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segunda-feira, 4 de junho de 2012

Taumaturgo Bode, o terror do Sobrenatural de Almeida





Taumaturgo Bode – O fantasma

Taumaturgo Bode assusta assombrosamente, e costuma atacar nas noites claras ou escuras, de manhã cedo, tarde ou ao meio dia. Ninguém o vê, mas sente um arrepio, um vento, uma carícia, um toque, quando ele está por perto.

Nada mais tenebroso que ver fantasmas ao meio dia e nenhum dos fantasmas conhecidos é tão fantasma quanto Taumaturgo Bode. Nos tempos de Nelson Rodrigues até o Sobrenatural de Almeida – o famoso fantasma que explicava os gols contra o fluminense - tinha medo do Taumaturgo Bode.

Quando aparece é morte certa, prejuízo irrecuperável, perda total. Quando deixa sobrar alguma coisa de aproveitável, ou um indício, fá-lo para criar a cizânia, espalhar a confusão, provocar raivas sem conforto. Uns dizem que é o próprio diabo, mas se fosse estaria no inferno. Está em Brasília de onde não sai nem que a vaca tussa, espirre, grite ou se exploda.

Taumaturgo Bode divertia-se em Brasília quando era vivo. Foi lá na primeira leva de visitas ao canteiro de obras quando Juscelino Kubitschek de Oliveira fez iniciar as obras pela “Novacap”, nos idos de 1956. Era um mero político desconhecido então, mas muito ambicioso, capaz de matar a mãe para ir ao baile do orfanato.

Iniciou um plano fazendo o maior numero de amigos. Não era propriamente amizade, mas troca de favores. Começou a construir uma imagem de patrono, alguém confiável com quem se podia sempre negociar. Começou a delegar funções e tarefas aos que lhe deviam algo, e em conseqüência, a dividir-se entre o homem que realizava o seu trabalho como político, e o homem que agia na sombra como um fantasma. Dividiu-se em dois.

Ninguém mais o reconheceu! Aquele político morrera.

Ninguém sabia que ao dividir-se em dois, ganharia super poderes, membros de polvo, cheios de ventosas. Nas horas de confusão para o seu lado, desaparecia, ficava invisível. Um dia escreveu um livro sobre os colibris bigodudos e uma academia o elegeu como membro. Ninguém relacionou esta “elegição” com o fato da Academia ganhar um prédio novo, imenso e moderno, cheio de janelas e mármores e granitos no centro da cidade, tão grande, que poderia abrigar todas as academias de garranchos do mundo. O dinheiro doado para a construção do prédio não era dele.

Taumaturgo Bode usava sempre uma capa preta, farda, fardão, camisola de dormir, tudo com muitos bordados, que lhe caiam muito bem com suas frases meio assobiadas, dignas de filhinho de papai que nem se formara na Sorbonne.


No período de maior influência no governo – ele tinha influências – causou o maior rebuliço na economia: exauriu as reservas cambiais, as exportações diminuíram quase a zero e as importações aumentaram a jato. Enquanto a população ficava pobre a cada hora do dia que passava, uma parte pequena, amigos do Taumaturgo Bode enriqueciam com a inflação cavalar...

Pensam que foi responsabilizado? Que nada!... Ainda foi eleito para cargos importantes nos anos seguintes, até hoje!

Mas então, Taumaturgo Bode está vivo ou morto e é um fantasma?

Aí que o bicho pega... Para uns morreu lá atrás e agora é só fantasma. Para outros, nunca morreu e é um bom sujeito. Para outros ainda nem sabem quem ele é nem do que é capaz. Só quando o Taumaturgo Bode fantasma lhes aparece pela frente fazendo “buuuuuuu”... As lavanderias de Brasília ficam cheias de calças sujas no dia seguinte.

Taumaturgo Bode é um fantasma capaz das mais impossíveis façanhas, deixando sempre dúvidas no ar. O apelido Bode deve-se a uma promessa de seus tempos de estudante. Se conseguisse formar-se na Universidade assistindo a tão poucas aulas por ter muito que fazer: Participar da política, ser jornalista, fazer bico na polícia. Seus amigos davam-lhe presença, faziam-lhe os trabalhos, davam-lhe cola nas provas. Já nessa época era muito admirado por fazer tanta coisa, mas ninguém sabia como “não fazia” nenhuma delas: tudo por ajuda de amigos que prometeu ajudar durante a sua vida. Lavavam-se bem as mãos entre si.

Conta-se que uma vez havia um candidato a um posto muito importante. Taumaturgo Bode fez de tudo para tornar-se seu suplente e tomar o seu lugar. Usando os favores que fizera e pedindo o pagamento desses favores, conseguiu o apoio necessário e conseguiu. O próximo passo era afastar o eleito. Uma pílula foi dissolvida no café e ele foi mandado para o hospital. Uma equipe médica competente tratou do eleito que logo se recuperou. Então recaiu. Depois de várias operações, chegou até a dar entrevista. Dois dias depois, durante a noite, entraram no quarto e fizeram o serviço. Bateu as botas, finou-se, morreu. Muitos viram Taumaturgo Bode no velório. Muitos juram que estava presente no enterro.

Dizem uns que foi o próprio Taumaturgo Bode que dissolveu as pílulas no café e pôs o eleito em contacto com os agentes biológicos. Dizem outros que apenas deu sinal com um acenar de cabeça para que alguém desse as ordens a alguém, que comunicasse essas ordens a quem executasse essas ordens. Outros disseram que foi a CIA. O certo é que o eleito morreu, e Taumaturgo ocupou o seu lugar.

Dizem até que é capaz de derrubar helicópteros sem tocar neles, só para abafar as tratativas para a aprovação de cláusulas em documentos importantissimos.

Mas nunca deixou rastro, nem mostrou o rabo preso. Tudo coisa de intrigas, dizem uns, que não é nada disso, outros e indecisos e que não sabem de nada, o resto.

Até que se descobriu que ele tem um grande competidor: Zeca Vamporra, um vampiro esfomeado, vingativo. Cada um atua do seu lado.


Rui Rodrigues


Um comentário:

  1. Qualquer semelhança será por decisão própria de cada um ver o que quer ver. Eu vejo apenas um fantasma.

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