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sexta-feira, 6 de julho de 2012

A asquerosidade dos ratos de esgoto




A asquerosidade dos ratos de esgoto

Crianças brincam á beira de valas a céu aberto por onde escoam águas pútridas que lhes dá diarréia, doenças. O ar está empestado de miasmas, as águas são escuras e pastosas, há choro nas casas ao redor porque uma criança morreu de dengue. Pela noite vêm-se ratos comendo baratas que pastam o alimento dejeto de humanos. Não é desses ratos que falo. É dos ratos que não deixam o dinheiro dos impostos chegarem até essas comunidades para que se construa uma rede de esgotos. Estas ratazanas gordas e suadas dos esgotos roubam o dinheiro público e normalmente são prefeitos, sub prefeitos, vereadores, deputados, senadores e empresas e outras ratazanas que protegem.

Mas as propagandas do governo dizem ao som de música e gente alegre e bem vestida que a Prefeitura está fazendo do melhor pelo município. As ratazanas também vivem e se alimentam de propaganda com as verbas públicas. Artistas também e alguns dizem ser socialistas, outros comunistas e outros ainda capitalistas.

No hospital o lixo hospitalar se espalha pelos arredores aguardando transporte. Até sair do hospital fica por lá... Aguardando que alguém o tire. Doentes pelos corredores aguardam serem atendidos. As filas são enormes. Há vírus e bactérias hospitalares que matam mais do que as doenças que levaram os enfermos ao hospital. Gente morre nas filas por falta de atendimento. Falta esparadrapo, faltam remédios porque apodrecem ou foram subtraídos do estoque e revendidos. Médicos têm quem lhes assine o ponto e nem aparecem. Quem atende no balcão é simpático e tem o dom de ouvir reclamações com a frieza e a insensibilidade de uma múmia habituada à morte. As ambulâncias servem também para levar lindas enfermeiras à praia ou apanhá-las no shopping. Não há verbas para ampliar e modernizar os hospitais nem para contratar novos médicos e enfermeiros. Alguns dos que atendem como médicos estão ainda em universidades. Ratos alimentam-se pela noite de restos de comida e de restos de operações em humanas.  

Não é desses ratos que falo. É dos ratos que não deixam o dinheiro dos impostos chegarem até esses hospitais e não fiscalizam o uso dessas verbas. Estas ratazanas gordas e suadas dos esgotos roubam o dinheiro público e normalmente são prefeitos, sub prefeitos, vereadores, deputados, senadores, empresas e outras ratazanas que protegem.

Mas as propagandas do governo dizem ao som de música e gente alegre e bem vestida que a Prefeitura e o governo estão fazendo do melhor pelo município, pelo Estado e pela nação. As ratazanas também vivem e se alimentam de propaganda com as verbas públicas. Artistas também, e alguns dizem ser socialistas, outros comunistas e outros ainda capitalistas.

Nas escolas há professores mal pagos. Há é um eufemismo, porque todos são mal pagos. E são mal pagos porque se gasta muito em merenda escolar que custa os olhos da cara, mas não vale dois reais por merenda. O dinheiro desaparece. Num país tão grande, não existem - praticamente - centros de pesquisa. São bilhões de reais gastos em educação e não progredimos. Alunos revoltados levam armas para a escola, descarregam as suas frustrações nos colegas. Maltratam, batem, filmam e postam na Internet. Não vêm futuro se estudarem, porque ganharão sempre muito menos do que vereadores, deputados, senadores, prefeitos, governadores, e toda a equipe trilionária que os serve, viajando de um lado para o outro porque se pode pertencer a governos de municípios e estados onde nem se nasceu, nem se conhece as necessidades do lugar. Entre vômitos de merenda escolar, merendas rejeitadas por intragáveis, e restos da preparação, juntam-se ratos à noite para tragar o intragável. 

Mas não é desses ratos que falo. É dos ratos e ratazanas que não deixam o dinheiro dos impostos chegarem até esses professores e escolas e não fiscalizam o uso dessas verbas. Estas ratazanas gordas e suadas dos esgotos roubam o dinheiro público e normalmente são prefeitos, sub prefeitos, vereadores, deputados, senadores, empresas e outras ratazanas que protegem.

E as propagandas do governo dizem ao som de música e gente alegre e bem vestida que a Prefeitura e o governo estão fazendo do melhor pelo município, pelo Estado e pela nação. As ratazanas também vivem e se alimentam de propaganda com as verbas públicas. Artistas também, e alguns dizem ser socialistas, outros comunistas e outros ainda capitalistas.

Invadem-se favelas e pacificam-se. Põe-se polícia nas ruas e montam-se esquemas de proteção para autoridades. Desvia-se trânsito de ruas. Apreendem-se toneladas de drogas. Um helicóptero baixa dos ares e prende dois garotos que roubam nas ruas de Copacabana. Acabam-se com lugares públicos de consumo de drogas. Tudo um show digno de película de cinema de policial e bandido. A população se impressiona, mas no dia seguinte o lugar de consumo público de drogas, aberto e escrachado mudou de lugar, os traficantes mudaram de favela e até de Estado, os helicópteros desapareceram dos ares. Comerciantes e prédios continuam a ser assaltados. Seqüestros relâmpago em grupo. Bancos assaltados. A polícia prende e a justiça solta porque não há lugar em presídios nem verbas disponibilizadas para a construção de outros. As drogas continuam sendo apreendidas às toneladas, como sinal inequívoco de o tráfico não perdeu o potencial. Prendem os pequenos e deixam livres os grandes que talvez até sejam políticos. Policiais são destacados para proteger Bancos, correios, entidades, e não suficientes cuidando das populações. As cidades estão cheias de ratos nos esgotos.

Mas não é desses ratos que falo. É dos ratos e ratazanas que não deixam o dinheiro dos impostos chegarem até esses presídios e policiais mal pagos e não fiscalizam o uso dessas verbas. Estas ratazanas gordas e suadas dos esgotos roubam o dinheiro público e normalmente são prefeitos, sub prefeitos, vereadores, deputados, senadores, empresas e outras ratazanas que protegem.

E as propagandas do governo dizem ao som de música e gente alegre e bem vestida que a Prefeitura e o governo estão fazendo do melhor pelo município, pelo Estado e pela nação. As ratazanas também vivem e se alimentam de propaganda com as verbas públicas. Artistas também, e alguns dizem ser socialistas, outros comunistas e outros ainda capitalistas, todos atrás de dinheiro.

