O perfil vencedor de um candidato a
senador
Entre tantas idas e vindas a
Brasília, o velho senador já estava dividindo a esposa com velhos amigos de
carreira e principalmente com o motorista e o encanador. Ela já nem se
importava. Não faltava nada em casa, viajava muito, a imprensa ficava longe
porque traição já não dava IBOPE. Antigamente, um caso de traição familiar era
assunto de meses na mídia e até podia derrubar políticos de cargos públicos.
Para que isso não acontecesse, a justiça “liberou geral”. Agora qualquer um ou
qualquer uma pode trair á vontade sem medo de ser feliz. Moral adaptada às
circunstâncias políticas. As próximas eleições estavam chegando e era
necessário escolher perfis adequados para a vitória do Partido em todos os
estados da nação. Político para ser eleito, não é o que o povo quer ou deseja: São aqueles que os Partidos escolhem e põem à disposição para serem votados. O senador sabia disto e tinha que escolher muito bem! A família que se danasse. Cuidava dela dando-lhe o dinheiro necessário para não o amolarem.
Lendo tudo e recebendo todas
as informações sobre as características dos seres que habitavam o seu país, o
velho senador sabia o que era mais recomendável para um candidato ao senado.
Contribuía com informações e conselhos para o Partido a que pertencia. Viu
então que o candidato tinha que ser maleável para poder cumprir com as
determinações do Partido. Essa maleabilidade era conseguida de acordo com as
características do candidato: Se fosse vaidoso, o Partido dava-lhe prestígio;
se fosse ambicioso, dava-lhe dinheiro; se fosse político por convicção,
dava-lhe um posto “neutro” daqueles em que o senador apenas contribui com
recomendações que nem sempre se aceitam, mas que justificam a posição; se fosse
corrupto por natureza, poderia servir tanto para “boi de piranha” no futuro,
entregando o indivíduo aos lobos da moral e da ética, ou aproveitar a sua
ambição para dividir os roubos com o partido. Qualquer sujeito ou sujeita
serviria para ser senador desde que obedecesse aos “requisitos”. Político,
mesmo santo, que fosse eleito, perdia a santidade logo nos primeiros dias de
mandato: Logo no primeiro dia já era voz corrente que existia um “dossiê” que o
incriminava.
Quem prestar atenção às
estatísticas verá que os casos de câncer de pulmão e ataques cardíacos não
diminuíram no mundo, no que tenham pesado os esforços para diminuir o consumo
de fumo. Com tanta poluição, o problema do fumo como fator cancerígeno é
mínimo. Ninguém fala na poluição causada por aviões que cruzam os céus
consumindo em média 22.000 litros de gasolina por viagem, e todas as viagens,
poluidoras. Se houvesse um movimento mundial contra a poluição de aviões, uma
boa fonte de renda dos Estados seria perdida. Então taxaram o tabaco que passou
a ficar mais caro do que as drogas que essas, sim, matam e aleijam para toda a
vida. Porém, sobre o tabaco o Estado tem controle, e sob as drogas nem pensar,
porque derrubaria muitos políticos envolvidos. O senador sabia disso. Sabia
também que o importante não era salvar vidas, mas que doentes fossem atendidos
às custas do Estado. O dinheiro do Estado era muito mais necessário para as
campanhas políticas. Os políticos á frente dos ministérios se encarregariam de
distribuir o dinheiro.
O movimento “gay” crescia a
olhos vistos. Cada vez mais as passeatas cresciam em número e qualidade. Lá nos
EUA, Barak Obama já se declarara gay assumido sem que a bela esposa reclamasse.
Isso foi um rude golpe no seu adversário político que logo após esta declaração
de Obama diminuiu o seus ataques para não ferir os sentimentos da classe
gay. Os candidatos dos Partidos ao
senado deveriam todos eles ser gays assumidos mas discretos, não daqueles que desmunhecavam, exageravam nos gestos,
saiam pelas ruas requebrando ou desfilando em escolas de samba completamente
aturdidos pela glória de se mostrarem em público.
