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terça-feira, 20 de janeiro de 2015

O socialismo universitário dos anos 60-70

O socialismo universitário dos anos 60-70



Hoje, depois de tantos anos já passados, já posso falar livremente e à vontade. Não porque tenhamos o governo que temos, mas porque o povo brasileiro pode aceitar muitas coisas, menos perder o direito de falar livremente por ser a única atividade cultural grátis, a única forma de interagir psicologicamente sem ter que deitar em sofá inacessível de analista, a única forma de avisar sobre atividades contra os interesses de comunidades ou do município, estado ou nação.  Falar livremente é muitas vezes uma diversão, uma forma de expressão do humor, podendo usar-se como foco desse humor o Papa, Moisés, Maomé, o bispo Macedo, ou o apóstolo Valdomiro, deus até e ateus, sejam todos estes – ou em parte – gays ou outra coisa qualquer.



No final da década de 60, inicio da de 70, freqüentei a Universidade Federal Fluminense (Niterói) onde me formei em Engenharia Civil. A única instituição de ensino paga que freqüentei foi o colégio La-Fayette no Rio de Janeiro. Sempre fui um interessado pelas ciências, de forma que estudar nunca foi sacrifício. Foi um prazer. Por exemplo, quando assistia às aulas de Mecânica dos Solos do professor Homero Pinto Caputo, eu já tinha lido os livros dele antes das aulas. Era-me fácil entender o que ensinava. E onde arranjava tempo, eu não sei, porque nessa época eu fazia estágio numa empresa de engenharia, namorava três meninas ao mesmo tempo (mas em dias separados) e ainda fazia um curso de pós-graduação na PUC do Rio de Janeiro a expensas da Capes, incrivelmente longe de Niterói e da casa de meu pai na Haddock Lobo, Tijuca. Valeu-me uma parada respiratória e o médico me disse que deveria parar com quase tudo: Fiquei com o estágio, uma menina e o as aulas do ultimo ano do Curso.



Mas não era isto que queria contar. Foi só o preâmbulo a uma faceta do socialismo estudantil dessa época: A cola! Eu não colava. No inicio e de vez em quando, quando insistiam, eu dava cola. Depois parei de dar. Achava que cada um devia ter seus méritos num mundo de competição. Logo eu estaria disputando um posto de trabalho com um “colador” que se formaria sem mérito algum, não bastasse ter de competir por postos de trabalho com filhos de donos de empresas de engenharia. Este mundo tem de tudo, menos de sociedades socialistas. Só em pequenos grupos pode haver socialismo. É muito difícil dividir méritos e bens por quem não os tem. A única atenção que se costuma dar é aos mais necessitados não por pena, comiseração, mas por que incomodam. Esta é a verdade! Nos próprios templos, onde deveríamos ver a solidariedade e o socialismo, porque é isso que pregam, das esmolas e dízimos apenas uma mísera parte serve para aliviar os mais necessitados. Mérito e dedicação são bens próprios de cada indivíduo. Daí minha relutância em dar cola. Mas havia um outro motivo, Logo nas primeiras aulas de cálculo vetorial, no primeiro ano, senti imensa necessidade de um cola. Pedi e ninguém me deu. Tive minha primeira lição de socialismo universitário aplicado a bens imateriais. Por isso, embutido da mais sólida consciência que teria de me virar sozinho, passei a fazê-lo.

Agora imagine-se uma turma nas ultimas provas do curso, no ultimo ano, quase todo mundo pendurado na nota mínima para passar, e recebermos uma prova com apenas três questões cabeludas. Que sufoco. Eu via todas as cabeças se virarem ansiosas para o os lados, pés batendo na cadeira da frente, até que se voltaram na minha direção. Um chegou a dizer-me: - Porra português! Me dá a primeira e a segunda que só consegui fazer a terceira e tô fudido! Era um sinal de que ninguém sabia fazer as questões. Para mim bastava acertar apenas uma questão para passar sem ter que fazer prova final, mas se tivesse que fazê-la, não haveria problema. Então resolvi dar cola. De uma só, a segunda questão, porém, faltando uns cinco minutos para acabar a prova, notei erro meu nessa  questão e avisei o colega a quem tinha passado a cola... Mas não deu tempo para corrigirem: Creio que nem sabiam como lidar com a informação. Minha turma tinha 42 alunos. Só dois não tiraram zero, porque o professor identificou o mesmo erro numa questão da prova, a segunda, comum a 40 alunos.


Estes 42 alunos eram os únicos remanescentes das turmas que tinham iniciado o curso cinco anos atrás, com um total de 425 alunos admitidos em três vestibulares, porque o numero de vagas não era preenchido pelo alto índice de reprovações no vestibular unificado. Fazer engenharia naqueles tempos era dureza. Hoje não sei. Freud pode explicar muita coisa que eu não posso, mas fico me perguntando porque razão resolvi re-analisar a segunda questão tão tarde, a apenas uns dez minutos do final da prova e corrigi-la... Como não pensar que desde o inicio eu tomara um caminho errado de forma proposital, com um despertador interno que tocou o sinal a dez minutos do final da prova? É certo que ninguém deixou de ser formar por essa questão, o que tiveram foi que fazer uma prova final para a qual tiveram que estudar o que nunca tinham estudado durante o ano todo. Devo ter contribuído de certa forma para que estudassem. Todos tinham tempo para estudar, e o único problema eram as prioridades. Alguns faziam parte de “grupos de esquerda” que invadiam as aulas para dar prédicas. Combinamos com eles que, por estarmos ali para estudar, que cederíamos nosso tempo de intervalo para que viessem nos dar aulas de socialismo e que podiam trazer os livros vermelhos de Mao Tse Tung, que os ouviríamos tranqüilamente. Perdemos muitos intervalos de aula para ouvirmos, democraticamente, a esquerda “pensante” de nossa nação. Hoje estão no poder, mas me pergunto que aulas eles perderam que nada mudou neste país que piora a cada dia depois que gastaram toda a riqueza, como a Petrobrás e outras, herdadas de governos anteriores de que tanto reclamavam e de Fernando Henrique Cardoso, o governo que moralizou por alguns anos a economia e a política nacional e internacional. Devem ter perdido muitas aulas, colado muito, obtido diplomas às custas de amigos!



E não devem estar lendo notícias do mundo há pelo menos 40 anos. Durante este tempo a Republica Democrática Alemã, a China e a Rússia empurraram outros cerca de 90 países para fora do comunismo, e Cuba reatou as relações com os EUA. O socialismo europeu entrou em crise perturbando seriamente a solidez da Comunidade econômica Européia, na maioria dos casos por corrupção. Políticos do cone sul da América do Sul, concentram a política em “personagens” símbolos das dificuldades sociais como Lula, Chávez, Fidel Castro (antes de voltar a reatar com Cuba) e usam a linguagem dos anos 60 para mobilizar a ignorância em seus países para lhes dar votos eleitoreiros cheios de esperança e fé no imponderável: Qual a solução para a igualdade social? Esses políticos poderiam encontrá-la na Alemanha, na Noruega, Finlândia, Suécia, Suíça, mas dizem convenientemente que esses países são outra realidade. São sim, mas não são utopias. São reais!


® Rui Rodrigues

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