A Rússia Emergente – História, Idiossincrasia
e Democracia.
O lindo e inteligente povo
russo é fruto de invasões de outros povos sobre uma base étnica predominantemente
eslava. Afora o estado Persa da antiguidade, a Rússia sempre foi e é o maior
país - ou império – do planeta. São 17 milhões e setenta e cinco mil
quilômetros quadrados com 145 milhões de habitantes e uma história rica no
cenário mundial. Mas para entendermos melhor o que se passa nesta grande nação
temos que retroceder na história e resumir o passado em algumas linhas.
- Um pouco de História
Logo após um povoamento
inicial na pré-história, e o degelo da era glacial, o território do sul da
Rússia foi ocupado pelos Citas, povo indo-ariano de língua iraniana no século
VI AC. Por outro lado, em suas investidas, os Vikings já faziam escravos a um
povo que habitava os Montes Cárpatos e a sul da atual Bielorússia bem como a
leste de onde hoje se situa Kiev. Os Vikings chamavam a este povo “Rus” e os
utilizavam como “Slav” ou escravos. Talvez daí os nomes de Rússia e Eslavos. Até
o século II DC os Citas eram o povo dominante, mas a partir daí e até o século
IX DC a região foi invadida por hunos, avaros e magiares. Apesar de dominados,
estes eslavos sempre foram a população dominante. O alfabeto russo, conhecido
como cirílico, deve-se a um diácono cristão de Constantinopla que evangelizou
os eslavos no século IX DC e criou esse alfabeto.
Em 1223 o povo mongol com um
exército de 25.000 homens invade a Rússia e derrota as coligações na batalha do
Rio Kalka fragmentando-a em pequenos principados como conseqüência. De 1236 a
1241 os Mongóis tomaram todo o território russo. Somente no século XIV, com a
batalha do Rio Ugra o povo russo se livrou do domínio tártaro a quem pagava
impostos regulares. Começou então uma expansão da Rússia iniciada pelo príncipe
Ivan III. Ivan IV – O terrível – foi o primeiro a usar o título de Czar. Morreu
louco em 1584, depois de ter sido obrigado na infância a assistir a torturas e
execuções pelos nobres que mantinham a ferro e fogo os seus feudos, fez o mesmo
quando assumiu o poder, tornando-se chefe da Igreja da qual expropriou os bens,
perseguindo os boiardos. Tinha certamente um transtorno bipolar. Perdeu o único
filho e não deixou descendência. A consolidação do território russo se deve em
parte á sua gestão.
No século XVII a Rússia já
era considerada uma grande potência européia expressa pela expansão
territorial, pelo desenvolvimento da indústria e pela criação de um senado e
ministérios nos moldes ocidentais. Em 1682 Pedro I ascende ao poder e em 1721
torna-se imperador do Império Russo com fortes laços comerciais com a
Inglaterra e junta-se à Prússia e á Áustria contra Napoleão em 1805. Pedro I sentindo
o atraso russo em termos de desenvolvimento, viaja 18 meses pela Europa e volta
com idéias renovadas, começando um franco desenvolvimento russo em todos os
campos da técnica, das artes e das filosofias de governo. Expande as fronteiras do Império até a
Moldávia, a Valáquia, toda a região de Amur e na Ásia central até a fronteiras
da Índia.
Somente em 1864 foi
decretada a emancipação dos servos, criando-se uma assembléia e uma junta
executiva - a Zemstvo. Alexandre III voltou a reduzir as liberdades do povo
russo: desprezava a influência externa que via como desnecessária e aditou
princípios nacionalistas. Seu ideal era o de uma Rússia homogênea na língua, na
religião e na administração. Envolveu-se em políticas anti-semitas
restringindo-lhes até as profissões. Isto resultou numa emigração de judeus
para os Estados Unidos da América no período de 1880 a 1920. Monarquia
absolutista desde o século XVI, A Rússia chegou a 1894 tendo à frente o Czar
Nicolau II num sistema absolutista tão forte e enraizado, que 25% das terras
pertenciam à nobreza, rica, e 80% da população, completamente pobre, estava
ligada à terra.
Sob o domínio do Czar
Nicolau II, e em disputa pelos territórios da Manchúria e da Coréia, o Império
Russo envolveu-se numa guerra com o Império Japonês. Com um território
imensamente maior, a Rússia foi derrotada perdendo a guerra no mar em 1905.
Sucederam-se revoltas populares exigindo uma mudança radical na forma de
governo e aconteceu a revolta no navio de guerra - O Encouraçado Potenkim. Além
de consolidar o Japão como um Império, teve esta guerra a conseqüência de
demonstrar a fraqueza do governo do Czar e de ser um dos motivos que daria
origem ao levante de 1917.
