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domingo, 24 de junho de 2012

Três Vérsicos Controversos


Três Vérsicos Controversos




1- O amor do começo ao fim



Olhei teus olhos límpidos, lânguidos, úmidos,
Olhavas-me no mais fundo de minha alma,
Buscavas sermos um em mim,
Como esperavas que fossemos um em ti,
As mãos suaves percorrendo nossos corpos,
Buscando as nossas intimidades para dar prazer,
Para sentir o que se sente quando se ama, se deseja, se quer.

Teu corpo ficou suave, mole, entregue, como se não houvesse amanhã,
Tuas pernas se abriram, teu corpo era uma viagem,
Tua boca sedenta era demasiado pequena para a tua ânsia,
Teu corpo tremia, tua pele colava-se à minha,
Éramos um só, um prazer só, um gozo só, um suor só, um tremor só.

Mas isso foi há muito tempo.

Depois disso, começaste a comparar os meus olhos com outros olhos,
Minha alma com outras almas,
Minhas mãos com outras mãos,
Minhas intimidades com outras intimidades
Meus desejos com outros desejos, com outros amores, com outros quereres,

Tua carne ficou endurecida pela tensão do haver um amanhã,
Tuas pernas abertas queriam fechar-se como num fim de viagem,
Tua boca já seca era demasiado grande para quem não tem ânsia de sede,
Teu corpo estava rígido em tua pele seca,
Não éramos um só, porque muitos estavam presentes.

Então, quando o camareiro do tempo bateu na porta e disse: O tempo acabou!
Arrumamos os nossos sacos das más lembranças que levamos para o amanhã.

Deixamos as boas lembranças no Motel do tempo, esquecidas, para não haver arrependimentos.

Algo Domm

Vérsico I -012



2 - Fado da Traição




Dedilho-te este meu fado
Na minha guitarra triste
Deita-te aqui ao meu lado
Que já estou de arma em riste.

Dedico-te este fado catita
Tocado com dedos alegres
O que me faz essa boquinha
Amor dos meus prazeres

Nem me fales de Severa
Que ela só fazia de frente
Contigo linda, minha bela,
És mulher por detrás e adiante

Ser santa, minha gostosa amada,
È coisa só para teu marido
Comigo e com uma almofada
Es tu que acabas comigo

Que o amor, desejo ou paixão
Que tenho por ti, bela mulher,
No banco, na cama ou no chão,
Seja livre e solto a hora qualquer.

Por isso, se na rua me encontrares...
Com outra mulher nos braços,
Junta-te também a essa
E venham as duas para os amassos.

E assim acabo este fado
Pra acabar com essa mentira
De que a teu marido dás o amor
E a mim só esse corpo de ávida.

É a vida sem desculpas,
É a vida é a vida
É a vida verdadeira
É a vida é a vida

Não me venhas com mentiras!

Algo Domm

Vérsico II -012




3- O barco e o mar




Sou o barco que navega nesse rio
Tu o rio que molha a minha madeira
Nascemos para nos amar,
Vivemos desta maneira,

Tu sempre a deslizar,
Eu em ti a vida inteira
A navegar, a navegar.

Já deste mar não vejo as areias,
Nem sereias vejo desde o rio,
Ficaram para trás as quimeras,
Sinto sempre calor em ti, nunca frio.

Tu sempre a marulhar,
Eu em ti a vida inteira
A navegar, a navegar.

Neste oceano olhei as velas e vi os ventos
Havia nuvens e adamastores
Minha alma cheia de tormentos
Por ti morro de amores

Tu sempre a ondear,
Eu em ti a vida inteira
A navegar, a navegar.

Do que eu és mais eterna
E decerto irei primeiro
Feliz de ser contigo a vida inteira
Já velho sou, tu como dos meses Janeiro.

Tu sempre a amar,
Eu em ti a vida inteira
Até a vida me levar, me levar.

Algo Domm

Vérsico III-012




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