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terça-feira, 3 de julho de 2012

2- Que voz era aquela?



2- Que voz era aquela?

Quando um dia me disse: - Vai. Sai da cidade e encontra-me à noite na praia aonde não cheguem luzes das cidades -e eu fui - não se tratava de uma voz propriamente dita, que ouvi. Era uma vontade muito forte de ir à praia esperando ver alguma coisa, ouvir, sentir. Tal como num dia semelhante dois anos atrás, cheguei na praia bem cedo, impulsionado por uma vontade muito forte e vi algo se debatendo na areia. Era um peixe, uma tainha de mais ou menos dois quilos, viva, fresca. Provavelmente chegara-se demasiado á praia e ficara para trás quando a onda retrocedeu mais rápido do que deve ter imaginado. Dois pescadores de tarrafa que eu conhecia estavam na praia e viram.

Tenho facilidade em encontrar facilmente respostas para muitos fatos, respostas essas que me parecem plausíveis, mas não posso atribuí-las a mérito próprio. Não estudei profundamente quaisquer assuntos ou temas que não fossem os relacionados com a minha formação em engenharia. A que devo essa facilidade? Tenho minha teoria, mas para que tenha crédito, devemos avançar no que pretendo contar.

Certo dia, pela manhã, chovia bastante e não vi conveniência em sair de casa. Tomei meu café e voltei para a cama porque me tinha deitado tarde e ainda estava com sono. A baixa temperatura de inverno e o barulho das ondas do mar ajudaram nessa volta ao descanso. Então me perguntei sobre a criação do Universo e ouvi a resposta.

- A lua gira à volta da Terra porque existem leis matemáticas e físicas que a fazem permanecer de forma estável nessa órbita. Ouve uma época em que a Lua estava mais perto da Terra, e quanto mais perto, mais rápida a sua velocidade tangencial. Nessa oportunidade, as fazes lunares se sucediam a cada dez dias em vez de 28 dias como atualmente. Da mesma forma, todos os astros do universo visível – e por suposto também da parte que não vemos – que está em perfeito equilíbrio. Porém, sem perder a validade, essas leis permitem, por exemplo, que a galáxia de Andrômeda se aproxime da nossa Via Láctea, sendo inevitável que um dia se choquem. Nessa oportunidade alguns hão de dizer que Deus os desamparou, tal como na antiguidade disseram que Deus tinha desamparado os exércitos de reis e imperadores, ou que não zelara pela vida de pessoas, muitas delas crianças, que haviam falecido inesperadamente. Deus existiria? E se existisse como seria? Como se comportaria perante sua obra?

Imaginei então que tudo o que vemos no Universo, na natureza, nesta vida, fosse obra do acaso. Tinha estudado a teoria das probabilidades e lidei com a matemática do cálculo envolvendo arranjos, combinações, permutações, desvio padrão, valor esperado de “x”. Por acaso este universo poderia perfeitamente ser dotado da lei da gravidade que mantém os astros em equilíbrio... Mas o que dizer do DNA, a molécula do código da vida? Claro que já temos dois “acasos”... Mas com quantos “acasos” nos deparamos na existência do Universo e de sua natureza? Facilmente verifiquei que entre os “acasos” que conhecemos aqueles de que desconfiamos existir, e dos que desconhecemos, beiram uma quantidade infinita... Não há probabilidade que resista a esta infinita quantidade de acasos. O próprio Big-Bang, para a densidade crítica se estabelecer entre 0,999999 e 1,000002, era uma impossibilidade esperada, tal como tentar colocar um lápis em pé apoiado na ponta de grafite. Então senti a voz que dizia:

- A existência do que vês foi calculada, premeditada, é complexa, autossustentável e perfeita. Uma vez criado o Universo, nada pode alterar a sua existência, nem a forma como se desenvolve e evolui, sendo cada parte não uma singularidade, mas uma parte do todo. No caso particular da existência da vida, para que os planetas não fiquem superlotados rapidamente, tudo o que nasce morre, e para retardar ainda mais a superlotação, cada espécie se alimenta de espécies diferentes, constituindo uma cadeia alimentar. Quando há um grande desequilíbrio no crescimento, provocado por alguma espécie que se reproduziu demasiadamente, as consequências são importantes apenas para essa espécie,  que pode extinguir-se, não para a vida no planeta que se reconstituirá, provavelmente com novas espécies que evoluirão das que sobrarem. Já aconteceu por duas vezes na história da Terra, a extinção de 98% das espécies, e na atualidade é fantástica a reconstituição da quantidade de espécies que nunca tinha sido tão grande anteriormente. Não me surpreendeu, mas gostei de ver a recuperação. Em outros planetas, acabou mesmo...

E continuou:

- Não me podem cobrar moralidade na existência da morte como fim do ciclo da vida, nem a responsabilidade pela perda de entes queridos ou batalhas travadas por exércitos, porque tudo acontece no Universo baseado em duas atitudes: A atitude das leis com as quais o Universo foi criado, e as atitudes da vida como um todo num planeta ou em particular, as de uma determinada espécie. Também não me podem cobrar o fato de me pedirem que interceda em algo, porque não intercedo. Se intercedesse, estaria dizendo a mim mesmo que as minhas leis não são perfeitas. Assim, não livro nada nem ninguém da morte. Cada ser de cada espécie deve cuidar da sua própria sobrevivência. Quanto mais se cuidar, mais tempo sobreviverá. Pode haver exceções e posso até intervir, mas são muito raras essas oportunidades, porque para atender algum pedido, teria que prejudicar outros aspectos de um todo.

E deu-me um exemplo:

- Quando os exércitos alemães invadiram a URSS, na segunda guerra mundial, o povo alemão me pediu pela vida de seus seres. O povo russo também. Como poderia haver coerência nas minhas Leis se ajudasse um povo e não o outro? Quando chove, os seres humanos que desejam ir á praia, pedem-me para parar a chuva... Mas como parar a chuva, se os agricultores me pedem que chova? Se a vida vegetal precisa dela? Além de que seria um motivo muito mesquinho e insensato atender um pedido para que a chuva parasse. Enxurradas? Porque constroem em lugares que de antemão já sabem que são precários quando chove? Mas um dia não haverá exércitos que ataquem, nem será necessário parar a chuva ou fazer chover. A humanidade descobrirá como fazê-lo, ou se extinguirá. Também não interferirei nisso, que a interferir, teria salvado os dinossauros. Eles me pediram também.

Quando adormeci, tinha passado o segundo dia e era a segunda vez que me acontecia.

Rui Rodriguix

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