Minha última árvore!
Estamos em 2012, e começa a
segunda metade do ano. Estamos em Junho. Olhando para os mares, vê-se que
barcos japoneses continuam a caçar baleias “para estudos” e certamente não lhes
jogarão fora a carne. Aqui, num lugar onde oliveiras não costumam crescer,
acabo de plantar uma muda. Já plantei bastantes árvores em minha vida. Já
mataram muitas baleias pelos mares deste mundo. Juan Carlos, um desses
reizinhos tradicionais que ainda vivem por aí às custas da vaidade de alguns
povos, sem o poder de outrora, caçou elefantes, gnus, animais selvagens,
gastando o dinheiro de seus “súditos” como se ainda houvesse súditos, num
momento em que a Espanha está com 50% de sua juventude desempregada, 24% de
desempregados, a Cruz Vermelha Internacional pedindo ajuda para 300.000 que
precisam de alimentos. Muitos e muitos espanhóis plantam árvores e não somente
oliveiras.
O terreno onde plantei a
muda é arenoso, mas sei que a oliveira é resistente, e com terra adequada, com bastante
húmus que substitui pela areia como base, vingará. Um vizinho já teve uma.
Cortou-a porque não teve paciência e nem sabia que antes dos cinco anos, não
produzem fruto. Baleias também têm um período longo para atingir o estágio
adulto e depois de fecundadas demoram bastante para parir.
Baleias morrem. Reis morrem.
Oliveiras morrem. Tudo passa. Plantadores de árvores também morrerão, e há
muito que plantar. Plantaram muitos eucaliptos, mas poucas árvores de fruto. As
ruas das cidades quando têm árvores não são de fruto. São para embelezar,
porque não conhecem a beleza das árvores de alimentar. Esses não são
plantadores de árvores.
Em perigo de extinção,
deveriam preservar as baleias que têm expectativa de vida muito menor do que as
oliveiras. Estas chegam a viver milênios. Darei um nome a esta minha oliveira.
Chamar-se-á Jubarte. Nós, humanos, os caçadores de baleias e os reizinhos
duramos menos, mas temos algo que as oliveiras e as baleias não têm: A história. Temos a
história para nos contar sobre o que fizemos e o que fazemos. Parece que, em
sabendo ler, pudéssemos aprender com as histórias antigas a construir uma
história cada vez mais humana e melhor, mas quem faz a história, pescadores de
baleias, reizinhos e plantadores de árvores que embelezam, não estão
preocupados com a história. Plantadores de árvores de fruto não fazem história.
Passam a vida a reclamar.
Diziam antigamente que do
caos Deus fez os universos e que estes são a sua grande Obra. Os que não
acreditam em Deus, dizem que esta é uma grande Obra. Ambos estamos certos. Esta
é uma obra maravilhosa que parece estar retornando ao caos como se fosse um
ciclo de um circulo. Ciclo não é, que Einstein, um plantador de idéias, já
descobriu que não. Este Universo está fadado a continuar com ou sem plantadores
de árvores, com ou sem reizinhos assassinos de vida selvagem, com ou sem
pescadores de baleias.
Seguirá sem mim. Já segue
sem muitos e todos os que já passaram. A imensa maioria nem faz parte dos
livros de história. Por pouco o mundo estará para seguir sem micos-leão
dourados, e já ficou sem dodôs, sem preguiças gigantes, sem mamutes e sem
tigres dente de sabre. Até os enormes e poderosos dinossauros se foram. Que
importaria para os pescadores de baleia, os reizinhos caçadores de vida animal,
ou os plantadores de árvores que só embelezam, que a vida se acabe, a cada dia
mais uma espécie?
Que lhes importa se um dia
esta humanidade acabar por falta de espaço, por falta das espécies que fazem
parte de um ambiente sustentável, por falta de árvores que alimentem, e de
baleias? Que ordem se permite neste mundo ou que desordem satisfaz aos que
fazem a história e constam dos livros por fazarem a história?
Minha esperança é que a
oliveira, que pode viver mais de dois mil anos, continue a viver para me contar
um dia, se houver oportunidade. Mas isso depende dos senhores que fazem a
história. Poderíamos ser nós a fazê-la, mas lhes delegamos a
representatividade.
Chamei-a de Jubarte. Poderia
chamar-se humanidade com mais razão!
A menos que participemos das
decisões na história. Já!
Rui Rodrigues
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