Corpo e alma, religião e amor - Pelo computador
(A leitura aplica-se a ambos os sexos como sujeito)
Somos uma humanidade que
ultimamente, depois de longos caminhos, se dedica a “viver os momentos”, “viver
o dia”, aproveitar tudo o que a vida nos dá porque pode não haver amanhã... E
cometemos o deslize imperdoável de querermos tudo o que pudermos arrebanhar da
vida. E assim nos vamos machucando uns aos outros, a cada tranco, procedendo da
mesma forma, como se os outros fossem diferentes: Escondendo nossas próprias
escoriações “.
Não escondemos nada de
ninguém. Não nos escondem nada. Por amor podemos até fingir que não percebemos,
que nem temos escoriações. Mas quem sabe o que é o amor – que muitos fingem não
existir?
A residência da alma está em
nosso corpo, em lugar privilegiado e se acende nas sinapses de cada neurônio: Está
em nosso cérebro, quase que perfeitamente acondicionada. Erroneamente disseram
que residia no coração, um mecanismo mais que simples de bombeamento de
líquidos vitais. Outros ainda imaginam a alma como uma áurea externa ao corpo
que até pode ser fotografada e tem peso... Já mediram o peso da alma ao
acompanharem o falecimento de doentes em hospitais: cerca de 22 gramas. Por
ironia, a mesmíssima massa suficiente para formar um universo como o nosso a partir
de um Big-bang.
Corpo e espírito são
inseparáveis, não podendo imaginar-se que um não sofra as influências do outro,
e, quando se trata de atração entre dois seres, que as mentes não interajam com
os corpos e vice-versa. Porém, o cérebro é também um mecanismo perfeito que
raciocina, pensa, evolui. Sigmund Freud foi muito mais além da alma, do
espírito e percebeu que a identidade de cada ser humano, que vem de formação
própria, herança genética, influência do meio, se dividia fundamentalmente em
três partes que constituem a “ID” ou identidade de cada ser humano: O ego, o
halter ego e o subconsciente. Neste contexto, todos eles constituindo não só a
ID de cada um, mas também a sua “alma”, aquela que seria, será, ou poderá vir a
ser julgada nos céus. Coisa muito temida por egípcios no tribunal de Osíris, e
por boa parcela da humanidade ainda nos dias de hoje.
Um dia, e isto é muito
importante, fizeram uma experiência num hospital com dois cérebros recém
retirados de dois doentes por morte natural; colocaram cada um em um recipiente
com soro para os manter pulsando por mais tempo. Afastados um do outro,
pulsavam em ritmos diferentes. Quando os aproximaram um do outro, quase
encostados, entraram em sintonia de pulsação em iguais comprimentos de onda.
Além de se comunicarem, ficou patente que as interações dependem da distancia:
quanto mais longe, mais fracas as interações. Dependerá o amor, também, da
distância?
Mas onde o amor se encaixa
em tudo isto?
Há os que são “bons” porque
simplesmente são ou parecem bons, e os que são bons porque têm que ganhar os
céus, vencer o julgamento ao final dos dias de vida. Como não sabem exatamente
o que é ser “bom”, tentam de tudo, mas não conseguem. Há quem não saiba o que é
o amor, o ser “bom”, a caridade, a abnegação, e até quem não saiba onde deixou
as chaves da casa, o que comeu ontem. Somos muito diversos, sobretudo naturais,
e temos o amor como um bem próprio, íntimo, de interpretação própria. Madre
Teresa de Calcutá, senhora muito boa, não queria mudar o mundo para acabar com
a pobreza. Queria ajudar os pobres. Sentia-se feliz em ajudar os pobres. De
ajudar o mundo a acabar com a pobreza já tinha desistido. Caminhava em estradas
paralelas no amor pelo mundo. E isso era amor! Sem dúvida. Amor pelos outros.
Há assim muitos tipos de amor, e se formos procurar por este mundo, de forma a
aproveitá-lo muito bem, teríamos que ter milhares de amores (leia-se masculino
x feminino conforme o que desejar): o amor com quem fazemos sexo, o amor
daquela que nos apóia no lar, o da outra que nos ama com a alma, a que nos dá
tudo, a que nos dá só uma coisa mas é muito especial, a que escuta nossas
confidências e não pede nada, e para alguns, a que se aluga para mostrar para
os outros.
Se nos detivermos na
natureza, à luz pura e simples de suas leis, sem interferências de teólogos ou
filósofos, constatamos que a natureza nos dá o conceito de sexo para podermos
procriar e que para isso é necessária uma “atração” sensorial produzida pelos
sentidos que temos, como o tato pela pele, o olfato, a imagem, os sussurros...
Todas essas informações levadas ao cérebro produzem a sensação de amor, e deve
manter a parceira junta a nós até que engravide e siga as leis da natureza. Em
princípio como atração física, chamam a isso de amor quando as substâncias
químicas produzidas na troca de informação entre os sentidos e o cérebro já
produziram dependência química no objeto amado, que pode até ser uma boneca
cara, quase perfeita, importada do Japão. O cérebro é um complicado mecanismo
de recompensa.
Incautos, achando que “elas”
não percebem, vamos seguido nossas próprias razões para amar, vamos vivendo, e
em geral, que quase já é uma regra, vamos sofrendo com a nossa liberdade de
sermos livres e acharmos que amor não existe.
Mas admitamos que perdi meu
tempo na vida estudando o que é viver vivendo, que não li Freud, que não
entendo de religião, nem de espíritos, nem de IDs, nem de amor ou “da vida”.
Isso realmente não deve importar.
Podemos ser felizes engavetando os problemas. Também podemos ser felizes resolvendo-os de uma vez para que não os deixemos para trás. Podemos ser felizes evitando-os, como montanhas enormes que nada fazem, mas que nada as pode desfazer. E podemos ser felizes resolvendo os problemas dos outros.
Admitamos também que somos um
conjunto de seres humanos que querem passar bem a vida, ainda que enganando os
outros, ou abusando porque aceitam o inaceitável – sempre tudo por amor, mas
que a carga emocional seja muito grande... Nesse caso temos dois caminhos: Tomamos
um remédio para alegrar (dizem que o prozac é muito bom) ou fechamos as portas
do halter ego que dá no mesmo, e vamos viver a vida, dizendo que somos livres,
fechando em baús de aço, enterrados a 100 metros de profundidade, dentro de
masmorras inatingíveis todos os problemas que a moral nos causaria.
Escrevi isto para resolver
os meus problemas relacionados com recompensas cerebrais impossíveis e improváveis,
devido a cérebros ainda vivos, a longa distância um do outro e com IDs próprias.
Amor existe sim, mas a humanidade está descrente em muitas coisas e ávida de
liberdade!
Isto é para você, querida
amiga Maria Albertina Landerish, onde quer que esteja. Fique bem !
Rui Rodrigues.
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