A
linha amarela, a ovelha e a inércia.
Entre
propriedade industrial ou direito de autor e domínio público, a diferença é
sutil. Não sabemos quem inventou a linha amarela, mas como o amarelo em todo o
reino animal é sinal de veneno ou perigo (animais que não devem ser comidos por
serem venenosos), alguém descobriu a “linha amarela” e a usou como lugar de “atenção”.
Vemos linhas amarelas em Bancos para controlar o acesso aos caixas para
atendimento, nos aeroportos para acesso ao “check-in”, em repartições públicas,
em faixas de pedestres, em traseiras de veículos pesados de construção, no
símbolo da radioatividade. No Rio de Janeiro exista uma via expressa com este
nome, onde de vez em quando ocorrem tiroteios entre bandidos entre si, bandidos
e a polícia, bandidos e veículos que passam por lá. Brasil se transforma num símbolo de
violência, o mundo reconhece, a linha amarela é um sinal de ordem que deve prevalecer
sobre o caos. Esta luta entre a ordem e o caos, é um motivo básico de todas as
religiões, de todos os estados deste planeta, da consciência de cada ser humano
que o habita. Por mais que por vezes se possa parecer “anarquista”, todos nós
gostamos de uma linha amarela. É aviso, é sobrevivência, é ordem...
Ovelhas são
seres de quatro patas, de olhar dócil, olhos com pestanas que choram quando
sabem que estão para serem abatidas, calmas, redondas infantis, obedientes a
qualquer cão pastor. Homens podem ser pastores, mas nada melhor que um cão
pastor para colocar as ovelhas em ordem. É fácil.
O problema são as ovelhas
negras. Nada a haver com os irmãos com pele negra, mas com a mentalidade das
ovelhas negras: São sempre do contra. Se o rebanho vai para a esquerda, a
ovelha negra, mesmo sendo branquela, vai para a direita e vice-versa para todas
as direções. Um dia fizeram um teste em ruas dos EUA. Colocaram uma linha
amarela pintada transversalmente em um passeio. Ela não tinha o mínimo sentido,
mas ninguém a ultrapassou. Todos os transeuntes se desviaram dela, com mais ou
menos hesitação devido ao inusitado propósito desconhecido e a contornaram
mesmo tendo que avançar no asfalto onde veículos passavam em comboios
controlados por sinais de trânsito por sua vez dotados de luzes verde, amarela
e vermelha.
Crie-se
uma nova lei e as ovelhas logo dela têm conhecimento. Bom... Pelo menos em sua
maioria, porque corre “vox populis”, e de boca em boca, logo se sabe da
existência desta lei. Mas são mais as leis ignoradas, desconhecidas. Muçulmanos
são obrigados a decorar o “Corão” seu livro sagrado [i]. O bom muçulmano é fiel ao
seu Deus, Ala. São os fiéis mais estritos a um livro. Todo o bom muçulmano é
obediente ao livro sagrado e se ele for conspurcado por sua mão direita ou por
alguém, deve ser enterrado.
Por isso o atraso científico e social em relação ao
mundo ocidental. O bom muçulmano é ovelha que não questiona nem uma vírgula [ii]. Os fiéis do mundo
ocidental questionam tudo. Podem desenhar para mostrar com simples traços, o
que levaria laudas para explicar por escrito. Isto está mudando no mundo
muçulmano, no mundo cristão, no mundo judeu, budista, tauista, no dos vedas, no
budista, candomblé, espiritismo... Tudo evolui.
Mas como?
É aqui que
entra a inércia da relação entre as linhas amarelas da vida, as ovelhas e os
pastores, ou quem nos impõe leis. Ovelhas habituadas por cultura, tradição,
oportunidade momentânea, levam certo tempo a se adaptar. As linhas telefônicas sofreram
acréscimo de mais um dígito inicial nove (9) no Brasil e as companhias que nos
vendem o acesso a preço de quilo de ovelha no mercado negro, nos dão um tempo
para nos adaptarmos... Da mesma forma, um automóvel em alta velocidade, ao lhe
serem aplicados os freios leva um certo tempo em que percorre certo espaço até
que a tendência de continuar seguindo em frente pela velocidade a que vinha,
cesse. A esta tendência de continuar o movimento se dá o nome de inércia. Um
trem parado para ser colocado em movimento precisa de uma potência transformada
em força enorme... Mas depois que começou a mover-se uma forcinha de criança a
faz continuar em movimento. Se for preciso que o trem se mova mais rápido
aplicamos-lhe uma força de “adulto”, e o trem da alegria ou da tristeza segue
em frente até encontrar uma linha amarela. Então o trem fica indeciso e pára. E
chegam os lobos.
Não estão
no título deste texto, mas chegam os lobos. Quem são os lobos? Isso não
importa. Basta que saibamos que existem e todos temos noção de sua existência
como boas ovelhas que somos, controladas por linhas amarelas e que sofremos do
mal da inércia: Demoramos a ter respostas para os nossos movimentos e
continuamos no mesmo caminho mesmo querendo mudar imediatamente, mas para mudar
de direção, é preciso vencer a inércia e fazer a curva em velocidade reduzida. Os
lobos podem ser simples ovelhas disfarçadas que pintam linhas vermelhas onde
não deveriam existir, linhas vermelhas por vezes disfarçadas de verde ou de
amarelo. Outras vezes são os lobos que nos aparecem pelo caminho obrigando-nos
a fazer curvas, assim de repente, e nós tendendo a continuar em frente, ou
querendo fazer a curva reversa, aquela que nos leva para longe dos lobos.
Quando os
lobos estão por detrás da linha amarela que nos tolhe o avanço para o alimento,
o conhecimento, a educação, a liberdade, então temos que nos unir, avançar a
linha amarela, e de herbívoros ruminantes, passarmos a ser antropófagas ovelhas
comedoras de lobos, ou de ovelhas disfarçadas com peles de lobo.
Qualquer
analogia com dificuldades para dormir quando contamos ovelhinhas pulando a
cerca tranquilamente – velho sonho de homens e mulheres – ou com a política
nacional e internacional não é pura coincidência [iii]. Ovelhinhas nos ensinam
em sonhos que cercas não são para nos deter, mas para serem puladas. Sem
alicates para não ferir a natureza...
Se a cerca
estiver pintada de verde, tome muito cuidado. Pode ser um engodo. Se estiver
amarela, tome muito cuidado, porque como a cerca não é de confiança, tanto pode
significar verde para passar como vermelho para parar... Se estiver pintada de
vermelho pule... cercas vermelhas nos mandam parar tudo para nos submetermos aos
lobos.
Pule sem
receio. Cercas para a liberdade não custam nada para a humanidade. Vidas
perdidas não são perdidas. Ganha a humanidade, a nação. As ovelhas ficam
felizes como se administradas por um Ministério da Suprema Felicidade.
® Rui
Rodrigues
[i] Eu tenho um e não sou
sequer muçulmano...
[ii] Não vai aqui nenhuma crítica ao mundo muçulmano. É uma
constatação. Quem é muçulmano pode não admitir em público mas sabe disso
perfeitamente. Cientificamente, o povo muçulmano parou no tempo desde os tempos
de Avicena, o médico famoso.
[iii] É pura intenção.
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