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quinta-feira, 19 de julho de 2012

A insustentável leveza do desejo.(para adultos)




A insustentável leveza do desejo.

Seu sonho era tocar “sonata ao luar” só com a mão esquerda e com a direita explorar as virilhas e a entrada para o paraíso da loura que costumava sentar-se à mesa cinco sempre acompanhada de um sujeito que em sua opinião não valia nem um rap. Não sabia se era marido, amante ou amizade colorida, mas realmente não conseguia entender como uma mulher daquelas andava com um sujeito irritante como aquele. Pensou que talvez fosse uma mensagem ao mundo masculino dizendo que o assédio seria fácil, que estava disponível porque qualquer um era mis interessante do que o homem que sempre a acompanhava. Havia mulheres assim. No auge de sua beleza com tantos homens disputando a sua beleza, elas podiam escolher aqueles com quem se deitariam e com os quais desfrutariam de suas partes mais íntimas. Lançou-lhe mais um olhar na esperança vã de que ela desse uma cruzada de pernas. Aquelas belas pernas tão bem torneadas, lisas, joelhos perfeitos, pele levemente rosada. Suspirou e continuou a tocar “as time goes by”, aquela do filme Casablanca. A loura olhara-o como sempre, com aquele olhar que não queria dizer nada além de que gostava da música.

Na mesa numero cinco a loura bateu palmas quando o pianista acabou de tocar “as time goes by” (http://www.youtube.com/watch?v=F_bMFVDu9yo). Pegou seu copo de cerveja, deu um leve gole e comeu um pequeno pastel de bacalhau. Conversou com seu acompanhante sobre banalidades de que não se lembraria amanhã. Segurou-lhe a mão sem qualquer intenção de carinho, um gesto mecânico de marcar presença, dar-lhe a confiança de que estava com ele e só ele interessava. Vira o olhar do pianista que costumava olhar para suas pernas. Se olhasse para seu rosto mais do que para as pernas, ficaria preocupada. Significaria que ele tinha intenções de uma relação duradoura. O olhar-lhe preferencialmente para as pernas significava que ele queria seu corpo por uma noite, uma semana. Talvez um mês, mas jamais por um ano. Se resolvesse incentivar o pianista teria que mudar de boteco porque seus olhares se denunciariam. Não queria ficar falada. Seus amores eram segredos da alma que vivia todos os dias. Não queria machucar ninguém, mas não conseguia ficar muito tempo com o mesmo homem. Só com aquele que escolhera por ser exatamente como é: Um homem dedicado que a entende e que não faz muitas perguntas, porque sabe que a pode perder para outro num estalar de dedos. Ele ficaria uma vida inteira para arranjar outra como ela. O pianista era um cara interessante. Já o notara varias vezes, e vinha ao boteco porque se sentia bem com ele no piano. Abriu um pouco as pernas e cruzou-as bem devagar enquanto seus olhos aparentemente desinteressados se cruzavam com os do pianista.

Tocava agora “New York, New York” com entusiasmo (http://www.youtube.com/watch?v=aqlJl1LfDP4). Seu cérebro estava inteiramente nas coxas bem torneadas da loura. Seu coração batia mais forte. O mundo valia a pena. Queria beijá-la, abraçá-la, tê-la nos braços, explorar-lhe o corpo por inteiro. As notas da canção saiam automaticamente. Precisava aproximar-se, dar-lhe o seu numero de telefone, marcar um encontro. Esperaria mais um sinal que ela lhe enviasse. Um sorriso. Esperava por um sorriso daquela boca de lábios carnudos, vermelhos, como fruta doce, madura. Imaginou-se de olhos fechados beijando-a em algum lugar de um motel. Beijando-a em todos os seus segredos. Um por um, suavemente. Um de cada vez. Seus dedos corriam pelas teclas do piano como se percorressem o corpo daquela mulher loura, desejada. Desejava tê-la para si, um sentimento que não era de inveja do homem que agora a acompanhava, que para ele nem parecia existir. Era algo diferente, como saber que ela se interessava por ele, secretamente, dividir não só o corpo como o segredo de se unirem, estar dentro dela, receber seus carinhos e sentir-lhe o sexo úmido, desejosa de ser penetrada. Era isso que o inebriava: Sentir que ela o desejava. Sentir-se desejado tornava o tempo mais ansioso e extenso esperando pelo momento da consumação do desejo. Olhou-a novamente. Ela pusera os pés sobre o suporte para os pés da mesa, e do ângulo em que ele a olhou podia ver todas as suas coxas. Só ele podia ver. Ela o desejava. Não tinha dúvidas. Fez um sinal para o balcão de que iria interromper o seu trabalho. Acabou de tocar a canção que celebrizara Frank Sinatra, levantou-se. Passou pelo balcão, apanhou um papel e uma caneta. Dirigiu-se ao banheiro. Tinha que ser discreto porque o patrão não gostava de envolvimento entre empregados e clientes.

