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sábado, 14 de julho de 2012

O amor num futuro muito próximo




O amor num futuro muito próximo

Não amamos ninguém só “porque amamos” ou é “assim mesmo”. O amor tem muitas componentes e paradoxalmente é mais simples embora mais complexo.

Pais violentos ou indiferentes podem fazer com que os filhos tendam para amar alguém com características diferentes ou até mesmo iguais, neste caso para terem um ”objeto” sempre presente para vingança, passando a usar os próprios cônjuges como se fossem os pais de quem se querem vingar. Pais que sempre reclamam da sua profissão e chegam em casa contando os problemas, reclamando do excesso da carga de trabalho, do salário, provocam geralmente nos filhos um afastamento de qualquer tendência a abraçar essa mesma profissão.

Comecei a abordagem do amor referindo-me à relação entre pais e filhos, por uma razão muito simples: a componente mais importante do amor vem justamente da aprendizagem com os pais. Aprendemos a amar e a odiar com nossos pais, assim como também aprendemos as tradições, religiões, comportamento. Só mais tarde, quando começamos a dar os primeiros passos a influência do meio começa a moldar o que resta para ser moldado em nosso perfil psicossomático. Em termos de “amor” tanto quanto se podia entender até o passado recente, era apenas um sentimento. Sentia-se amor ou não se sentia. Podia ser confundido com desejo ou até com ódio. Uma boa parte da humanidade continuará a pensar assim até que os últimos resquícios se apaguem nos túmulos e os ecos se percam nas novas juventudes que virão. Para as gerações modernas o amor é a maior ou menor capacidade de reagir a estímulos gerando neutransmissores que nos dão a sensação de prazer na presença do objeto amado. 

Nos tempos atuais o amor começa a ser questionado quanto à sua essência: se é moral, religioso, tradicional, ou uma combinação destes fatores, ou, se pelo contrário, é algo inerente ao funcionamento da vida, e se suas origens residem em processos químicos. Novas juventudes humanas ditarão os termos do amor no futuro, mas tanto quanto já se pode antever, os conceitos de amor estão em plena transformação e sendo questionados. Podemos constatar essas mudanças nas baladas e na ausência do “compromisso” - que sempre foi um empecilho para os relacionamentos mais desejados – na quantidade crescente de mães solteiras por opção própria, pela redução da quantidade de casamentos e pela enormidade de desquites, de separações e de divórcios. Sem falar na duração dos relacionamentos que decresce a olhos vistos.

A ausência de amor entre casais já teve explicações dúbias quer por “incompatibilidade de gênios”, quer por “outra pessoa” em suas vidas, ou por alteração das condições financeiras, intrigas de familiares. Hoje se busca essa alteração do nível de amor na falta ou abundancia de produtos químicos produzidos em nossos cérebros provenientes de estímulos visuais, olfativos, táteis, sonoros, vocais. São os neurotransmissores. O amor e a alma antes situados no nosso coração passaram agora a ser localizados no cérebro e isso faz uma diferença fantástica. Agora são bem mais racionais e menos intuitivos. Já sabemos ao nos aproximarmos de alguém do sexo oposto ou do mesmo sexo, o que nos interessa e porque razão. Podemos até avaliar quanto tempo durará a relação e nos aplicarmos em que dure mais ou que se reduza o tempo de duração. Quem está a par entende, quem não está ainda estranha e reza aos santos para que façam milagres.

Havendo vários tipos de neurotransmissores que atuam em zonas específicas do cérebro, podemos até adivinhar a farmacopéia do futuro: pílulas de neurotransmissores específicos que nos complementem o prazer que nossa amada não complementa e fazer durar mais a relação. Aquela célebre frase “eu o detesto mas não consigo largá-lo”, ou a mulher que ama mas apanha todo o dia do amado, estão com os dias contados: bastará ir à farmácia e tomar a pílula do “larga-me”, ou do “ama-me ou deixa-me”.

Os novos estudantes de psicologia logo aprenderão que o amor também “envelhece” na medida em que diminui a produção de neurotransmissores. O alheamento senil pode agora ser explicado, mesmo quando acontece em idades jovens. Aquela “trepadinha” em que um dos pares se vira para o lado e adormece porque seus neurotransmissores já fizeram o seu trabalho e já foram anulados, agora tem uma explicação funcional e não é apenas uma “falta de interesse” ou de amor. Precisamos habituar-nos ao comando do cérebro e não do coração.

O futuro é quase hoje e o amanhã está chegando. Prepare-se! Assim como o romantismo já foi pra casa do Afonso, o amor já freqüenta a casa da mãe Joana..

Rui Rodrigues

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