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quinta-feira, 12 de julho de 2012

A Crise Mundial de 2008 e o Brasil




A Crise Mundial de 2008 e o Brasil 


Se procurarmos nos antecedentes da crise de 2008 encontramos muitas referências. As crises acumulam-se, espalham-se. São assim desde que a humanidade teve consciência de que existia. Algumas referências perdem-se no tempo de nossos esquecimentos. Outras ficam-nos na memória para sempre ou são coletadas dos livros de história.

Podemos imaginar no Antigo Egito, antes que se inventasse a moeda, que num ano de safra normal de trigo uma arroba valesse uma arroba de boi em pé, que num ano de safra ruim de trigo, uma arroba valesse cinco arrobas de boi em pé, e que num ano de safra excelente, ninguém trocasse uma arroba de boi em pé por menos de cinco arrobas de trigo. Podemos imaginar a situação de um faraó, dono de enorme rebanho, em ano de safra ruim de trigo ter que vender toda a sua manada por pouco trigo. Imediatamente mandaria seus escribas negociantes à Mesopotâmia para importar trigo de tal modo que a disponibilidade de mercado parecesse como numa safra normal: Uma arroba de trigo, uma arroba de boi em pé. Se fizesse um esforço suficiente, poderia até vender uma arroba de boi em pé, por uma e meia de trigo ceifado, limpo, escolhido, selecionado, pronto para moer. Um faraó mau caráter, em ano de má safra de trigo poderia recomendar sacrifícios de bois nos templos de forma tal que os rebanhos quase se exaurissem nos sacrifícios. Quando chegasse a colheita, haveria poucos bois para vender, tal como o trigo, e a arroba de seu rebanho poderia valer uma e meia de trigo apesar da má safra: o povo sacrificava os bois, mas o faraó, não.  

É isso que fazem com o dinheiro, quem o tem a rodos: os Bancos. Bons banqueiros fazem sempre parte de duas entidades: a dos seus Bancos e do FMI. O grosso do dinheiro disponibilizam no FMI, onde o risco é mínimo, porque serve para emprestar a nações, protegidas por forças armadas, polícias, constituições, e cidadãos dignos. Aqui o dinheiro está seguro, os cidadãos podem pagar pelo dinheiro, com juros sobre os impostos e com estes. Quando os políticos resolvem, em associação com os bancos, enxugar o “capital”, este falta e temos uma crise. A crise tanto é maior ou restrita, dependendo da importância do país no cenário econômico mundial.

Países com ministros economicamente fracos ou fortes não fazem a mínima diferença, assim como também não importa se são de potências econômicas ou não. No primeiro caso, levam a sua economia ao desespero porque não sabem fazer o seu trabalho e acabam por recorrer ao FMI para suportar os desperdícios, sempre à custa dos cidadãos que pagam pelo descalabro. No caso contrário, os ministros são sempre indicados a partir de sua “experiência”: Eles vêm de experiências com bancos por que já passaram por eles e conhecem bem os “acionistas” do FMI. Normalmente já foram diretores desses bancos. Com as constituições disponíveis no mercado, os ministros de economia sendo nomeados por questões de “confiança” de governos, não há luz à vista no final do túnel: As crises suceder-se-ão umas às outras, com fartura de dinheiro no mercado, seguida de recolhimento dos lucros, a falta de dinheiro no mercado e a recorrência ao FMI para obter empréstimos.

Com falta ou abundância de petróleo, com altas ou quedas de bolsa, com safras enormes ou safras reduzidas, com o dólar alto ou baixo, o FMI está sempre de malas prontas para ‘ensinar” os senhores da economia como controlar a inflação, como reduzir o déficit público, como aumentar a produção.

Tudo a juros mais ou menos altos, conforme a sede de enriquecimento dos banqueiros. Pra isso contam com empresas “particulares” que analisam as finanças e classificam as nações como boas pagadoras de juros, ou más pagadoras.

As nações agora têm um selo de qualidade ISO-financeira. E não adianta sabermos ou não votar: Os candidatos estão todos comprometidos com este sistema em que teimamos em chamar de democrático. Pela primeira vez na história, em 2008 os governos das maiores potências retiraram dos cofres públicos enormes quantidades de verbas públicas que fizeram falta para a administração. A crise que não existia – bastava deixar falir três Bancos – passou a existir, e o dinheiro cedido para corrigir estes Bancos, passou como que milagre para o FMI que agora desfila seus homens e mulheres cheios de pastas, malas e bolsas, para ensinar os governos a diminuir as verbas da administração pública. Como resultado, faltarão serviços de saúde, de segurança pública, de transportes, de saneamento, de educação.

Democrático seria se pudéssemos destituir assim como contribuímos para constituir os representantes, incluindo ministros e assessores, não apenas vereadores, deputados, senadores, prefeitos, governadores, presidentes: pelo voto!

Mas só nos permitem – cautelosamente – que votemos apenas para eleger de quatro em quatro anos num grupo que não selecionamos, todos eles filiados a partidos que têm os seus próprios interesses. Deseleger, jamais! Isso depende apenas de quem elegemos, deselegendo uns aos outros não por incapacidade administrativa, mas porque se comportam “mal”... Entre eles, claro!

Rui Rodrigues

Apêndice:

  1. Sobre Democracia Participativa nos moldes da Constituição Suíça, da Islândia, Noruega, Finlândia, Suécia, ver  http://conscienciademocrata.no.comunidades.net/
  2.  Sobre as crises econômicas desde 1929, ler o magnífico artigo de Paulo Roberto de Almeida em http://www.pralmeida.org/05DocsPRA/2013CrisesFinancBr1929Plenarium.pdf

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