A bela mulher viu o pianista terminar a música, levantar-se e ir ao balcão. Viu quando ele apanhou uma caneta e um papel, e se dirigiu ao banheiro. Os banheiros masculino e feminino ficavam lado a lado. Tinha certeza que seu acompanhante também vira isso. Sabia que ele não poderia desconfiar de seu interesse pelo pianista porque não dera qualquer motivo, seu rosto não demonstrara emoções, seus gestos eram comedidos. No entanto não arriscaria a dirigir-se também ao banheiro para apanhar algum bilhete com um numero de telefone, um local indicado para um encontro amoroso. Não naquela oportunidade. Esperaria mais um pouco. Estava gostando de viver aquela aventura. Imaginava-se nua, ao lado do pianista tocando uma música romântica, sentar-se em seu colo, encostar-lhe os peitos abundantes em seu rosto, oferecer-lhe os mamilos para serem beijados, até mordidos levemente. Depois sentar-se em seu colo e dar-se toda até o ultimo milímetro de sua vagina úmida. Percebeu então que estava úmida, desejosa. Queria aquele homem naquele exato momento. Desejava que o tempo parasse e somente ela e ele se movessem no tempo, todas as outras pessoas olhando sem nada verem, paradas, imóveis, inertes. O homem a seu lado disse-lhe ao ouvido que chegara a hora. Iriam embora. Já tinha pedido e pago a conta. Iriam a outro lugar e depois voltariam para casa. Ela levantou-se e acompanhou-o quando o pianista já voltava para seu assento ao piano. Seus olhares se cruzaram rapidamente.

Ao voltar a sentar-se ao piano, começou com uma música antiga: “bye bye love” dos Everly Brothers. (http://www.youtube.com/watch?v=dTWOwUich78). Ficara repentinamente triste e melancólico. Aquele momento de prazer que somente os atos de sedução proporcionam havia passado de forma frustrante. Não tivera oportunidade de deixar-lhe seu telefone, marcar um encontro. Talvez ela nunca mais voltasse. Chegou a sentir um leve ciúme, sem saber em que mãos ela entregaria aquele corpo que ele queria somente para si. Não era possível que somente ele, um pianista, lhe interessasse fora daquele relacionamento que ela parecia ter com o acompanhante de sempre, que tanto poderia ser o marido como um amante. Pensou que talvez fosse melhor que fosse marido. Mulheres muito dadas, oferecidas, perdiam um pouco daquele valor que só se encontra na dificuldade em conquistar. Quanto mais difícil uma mulher aparentar ser, mais saborosa é a vitória de desfrutar de seus carinhos. É como se fosse sempre virgem, dando-se exclusivamente a um homem só. Ao homem que a “merecesse”, o que quer que merecer pudesse significar. Nem que fosse simplesmente o desejo de ter prazeres livres, sem compromisso, destinados apenas ao prazer pessoal. A loura parecia destas que se entregam raramente e apenas quando acham algum homem interessante. Ele por exemplo. Seu ego estava agora nas nuvens, mas não podia esconder sua frustração. Gostava de ser desejado e a espera, os adiamentos, eram um sofrimento. Um sofrimento agradável. Esperaria mais uma semana para voltar a vê-la. Até lá, sonharia.

Na rua, a loura entrou no carro do acompanhante. Ele disse-lhe: - Você gostou do pianista... Ela sorriu e comentou: - Hoje tivemos um dia agitado. Fomos naquela recepção na embaixada e depois ao boteco do costume. Quando precisará de mim novamente? Ele passou-lhe umas notas para as mãos, deu-lhe um beijo no rosto e disse: - Telefonarei. Você é a melhor acompanhante que eu já tive. Merece o que ganha. Semana que vem há um concerto e vamos com um grupo grande. Será na Maison de France lá no centro. Prepare-se. Quinta feira!


Rui Rodrigues




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