A Igreja Católica sempre
freqüentara os corredores do Congresso e tinham até um público grande. Já havia
contribuído com verbas e campanhas disfarçadas no passado para a eleição de
políticos, e os casos de pedofilia vindos a público em nada recomendavam
candidatos desta religião, e havia que repensar. Novas Igrejas estavam agora
ocupando espaços da Igreja Católica que era muito tradicional e se transformava
em Ortodoxa. Os santos desta Igreja já não faziam milagres. Mas havia uma que
os estava fazendo todos os dias em seus templos. Curavam cânceres, paralisias,
expulsavam demônios, cegueiras, mudos voltavam a falar, e tudo em troca de
pagamentos de dízimos e compra de artigos milagrosos de artesanato. Este era o
melhor perfil religioso para o candidato. Mas sem exagerar. Bastava que
dissesse uma vez só na campanha que pertencia à turma do Valdomiro e nunca mais
falaria nisso. Além destes, os das outras religiões votariam nele também. E a pesar de não serem tão ricas quanto a Igreja Católica - que só aparecia no Sendo para pedir dinheiro - estas contribuíam com muito mais para as campanhas. Um bispo era até ministro da pesca. Coisa bem bolada!
O senador sabia que o
consumo de drogas estava aumentando no país. Senadores seus amigos até
defendiam penas menores para viciados, para traficantes, a polícia nunca sabia
por onde entravam as drogas nem onde se vendiam. O cigarro, daquele tabaco
tradicional das Américas, esse, sim, era pernicioso mas dava uma boa
arrecadação e merecia ser vendido a peso de ouro. Drogas eram a distração do
povo, que o mantinha feliz. Nem pensar em diminuir o consumo das drogas, ainda
mais que serviam bem à causa: muito do dinheiro proveniente das drogas fazia as
delícias de muitos políticos, policiais, promotores e juizes. Eram uma força
dentro do governo e não era bom brigar com eles. Por isso, o melhor seria um
candidato egresso das drogas. Um convertido. Declararia logo no início da
campanha que já tinha usado drogas e vendido algumas lá na favela onde vivera
com sua pobre mãe diarista. Por isso teria que ser analfabeto. Ou quase!
O senador articulista, que
tudo articulava no senado, sabia do mundo que o cercava. Quando não era
possível comprar o voto dos cidadãos, infalivelmente votavam nos candidatos com
quem se identificassem. Num país de esmagadora maioria analfabeta ou com
baixíssima instrução, o ideal seria algum candidato também com o mesmo perfil.
Por um processo de identificação e representatividade, candidato saído da mesma
classe ou situação social dos eleitores seria sucesso certo. Quando as listas prévias
para votação passassem por um candidato desses, nos corredores apressados do senado, bastava que alguém mais próximo
lhe dissesse do que se tratava, mesmo mentindo, para que ele apusesse
rapidamente e sem titubear o seu jamegão na lista, a assinasse em nome do que
era “bom para o Brasil e o Partido”.
Tinha que ser casado. Desde
os tempos de Jesus Cristo que religioso ou político não tinham o menor crédito
se fossem solteiros, desgarrados, com mulher correndo atrás para arranjar um
bom casamento. Ser casado era sinal de ser familiar, apoiar os movimentos em
torno da família, ao velho estilo de Pátria e família, ser irresponsavelmente responsável. Se a mulher tivesse um
perfil interessante, seria mostrada em fotos na campanha e desfilaria a seu
lado. Se fosse uma tremenda ratazana, seria tirada do foco das atenções e
substituída por uma bela secretária acompanhante de campanha, que subiria nos
palanques. Imagem feminina sempre vende, até nas velhas propagandas de cigarro
e cerveja. Se a mulher for promíscua, melhor, porque sempre existe a esperança
de o eleitor “comer” a mulher do candidato nem que seja na pura imaginação.
Seria casado o candidato.
Faltava definir o perfil
psicológico, mas o senador não precisou pensar muito. Bom candidato sob o ponto
de vista psicológico é o do “cara safo”, isto é, o do cara que sempre dá um
jeitinho nas coisas, que escapa de armadilhas, que tem sempre uma resposta
pronta mesmo que não seja adequada. Para isso teria que ter passado por situações
na vida das quais tivesse escapado ileso. Encontraria sempre um candidato – ou
candidata – da vida pública que já tivesse sido um garoto de programa, ou uma
garota de programa, com fotos e vídeos pornográficos de montão pela NET, e que
teria certamente de vir a público dizer que naquela época isso não era crime
nem reprovável, mas que agora já tinha até vencido o problema psicológico de
ter sido abusado ou abusada na infância. A prova seria o sucesso público do candidato, ou candidata. O povo vê na mentira improvável a
verdade inquestionável desde que posta a nu publicamente. Ou então que já tenha
passado por alguma instituição de recuperação da juventude, ou sido preso e depois libertado.
Umas aulas de postura, umas
maquilagens, corte de cabelo adequado, uns ternos e gravatas ou roupas
femininas condizentes, um par de óculos da moda, perfume francês e mídia
comprada para publicar o que interessa e rebater o que não é desejável...
Para o senador, o candidato está pronto! Que
venham as eleições!
Rui Rodrigues
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