O socialismo universitário dos anos 60-70
Hoje, depois de tantos anos
já passados, já posso falar livremente e à vontade. Não porque tenhamos o
governo que temos, mas porque o povo brasileiro pode aceitar muitas coisas,
menos perder o direito de falar livremente por ser a única atividade cultural
grátis, a única forma de interagir psicologicamente sem ter que deitar em sofá
inacessível de analista, a única forma de avisar sobre atividades contra os
interesses de comunidades ou do município, estado ou nação. Falar livremente é muitas vezes uma diversão,
uma forma de expressão do humor, podendo usar-se como foco desse humor o Papa,
Moisés, Maomé, o bispo Macedo, ou o apóstolo Valdomiro, deus até e ateus, sejam
todos estes – ou em parte – gays ou outra coisa qualquer.
No final da década de 60,
inicio da de 70, freqüentei a Universidade Federal Fluminense (Niterói) onde me
formei em Engenharia Civil. A única instituição de ensino paga que freqüentei
foi o colégio La-Fayette no Rio de Janeiro. Sempre fui um interessado pelas
ciências, de forma que estudar nunca foi sacrifício. Foi um prazer. Por
exemplo, quando assistia às aulas de Mecânica dos Solos do professor Homero
Pinto Caputo, eu já tinha lido os livros dele antes das aulas. Era-me fácil
entender o que ensinava. E onde arranjava tempo, eu não sei, porque nessa época
eu fazia estágio numa empresa de engenharia, namorava três meninas ao mesmo
tempo (mas em dias separados) e ainda fazia um curso de pós-graduação na PUC do
Rio de Janeiro a expensas da Capes, incrivelmente longe de Niterói e da casa de
meu pai na Haddock Lobo, Tijuca. Valeu-me uma parada respiratória e o médico me
disse que deveria parar com quase tudo: Fiquei com o estágio, uma menina e o as
aulas do ultimo ano do Curso.
Mas não era isto que queria
contar. Foi só o preâmbulo a uma faceta do socialismo estudantil dessa época: A
cola! Eu não colava. No inicio e de vez em quando, quando insistiam, eu dava
cola. Depois parei de dar. Achava que cada um devia ter seus méritos num mundo
de competição. Logo eu estaria disputando um posto de trabalho com um “colador”
que se formaria sem mérito algum, não bastasse ter de competir por postos de
trabalho com filhos de donos de empresas de engenharia. Este mundo tem de tudo,
menos de sociedades socialistas. Só em pequenos grupos pode haver socialismo. É
muito difícil dividir méritos e bens por quem não os tem. A única atenção que
se costuma dar é aos mais necessitados não por pena, comiseração, mas por que
incomodam. Esta é a verdade! Nos próprios templos, onde deveríamos ver a
solidariedade e o socialismo, porque é isso que pregam, das esmolas e dízimos apenas
uma mísera parte serve para aliviar os mais necessitados. Mérito e dedicação
são bens próprios de cada indivíduo. Daí minha relutância em dar cola. Mas
havia um outro motivo, Logo nas primeiras aulas de cálculo vetorial, no
primeiro ano, senti imensa necessidade de um cola. Pedi e ninguém me deu. Tive
minha primeira lição de socialismo universitário aplicado a bens imateriais.
Por isso, embutido da mais sólida consciência que teria de me virar sozinho,
passei a fazê-lo.
Agora imagine-se uma turma
nas ultimas provas do curso, no ultimo ano, quase todo mundo pendurado na nota
mínima para passar, e recebermos uma prova com apenas três questões cabeludas. Que
sufoco. Eu via todas as cabeças se virarem ansiosas para o os lados, pés
batendo na cadeira da frente, até que se voltaram na minha direção. Um chegou a
dizer-me: - Porra português! Me dá a primeira e a segunda que só consegui fazer
a terceira e tô fudido! Era um sinal de que ninguém sabia fazer as questões.
Para mim bastava acertar apenas uma questão para passar sem ter que fazer prova
final, mas se tivesse que fazê-la, não haveria problema. Então resolvi dar cola.
De uma só, a segunda questão, porém, faltando uns cinco minutos para acabar a
prova, notei erro meu nessa questão e
avisei o colega a quem tinha passado a cola... Mas não deu tempo para
corrigirem: Creio que nem sabiam como lidar com a informação. Minha turma tinha
42 alunos. Só dois não tiraram zero, porque o professor identificou o mesmo
erro numa questão da prova, a segunda, comum a 40 alunos.
Estes 42 alunos eram os
únicos remanescentes das turmas que tinham iniciado o curso cinco anos atrás,
com um total de 425 alunos admitidos em três vestibulares, porque o numero de
vagas não era preenchido pelo alto índice de reprovações no vestibular
unificado. Fazer engenharia naqueles tempos era dureza. Hoje não sei. Freud
pode explicar muita coisa que eu não posso, mas fico me perguntando porque
razão resolvi re-analisar a segunda questão tão tarde, a apenas uns dez minutos
do final da prova e corrigi-la... Como não pensar que desde o inicio eu tomara
um caminho errado de forma proposital, com um despertador interno que tocou o
sinal a dez minutos do final da prova? É certo que ninguém deixou de ser formar
por essa questão, o que tiveram foi que fazer uma prova final para a qual
tiveram que estudar o que nunca tinham estudado durante o ano todo. Devo ter
contribuído de certa forma para que estudassem. Todos tinham tempo para
estudar, e o único problema eram as prioridades. Alguns faziam parte de “grupos
de esquerda” que invadiam as aulas para dar prédicas. Combinamos com eles que,
por estarmos ali para estudar, que cederíamos nosso tempo de intervalo para que
viessem nos dar aulas de socialismo e que podiam trazer os livros vermelhos de
Mao Tse Tung, que os ouviríamos tranqüilamente. Perdemos muitos intervalos de
aula para ouvirmos, democraticamente, a esquerda “pensante” de nossa nação.
Hoje estão no poder, mas me pergunto que aulas eles perderam que nada mudou
neste país que piora a cada dia depois que gastaram toda a riqueza, como a
Petrobrás e outras, herdadas de governos anteriores de que tanto reclamavam e
de Fernando Henrique Cardoso, o governo que moralizou por alguns anos a
economia e a política nacional e internacional. Devem ter perdido muitas aulas,
colado muito, obtido diplomas às custas de amigos!
E não devem estar lendo
notícias do mundo há pelo menos 40 anos. Durante este tempo a Republica
Democrática Alemã, a China e a Rússia empurraram outros cerca de 90 países para
fora do comunismo, e Cuba reatou as relações com os EUA. O socialismo europeu
entrou em crise perturbando seriamente a solidez da Comunidade econômica
Européia, na maioria dos casos por corrupção. Políticos do cone sul da América
do Sul, concentram a política em “personagens” símbolos das dificuldades
sociais como Lula, Chávez, Fidel Castro (antes de voltar a reatar com Cuba) e
usam a linguagem dos anos 60 para mobilizar a ignorância em seus países para
lhes dar votos eleitoreiros cheios de esperança e fé no imponderável: Qual a
solução para a igualdade social? Esses políticos poderiam encontrá-la na
Alemanha, na Noruega, Finlândia, Suécia, Suíça, mas dizem convenientemente que
esses países são outra realidade. São sim, mas não são utopias. São reais!
® Rui Rodrigues
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