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domingo, 4 de janeiro de 2015

Viver é muito simples e gostoso.


Viver é muito simples e gostoso.

Costumamos reclamar muito da vida. Então, para mostrar que não temos tantos motivos para reclamar, escolhi o mais difícil período da evolução humana para poder mostrar que a vida sim é muito simples, e gostosa de ser vivida. E como prova de que valeu a pena, estamos aqui para lembrar nossos amados ancestrais, nossos heróis, nossos milhares, milhões de pais e mães que ficaram no passado. Ficaram não. Se pudéssemos viajar a outro planeta em outra galáxia e assestássemos um telescópio super potente para a Terra, veríamos todo o passado de nosso planeta dia a dia, instante a instante e cada um deles. Mas falar desta possibilidade [1]é outra história.


Imagine um mundo selvagem daqueles tempos em que, extintos os dinossauros, os primeiros primatas começaram a palmilhar este planeta sempre em busca de fontes de água e árvores de frutos, arbustos comestíveis... Não tinham noção nem de quem eram, nem de onde estavam, e muito menos da razão, se é que havia alguma, de estarem ali, fazendo parte de pequenos grupos para melhor se defenderem dos predadores. Sim. Havia predadores, bastantes, fortes, ágeis. O tigre dente de sabre era um deles. O que pensariam esses primeiros primatas, numa situação de perigo, vendo um tigre dente de sabre atacando um membro do seu grupo, que se isolara por descuido, ou, para garantir a segurança do grupo, que se aventurara a ir um pouco mais á frente, assim como uma isca, um escuta. Talvez que o primeiro sentimento fosse o da perda de “algo” que fizera parte de suas vidas, e com o qual talvez até se tivessem divertido algumas vezes, quiçá um bom companheiro que os ajudava a colher frutas, um herói de lutas contra predadores, o mais atento do grupo que podia detectar o perigo mais facilmente que os demais. Talvez, porém, logo lhes adviesse um segundo sentimento. E agora, que ele estava sendo comido pelo tigre, quem iria à frente como escuta, para ajudar o grupo em seu caminho a são e salvo? Qual deles seria escolhido pelo macho dominante, o chefe, para a função? E talvez um ultimo sentimento, caso ele tivesse uma companheira, filhotes: Quem se tornaria responsável por eles? Como lhes contar a fatalidade?


Visto assim, a vida parece difícil, mas esses momentos tensos não aconteciam todos os dias, nem todas as semanas. Viviam tão preocupados com a vida do dia a dia, que o tempo para eles deveria ser muito relativo. Nem sabiam contar os meses nem os anos. Simplesmente viviam. Suas preocupações eram a água, o alimento, a segurança, conseguir uma fêmea para sentir prazer, mas para isso era necessário que ela tivesse “o cheiro”, aquele cheiro que os excitava, e elas nem sempre tinham esse cheiro. Não eram raras as brigas às dentadas, porque não conheciam armas nem utensílios para bater. Também não tinham nem idéia que transando poderiam gerar filhos. Seu faro apuradíssimo lhes salvava as vidas amiúde, percebendo a presença de predadores nas imediações. No entanto, predadores sempre pegam as presas mais fáceis, e esses nossos ancestrais não eram fáceis de pegar. Por outro lado, predador alimentado não costuma atacar, a não ser que se sinta provocado ou em risco e só matam o que precisam para comer. Por isso a mortandade entre eles era baixa. O maior problema eram as doenças, as quedas, a idade que geralmente não passava dos 30 anos. Mas não eram dias mais perigosos que os de hoje.


Podemos imaginar melhor vida que sair pelo mundo sem estradas, sem aviões, em contato direto com a natureza, sem grandes ambições porque os bens disponíveis se resumiam apenas a alimentação, água e oportunidade de fazer sexo? O máximo de que poderiam ter inveja era a força do mais forte do grupo para comer sempre o melhor pedaço, pegar o melhor lugar á sombra, ter a mulher mais apetecível. Mas quando descobriram o fogo, almejaram também se sentar no lugar mais conveniente perto do calor nos dias frios e nas noites escuras, mas isso era prerrogativa do mais forte. A descoberta da primeira arma, um tacape provavelmente, transformou seus objetos de desejo. Cada um queria ter o tacape mais eficiente. Depois, com a evolução, o arco mais duro e flexível, as melhores flechas, a melhor casa feita de varas e cobertas com peles de animais.

Estamos chegando a um ponto, nos dias de hoje, em que há tanta coisa, tanta coisa que se poderia ter, que queremos ter tudo. Continuamos apreciando a mulher do próximo, perdemos o faro para o cheiro das mulheres que já nem têm cio, porque isso se tornou irrelevante, já nem importância damos á virgindade, e até a cada dia mais de nós perdem o interesse por mulheres, e vice-versa, porque o objeto do desejo passou a ser o prazer, e não a mulher ou o homem. Discussões atentam contra o prazer e o matam. Já não precisamos viver em grupo, mas com tanta violência crescente, talvez tenha chegado o tempo de resgatar esse hábito dos nossos ancestrais. Andar em  grupos pelas ruas pode ser uma razoável  estratégia de defesa, até o dia em que os “predadores” percebam que também podem andar em grupos para terem mais eficiência nas “caçadas”. Por isso que muitos se isolam numa era de nossa evolução em que, em vez de 30 anos de expectativa de vida, já chegamos aos quase 80 anos. Somos agora mais altos e mais fortes que nossos antepassados e a coleção de bens disponíveis candidatos a objetos de nossos desejos, são inumeráveis.

Já pensou em passar seus dias vendo o nascer do Sol, trabalhar umas horas, comer, voltar a trabalhar, preparar o jantar, ver o pôr do sol, dar uma transada, conversar, tomar um copo de água e ler antes de dormir? Pode ter um automóvel, mas com tantos transtornos valerá a pena, com tantos ônibus, metrôs, trens, barcaças, todos com motorista privado, pagando apenas a passagem e nada mais? 
Apenas como exemplo.

E o que é “qualidade de vida” sem que nos tornemos escravos dessa qualidade?

Vale a pena pensar enquanto se lê sobre a vida na Terra, um conto de Shakespeare, um livro de história de qualquer nação, civilizações antigas, e há tanta literatura em prosa e verso... E com música então, fica muito melhor.

® Rui Rodrigues




[1] Passado, presente e futuro co-existem eternamente neste nosso universo. É uma vertente muito forte das características da Física Quântica. 

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