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sábado, 9 de junho de 2012

Falando sério... Sobre o amor




Falando Sério...
Sobre o amor  e não é piada.


Aqui no Bar do Chopp Grátis passam tipos de todos os tipos, caras com várias faces, sujeitos sem predicado e outros sem complemento do sujeito, seres que são, outros que parecem e que não são, outros que perderam o rumo e nem sabem onde estão. Alguns bebem muito, outros pouco, e outros ficam na conversa segurando um copo vazio, vendo se ainda lhes sai fumo dos dedos. De vez em quando se confessam como se estivessem diante de um padre. Talvez por causa de minha roupa preta e branca de barman me confundam com padres. Mas também não sou barman, embora de vez em quando vá para detrás do balcão. Se me descobrem logo me levanto e para disfarçar, começo a preparar umas Margueritas, Bloody Mary, Irish Coffee. O que tiver á mão. Pisco Sauer, Caipirinha ou traçado para matar. O Traçado, para quem não conhece, é uma mistura, sem chacoalhar, de cachaça com Martini Rosso sem azeitona, sem cereja, sem nada. Depois de uns quatro ou cinco, podem chamar a ambulância que vai dar coma alcoólica.

Ela vai para o caixa, sorrateiramente, também para disfarçar.

Pedro Barbosa costumava vir ao bar acompanhado de uma gringa loura, bonitaça, peituda, uma bunda almofadada, pele cor de rosa e um sorriso maroto de lábios grossos, sempre olhando por detrás dos ombros do Pedro Barbosa, com toda a cautela para não levantar ciúmes. Ele estava apaixonado e não reparava em nada. Ela reparava em tudo com uma memória fotográfica. Ele jamais perceberia os bilhetes que outros me pediam para passar àquela bela mulher. Eu concedia o favor porque os bilhetinhos sempre vinham acompanhados de uma nota poderosa do tesouro nacional ou internacional. Minha consciência estava quieta lá no seu canto, descansando das problemáticas da vida. Estas coisas nunca acontecem conosco.

Um dia, Pedro Barbosa chegou sozinho. Calado, macambúzio. Sentou-se, pediu um traçado. Achei que a coisa estava feia mesmo. Sempre pedia umas Margueritas. E logo pediu mais um, como se competisse com ele mesmo para ver quem agüentava mais. Lá pelo sexto traçado, Pedro Barbosa levantou-se sem dizer nada, deu um impulso na direção do banheiro e voltou a sentar-se. Pediu mais um que deixou em cima da mesa, inerte, inteiro e começou a contar-me uma história. Como estávamos a sós resolvi atender a sua necessidade de falar. Eu não estava fazendo nada mesmo, porque o bar estava quase vazio.

- Paquito... (nunca entendi porque me chamava de Paco no diminutivo, se nem bigode eu tenho e não uso chapéu mexicano)... Lembra aquele mulherão que eu sempre trazia aqui? Ela foi-se, a Sofia!... (Eu já desconfiava)... Estou triste! ...Quer dizer... Nem estou!

(deixei rolar o silêncio)

- Cara... Já vi de tudo. Já traí sem ser traído, já traí e me cornearam. Mulher é um bicho doido. Uma viveu comigo cinco anos. Tínhamos dois filhos. Um era meu. Descobri que o outro não era porque suspeitei e pedi a um amigo que fizesse um teste de DNA, porque desconfiava de um sujeito... Já tínhamos trabalhado juntos nessa cidade e achei o moleque parecido com ele... Mas afora isso nem tinha motivo sério para desconfiar. Fui até essa cidade distanciada uns dois mil quilômetros e consegui arrancar uns cabelos do braço dele passando-me por veado... Não deu outra. O moleque era filho dele. Num falei nada. Arrumei as malas e zarpei fora. Soube que ela botou o cara na justiça e ganhou uma renda mensal. Quer dizer... Se eu não descobrisse a tramóia, ela ia deixar que trabalhasse a vida toda feito um filho da puta pra cuidar de outro filho da puta... E o cara lá no bem bom...  Chamava-se Alice. Rodou.

