja Católica que era muito tradicional e se transformava em Ortodoxa. Os santos desta Igreja já não faziam milagres. Mas havia uma que os estava fazendo todos os dias em seus templos. Curavam cânceres, paralisias, expulsavam demônios, cegueiras, mudos voltavam a falar, e tudo em troca de pagamentos de dízimos e compra de artigos milagrosos de artesanato. Este era o melhor perfil religioso para o candidato. Mas sem exagerar. Bastava que dissesse uma vez só na campanha que pertencia à turma do Valdomiro e nunca mais falaria nisso. Além destes, os das outras religiões votariam nele também. E a pesar de não serem tão ricas quanto a Igreja Católica - que só aparecia no Sendo para pedir dinheiro - estas contribuíam com muito mais para as campanhas. Um bispo era até ministro da pesca. Coisa bem bolada!

O senador sabia que o consumo de drogas estava aumentando no país. Senadores seus amigos até defendiam penas menores para viciados, para traficantes, a polícia nunca sabia por onde entravam as drogas nem onde se vendiam. O cigarro, daquele tabaco tradicional das Américas, esse, sim, era pernicioso mas dava uma boa arrecadação e merecia ser vendido a peso de ouro. Drogas eram a distração do povo, que o mantinha feliz. Nem pensar em diminuir o consumo das drogas, ainda mais que serviam bem à causa: muito do dinheiro proveniente das drogas fazia as delícias de muitos políticos, policiais, promotores e juizes. Eram uma força dentro do governo e não era bom brigar com eles. Por isso, o melhor seria um candidato egresso das drogas. Um convertido. Declararia logo no início da campanha que já tinha usado drogas e vendido algumas lá na favela onde vivera com sua pobre mãe diarista. Por isso teria que ser analfabeto. Ou quase!

O senador articulista, que tudo articulava no senado, sabia do mundo que o cercava. Quando não era possível comprar o voto dos cidadãos, infalivelmente votavam nos candidatos com quem se identificassem. Num país de esmagadora maioria analfabeta ou com baixíssima instrução, o ideal seria algum candidato também com o mesmo perfil. Por um processo de identificação e representatividade, candidato saído da mesma classe ou situação social dos eleitores seria sucesso certo. Quando as listas prévias para votação passassem por um candidato desses, nos corredores apressados do senado, bastava que alguém mais próximo lhe dissesse do que se tratava, mesmo mentindo, para que ele apusesse rapidamente e sem titubear o seu jamegão na lista, a assinasse em nome do que era “bom para o Brasil e o Partido”.

Tinha que ser casado. Desde os tempos de Jesus Cristo que religioso ou político não tinham o menor crédito se fossem solteiros, desgarrados, com mulher correndo atrás para arranjar um bom casamento. Ser casado era sinal de ser familiar, apoiar os movimentos em torno da família, ao velho estilo de Pátria e família, ser irresponsavelmente responsável. Se a mulher tivesse um perfil interessante, seria mostrada em fotos na campanha e desfilaria a seu lado. Se fosse uma tremenda ratazana, seria tirada do foco das atenções e substituída por uma bela secretária acompanhante de campanha, que subiria nos palanques. Imagem feminina sempre vende, até nas velhas propagandas de cigarro e cerveja. Se a mulher for promíscua, melhor, porque sempre existe a esperança de o eleitor “comer” a mulher do candidato nem que seja na pura imaginação. Seria casado o candidato.

Faltava definir o perfil psicológico, mas o senador não precisou pensar muito. Bom candidato sob o ponto de vista psicológico é o do “cara safo”, isto é, o do cara que sempre dá um jeitinho nas coisas, que escapa de armadilhas, que tem sempre uma resposta pronta mesmo que não seja adequada. Para isso teria que ter passado por situações na vida das quais tivesse escapado ileso. Encontraria sempre um candidato – ou candidata – da vida pública que já tivesse sido um garoto de programa, ou uma garota de programa, com fotos e vídeos pornográficos de montão pela NET, e que teria certamente de vir a público dizer que naquela época isso não era crime nem reprovável, mas que agora já tinha até vencido o problema psicológico de ter sido abusado ou abusada na infância. A prova seria o sucesso público do candidato, ou candidata. O povo vê na mentira improvável a verdade inquestionável desde que posta a nu publicamente. Ou então que já tenha passado por alguma instituição de recuperação da juventude, ou sido preso e depois libertado.

Umas aulas de postura, umas maquilagens, corte de cabelo adequado, uns ternos e gravatas ou roupas femininas condizentes, um par de óculos da moda, perfume francês e mídia comprada para publicar o que interessa e rebater o que não é desejável...

Para o senador, o candidato está pronto! Que venham as eleições!

Rui Rodrigues




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