Minhas viagens de avião
Da primeira viagem de avião
ninguém se esquece, assim como não nos esquecemos da “primeira vez”. São
emoções muito fortes. Neste caso pela injeção de hormônios que nos dão a
sensação de prazer. Na viagem de avião pelo excesso de adrenalina que nos faz
sentir aquele frio no estomago. A partir da terceira viagem e prevendo que
viajaria bastante, comecei a somar as distâncias e os trechos percorridos. A
soma ascende a 137 mil km, que se fossem todos na direção da Lua, já teria
passado da metade do caminho.
Tive sempre sorte até mesmo
quando tive azar. Nunca nenhum avião caiu comigo a bordo. Assim, quando
quiserem viajar de forma segura, convidem-me. Conheci muita gente durante as
viagens e delas deixo algumas referências.
Em 1972, recém
formado, fui transferido para Porto Alegre como gerente da empresa. Viajei num Lockheed
L-188 Electra da Varig. Naquela época, em voos internacionais, serviam almoço a bordo, distribuíam
bebida à vontade, tudo incluído no preço. Os guardanapos eram de linho, os
copos de cristal da Boêmia, com o símbolo gravado, os talheres de aço
inoxidável. Fiz muitas viagens em vários tipos de
aeronaves. Numa delas, num caravelle, houve problemas no trem de pouso por
volta das sete horas da manhã. Depois de duas tentativas e adiamentos, em que a
desorganização nos disponibilizou almoço por duas vezes, decolamos e tivemos
que dar cerca de sete voltas em torno do aeroporto do Galeão. Em vez de irmos
para Congonhas como escala, fomos para Viracopos e pousamos com um desfile de
carros de bombeiros dos dois lados da pista. Trocamos de avião e cheguei no
aeroporto Salgado Filho em Porto Alegre às 11:00 da noite. Devido á tensão, cheguei com alguns uísques
nos miolos, meio adormecido. Pior ficou um gerente do banco do Brasil que
começou a beber desde a primeira volta em torno do Galeão, batendo com os pés,
crente que o avião ia cair, morrer, largar a vida.
Em 1974, viajando de São
Paulo para o Rio, num Avro Sidelley, na
fila da esquerda, num dia nublado, vi um fogaréu irromper no motor da direita. O
avião caiu imediatamente para a direita, equilibrando-se em seguida. Vi jatos de líquido serem jogados no motor, e o fogo apagou-se. Segundos depois, o comandante
tentou religá-lo. Depois de umas duas tentativas, pegou. Seguimos sem maiores problemas
até o Rio. Naquela viagem não havia uísque e tivemos que engolir a ansiedade a
seco. Ainda em 1974, na viagem inversa a bordo de um Curtiss, um dos motores parou
e continuamos a viagem. Viajava com um colega de trabalho. Fôramos assistir a
uma reunião no Rio e voltávamos conversando sobre a empresa. No meio da
conversa, disse-lhe que o motor tinha parado. Começou a rir, dizendo que eu era
um brincalhão, já que eu estava muito à vontade. Quando olhou e viu o motor
parado, tirou o paletó, desapertou a gravata e já em pé, olhar esgazeado, se eu
não o acalmasse, tinha apertado o botão para chamar a aeromoça.
Viajando em primeira classe
por cortesia aleatória na fila de embarque da Ibéria, em 1986, viajei de
Istambul para Madrid com escala em Barcelona. Quando saí do hotel, por questões
de praticidade, deixei paga a lavagem de roupa que o Hotel me enviaria para
Lisboa, e o táxi. Na chegada ao aeroporto o taxista resolveu dizer que eu não
tinha pagado a viagem. Fez queixa à polícia e resolvi não deixar ficar barato.
Falei com o chefe da polícia que ligou para o hotel e confirmou minha versão.
Vi o taxista ser levado com escolta até a central de policia e eu segui viagem,
mas a partida do vôo sofreu atraso de cerca de meia hora. Uma senhora ricamente
vestida, constituição avantajada, peitos fartos, uma linha de bancos atrás de
mim, do lado oposto, bebia desbragadamente. Cantou o comissário de bordo,
deu-lhe numero do telefone, queria beijá-lo. Discretamente o comissário
conseguiu levar a viagem a bom termo. Entretanto, alguém a bordo decidiu dar
outra versão ou foi coincidência, mas começou a correr a notícia de que havia
um terrorista a bordo. Pousamos em lugar ermo na pista de Barcelona, as
bagagens foram baixadas e todos tivemos que identificá-las pessoalmente. Um par
de malas ficou no meio da pista sem identificação, e não eram as minhas.
Trocamos de avião e rumei para Madrid. De lá outro vôo até Lisboa. A roupa
lavada chegou num pacote no endereço de minha prima Guiomar. Ela pensou que
fosse um pacote bomba e só abriu depois que me telefonou apreensiva.
A primeira vez que viajei num
Twin Otter (Havilland) foi na Colômbia, mas viajei muito mais em outros aviões
de quatro lugares, sendo um do piloto. O
bom destes pequenos aviões é que nos fazem sentir realmente como pássaros,
balançando de um lado para o outro, como numa dança suave por força dos ventos.
É nesses aviões que se sente o que é velocidade, estar pendente de um cinto de
segurança que se apóia no vento, e que não há pára-choques para a queda. Aliás,
Esses aviões são tão pequenos e tão leves, que mereciam um pára-quedas adequado
para evitar desperdícios de vidas. Deve
ser a ambição de lucros que impede o uso de tais aparatos salvadores.
Da cidade do México para
Montego Bay na Jamaica, o avião da Mexicana, um Boeing 727, decolou como numa
rampa suave, em dia de céu de brigadeiro, azul e imaculado. Quando começaram os
solavancos, bagagens caindo, passageiros trocando olharesm mãos agarradas, xispadas nos suportes de braço. Não estaríamos nem a 500 metros de altitude, mas chegamos bem,
porque o piloto corrigiu a tempo. Num Jumbo que saiu de Bogotá para Miami com
parada em Porto Rico, o piloto teve que arremeter quando já se preparava para pousar,
Nunca soube porque razão, mas o céu estava extremamente escuro, havia perigo de furacão,
dizia-se a bordo.
Numa viagem em que deveria embarcar num domingo em Luanda, em viagem para o Tombwa e Namibe, desisti na sexta feira. No domingo pelas 8:30 da manhã, um foguete da UNITA entrou pela cauda e derrubou-o. Também desta me livrei. Eu estaria a bordo desse avião nesse horário.
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