Verbas públicas trilionárias que poderiam e deveriam ser usadas no desenvolvimento da nação são utilizadas para construir estádios de futebol, vilas olímpicas, estradas, pontes e viadutos que se destinam à iniciativa privada, vendidas ou leiloadas com dinheiro podre e incentivos de desperdício. Os contratos firmados com as empresas contratadas permitem o aumento por reclamações preparadas com antecipação, aumentam a dívida pública pelo alto valor dos juros bancários. Ganha-se atrasando a obra, um vento mais forte é motivo para aumentar o seu valor. Os impostos, dos mais altos do mundo, provocam a cobiça de quem os maneja e os distribui sem autorização dos cidadãos que apenas assistem impotentes.

Leis que deveriam proteger o ambiente são negligenciadas para proteger grupos que podem exercer pressão nos corredores do Planalto onde existem ratos, uma porção, um bando, uma epidemia, especialistas em roer dinheiro, avessos a pizzas que vêm fabricar mas nem lhes tocam com os dentes.

O Brasil vibra de alegria e de raivas, ou se acalma nas novelas. Há um show na praça pública do município para distrair. Corinthians é campeão da taça da Libertadores e vai par o Japão a um custo de 10.000 reais por corintiano.


Rui Rodrigues

Sobre a partícula de Deus, o “bóson de Higgs”.





Sobre a partícula de Deus, o “bóson de Higgs”.

Tentarei explicar do que se trata, de forma a que se possa facilmente entender mesmo para quem nunca teve contacto com a Física Quântica. Dedico-me ao estudo da Física Quântica há pelo menos uns 25 anos, sem nunca ter passado do estágio de “entender” o que os físicos constatam e calculam. Para poder lidar com ela seria necessário que eu voltasse para a universidade para complementar meu curso de matemática. Entendendo as dificuldades do entendimento desta matéria, descrevo da forma mais simples possível do que se trata.

1 – Sobre a Mecânica Quântica


A Mecânica Quântica é uma teoria baseada no uso do conceito de uma unidade -quantum- para descrever as propriedades dinâmicas de partículas subatômicas e as suas interações. Foi iniciada pelo físico alemão Max Planck que postulou em 1900 que a energia só pode ser emitida ou absorvida em pequenas unidades chamadas quanta. Também fundamental ao desenvolvimento de Teoria Quântica é o Princípio de Incerteza formulado pelo físico alemão Werner Heisenberg em 1927: é impossível determinar com precisão absoluta, no mesmo instante, a posição e o momento de uma partícula. Quanto mais precisão buscarmos em um aspecto, mais prejudicado vai ficar outro. Ou seja, se temos certeza absoluta de sua velocidade, não podemos saber em que “local” a partícula se encontra e se sabemos exatamente onde está, não podemos ter certeza de sua velocidade.
A Física Newtoniana – ou clássica -permite, para grandes massas, determinar exatamente a posição e a velocidade de um corpo, Ele hoje é aceito como uma aproximação da teoria quântica em sistemas com grandes massas. Ou seja, não há um domínio clássico separado da mecânica quântica.
Para entendermos o que é o bóson de Higgs ou a “partícula de Deus” precisamos primeiro entender o que são físicos teóricos e as “teorias de brinquedo”.

2 – A Física teórica e as “teorias de brinquedo”


Os físicos teóricos conhecem tudo – ou quase tudo – sobre Física. Sem meios de testar praticamente as origens do Universo e muitas das propriedades da Física de partículas, mas tendo a percepção de seu funcionamento, criam “teorias de brinquedo” que as expliquem. Uma vez criada a teoria de brinquedo, ela deve explicar o que já se conhece das origens do Universo, as propriedades do universo visível, e o que também se conhece das propriedades das partículas e de suas interações. A teoria do Universo Inflacionário foi uma delas. Uma vez que atenda a tudo o que se conhece, a teoria deixa de ser de “brinquedo” e pode ser considerada como “factível”. Tem então a aprovação da comunidade de físicos internacionais e é então publicada em revistas especializadas. No entanto nem todas as teorias aceitas partem de teorias de brinquedo.

Em 1964 ainda se temia que houvesse um número infinito de sub-partículas em que a matéria se poderia dividir. Conhecia-se o átomo composto de elétrons, prótons, nêutrons, e suspeitava-se da existência de outras sub-partículas constituintes dos prótons e dos nêutrons – os “quarks”, e bastantes outras partículas livres como os neutrinos (só para exemplificar).  

3 – Os Campos de Higgs e o bóson de Higgs.

Em 1964, o físico inglês Peter Higgs criou uma dessas “teorias de brinquedo” a respeito de campos de força, porque achava que em certa fase da constituição da matéria deveria existir uma partícula mínima que separaria o estado de matéria do estado de energia, sendo ainda matéria. Incrivelmente, ela deveria corresponder a uma “dimensão” mínima, denominada “comprimento de Planck”, a partir do qual a Mecânica Quântica já não pode descrever o estado físico nem as suas propriedades. Para os curiosos o comprimento de Planck é igual a 1,6 × 10−35 metros, ou seja, 0, 00000000000000000000000000000000016 metros.

A “teoria de brinquedo” de Peter Higgs consistiu em imaginar um campo de forças traduzido em vetores que poderiam variar de acordo com a temperatura, a pressão, a densidade, de forma metaestável, isto é, que podiam variar a qualquer momento interagindo uns com os outros. Imaginou também que tal como nos outros campos já conhecidos sejam produzidas ondas e que cada onda produza uma partícula (mais ou menos como na praia vemos uma onda soltando respingos).

Em termos de Física de partículas, o descobrimento da constituição do átomo por elétrons rodeando um núcleo de prótons e nêutrons, idealizado pelo físico Niels Bhor (físico dinamarquês – 1885 -1962, prêmio Nobel), permitiu um avanço substancial na Física Quântica.

Já em 1964 se descobriram os Quarks (Murray Gell-Mann e Kazuhiko Nishijima) como partículas constituintes de prótons, nêutrons e elétrons. A Física deu um salto fantástico. Crendo que a descoberta da partícula do “comprimento de Planck” ou “bóson de Higgs” também poderia permitir outro avanço fantástico, os físicos que trabalham no Grande Colisor  de Àdrons (LHC) em Genebra na Suíça, prepararam este centro de pesquisas para o processo de colisão de partículas que poderia evidenciar e constatar a sua existência, tal como Peter Higgs a havia idealizado através de cálculos exatos usando a sua “teoria de brinquedo”.

No dia 04 de julho de 2012, com Peter Higgs ainda vivo - graças ao Deus Único – foi constatada a existência desta partícula e a teoria deixou de ser de brinquedo... Somente se pode explicar fisicamente a existência do Universo e de nós próprios – tal como Deus iniciou a sua existência – se os campos de higgs existissem realmente, como ficou provado que existem. 


4- A ciência e as religiões

Os seres humanos não querem competir com Deus. Querem descobrir como Ele fez o Universo – devo dizer Universos – com a inteligência que Ele nos deu e que não devemos desperdiçar. Quem compete com Deus são alguns dos religiosos donos de Igrejas e templos, e de quem neles se suporta, que falam, sem saber, sobre o sua Obra e nos dizem o que Ele quer sem saber o que dizem.