(Eu deixei rolar o silêncio. Quem estava mais distraído era eu que não estava bebendo, absorto pela narrativa dele. Digo isso porque me pediu mais um traçado. Olhei o copo dele e estava vazio. Juro que nem vi quando tomou o copo. Deve ter sido de uma vez só)

- Paco... (Olhou pra mim)... Tu é casado? (senti uma sapatada na cara, como se o sapato tivesse sido atirado por catapulta, á queima roupa)

- Não, senhor Pedro Barbosa. Nunca fui... (resolvi descontrair) E para que veja que não está sozinho nessa aflição, conto-lhe que  namorei um menina com 19 anos, e a peguei dando o traseiro, que sempre me negara, para um sujeito que nem cheguei a conhecer. Tava ela lá de quatro na cama, gemendo: Ai... Ai... Assim você me mata... Deu-me vontade de dar uns sopapos na cara do sujeito – que estava de costas - e acabar o serviço que ele estava fazendo, mas me contive. Saí de fininho, nem me viram. Nós nos encontrávamos no apartament de uma amiga dela, independente, que dava umas saídas estratégicas quando nos encontrávamos. Já que disse o nome da sua, esta chamava-se Maria. Ela me avisava sempre que se alguém batesse á porta, para não atender. A amiga tinha um namorado ciumento que aparecia de vez em quando (nem me passou pela cabeça contar-lhe que no apartamento havia uma geladeira que quando o termostato ligava, ela fazia barulho e me assustava).

- ha... ha... ha... (disse ele lentamente, sem sorrir)... Já passei por essa também!... Cara... (agora eu já não era Paquito nem Paco)... Duvido que tu tenha mais experiência que eu nessas coisas... Quer ver? (e continuou).

- Conheci uma, calminha, toda recatada que vivia com os pais. Também tinha 19 anos e dizia que era virgem, quando a conheci. Eu tinha 22 e não acreditei. Quando transamos a primeira vez, ela sabia todas. Foi uma loucura. Fiquei meio surpreendido e vi nos lençóis uma manchinha de nada, esmaecida, diluída, cor de sangue. Pensei:... Deflorei a menina! Agora vou ser pai, não posso mais estudar. Minha vida foi pro esgoto. E vou ter que casar, porque ela é filha de boas famílias e vive com os pais. Passei assim uma semana mais ou menos. Um amigo meu me tranqüilizou. Disse que sabia que ela já tinha tido uns caras, escondido dos pais, e que não contara para ninguém que a vira ir acompanhada com um deles para a casa de uma amiga que saía para que eles ficassem lá. Não queria que houvesse falatório da menina por causa dele. Cara legal.

(Pedro Barbosa olhou para mim e disse): – Era costume naquela época ter uma amiga que facilitava as coisas, né?... Ela chamava-se Maria. A partir desse dia, abusei mesmo. Fiz tudo com ela. Certa vez em que nos encontramos no aprtamento começou a dizer que se alguém batesse á porta era melhor ficar caladinho e quieto, porque a amiga tinha um namorado muito ciumento que costumava ir lá procurá-la. Se ninguém atendesse, ele iria embora. Ainda continuo com ela. É a minha garota de fé.

- Olha que coincidência, Paquito... (o Pedro Barbosa olhou-me intrigado, quase rindo)... A sua era Maria, tinha uma amiga que cedia o apartamento, que tinha um namorado ciumento... Só falta dizer que a geladeira dava um tranco quando o termostato a ligava... Tomei muito susto com isso...

Eu já ia no décimo traçado quando ele ligou o celular pedindo um táxi.

Logo que saiu, Sofia saiu de trás do balcão e veio sentar-se ao meu lado no sofá

Rui Rodrigues

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