Três Vérsicos Controversos
1- O amor do começo ao
fim
Olhei teus
olhos límpidos, lânguidos, úmidos,
Olhavas-me
no mais fundo de minha alma,
Buscavas
sermos um em mim,
Como
esperavas que fossemos um em ti,
As mãos
suaves percorrendo nossos corpos,
Buscando as
nossas intimidades para dar prazer,
Para sentir
o que se sente quando se ama, se deseja, se quer.
Teu corpo
ficou suave, mole, entregue, como se não houvesse amanhã,
Tuas pernas
se abriram, teu corpo era uma viagem,
Tua boca sedenta era demasiado pequena para a tua ânsia,
Teu corpo tremia, tua pele colava-se à minha,
Éramos um só, um prazer só, um gozo só, um suor só, um
tremor só.
Mas isso foi há muito tempo.
Depois disso, começaste a comparar os meus olhos com outros
olhos,
Minha alma com outras almas,
Minhas mãos com outras mãos,
Minhas intimidades com outras intimidades
Meus desejos com outros desejos, com outros amores, com
outros quereres,
Tua carne ficou endurecida pela tensão do haver um amanhã,
Tuas pernas abertas queriam fechar-se como num fim de
viagem,
Tua boca já seca era demasiado grande para quem não tem
ânsia de sede,
Teu corpo estava rígido em tua pele seca,
Não éramos um só, porque muitos estavam presentes.
Então, quando o camareiro do tempo bateu na porta e disse: O
tempo acabou!
Arrumamos
os nossos sacos das más lembranças que levamos para o amanhã.
Deixamos as
boas lembranças no Motel do tempo, esquecidas, para não haver arrependimentos.
Algo Domm
Vérsico I
-012
2 - Fado da Traição
Dedilho-te este meu fado
Na minha guitarra triste
Deita-te aqui ao meu lado
Que já estou de arma em
riste.
Dedico-te este fado catita
Tocado com dedos alegres
O que me faz essa boquinha
Amor dos meus prazeres
Nem me fales de Severa
Que ela só fazia de frente
Contigo linda, minha bela,
Que ela só fazia de frente
Contigo linda, minha bela,
És mulher por detrás e
adiante
Ser santa, minha gostosa
amada,
È coisa só para teu marido
Comigo e com uma almofada
Comigo e com uma almofada
Es tu que acabas comigo
Que o amor, desejo ou paixão
Que tenho por ti, bela
mulher,
No banco, na cama ou no
chão,
Seja livre e solto a hora
qualquer.
Por isso, se na rua me encontrares...
Com outra mulher nos braços,
Junta-te também a essa
E venham as duas para os
amassos.
E assim acabo este fado
Pra acabar com essa mentira
De que a teu marido dás o
amor
E a mim só esse corpo de ávida.
E a mim só esse corpo de ávida.
É a vida sem desculpas,
É a vida é a vida
É a vida verdadeira
É a vida é a vida
Não me venhas com mentiras!
Algo Domm
Vérsico II -012
3- O barco e o mar
Sou o barco que navega nesse
rio
Tu o rio que molha a minha
madeira
Nascemos para nos amar,
Vivemos desta maneira,
Tu sempre a deslizar,
Eu em ti a vida inteira
A navegar, a navegar.
Já deste mar não vejo as
areias,
Nem sereias vejo desde o
rio,
Ficaram para trás as
quimeras,
Sinto sempre calor em ti,
nunca frio.
Tu sempre a marulhar,
Eu em ti a vida inteira
A navegar, a navegar.
Neste oceano olhei as velas
e vi os ventos
Havia nuvens e adamastores
Minha alma cheia de
tormentos
Por ti morro de amores
Tu sempre a ondear,
Eu em ti a vida inteira
A navegar, a navegar.
Do que eu és mais eterna
E decerto irei primeiro
Feliz de ser contigo a vida
inteira
Já velho sou, tu como dos
meses Janeiro.
Tu sempre a amar,
Eu em ti a vida inteira
Até a vida me levar, me
levar.
Algo Domm
Vérsico III-012
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