Os Físicos, matemáticos, químicos, biólogos, etc, estão não só descobrindo como Deus fez o seu trabalho, como interpretando o que Ele diz. A linguagem de Deus não é a linguagem de qualquer etnia sobre a Terra ou outros planetas habitados: È a linguagem da matemática, da química, da física, das ciências. Unidos, fraternos, somos uma humanidade em evolução que terá todo o tempo do mundo para evoluir. Desunidos podemos aniquilar-nos.

Paz no mundo, paz entre os seres humanos, paz nas religiões e nos templos. Temos muito que trabalhar ainda para gerar conforto e sustentabilidade para este planeta.

Sem a ciência não haveria luz nos templos nem “Papa-móvel”. Se a Terra não fosse redonda e girasse em torno do Sol, não haveria satélites nem celulares, nem TVs nem geladeiras.

Rui Rodrigues

Consciência do que somos.




Consciência do que somos.

Entre a realidade e o sonho, vivemos nesta vida em comum com todos os reinos animais a nossa própria vida.

Nossa evolução em parte se deve a um conceito mágico no qual nos fizeram acreditar: Que somos feitos à semelhança de Deus. Não conhecemos Deus para fazermos tal afirmativa inconseqüente, e os livros que dizem sagrados, originados de inspiração divina, estão cheios de reconhecidas imperfeições que não condizem com a realidade. As religiões, cuja função para o convívio das sociedades tanto se tem mostrado benéfica quanto produtora de terríveis conflitos, reforçam este conceito de semelhança.

Somos na verdade, e simplesmente, organismos vivos quase que perfeitamente adaptados à vida num planeta isolado e restrito. Com as características físicas que possuímos, não sobreviveríamos nem uns escassos segundos em nenhum outro lugar previsível deste imenso universo. Ora, Deus está em toda a parte. Não somos nem um pouco parecidos com Ele. Só precisamos ir a um vaso sanitário quando necessitamos fazer alguma coisa sólida e olhar o que nos sai das vísceras: é mal cheiroso, de aspecto repugnante. Deus não produz coisas assim em sua forma de existir.

Crentes de que somos importantes, usamos perfumes, roupas trabalhadas por eminentes artesãos do vestuário. Andamos em veículos em terra, no mar, nos ares, e nos orgulhamos de uma civilização que construímos à custa de muitas mortes, matanças, perseguições – muitas de cunho religioso – buscando apressadamente o futuro. Nem nos damos conta de que o futuro virá quer queiramos ou não. E virá como vier, não como queremos que venha. Nossa importância pessoal é apenas 1/7.500.000.000, tal é o total da população mundial.

Não somos importantes nem como líderes de países, porque embora possamos mudar a história por décadas ou séculos, a humanidade nos muda as nossas próprias mudanças, as mudanças que fizeram esses líderes, e não nenhuma civilização do passado que hoje ainda persista. Quando co-existem com a modernidade, constituem hoje países pobres, ou em vias de desenvolvimento. Vale dizer que de quase nada adiantaram as mudanças, porque se aproveita apenas o que deva ser aproveitado.

Estou crente que obteríamos um desenvolvimento muito mais sustentável e adaptável a este planeta se as decisões das sociedades partissem da vontade das próprias sociedades e não de lideres isolados. A vontade coletiva não oprimida traduz melhor e com mais realidade os desejos da humanidade.  A humanidade quer progredir, evoluir, em causa própria e não em causas particulares das vaidades, obsessões ou ambição de meia dúzia de líderes.

Creio que estamos indo longe demais em nos julgarmos os reis dos animais, porque em decorrência desse falso conceito de uma similaridade com o divino, alguns de nós nos achamos os reis de outras sociedades ás quais oprimimos de uma forma mais violenta ou mais suave, em nome de progresso e desenvolvimento.

Mas basta voltarmos à privada, e antes de darmos descarga, olharmos o que fizemos e cheirar... É nauseabundo, e, ricos ou pobres, soltamos as mesmas cargas para dar descarga e não deixar a casa com cheiro de carne putrefata. Assim temos uma dimensão mais real e fiel do que somos. Entre nós e os animais apenas destoamos na inteligência, que até o sangue e os órgãos são semelhantes, e para procriar, usam-se os mesmos tipos de órgãos.

Fossemos um pouco mais humildes, e não nos víssemos tão perto do Criador, talvez tivéssemos mais dignidade a ponto de percebermos que o caminho para uma sobrevivência numa sociedade geral humana que cresce de forma incontrolável, só pode ser conseguida se compartilharmos a cooperação.

Explorados e enganados, revoltam-se. No passado era relativamente fácil controlá-los, mas esse crescimento desenfreado os torna tão numerosos que num futuro próximo eles invadirão os bairros lindos e limpos cercados de jardins, cuidados por poucos policiais  que também são enganados e explorados. Não haverá Banco seguro, templo seguro, lar seguro.

A menos que mudemos substancialmente os nossos conceitos. E o tempo urge. Já perdemos milênios de história da humanidade insistindo em formas de governo que não representam a humanidade. São apenas formas de transição para uma democracia muito maior, real, honesta, sustentável. .

Ou isso ou a destruição do que conhecemos como humanidade.

Rui Rodrigues

quinta-feira, 5 de julho de 2012

Indecisões na vida




Indecisões na vida

Nada pior do que a indecisão. Corremos o risco de decidirem nossa vida por nós, que sabemos o que queremos. Muitas vezes não podemos nem discutir o que queremos.

A indecisão é como a esquina de duas ruas para quem atravessa uma encruzilhada e se dirige para a esquina. Não volta para trás, não vai para a direita nem para a esquerda. Pára em frente à esquina e ali fica. Preciosos momentos em que reflete em círculos, sem decidir nada de sua vida. Não sabe o que fazer, ou se sabe, não sabe que lado ou rumo escolher. Há quem não tenha nada para decidir na vida! Pode empacar numa praia, num bar, num cinema, num shopping, mas jamais numa esquina, num deserto, no meio da selva ou no mar. Isso ser-lhe-ia fatal.

Pôr uma banana numa gaiola e esperar que ela cante, vai nos levar um par de dias sem chegarmos a nenhum resultado. Depois ela apodrece sem dar nem um pio.

E assim se divide a humanidade em dois grupos: Os que podem empacar e os que não podem, porque para os primeiros, isso não tem importância. Para os últimos, sim. Disso depende o futuro de sua vida.

De todas as indecisões comuns a todos nós, algumas sobressaem pela sua importância: Namorar esta (e) ou aquela (e), casar ou não, fazer ou não um curso, trocar um emprego por outro, gastar numa compra ou economizar, abrir um negócio ou aplicar em outra coisa, seguir este ou aquele partido político, ter (fazer) ou não um filho.