Em 1917 dá-se a revolução
russa com forte e decisiva participação de Lênin que assistiu à morte de seu
irmão mais velho Alexandre Uliánov por ter participado de um atentado contra o
Czar Alexandre III em 1887. Stalin governou a Rússia com mão de ferro. Matou,
assassinou, tudo em nome de uma ideologia que ruiu exatamente por falta do que
criticava: o capital. Sem capital, a URSS começou a ruir, incapaz de manter os
seus programas e planejamentos de governo. Perdia também a corrida espacial. Em
1985, Mikhail Gorbatchev assumiu o
poder e lançou o livro “Perestroika” com idéias inovadoras na direção de uma
reestruturação da economia e a “glasnost” no sentido de aliviar a intromissão
do estado em assuntos civis. Boris Yeltsin em 1992, com o Partido comunista já
na ilegalidade assume o primeiro governo liberal numa nova Rússia. Em 1999, com
Vladimir Putin no governo, a nova Rússia começou a mostrar os primeiros
sintomas de recuperação.
- Apenas
um pouco sobre Idiossincrasia
A densidade demográfica russa é relativamente baixa. Para
a riqueza do País, que tem área cultivável imensa, petróleo, diamantes,
minerais, e é praticamente auto-sustentável, com indústria moderna, o que tanto
se desejava no comunismo poderia ser agora possível com o capitalismo: Um país
enorme, com recursos naturais, produzindo de forma inteligente, com uma
população muito abaixo da superpopulação como o Japão ou Índia, uma grande
classe rica e absolutamente nenhum pobre, nenhum russo excluído nem dependente
do Estado. Não é isso, no entanto, o que se vê. Como em qualquer país do mundo,
a ambição humana é sempre exagerada e sem fundamento realmente válido.
Exigem-se cada vez maiores taxas de lucros visando o crescimento da empresa.
Crescer para dominar o mercado. Nesse sentido, retém-se o capital que pára de
girar e fica retido nos bancos esperando a oportunidade para “crescer”, ampliar
a empresa. Perdem-se postos de trabalho. O progresso fica contido. Sobem os
preços porque há menos quem compre. Segundo relatório do Banco Mundial A Rússia
tem hoje cerca de 40% de sua população abaixo do limiar da pobreza, ou seja,
vive com cerca de 1.000 rublos mensais, menos de 38 dólares. As expectativas são
de aumento do número de pobres.
O passado russo demonstrou uma enorme capacidade de
seu povo de “agüentar” situações de estresse por falta de alimentos, dinheiro,
condições, tudo em nome da mãe Rússia. Fazem-se sacrifícios em nome de uma
nação, mas na verdade os sacrifícios canalizam-se para uma classe que a cada
dia fica mais rica. Desde 1990 cerca de oito milhões de russos morreram
prematuramente. Para se ter uma idéia das discrepâncias, a Rússia ocupa o terceiro lugar no mundo
pelo número de bilionários, e o 13º pelo número das maiores empresas.
A renda russa não está
sendo distribuída de forma razoável pela população, e corre no ocidente a
desconfiança da legalidade das eleições em que Putin foi eleito.
O povo russo é um grande povo, inteligente, e tem
seus limites de aceitação do que é certo ou errado, mas tal como em qualquer
outro povo, o poder embriaga e Putín, para mostrar que tem poder, deixa Bashar
Al-Assad da Síria, um tirano déspota e ditador, abater 170.000 cidadãos sem que
se decida a contribuir para acabar com tal genocídio. Uma faceta de Pedro – O
grande – demonstram a idiossincrasia de quem governa a Rússia, como Krutchev
batendo com os sapatos na mesa em plena sessão da ONU: Em sua viagem de 18
meses pela Europa e assistindo a um plenário na sessão de visitantes em
Londres, Pedro foi convidado pelo governo inglês a habitar uma moradia de um
aristocrata inglês. Deixou a casa com móveis quebrados e retratos utilizados como alvos de tiro.
Pedro indenizou o proprietário com um enorme diamante bruto envolto num papel
sujo.
3. Um pouco ainda menos sobre democracia
Creio que já abordei sobre democracia na Rússia e seu
histórico de povo dominado de forma cruel por seus governantes ao longo da
história. Esta forma de dominar o povo é uma tradição russa. É um povo
habituado a ser dominado ora por idealistas que se perderam no gozo do poder,
ora por capitalistas que se perdem da mesma forma. Somente Stalin foi responsável
pela morte de dois milhões de pessoas por perseguição política e oito milhões
pela fome devido à sua ineficiência em proporcionar disponibilidade de
alimentos, num total de dez milhões. Há quem diga que foram vinte milhões de
mortes. A Rússia tenta reaprender o que é democracia mas não a encontrará nos
exemplos das demais nações do mundo exceto nas dos países nórdicos, da Islândia
e da Suíça, que fizeram aprovar uma nova constituição votada item por item pela
população via redes sociais. Os políticos democratas já não fazem o que querem
nesses países: fazem o que o povo manda ou aprova.
Em particular, Putín ainda acha que um aparente
antagonismo com o Ocidente lhe dará credibilidade junto a seu povo, uma áurea
de poder.
Rui Rodrigues
Para conhecer a Democracia Participativa: http://conscienciademocrata.no.comunidades.net/
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