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quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

O que as fotos antigas dizem, ou o que nelas se pode descobrir...

O que as fotos antigas dizem, ou o que nelas se pode descobrir...

Primeiro precisaram de uma máquina fotográfica e de uma sala de revelação. Havia gente que usava os banheiros – e principalmente a banheira – para fazer uma “câmara escura” onde se revelavam as películas... Começaram usando vidro para revelar as fotos. Depois entrou a Kodak e tudo mudou. Mudou tanto que a própria Kodak parou de fabricar seus rolos de filme quer para fotos quer para máquinas de filmar. No início todas as fotos eram a preto e branco, mas já na década de 30 do século passado (como os séculos mudam tão depressa) apareceram as películas coloridas. A cada “Oh...” - de admiração da humanidade por uma descoberta da genialidade humana - logo se segue um “ Áaaa...” de lástima porque não se usa mais... Somos um tipo de vida ambulante evolutiva e meio confusa que inventa coisas que logo joga fora e que quando não guarda as velharias, se arrepende ao saber que uma delas, igual à que tinha, valem hoje balurdios de dinheiro nos leilões da Sotheby’s... No fundo, produzimos sempre coisas novas movidos mais pela necessidade de ganhar dinheiro na venda do que na necessidade real de uso. Exceções são o telefone, a geladeira, o automóvel, o celular e mais uma infinidade delas, porque cada um acha que uma coisa ou outra é “imprescindível” até o momento em que a joga fora... Poderíamos dizer: Mas se é para jogar fora, porque compraram?”... Mas seria uma perfeita idiotice... É como comprar uma camiseta sem mangas (cavada) vermelha e logo antes do ano acabar, dizerem que isso é cafona. Com vergonha de não estar na moda, dá-se a camiseta para o porteiro que fica muito agradecido, mas quando chega a casa a dá para a mulher para as obras de caridade da igreja. Mas por falar em moda, lá vai a primeira foto antiga...



Nós, seres humanos, temos um senso de “justiça e humanidade” realmente impressionantes... Esta foto é da primeira grande guerra que assolou a Europa entre 1914-1918... O termo que se usa quando vemos uma pessoa avermelhada, irritadíssima, os olhos soltando das órbitas, e comentamos “Olha... Parece mesmo esgazeada!!!” vem dessa época terrível... O modo de lutar, completamente arcaico, imoral e idiota, consistia na abertura de trincheiras ao longo da frente de batalha de cada exército. De repente, uma onda humana se levantava das trincheiras de um lado e tentava tomar s trincheiras dos inimigos. Trincheiras eram valas escavadas no solo, que facilmente se encharcavam quando chovia e causava mortes por frieiras nos pés, porque ainda não tinha sido descoberta a penicilina nem antibióticos. Para piorar alguém se lembrou de soltar granadas de gases sobre os inimigos... Sufocados, o gás comendo-lhes as entranhas, ali ficavam agonizantes, contorcendo-se os soldados até que chegasse a hora das moscas que sobraram no ambiente. Guerras começam sempre porque num país forte algo falta: Ou comida ou dinheiro, ou água, ou petróleo, ou a economia vai muito mal. Para desviar a atenção e para “tentar resolver” os problemas internos, declara-se guerra a algum país que tenha o que se quer ou que, mesmo que não tenha nada de interessante, seja mais fraco. A cavalaria naqueles tempos não tinha muito espaço onde se mover taticamente, e sua ação era limitada. Os poucos pelotões de cavalaria, eram municiados com máscaras para gases, e os cavalos não escapavam do sacrifício de ter de habituar-se a respirar através de um saco filtrante...  Com todo o respeito pelos que tombaram em defesa da liberdade e de um mundo mais humano, devo confessar que seguir ordens para atacar quando ninguém nos atacou em nosso território me dá ânsias de pôr o fuzil de lado e dizer: Podem formar o pelotão de fuzilamento, porque me recuso a atacar alguém que nada me fez de mal, nem a mim, nem à minha nação... Não posso colocar minha vida à disposição para atender vaidades, vontades e orgulhos de lideres que não me representam!