Nossa vida rege-se passo a passo desde que começamos a andar. Somos produto de todas as nossas ações. É um longo caminho em que vamos traçando o nosso caráter, tomando erros como acertos ou acertos como erros se nos equivocamos na apreciação, ou, de forma consciente e com bom índice de análise e crítica próprias, corrigindo o nosso perfil, a nossa identidade como ser humano. O que não vemos, a sociedade enxerga, e assim teremos amigos mais ou menos fiéis, mais ou menos amigos, mais ou menos inimigos.

Costumamos varrer os nossos erros para debaixo de um enorme tapete. Outra forma, talvez mais adequada, é reciclar o lixo que produzimos através de correção. O saber pedir desculpas pode ser um bom começo. Isso lhe trará mais benefícios? Depende do que se quer na vida. Amigos não se compram, e num sistema social corrupto até se pode comprar muita coisa com dinheiro, mas o tempo costuma corrigir as coisas, e aqueles que se compram podem no futuro vir a denunciar-nos. É um risco como outro qualquer em negócios. Podemos passar toda uma vida mergulhada em erros e até morrer de forma tranqüila numa cama sem sentir dor alguma, remorso, arrependimento. Deus aparentemente não se intromete nessas coisas pueris da vida. Muitos nem acreditam que Deus exista.

Mas falar de justiça após a morte é como perguntar a um morto quem o matou. Não sabemos nada do que acontece para lá dela. Como a morte é comum a toda a vida na terra, sem jamais ter havido exceção, poderíamos até presumir que houvesse justiça para quem atira com arma de fogo num animal selvagem apenas pelo prazer de matar, a que chamam despreocupadamente de “caçar”.

Vem tudo isto a propósito de uma situação mundial que não tem paralelo na história. Vivemos a era da corrupção. Em todo o mundo o povo está indo para as ruas porque há uma crise econômica que só encontra paralelo na de 1929 que culminou na segunda guerra mundial em 1939.

Helmuth Koln saiu do governo e descobriu-se que era corrupto posteriormente. Sarkosy da França, ex-presidente que perdeu as últimas eleições, está sob investigação pelo mesmo motivo. Um ex-presidente de Israel assediava e abusou de uma moça que trabalhava num departamento de estado e está preso. Uma ministra francesa fez uma compra de aviões para a União Européia e foi corrompida ou corrompeu. Na Grécia caíram vários governos e em Portugal, Itália, Espanha e por toda a Europa. O dono de um jornal famoso com sede em Londres utilizava escutas telefônicas para pressionar indesejáveis ou colunáveis e políticos. No norte de África o povo muçulmano não suportou anos e anos de despotismo e abriu a caça a ditadores que se escondiam nas páginas e nas suras do Corão para abusar de seus cidadãos.

Descrentes das constituições que permitiam o aparecimento e o enriquecimento de políticos astutos, Islândia, Suécia, Noruega, Finlândia e Suíça usaram as redes sociais da Internet para aprovar, item a item, uma nova constituição que não permitisse que interesses escusos fossem beneficiados em detrimento dos interesses dos cidadãos. Saíram da crise.

Os índices de corrupção em todo mundo são alarmantes. No Brasil, várias comissões parlamentares de Inquérito decorrem num senado que não faz retornar aos cofres públicos as enormes verbas desviadas e que tanta falta fazem para o desenvolvimento nacional. Um dia, o ministro Mantega terá que se explicar pela exorbitância dos juros cobrados a título de “conter a inflação”, e seu enriquecimento vasculhado em contas internacionais.

Como estamos não estamos bem. Temos que mudar. Uma das opções parece ser a Democracia participativa, através de um primeiro passo: Exigir dos governantes uma nova constituição semelhante às dos países que já as adotaram. Nelas nada pode ser alterado sem que se proceda a nova votação.

Não fique indeciso: Se deseja saber o que é a Democracia Participativa, Real, Verdadeira consulte


Se deseja conhecer um modelo de nova constituição para o Brasil



Rui Rodrigues





quarta-feira, 4 de julho de 2012

O desejo, a sedução, o amor, o sexo e a frustração.




O desejo, a sedução, o amor, o sexo e a frustração.

Foi exatamente nesta ordem que os primeiros Adões conheceram suas Evas.

Conheceram-nas bem. Reuniram-se os Adões e escreveram livros. Elas deveriam ser caladas para todo o sempre porque  confundiam a todos. Ninguém sabia quem era o pai de qual filho. Quando não queriam ser copuladas, gritavam. O chefe da tribo acudia e espantava os intrusos. Quanto o chefe da tribo ficava velho e fraco, outro lhe sucedia. As mulheres eram guardadas e protegidas para copular e abusar. As que não gritavam eram tomadas por todos. As que gritavam, ganhavam o direito de terem um protetor. Isso não as impedia de continuarem copulando com invasores do lar. Ainda é assim entre os colobos. Sempre ativos, e sem problemas com TPM, os machos de então estavam sempre dispostos para o sexo. As fêmeas somente quando estavam fora do ciclo da TPM. Esta alternância de disponibilidade e defeso liberaria o homem para cada instante em toda a vida, e a mulher para quem quisesse quando estivesse fértil.

Os homens de então não tinham a mínima idéia de quando as mulheres ficariam férteis, mas elas sabiam. Assim, as mulheres passaram a escolher, os homens a serem escolhidos, até se escreverem as leis, em livros, que mudariam toda a natureza dos seres humanos: quem não obedecesse às leis iria viver com os seus primos, os primatas. Ninguém queria isso. A maioria aderiu às Leis, ou seja, à religião, num tempo em que os reis eram religiosos, e depois, mais tarde, quando os reis eram ungidos por religiosos. Uma outra parte continua atéia como nos dias de hoje.

As mulheres escolhiam os homens com os quais deveriam copular, porque lhes dariam filhos fortes, saudáveis, espertos, inteligentes, bonitos, saudáveis... Quem assim escolhesse, garantiria seus genes para todo o sempre. Não era uma opção consciente, e ainda não é, mas o amante é sempre a dose de esperteza de que a descendência necessita para atravessar os ventos da história. Mesmo usando ou não camisinha protetora de nascimento de inocentes, essa é a função do amante. O amante é tudo o que o marido, que dá conforto e segurança, não dá à mulher. Se o marido fosse diferente, seria um amante. Por isso muitos maridos se transformam em amantes de outras mulheres. Alguns fundaram haréns.

