A Crise Mundial de 2008 e o Brasil
Se procurarmos nos
antecedentes da crise de 2008 encontramos muitas referências. As crises
acumulam-se, espalham-se. São assim desde que a humanidade teve consciência de
que existia. Algumas referências perdem-se no tempo de nossos esquecimentos.
Outras ficam-nos na memória para sempre ou são coletadas dos livros de história.
Podemos imaginar no Antigo
Egito, antes que se inventasse a moeda, que num ano de safra normal de trigo
uma arroba valesse uma arroba de boi em pé, que num ano de safra ruim de trigo,
uma arroba valesse cinco arrobas de boi em pé, e que num ano de safra
excelente, ninguém trocasse uma arroba de boi em pé por menos de cinco arrobas
de trigo. Podemos imaginar a situação de um faraó, dono de enorme rebanho, em
ano de safra ruim de trigo ter que vender toda a sua manada por pouco trigo.
Imediatamente mandaria seus escribas negociantes à Mesopotâmia para importar
trigo de tal modo que a disponibilidade de mercado parecesse como numa safra normal:
Uma arroba de trigo, uma arroba de boi em pé. Se fizesse um esforço suficiente,
poderia até vender uma arroba de boi em pé, por uma e meia de trigo ceifado,
limpo, escolhido, selecionado, pronto para moer. Um faraó mau caráter, em ano
de má safra de trigo poderia recomendar sacrifícios de bois nos templos de
forma tal que os rebanhos quase se exaurissem nos sacrifícios. Quando chegasse
a colheita, haveria poucos bois para vender, tal como o trigo, e a arroba de
seu rebanho poderia valer uma e meia de trigo apesar da má safra: o povo
sacrificava os bois, mas o faraó, não.
É isso que fazem com o
dinheiro, quem o tem a rodos: os Bancos. Bons banqueiros fazem sempre parte de
duas entidades: a dos seus Bancos e do FMI. O grosso do dinheiro disponibilizam
no FMI, onde o risco é mínimo, porque serve para emprestar a nações, protegidas
por forças armadas, polícias, constituições, e cidadãos dignos. Aqui o dinheiro
está seguro, os cidadãos podem pagar pelo dinheiro, com juros sobre os impostos
e com estes. Quando os políticos resolvem, em associação com os bancos, enxugar
o “capital”, este falta e temos uma crise. A crise tanto é maior ou restrita,
dependendo da importância do país no cenário econômico mundial.
Países com ministros
economicamente fracos ou fortes não fazem a mínima diferença, assim como também
não importa se são de potências econômicas ou não. No primeiro caso, levam a
sua economia ao desespero porque não sabem fazer o seu trabalho e acabam por
recorrer ao FMI para suportar os desperdícios, sempre à custa dos cidadãos que
pagam pelo descalabro. No caso contrário, os ministros são sempre indicados a
partir de sua “experiência”: Eles vêm de experiências com bancos por que já
passaram por eles e conhecem bem os “acionistas” do FMI. Normalmente já foram
diretores desses bancos. Com as constituições disponíveis no mercado, os
ministros de economia sendo nomeados por questões de “confiança” de governos,
não há luz à vista no final do túnel: As crises suceder-se-ão umas às outras,
com fartura de dinheiro no mercado, seguida de recolhimento dos lucros, a falta
de dinheiro no mercado e a recorrência ao FMI para obter empréstimos.
Com falta ou abundância de
petróleo, com altas ou quedas de bolsa, com safras enormes ou safras reduzidas,
com o dólar alto ou baixo, o FMI está sempre de malas prontas para ‘ensinar” os
senhores da economia como controlar a inflação, como reduzir o déficit público,
como aumentar a produção.
Tudo a juros mais ou menos altos, conforme a sede de enriquecimento dos banqueiros. Pra isso contam com empresas “particulares” que analisam as finanças e classificam as nações como boas pagadoras de juros, ou más pagadoras.
As nações agora têm um selo de qualidade ISO-financeira. E não adianta sabermos ou não votar: Os candidatos estão todos comprometidos com este sistema em que teimamos em chamar de democrático. Pela primeira vez na história, em 2008 os governos das maiores potências retiraram dos cofres públicos enormes quantidades de verbas públicas que fizeram falta para a administração. A crise que não existia – bastava deixar falir três Bancos – passou a existir, e o dinheiro cedido para corrigir estes Bancos, passou como que milagre para o FMI que agora desfila seus homens e mulheres cheios de pastas, malas e bolsas, para ensinar os governos a diminuir as verbas da administração pública. Como resultado, faltarão serviços de saúde, de segurança pública, de transportes, de saneamento, de educação.
Democrático seria se pudéssemos destituir assim como contribuímos para constituir os representantes, incluindo ministros e assessores, não apenas vereadores, deputados, senadores, prefeitos, governadores, presidentes: pelo voto!
Mas só nos permitem –
cautelosamente – que votemos apenas para eleger de quatro em quatro anos num
grupo que não selecionamos, todos eles filiados a partidos que têm os seus
próprios interesses. Deseleger, jamais! Isso depende apenas de quem elegemos,
deselegendo uns aos outros não por incapacidade administrativa, mas porque se
comportam “mal”... Entre eles, claro!
Rui Rodrigues
Apêndice:
- Sobre Democracia Participativa nos moldes da
Constituição Suíça, da Islândia, Noruega, Finlândia, Suécia, ver http://conscienciademocrata.no.comunidades.net/
- Sobre as crises econômicas desde 1929, ler o magnífico artigo de Paulo Roberto de Almeida em http://www.pralmeida.org/05DocsPRA/2013CrisesFinancBr1929Plenarium.pdf
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