E as guerras continuam. As máscaras é que melhoraram o aspecto e a eficiência, os cavalos já não são usados... Só burros em guerra!

N. York – Quinta Avenida.

Esta foto é de 1930 e ainda se vêm alguns chapéus. As ruas agora estavam mais limpas porque os bondes puxados a burro, mulas e cavalos tinham acabado. Os garis deveriam por isso ter seus salários reduzidos, mas foram aumentados porque a população começou a jogar “chiclets”, guimbas de cigarro, e outros dejetos no chão. Cidade de alta competitividade obrigava a fumar para vencer o estresse. Artistas fumavam adoidados, desbragadamente, até ficarem esgazeados e foram necessárias cerca de 8 décadas para que, como que por encanto, o tabaco de sir Walter Raleigh fosse substituído pela maconha de Janis Joplin... A humanidade sempre estressada precisa de mecanismos para vencer o estresse. Por isso, quanto maior a cidade, maior o estresse, maior a diversão, casas noturnas, liberdade sexual... Uma fábrica de artistas desde o mais simples, que é o trabalhador assalariado aos que pisam palcos famosos como Sinatra, Marilyn Monroe e Lyndon Johson. Os dois primeiros na Broadway em palcos e o ultimo como público sempre que saía da Casa Branca e dava umas voltas por lá para distrair. Desejos não correspondidos geravam suspiros. Como as populações sempre suspiram por falta de alguma coisa como amor correspondido, desenvolveram o cinema lá para as bandas de Los Angeles e o teatro com peças musicais. Muitas peças de teatro se transformaram em filmes como “um bonde chamado desejo” e  “My fair Lady”.
Se repararmos na foto todos demonstram que têm algo a fazer, exceto idosos contemplativos que deveriam estar pensando o mesmo que eu : Alguns iam para o trabalho, outros estavam a serviço cumprindo tarefas relativas a seus empregos, outros iam comprar entradas para o cinema ou teatro, e certamente um ou outro estava indo tomar uma talagada num bar, a caminho da delegacia para prestar declarações a pedido do xerife numa época de caça às bruxas procurando comunistas. Alguns estariam indo fazer compras. Havia turistas certamente, e falsos turistas que ficariam anos, décadas, aguardando um “green card” que jamais chegaria. Um ou outro transeunte iria fazer um teste para participar de um show, ou de um serviço de “escort”. Alguns se despediam da cidade: Iriam para a guerra da Coréia. Em algum lugar Martin Luther King ainda pregava a união de brancos e negros. Morreu sem saber o sucesso de sua feliz e necessária campanha.  

Líder das forças aliadas que haviam vencido a segunda grande guerra mundial, os EUA tinham chamado a si a difícil mas rendosa tarefa de regular o mundo. Onde achassem que era necessário impor a ordem lá estava Tio Sam com seus exércitos, aviação, marinha, impondo a ordem, já que o pavio político era curto. A indústria bélica sempre tem a vantagem de manter o nível de empregos, manter a economia em níveis altos. Os EUA somente não enfrentaram a URSS e a China porque gigantes têm um fôlego muito grande, e Napoleão e Hitler já haviam provado que invadir países grandes é como um gafanhoto querer comer um leão. As ruas de N. York tinham um sentimento por essa época e não se falava em outra coisa: A guerra fria. Um temor iminente de conflito bélico com a URSS, com provável uso de armas atômicas, um medo da invasão amarela no mundo vinda da populosa China. É impossível olhar uma foto de N. York e não “perceber” todo esse clima e até ouvir o som das pessoas na rua, as buzinas dos automóveis, um radio alto em algum lugar tocando “strips and strips forever” do John Filipe Souza... Em algum cinema deve estar passando “cantando na chuva”, Frank Sinatra pode aparecer cantando “lady is a trap” e Marilyn Monroe poderá ter a saia levantada pelo vento dos respiradouros do metrô, e mostrar as belas pernas e sua boca de eterno e gostoso beijo.

Silêncio por favor... Deixem ouvir os sons da foto. E se os fatos narrados não são de 1930, e sim de 1950/1960, ou mesmo atuais, que importãncia tem, se nem a paisagem mudou tanto assim ?



© Rui Rodrigues

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