Afonso Andrade esperava Fátima Fontes para um jantar íntimo. Muitos milênios se haviam passado desde a época em que Adões e Evas palmilhavam o paraíso, uma área tão vasta, que qualquer família antiga ou recém formada, caminhando em qualquer direção, encontrava outro paraíso onde se colhia mel, leite, maná, frutas, tâmaras, sem ter que pagar tributo a ninguém. Quando se começou a pagar tributos, o paraíso acabou! Afonso mostraria o paraíso a Fátima. Era a sua parte do processo da sedução. A contribuição dela nesse parto da sedução para o amor tinha sido o olhar. Aquele fixar de olhos nos olhos, as sobrancelhas levantadas, as íris dos olhos dilatadas, a mão dela nos cabelos afastando-os. Mãos nervosas, lábios em assimetria quando falavam, a pele do pescoço eriçada, os peitos projetados. A contribuição dele era apenas o interesse nela. Ela o escolheria ou o rejeitaria. Afonso conhecia esta faceta da sedução desde garoto. Fátima não sabia disto. Ela achava que Afonso a queria e sabia também que “o” queria. Mas ainda teria que decidir para “que” o queria.

Enquanto Afonso esperava apenas um “sim” definitivo dela, Fátima queria sentir que era a “única” para ele, porque o que ela desejava era a segurança de um longo tempo de convivência: A Eternidade se possível. Afonso, por sua vez, conhecia a Lei dos Homens: E se ela o traísse? A Lei o favorecia no passado. Quando inventaram a lei da livre imposição dos cintos de castidade, todos bateram palmas íntimas. Seria impossível a traição feminina. Quando descobriram que se podiam fazer chaves duplas, perder línguas e pênis cortados por lâminas atrozes plantadas nesses castiços cintos, mudaram os métodos, mas nada conseguiu pôr fim a uma decisão puramente humana: a quem dar, entregar, seu corpo, seu amor, seu desejo. O que fazer, não depende de aspecto moral, mas de coragem para que se faça o que se deseja, se se quer, se se anseia. Hoje, Afonso não tinha ilusões. Tudo seria como viesse a ser e não como desejava que fosse.  O problema era porque razão desejava uma mulher só para si... Fato que era compartimentado por Fátima, que não via na fidelidade prática nada mais do que um cumprimento das escrituras transformadas em leis, mas leis que não tinham o ADN da natureza. Se tivessem, não existiriam. A natureza é pela diversidade, pela mistura, pelas pluriparticularidades.

Esperando Fátima, preparou-lhe um jantar divino, pôs mesa farta, vinho, pão, guardanapos, talheres de aço inox. Flores em taças altas, guardanapos de linho, Copos de cristal. No equipamento de som, Dvorak, sinfonia numero 9. No ramo de flores do campo que ornavam a mesa, gotas de água. Não era um toque feminino de Afonso. Era apenas a consciência de Afonso sobre tudo o que sabia que Fátima gostava. Fazia o que ela gostava. E como ela amava uma boa picanha, preparou uma assada no forno apenas com sal e fez uma boa farofa com arroz e batatas fritas. Uma garrafa de carmenére a 19 graus sobre a mesa, envolta ainda em gelo, do qual tirava a garrafa de vez em quando esperando Fátima e mantendo a temperatura. O acompanhamento, além da salada farta de ingredientes muito bem decorados, seria escolhido por ela. Havia profitelores na geladeira e chocolate pronto para ser aquecido e derramado sobre eles. Café quente recém coado. Sobre a mesa, flores do campo. Licor  Amaretto.

Olhou o apartamento ao redor e viu que sua obra era perfeita. E era a sétima hora. Na oitava descansaria nos braços de sua amada. A cama estava pronta como sempre estivera. Ela gostara.

O tempo passou e as velas em copos cilíndricos baixos, de cristal, foram se apagando... Depois telefonou para Fátima. O telefone não atendeu.

Quando as velas se apagaram, Fátima ligou. Estava bem, mas tivera uma indisposição. Estava em casa. Sua mãe mandava beijos para Afonso. Não fora isso o que a mãe de Fátima lhe dissera quando ligou perguntando por ela.

A partir desse dia, Fátima seria a outra se o quisesse. Procuraria uma nova Fátima, de preferência com nome, corpo, rosto e pensamentos diferentes. Por vezes, quem sabe, muitas vezes, encontramos o que queremos mas não sabemos identificar o que queremos. Perdemo-nos nas imensas oportunidades da vida que esta nos oferece. Então fazemos um verso, compormos uma música e nos surgem canções lindas como “garota de Ipanema...” Há muitas garotas de Ipanema em qualquer bairro do mundo.    


Rui Rodrigues.

terça-feira, 3 de julho de 2012

2- Que voz era aquela?



2- Que voz era aquela?

Quando um dia me disse: - Vai. Sai da cidade e encontra-me à noite na praia aonde não cheguem luzes das cidades -e eu fui - não se tratava de uma voz propriamente dita, que ouvi. Era uma vontade muito forte de ir à praia esperando ver alguma coisa, ouvir, sentir. Tal como num dia semelhante dois anos atrás, cheguei na praia bem cedo, impulsionado por uma vontade muito forte e vi algo se debatendo na areia. Era um peixe, uma tainha de mais ou menos dois quilos, viva, fresca. Provavelmente chegara-se demasiado á praia e ficara para trás quando a onda retrocedeu mais rápido do que deve ter imaginado. Dois pescadores de tarrafa que eu conhecia estavam na praia e viram.

Tenho facilidade em encontrar facilmente respostas para muitos fatos, respostas essas que me parecem plausíveis, mas não posso atribuí-las a mérito próprio. Não estudei profundamente quaisquer assuntos ou temas que não fossem os relacionados com a minha formação em engenharia. A que devo essa facilidade? Tenho minha teoria, mas para que tenha crédito, devemos avançar no que pretendo contar.

Certo dia, pela manhã, chovia bastante e não vi conveniência em sair de casa. Tomei meu café e voltei para a cama porque me tinha deitado tarde e ainda estava com sono. A baixa temperatura de inverno e o barulho das ondas do mar ajudaram nessa volta ao descanso. Então me perguntei sobre a criação do Universo e ouvi a resposta.

- A lua gira à volta da Terra porque existem leis matemáticas e físicas que a fazem permanecer de forma estável nessa órbita. Ouve uma época em que a Lua estava mais perto da Terra, e quanto mais perto, mais rápida a sua velocidade tangencial. Nessa oportunidade, as fazes lunares se sucediam a cada dez dias em vez de 28 dias como atualmente. Da mesma forma, todos os astros do universo visível – e por suposto também da parte que não vemos – que está em perfeito equilíbrio. Porém, sem perder a validade, essas leis permitem, por exemplo, que a galáxia de Andrômeda se aproxime da nossa Via Láctea, sendo inevitável que um dia se choquem. Nessa oportunidade alguns hão de dizer que Deus os desamparou, tal como na antiguidade disseram que Deus tinha desamparado os exércitos de reis e imperadores, ou que não zelara pela vida de pessoas, muitas delas crianças, que haviam falecido inesperadamente. Deus existiria? E se existisse como seria? Como se comportaria perante sua obra?

Imaginei então que tudo o que vemos no Universo, na natureza, nesta vida, fosse obra do acaso. Tinha estudado a teoria das probabilidades e lidei com a matemática do cálculo envolvendo arranjos, combinações, permutações, desvio padrão, valor esperado de “x”. Por acaso este universo poderia perfeitamente ser dotado da lei da gravidade que mantém os astros em equilíbrio... Mas o que dizer do DNA, a molécula do código da vida? Claro que já temos dois “acasos”... Mas com quantos “acasos” nos deparamos na existência do Universo e de sua natureza? Facilmente verifiquei que entre os “acasos” que conhecemos aqueles de que desconfiamos existir, e dos que desconhecemos, beiram uma quantidade infinita... Não há probabilidade que resista a esta infinita quantidade de acasos. O próprio Big-Bang, para a densidade crítica se estabelecer entre 0,999999 e 1,000002, era uma impossibilidade esperada, tal como tentar colocar um lápis em pé apoiado na ponta de grafite. Então senti a voz que dizia:

- A existência do que vês foi calculada, premeditada, é complexa, autossustentável e perfeita. Uma vez criado o Universo, nada pode alterar a sua existência, nem a forma como se desenvolve e evolui, sendo cada parte não uma singularidade, mas uma parte do todo. No caso particular da existência da vida, para que os planetas não fiquem superlotados rapidamente, tudo o que nasce morre, e para retardar ainda mais a superlotação, cada espécie se alimenta de espécies diferentes, constituindo uma cadeia alimentar. Quando há um grande desequilíbrio no crescimento, provocado por alguma espécie que se reproduziu demasiadamente, as consequências são importantes apenas para essa espécie,  que pode extinguir-se, não para a vida no planeta que se reconstituirá, provavelmente com novas espécies que evoluirão das que sobrarem. Já aconteceu por duas vezes na história da Terra, a extinção de 98% das espécies, e na atualidade é fantástica a reconstituição da quantidade de espécies que nunca tinha sido tão grande anteriormente. Não me surpreendeu, mas gostei de ver a recuperação. Em outros planetas, acabou mesmo...

E continuou:

- Não me podem cobrar moralidade na existência da morte como fim do ciclo da vida, nem a responsabilidade pela perda de entes queridos ou batalhas travadas por exércitos, porque tudo acontece no Universo baseado em duas atitudes: A atitude das leis com as quais o Universo foi criado, e as atitudes da vida como um todo num planeta ou em particular, as de uma determinada espécie. Também não me podem cobrar o fato de me pedirem que interceda em algo, porque não intercedo. Se intercedesse, estaria dizendo a mim mesmo que as minhas leis não são perfeitas. Assim, não livro nada nem ninguém da morte. Cada ser de cada espécie deve cuidar da sua própria sobrevivência. Quanto mais se cuidar, mais tempo sobreviverá. Pode haver exceções e posso até intervir, mas são muito raras essas oportunidades, porque para atender algum pedido, teria que prejudicar outros aspectos de um todo.

E deu-me um exemplo:

- Quando os exércitos alemães invadiram a URSS, na segunda guerra mundial, o povo alemão me pediu pela vida de seus seres. O povo russo também. Como poderia haver coerência nas minhas Leis se ajudasse um povo e não o outro? Quando chove, os seres humanos que desejam ir á praia, pedem-me para parar a chuva... Mas como parar a chuva, se os agricultores me pedem que chova? Se a vida vegetal precisa dela? Além de que seria um motivo muito mesquinho e insensato atender um pedido para que a chuva parasse. Enxurradas? Porque constroem em lugares que de antemão já sabem que são precários quando chove? Mas um dia não haverá exércitos que ataquem, nem será necessário parar a chuva ou fazer chover. A humanidade descobrirá como fazê-lo, ou se extinguirá. Também não interferirei nisso, que a interferir, teria salvado os dinossauros. Eles me pediram também.

Quando adormeci, tinha passado o segundo dia e era a segunda vez que me acontecia.

Rui Rodriguix

1- E eis o que me disse dia após dia...




1- E eis o que me disse dia após dia...


- Vai. Sai da cidade e encontra-me à noite na praia aonde não cheguem luzes das cidades...

E eu fui.

Olhei o céu. Vi as estrelas, umas amareladas, outras vermelhas, azuis e brancas, algumas alaranjadas. Eram de todos os tamanhos, todas pequenas, mas consegui imaginar que na medida em que me pudesse aproximar, ficariam cada vez maiores até parecerem infinitas. Umas mais longe, outras mais perto umas das outras. Quando olhei as profundezas escuras do mar, pareceu-me muito pequeno em comparação com o espaço acima da minha cabeça. Olhei a Terra girando no espaço. Como era linda, a atmosfera azulada, uma parte escura e por detrás dela ia aparecendo o Sol, ambos tão pequenos comparados com a imensidão do espaço... Mesmo assim, num lugar tão pequeno, ínfimo como a Terra, havia vida ainda menor, como as bactérias e os vírus. Todos com o direito á vida. Pensei na extinção dos dinossauros que já tinham herdado a Terra, e na possibilidade de homens e mulheres saírem a povoar os planetas do espaço que estava á minha frente, por todos os lados. Quando as caravelas portuguesas descobriram novos mundos, a Terra pareceu ter ficado muito maior. Os astronautas do futuro verão que suas naves espaciais descobrirão mundos que parecerão uma infinidade.  Vivo num mundo cheio de surpresas, mas elas demoram muito a revelar-se.

Junto a mim, sentado numa duna, havia uma daquelas flores da areia, roxa. Imaginei o nascer do dia, flores se abrindo. Flores que eu, de forma egocêntrica e egoísta sempre imaginara como dádiva da natureza para seu próprio embelezamento ou deleite da humanidade. Bastava pensar um pouco para constatar que a beleza das flores não era para mim que as cultivava e arrancava da própria natureza para oferecer como prova de amor- que nada provava – a uma bela mulher. Basta ver quem anda rondando sempre as flores: São uns seres pequenos, geralmente cascudos, voadores, que as usam para comer-lhe o néctar, geralmente perfumado. As flores atraem insetos que transportam, de uma a outra, o pólen necessário para a sua fecundação, para que deem semente, que a terra fará germinar para dar origem a novas plantas que originarão novas flores que serão polinizadas por novos insetos. Flores destinam-se aos insetos e servem para manter a natureza. Não são para mim nem para minha amada.

Para quem será realmente este mundo? Ou não tem dono, ou preferência de vida dominante?

Que mundo pequeno este, que Universo tão grande que parece infinito. Dizem que é infinito, mas não pode ser. Sei que é muito grande, mas se digo que é infinito este Universo, então o que pensar da infiniticidade do que existe para lá do espaço onde ele cresce a cada dia, a cada segundo?... Cresce para ocupar algum lugar. Esse lugar é muito mais infinito do que o Universo que o contém. E devem existir muitos mais universos. Têm que existir muitos mais universos.

Como estava ficando tarde e não havia vivalma àquela hora, voltei para casa ao som do vento que soprava na praia. E foi assim no primeiro dia, sendo esta a primeira vez. 

Rui Rodriguix

Os distraídos




 Os distraídos

Todos nós temos os nossos momentos de desarranjo mental. Não precisamos ser idosos, na flor da juventude, ou pequenas crianças que são apanhadas com a mão dentro do pequeno pote de mel, a mão que fica presa dentro dele para dificultar a situação. Acontece com todos. Como pintor e fumante, quando usava óculos, já enfiei o pincel dentro do copo de café, passei o cigarro aceso no quadro e levei os óculos à boca. É absolutamente normal. Já dizia um grande amigo meu que não podemos nos apavorar quando pela primeira vez não damos a segunda. Temos que nos preocupar quando pela segunda vez não dermos a primeira.

Carlos era um safado de marca maior. Traía a esposa sempre que tinha oportunidade. Tinha uma amante loura como a esposa dele. Um dia estava na porta do Motel, na fila, quando viu pelo espelho retrovisor uma grande amiga e o marido no carro detrás. Imaginando que ela iria contar para a mulher, disse para a amante:

- Luíza, puxa vida! Fiquei tão louco pra ver você que me esqueci de uns documentos para uma reunião que não posso perder amanhã. Desculpa-me mas vamos ter que voltar. Fica para outro dia. Vou direto para o escritório.

Luíza, já habituada ás trapalhadas de Carlos, reclamou sem incomodar. Carlos deixou-a em casa. Imediatamente ligou para a esposa e disse-lhe:

- Carminha... Estou com um tempo livre! Vamos num Motel? A Esposa  ficou agradavelmente surpresa. Carlos apanhou-a em casa e foram exatamente para o mesmo Motel de onde tinha saído com a amante. Passaram uma noite muito agradável.

No dia seguinte a amiga que vira Carlos com a loura no carro, na fila do Motel, ligou para a esposa dele:

- Carminha! Não ia te contar, mas não agüentei! Vou te dizer a verdade: Ontem eu estava com meu marido na fila de um Motel e vi teu marido com uma loura, no carro dele, na fila, bem na minha frente.

A esposa respondeu-lhe: Que nada!... Agradeço muito o teu empenho, mas era eu, boba!

Um dia, Carlos saiu de casa com a família. A esposa na frente, as crianças atrás com a sogra. Carlos andava sempre com mulheres no carro, onde elas costumavam de vez em quando esquecer algum objeto. Numa conversão à direita, Carlos reparou num par de sapatos no piso do carro, lá atrás. Discretamente, apanhou-os e um por um, jogou-os pela janela. Ele não queria confusões. Quando parou o carro, ouviu uns resmungos lá atrás. Era a sogra!

- Gozado!... Eu tinha tirado os meus sapatos porque estava com os pés inchados e agora não os vejo!... Onde será que foram parar? Alguém os viu?

Sem falar de um amigo, sempre preocupado com as coisas do escritório, que num domingo foi ao shopping com os três filhos e a esposa. Ele ficou no carro com os filhos enquanto a esposa fazia as suas compras. Passado um tempo, a filha abriu a porta do carro e voltou a fechar. Vira a mãe saindo do shopping e abrira a porta para que ela entrasse. Como a mãe deu uma parada, a uns cinco metros do carro, para conversar com uma amiga, a filha voltou a fechar a porta. O amigo arrancou de imediato e começou a conversar sobre as compras que a esposa teria feito, enquanto a mulher dele, desesperada, ficava gritando e acenando lá atrás na calçada!

Zeca, um amigo meu que bebia muito, um dia chegou em casa e custou a achar a chave da porta. Quando a abriu, foi repetindo para si mesmo:

- Esta a minha casa...
- Esta é a minha escada para o meu quarto.
- Este é o meu quarto.
- Aquela ali é a minha cama...
- .. E aquela é a minha mulher...
- .. OOpss.. E aquele ali ao lado dela na cama, sou eu !!!!

Minha prima Angélica é muito distraída e acha que sempre a estão roubando. Um dia entrou num ônibus com um vestido rodado e uma camisa de mangas largas, com um elástico no pulso. Sentiu um cara se encostando nela e pensou que ele estava abusando. Talvez fosse um ladrão. Olhou para o braço que estava segurando aquele tubo onde as pessoas se seguram para se equilibrarem, e não viu o seu relógio. Rapidamente tirou a escova de cabelo da bolsa, e encostando-a na barriga do fulano, disse-lhe:

- Bota o relógio aí na minha bolsa, seu safado!

Quando ela sentiu o peso do relógio caindo na bolsa, saltou logo no próximo ponto. O sujeito não saiu.

Ao pisar na calçada, a manga da camisa que estivera levantada enquanto se segurava no suporte, caiu. O relógio dela estava lá...

Olhou a bolsa: dentro, um relógio masculino.


Rui Rodrigues
  

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Mutilação genital feminina - Humanidade condescendente - até onde?





Mutilação genital feminina - Humanidade condescendente - até onde?

Falar do passado pode ser válido apenas como referência. As leis e os costumes estão mudando rapidamente, e até a moral, a ética, e os direitos humanos decorrentes parecem ter sempre duas faces dependendo em que extremos se incluem os que analisam os fatos que neles se podem enquadrar.

Por exemplo, para ocidentais – imaginando que seja inquestionável o que é ser ocidental – o corte do clitóris feminino enquadra-se como um atentado aos direitos humanos, em particular aos da mulher, e fere os seus costumes, a sua moral e a sua ética. Já para os adeptos deste procedimento, de forte tradição em quase toda a África central e em alguns países da Ásia, é um ato normal que faz parte dos costumes. Cerca de três milhões de mulheres são mutiladas anualmente por este processo. Em 2006, cerca de 140 milhões de mulheres em todo o mundo tinham recebido esta bárbara intervenção em seus corpos. Não bastassem as deficiências físicas a que todos estamos sujeitos, criaram esta para as mulheres nas regiões indicadas a título de que nasçam mais filhos homens, e de que não se vejam tentadas ao prazer com estranhos ao harém ou ao marido, dentre outros fatores. Com o corte do clitóris, grande parte ou a totalidade do prazer dessa zona erógena se perde nas mulheres. Fazem sexo porque têm que fazer, porque é assim. O ponto é: o que se pode e deve fazer para ir diminuindo esta prática até que cesse definitivamente?

Não me parece que uma intervenção armada sob os auspícios da ONU pudesse resolver esta pendência; Seria uma catástrofe, um erro colossal. Mandar agentes infiltrados para derrubarem o governo e instaurar uma nova Constituição, também não, porque o erro seria o mesmo, sob forma diferenciada. Comprar a mídia desses países para que começassem uma conscientização em todos os níveis, seria outro erro igual sob forma também diferente. Manter ONGS que cuidem desse assunto nesses países, é uma solução a muito longo prazo. Acredito mais num intercâmbio cultural. Em contato com a civilização ocidental, as influências seriam mais rápidas e abrangentes, e o movimento para mudar seria de dentro para fora, isto é, as próprias mulheres e muitos dos homens se interessariam por acabar com esta prática. O dinheiro pago às ONGS, e que não é pouco, seria utilizado para cobrir as despesas de intercâmbio. Ou se manteriam os dois processos.

O certo é que algo tem que ser feito urgentemente. Não se pode mutilar o corpo humano de forma tão trágica, a título de manter costumes e idiossincrasias, só porque alguém, lá atrás no tempo, também os tenha mudado para permitir o que vemos hoje. São três milhões de mulheres todos os anos, o numero total passa dos 150 milhões.

Podemos questionar muitos hábitos estranhos como este, lembrando que a Turquia, em contato com a civilização ocidental mantém uma firme liberdade de costumes em relação ao mundo muçulmano, apesar de ser um país muçulmano. Não vi na Turquia nenhuma mulher com o rosto coberto, nas cidades ou nos campos, embora muitas usem véus cobrindo-lhes os cabelos.

Evidentemente não faltará quem ache, por convicção ou para não se incomodar, que este é um assunto inerente às sociedades nas quais esta prática faz parte de suas tradições, mas nossa omissão em adotar uma estratégia eficiente e definitiva nos coloca numa situação tão desumana que é como se estivéssemos de acordo com esta prática.

A humanidade, e cada indivíduo em particular têm que ser livres para fazer com seus corpos o que desejarem, desde que não os usem para impedir, limitar ou fazer cessar a liberdade dos demais.

E somos responsáveis, completamente responsáveis pelo que está acontecendo a essas mulheres.

Rui Rodrigues


domingo, 1 de julho de 2012

A sedução e o amor num tapete voador




A sedução e o amor num tapete voador

Não há tornado ou vendaval que eleve um tapete no ar com duas pessoas a bordo e o deixe navegar sempre paralelo ao solo, levando o casal aos píncaros do vento, assistir ao nascer ou acabar do dia pintados de arrebol. Pensar que isso possa existir é insanidade. Olhar o pôr do Sol ou o nascer do dia, admirando as cores avermelhadas, alaranjadas ou em tons róseos, é um prazer que qualquer casal de namorados pode usufruir sobre um tapete, persa de preferência, á beira mar, sem testemunhas, os horizontes infinitos ao sabor da imaginação e da liberdade de se amarem.

Casais inexperientes vêm o infinito do mar como uma viagem certa, definida, longo tempo para navegar. Casais experientes vêm sempre o horizonte como algo que deve ser percorrido com cautela e precaução, terminar a viagem a qualquer momento se houver indícios de tempestade no mar. Para os primeiros, as tempestades são novidade e devem ser vencidas. Para os experientes, as tempestades são apenas tempestades e já sabem como acabarão. Não vale a pena lutar contra o fim inexorável: o mar vence, e o tapete é débil.

O amor não é nada complicado. Surge sempre de pequenos atos de sedução, como se nosso corpo fosse feito de órgãos independentes que trabalham uns para os outros, assim como o coração mantém o sangue circulando, o cérebro determina os ritmos e as ações para cada coisa e movimento, o estômago digere a comida.  Assim também a pele, os olhos, os ouvidos, a boca pela fala e as mãos e dedos pelo toque, cativam prazerosamente para a realização de um prazer maior; o ato sexual, onde o maior prazer, com o qual nada se compara neste mundo, pode explodir em alegria, realização, e relaxamento. Uma fonte de energia.  A Complicação do entendimento do amor vem exatamente da sedução e do que imaginamos que seja.

A sedução pode ser comparada com um tapete voador, de preferência persa, ricamente trabalhado, decorado, cativante, sobre o qual dois seres humanos realizam o desejo de se atrair mutuamente. Ambos sobem no tapete, e essas primeiras imagens da sedução, através de toques de pele, de olhares, de falas, de ouvidos atentos, são o próprio tapete. Viajam no tempo, juntos por breves instantes ou por anos, décadas, e olham o tapete de vez em quando enquanto atravessam o mar da vida. Quanto mais o olham, mais se convencem de que apesar de desbotado, puído, é apenas um meio de transporte de algo que se tornou maior: o amor.

Mas a sedução é também um jogo no qual se entra com maior ou menor convicção. Por vezes, nesse jogo, um dos passageiros desce do tapete ou puxa-o em sua direção deixando o outro no ar. Serve muitas vezes, esta façanha de risco, para que o outro lhe sinta a falta e retorne com mais vontade de continuar o jogo, mas pode acontecer que aquele tapete perca rapidamente a cor e fique puído em poucas tentativas deste jogo de rato e gato, e, quando se compara a cor e o estado do tapete nos primeiros dias com os últimos dias, nota-se uma diferença tão grande, tão abissal, que se volta para a praia de onde se saiu. Nestes casos, o jogo de sedução terminou, o amor foi tão modificado, que ou acabou também, ou se transformou em algo completamente diferente, como um veneno que mata aos poucos o coração, o estômago que vomita, pára os membros.

Dizem que homens e mulheres praticam o jogo de sedução de forma diferente. Não creio. Inúmeros tapetes voadores saem todos os dias para o mar transportando um casal, muitas vezes já com outros que viajam de carona sem que eles percebam. Reações comportamentais femininas são vistas em homens e vive-versa. A dor e a alegria são iguais no maior prazer na maior das decepções. Mas tudo não passa de uma biografia de viagem num tapete voador.

E não há nunca motivo para uma decepção total.

Na praia, no continente, há sempre novos pares que se formam, gente que quer formar um novo par, o retorno da viagem é garantido, o jogo de sedução pode sempre ser mais ou menos franco.

Há sempre um mar infinito a atravessar, um nascer de manhãs sãs ou insanas coloridas de vermelho, laranja ou cor de rosa. Como num arrebol. Pores do sol também. Cada casal escolhe a hora de iniciar a viagem. Quanto à sanidade, ela é relativa, apenas uma extremidade da sanidade.

Um velho lobo do mar nunca gosta de partir ao meio-dia.

Rui Rodrigues